1x3 – VERMS
Phillip Page
segurava pelo colarinho o recepcionista do hotel, um velho baixinho, calvo e
com cara de tarado, ameaçando-o processá-lo pelo estado do estabelecimento.
Informações sobre os clientes que alugavam quartos ali eram confidenciais. Nick
Collins interrompeu a tentativa de interrogatório ao descer as escadas avisando
para que saíssem dali o mais rápido possível.
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Phillip Page dirigia. Estava com Nicholas Collins em seu carro. Seu amigo parecia cada vez mais conformado de que perderia sua liberdade.
— Nicholas, fique na minha casa
apenas essa noite. Diana e os meninos não se importarão.
— Phillip, prometa que não contará a
ninguém.
— Fique tranquilo, cara. Sabe que
pode contar comigo pra tudo.
— Quando a bomba estourar, eu estarei
em outro país. — disse Nick, encostando a cabeça na janela do carro e fechando
os olhos.
— Nick, se
acalme. Pelo menos você sabe que não é o culpado. E tem o cartão do seu
“Admirador Secreto” como prova.
— Estou
calmo Phillip. Incrivelmente estou calmo, porém cansado. Preciso dormir.
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Las Vegas, 18 de Agosto
de 2002
No meio da
madrugada, o celular do agente Nick Collins tocou. Ele ainda tentava conseguir
um modo confortável de dormir no sofá da sala de Phillip. Porém, sabia que era
tarde demais para dormir. Era Tyler Gomez, seu chefe. Atendeu.
— Nick, preciso urgentemente de você aqui. Anote o
endereço. Ainda está em Las Vegas?
O endereço
lhe parecia familiar, mas não o bastante para Nick achar que era perigoso.
Tomou emprestado o carro de Phillip Page e saiu. Tratava-se de um hotel. Aquele
mesmo hotel onde ele acordou naquele dia e onde havia, ao seu lado, um homem
morto.
Jacqueline
Adams e Tyler Gomez esperavam por Nick Collins na recepção do hotel. O rapaz
resolveu apostar na sorte e entrar. Sabia também que seu “admirador secreto”
havia limpado todo o local onde Oscar Johnson fora assassinado.
— O que
houve? — perguntou Nicholas, ao encontrar seu chefe e a médica legista na
recepção.
— Preferimos
que você veja com os seus próprios olhos. — disse Jacqueline, pegando Nick pelo
braço direito e subindo as escadas. Tyler Gomez os acompanhava logo atrás.
Era aquele
mesmo quarto. Nicholas Collins jamais poderia acreditar se não estivesse vendo
aquele lugar, limpo há algumas horas atrás, agora completamente sujo de sangue,
do mesmo jeito que estava quando o abandonara pela primeira vez.
Surpreendentemente o corpo de Oscar Johnson estava lá novamente. A boca do
travesti estava costurada e, diferentemente da primeira vez, o corpo estava em
cima da cama e não no chão. Oscar Johnson estava molhado, sem roupas e cheio de
vermes por vários orifícios do corpo.
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Washington D.C, 18 de
Agosto de 2002
Nicholas
Collins avisou a Phillip que teve de levar seu carro até Washington e que logo
mais o receberia. Sabia que a legista Jacqueline Adams logo descobriria todas
as pistas possíveis que levariam ao assassino de Oscar. Naquele momento ele
fumava um cigarro na sua sala.
Alguém bateu
na porta. Tratava-se de seu chefe, Tyler Gomez.
— Com licença, Nicholas. Só vim lhe
avisar que o caso da morte de Oscar Johnson é seu. A Dra. Adams o espera na
sala de medicina legal.
“Eu
sou o assassino do meu próprio caso. Ótimo.” Nicholas pressionou o cigarro
no cinzeiro para que apagasse e logo em seguida saiu.
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Já era o
vigésimo verme que Jacqueline Adams retirava do corpo do travesti. Colocava
todos em um béquer, com toda a paciência e precisão do mundo. Nicholas entrou
na sala e apenas observava a legista trabalhar. Jacqueline era linda, atraente.
Estatura média, cabelos castanhos lisos e compridos. Um par de óculos
completava sua faceta de intelectual. Jacqueline enfim percebera a presença do
agente.
— Parece até
que estes vermes foram colocados aqui de propósito pelo assassino. — afirmou
ela.
— Por quê?
— Tudo
indica que Oscar morreu há dois ou três dias no máximo. Não daria tempo de que
essa colônia de vermes se espalhasse pelo corpo dele. — disse ela, retirando o
vigésimo primeiro parasita do cadáver e colocando no béquer com os outros —
Além do mais, há indícios de que ele foi jogado em algum rio. Estava molhado e
não era água encanada.
Nick
observou novamente a boca de Oscar Johnson. Estava perfeitamente suturada. Ela
não estava assim quando ele o encontrou no quarto e o jogou naquele rio.
Jacqueline percebera a atenção prestada pelo agente na boca costurada do
cadáver.
— O que está
fazendo agora, Jacqueline? — perguntou Nicholas, assustado.
— Desfazendo
a sutura.
Depois de
remover todos os pontos, a legista encontrou dentro da boca de Oscar um bilhete
plastificado. Ela lia, assustada.
— Dra.
Adams, me diga, por favor, o que está escrito aí?
— “Sr.
Nicholas Collins, seu segredo está bem guardado. Assinado: seu admirador
secreto.” — leu ela, em voz alta.