"A DAMA DE VERMELHO" - MÉDIA METRAGEM
CENA 1- APARTAMENTO DE LÍDIA E
RAUL. INT. DIA.
MUITAS CAIXAS. MUDANÇA. VÁRIOS
HOMENS DE MACACÃO CARREGANDO MÓVEIS. MUITO RÍTIMO. LÍDIA ESTÁ COM O BEBÊ NOS
BRAÇOS. ESSA CENA DEVE DURAR UNS DOIS MINUTOS.
Lídia - Raul! Fala pra eles
colocarem a cama no quarto da direita!
Raul - Se conseguirem subir com
ela primeiro...
CENA 2- MONTAGEM:
a)Lídia dando ordens aos
carregadores;
b)Raul pegando o bebê dos braços
de Lídia;
c)Carregadores exaustos;
d)Caminhão de mudança indo embora.
CENA 3- APT DO CASAL. SALA. NOITE
RAUL E LÍDIA DEITADOS NO CHÃO,
EXAUSTOS. O BEBÊ ESTÁ DORMINDO NUMA CESTINHA. A SALA ESTÁ REPLETA DE CAIXAS E
OBJETOS ESPALHADOS.
Lídia - Nossa eu estou exausta...
Raul - Eu comeria um cavalo!
Lídia - Nem vem! Se quiser
macarrão instantâneo, está na caixa com fita amarela.
Raul - Não... Vou sair pra comprar
qualquer coisa.
Lídia - Estou com desejo de sushi!
Raul - Íh, essa não cola mais. A
Gravidez já passou meu amor. Vou ali na churrascaria da esquina. Vamos comer e
não beliscar.
Lídia - Tá, né?! Volta logo, temos
que decidir o nome do nosso bebê, já estamos no apartamento novo. Vou fazer a
papinha dele, deve estar quase acordando.
Raul - Tudo bem, não perco isso
por nada. Beijo!(Se levanta e sai).
CENA 4- CORREDOR DO ANDAR. NOITE.
RAUL ESTÁ ESPERANDO O ELEVADOR,
APRESSADO. UMA SENHORA ESQUISITA CHEGA E O ENCARA.
Hermínia - Boa Noite.
Raul - Boa Noite, senhora.
Hermínia - Me chamo Hermínia, sou
vizinha de vocês. Aqui do 214.
Raul - Ah, muito prazer, meu nome
é Raul. (apertam as mãos)
Hermínia - Onde está sua esposa?
Raul - Ah, ela ficou em casa com
nosso filho. Estou indo comprar o nosso jantar.
Hermínia - Vocês tem um filho, que
maravilha. Uma criança sempre adoça a vida da gente. Como se chama?
Raul - Ainda não escolhemos o
nome. Lídia e eu queremos batizá-lo conforme a numerologia. Fará oito meses
agora. A astróloga nos recomendou a darmos o nome pra ele quando estivéssemos
no apartamento novo.
ELEVADOR CHEGA. ELES ENTRAM.
Hermínia - Interessante, rapaz.
Hoje em dia quase não se acredita mais nessas coisas. Eu, por exemplo, jogo
cartas e perdi muitos clientes por falta de fé da parte deles.
Raul - Nossa, a gente adora essas
coisas exotéricas. Eu sempre digo que se deve acreditar em tudo!
Hermínia - Pois você está certo,
rapaz! Se quiserem me procurar depois... Lembre-se, eu moro no 214. A consulta
é cortesia de nova vizinha. Pode bater, eu estou sempre em casa.
Raul- Nossa muito obrigado! Vamos
sim viu! Lídia vai adorar.
ELEVADOR PARA, ELES SAEM.
Hermínia - Vou esperar vocês.
Agora deixe-me ir, comprar os remédios da pressão. Até logo vizinho.
Raul - Até logo!
OS DOIS SAEM EM DIREÇÃO OPOSTA.
CENA 5- APTO DO CASAL. SALA.
NOITE.
LÍDIA ESTÁ DANDO MAMADEIRA AO
BEBÊ. RAUL CHEGA COM O JANTAR.
Lídia - até que enfim! Já estava
ficando preocupada...
Raul - Lembre-me de não faltar a
nossa primeira reunião de condomínio, o elevador aqui do lado é horrível.
Lídia - só não crie caso com a
síndica, ouvi dizer que ela é um nojo.
Raul - Que é isso, você me
conhece...
Lídia - Por isso mesmo.
Raul - Enfim, trouxe seu sushi,
por isso demorei mais um pouquinho. Ah! Conheci uma senhorinha muito simpática
que mora aqui do lado, tudo bem que ela é um pouco esquisita, mas pareceu ser
gente boa.
Lídia - Senhorinha simpática,
porém esquisita... Isso me lembra aquele filme da Drew Barrymore,como é mesmo o
nome?
Raul - “DUPLEX”! (os dois riem) A
senhorita anda muito imaginativa.
Lídia - Tô é preocupada aqui,
nosso garoto ainda não tem um nome. A Astróloga disse que só tem vaga pra
atender a gente semana que vem. Como vamos chamá-lo ate lá? De “coisa fofa”?
Raul - Não se preocupe, eu tenho a
solução. Essa senhora que conheci pode nos ajudar. Ela joga cartas...
Lídia - e como cartas vão decidir
o nome do nosso filho?
Raul - Sei lá, a cartomante é ela.
A consulta com a astróloga não é só semana que vem? Eu entendo se quiser
esperar...
Lídia - Não, não, não! Eu estou
cheia de tanto esperar. Quando podemos visitar a velha?
Raul - Amanhã mesmo!
Lídia - (acariciando o bebê) Como
será que você vai se chamar hein?
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 6- APTO.
DE HERMÍNIA. SALA DE VISITAS. DIA.
A SALA É UMA ESPÉCIE DE
CONSULTÓRIO ESPIRITUAL. TEM UMA ATMOSFERA EXOTÉRICA. VELAS, INSENSOS. RAUL,
LÍDIA E HERMÍNIA ESTÃO SENTADOS À MESA. RAUL SEGURA O BEBÊ.
Hermínia - Guilherme. As cartas
dizem que deverá se chamar Guilherme.
Lídia - Guilherme? Sério?
Raul - E o que significa?
Hermínia- Guilherme significa
“abençoado, protegido”. Ou “renascimento” também. Na verdade tem várias
interpretações, mas essas são as mais famosas.
Raul- Interessante...
Lídia- Então, vamos registrar
hoje mesmo.
Hermínia - (olha as cartas,
espanto) E o batizem o quanto antes. É realmente urgente.
Lídia - Por que? Está vendo alguma
coisa aí nas cartas?
Hermínia - (disfarça) Nada demais,
apenas para o garoto não pegar quebranto.
Raul- Ah tá.
Hermínia- Antes de vocês irem, eu
tenho algumas recomendações a fazer.
Raul- Do que se trata?
Hermínia - eu não iria falar nada
para não amedrontá-los, mas fui com a cara de vocês...
Lídia - Estou ficando aflita...
Hermínia - Não é pra assustar,é só
que... Pelo que eu sei de numerologia, o apartamento de vocês, 213, segundo a soma
dá o resultado 6. O que nunca é bom no 6º andar de um prédio que também tem
somatória 6.
Raul - É verdade, amor.
Lídia - Como foi que não prestamos
atenção nisso?
Raul - E agora?
Hermínia - Não fiquem aflitos. Só
quis alertar. Uma boa limpeza espiritual e alguns amuletos resolverão o
problema?
Lídia - Opa! Pera aí que de
limpeza eu entendo. Para quê limpeza? Os amuletos resolveriam. Uma limpeza
espiritual só se faz quando o ambiente está impregnado de algo maligno.
Raul - Está escondendo algo de
nós, dona Hermínia?
Lídia - Se estiver é melhor
contar, não acha?
Hermínia - Sim, é verdade. Desde
quando eu moro aqui, neste mesmo apartamento. Quando cheguei aqui com meu
marido, no início da década de 80, eu ouço uma história cabeluda.
Raul - Que história?
Hermínia - De uma mulher que
morava no apartamento de vocês. Um dia, bem cedo da manhã, ela se atirou da
janela. Até hoje não se sabe o que levou ela a se suicidar. Era uma mulher
muito bonita, segundo dizem, e estava usando um vestido longo e bem vermelho.
Desde então, muitos moradores já afirmaram ter visto ela andando no
apartamento, cantando na sacada... O tempo máximo que um inquilino já ficou no
213 foi 3 meses. Depois de se mudar, este sofreu um AVC e morreu.
Lídia - Cruzes, mais que história
horrível!
Raul - Daria um ótimo filme de
terror. Até arrepiei aqui.
Hermínia - Desculpem, mas é só pra
alertá-los, já que disseram querer passar um bom tempo aqui no edifício. É só
fazer limpezas constantes e está tudo certo! (risinho sem graça)
Lídia - Então ta né? Só espero
conseguir dormir!
GUILHERME COMEÇA A CHORAR (SEM
ESCÂNDALO).
Raul - (para Guilherme) Não, meu
amor. Você não vai ter pesadelos, coisa linda do papai.
Lídia - Me de ele. (RAUL
PASSA GUILHERME PARA OS BRAÇOS DE LÍDIA)Não chora, vai ficar tudo bem, meu
amor. Vai ficar tudo bem...
CENA 7- APTO. DO
CASAL. SALA DE VISITAS. DIA.
LETREIRO: “UMA SEMANA
DEPOIS”; “18:45 PM”.
RAUL E LÍDIA ESTÃO BRINCANDO COM
GUILHERME, DEITADOS EM UM BRANCO E PELUDO CARPETE CHEIO DE ALMOFADAS GRANDES.
Raul - aposto que ele vai dizer
primeiro papai!
Lídia - Claro que não né filho!
Vai dizer mamãe...
GUILHERME SORRI.
Raul - Como tem tanta certeza,
bonitinha?
Lídia - Porque eu mereço mais!O
carreguei por nove meses e dou de mamar. Você quase nem troca uma fralda.
Raul - Isso não é justo, eu ajudei
a fazê-lo sabia? Além do mais eu dou muito apoio moral e ainda comprei o bercinho/
Lídia - (silêncio) Shii! Ele
dormiu.
Raul - O quê?
Lídia - Nosso Guilherme dormiu.
Raul - É verdade. E a gente
brigando por ele... (OS DOIS RIEM)
Lídia - Eu estava pensando desde
ontem, a gente já tem uma semana aqui e nada de estranho aconteceu ainda.
Raul - Graças à Deus!
Lídia - Pois é. Ainda bem que a
Dona Hermínia avisou e nos ajudou.
Raul - Só mesmo a síndica reclamou
dos incensos... Aquela...
Lídia - Deixa pra lá.
Raul - Aliás, espero que você não
tenha esquecido do batizado dele. É depois de amanhã.
Lídia - Jamais! Só que ainda tenho
que dar uma saída pra comprar a roupinha. (TEMPO)
Raul - Ei, que tal a gente
aproveitar que o Gui dormiu?
Lídia - E fazer o quê?
Raul - ah você sabe, o papai está
com saudade da mamãe.
Lídia - Hum... Eu também estou (SE
BEIJAM)
Raul - Vamos subir...
Lídia - Espera. (SE LEVANTA SEM
ACORDAR GUILHERME E FECHA A PORTA DA SACADA)Todo cuidado é pouco!
RAUL LEVANTA. OS DOIS SOBEM A
ESCADA.
CENA 8- QUARTO DO
CASAL. NOITE
RAUL E LÍDIA SE DESPINDO
ROMANTICAMENTE. É UMA CENA SENSUAL E DELICADA. SE ABRAÇAM E CAEM JUNTOS NA
CAMA. BEIJOS E CARÍCIAS. FADE OUT.
CENA 9- SALA DE VISITAS. NOITE.
GUILHERME ESTÁ SE MEXENDO.
ACORDA. GUILHERME ENGATINHA PELA SALA. A PORTA DA SACADA ABRE LENTAMENTE.
TENSÃO.
GUILHERME ENGATINHA LENTAMENTE
RUMO À SACADA. SORRINDO. EM SEUS OLHOS CASTANHOS CLAROS, SE REFLETE A IMAGEM SE
UMA MULHER LINDA USANDO UM VESTIDO VERMELHO. GUILHERME SORRI.
CHEGANDO À BEIRA DA SACADA, VEMOS
NUM ÂNGULO VERTICAL A ALTURA DO PRÉDIO E GUILHERME, PEQUENINO, LÁ NO ALTO DA
JANELA. GUILHERME DÁ UM ÚLTIMO SORRISO E CAI DA JANELA.
CENA 10- APT. DO CASAL. SALA.
NOITE.
INTERFONE TOCA INSISTENTEMENTE.
LÍDIA, SONOLENTA, VEM ATENDER.
Lídia - (ATENDE) Oi! Sim é ela. O
quê? É mentira!
LÍDIA LARGA O INTERFONE E CORRE
PARA A SALA DE VISITAS. NÃO ENCONTRA GUILHERME. ESTÁ DESESPERADA. OLHA A PORTA
DA SACADA ABERTA. EM UM FLASHBACK, LEMBRA QUE A TINHA FECHADO.
Lídia - (DESESPERADA,
GRITA)Raul!
CENA 11- FACHADA DO PRÉDIO. EXT.
NOITE.
MUITA GENTE. UMA AMBULÂNCIA E
VIATURA DA POLÍCIA ESTÃO NO LOCAL. O PORTEIRO E A SÍNDICA CONVERSAM COM OS
POLICIAIS. LÍDIA E RAUL CHEGAM.
Lídia - Onde está Guilherme? Cadê
o meu filho!
Enfermeiro - Senhora isto pode ser
um pouco chocante...
Lídia - Não interessa!
Raul - (chorando) Amor, é melhor
você não ver/
Lídia - eu quero ver meu filho!
RAUL TENTA SEGURAR LÍDIA, MAS ELA
AVANÇA NA MACA DA AMBULÂNCIA. SE ASSUSTA COM O QUE VÊ E GRITA HISTERICAMENTE.
Lídia - (Grita) Não! Meu bebê não.
Raul - (cai no choro) Nosso filho!
HERMÍNIA CHEGA.
Hermínia- (ABRAÇANDO OS
DOIS) Queridos, eu vim assim que soube. Não fiquem assim. Guilherme virou um
anjinho!
Lídia - A culpa é sua! Sua velha,
você agourou o nosso futuro!
Hermínia - Mas o quê...
Raul - Não ligue para ela, dona
Hermínia. Está muito abalada.
Lídia - O nosso Guilherme morreu
por sua culpa! Velha macumbeira!
Raul - Lídia, pelo amor de Deus,
você não sabe o que está dizendo! Se controla.
Hermínia - Não, deixa Raul. Tudo
bem, eu entendo. Lídia não está com os nervos no lugar. Se precisarem de mim
estarei rezando em casa. (sai)
Raul - Muito Obrigado.
Lídia - Raul, pelo amor de Deus,
me leva pra casa?
Policial - Preciso conversar com
vocês!
Raul - Agora não. Outra hora o
senhor nos procura. Estaremos em casa. Estamos muito abalados. Minha esposa não
tem condições de falar nada agora.
Policial - Ok. Tudo bem, eu
entendo... Entraremos em contato em breve.
Raul - Vou esperar. Vamos, meu
amor. Deixa que eu cuido de você... Eu cuido de tudo.
CENA 12- MONTAGEM COM TAKES
RÁPIDOS:
a) ENTERRO DE GUILHERME;
b) LÍDIA
E RAUL EM CASA, FALANDO COM A POLÍCIA;
c) LÍDIA
ABRAÇANDO HERMÍNIA. RECONCILIAÇÃO;
d) RAUL,
LÍDIA E HERMÍNIA NA MISSA DE SÉTIMO DIA;
e) RAUL
E LÍDIA PASSEANDO NO PARQUE.
CENA 13- APTO. DO CASAL. QUARTO
DE GUI. DIA.
LÍDIA ESTÁ ADMIRANDO O QUARTO.
TOCANDO NOS BRINQUEDOS COM TERNURA. OLHANDO O BERÇO, ELA CHORA. RAUL CHEGA,
BATE NA PORTA.
Raul - Toc-Toc, posso entrar?
Lídia - Eu não consigo me
conformar...
Raul - Eu sei. A gente nunca se
conforma com esse tipo de coisa.
Lídia - Por um momento parece que
eu vou ouvir meu filho sorrir, chorar querendo colo. E agora eu não tenho mais
em quem colocar a fralda; pra quem preparar a papinha...
Raul - (abraçando-a por trás) Eu
estou aqui, meu amor. Nunca vou te abandonar... Sei que o nosso Gui está em
algum lugar do céu nos protegendo, olhando por nós. Lá no meio das estrelas...
Lídia - O que seria e mim sem
você, Raul... Você é tão calmo. Eu te amo.
Raul - Eu te amo mais ainda!
SE BEIJAM.
Raul - Espero que você não se
importe de passar o dia sozinha. Eu avisei que iria passar o dia na editora
resolvendo questões do novo livro.
Lídia - Tudo bem é o seu futuro.
Nossa vida. Vai lá, eu prometo ficar bem.
Raul - Ok. Então eu já vou. Devo
chegar no fim da tarde e trago o nosso jantar.
Lídia - Fico legal. (SE BEIJAM)
CENA 14- APTO. DO CASAL. SALA DE
VISITAS. DIA.
LÍDIA ESTÁ NA FRENTE DA TV,
ZAPEANDO OS CANAIS. DEIXA NUM FILME DE ROMANCE. ADORMECE. (TEMPO) LÍDIA ABRE OS
OLHOS LENTAMENTE E SE ASSUSTA. UMA LINDA MULHER MORENA (QUE USA UM VESTIDO
VERMELHO DESLUMBRANTE) A ESTÁ ENCARANDO.
Lídia - Quem é você?! Como entrou
aqui?
Mulher- Calma Lídia...
Lídia- Como sabe o meu nome? QUEM
É VOCÊ? Vou chamar a polícia!
DO NADA, A MULHER APARECE ATRÁS DE
LÍDIA.
Mulher - (riso sarcástico) Não
seja tola. Estou aqui para ajudá-la. Sei o que você está passando.
Lídia - Como assim? Eu não estou
entendendo nada... Como fez isso?
Mulher - Apenas ouça-me. Você
perdeu um filho e eu compreendo sua dor, mas se quiser tê-lo de volta basta me
seguir... Você acredita no sobrenatural?
Lídia - Não! Eu não acredito mais
em nada, nem em Deus e muito menos no diabo! Só posso estar ficando louca...
Mulher - Não acredita no diabo?
Sabe, você deveria. Ele acredita em você.
Lídia - Já chega! Eu vou ligar
para a polícia!
Mulher- Como se pudesse...
LÍDIA CAI NO SOFÁ E NÃO CONSEGUE
SE LEVANTAR.
Lídia - Mas o que é isso? Não
consigo me levantar...
Mulher - Preste bem atenção. Eu
sei o tamanho da dor que uma mãe sente ao perder um filho. Sei como se sente,
mas isso não trará o Guilherme de volta.
Lídia - Como sabe o nome do meu
filho? SOCORRO!
Mulher - Você quer ter seu filho
de volta ou não?
Lídia - É tudo o que eu mais
quero...
Mulher - É simples. Até a meia
noite você deve sacrificar uma criança, queimá-la e oferecer a mim e em troca
eu devolvo o seu filho.
Lídia - Mas que horror! Eu jamais
vou fazer uma coisa dessas!
Mulher - A decisão é sua. Se o
fizer, terá seu lindo filhinho de volta. O destino foi muito injusto com você e
seu marido. Estou te dando uma segunda chance. Se não quiser basta falar em
definitivo, mas perderá a única oportunidade de ouvir o risinho fofo do seu
Guilherme novamente...
Lídia - Não! Que diabo de proposta
é essa?
Mulher - A única que pode
satisfazer essa sua louca vontade de ter o seu Gui de novo... Ou isso ou nada.
Lídia - (pensa; eufórica) Eu
aceito!
Mulher - Sábia escolha. Lembre-se:
até a meia noite...
A MULHER DESAPARECE. LÍDIA ESTÁ
PERPLEXA. E DE REPENTE ACORDA COMO SE TUDO NÃO TIVESSE PASSADO DE UM SONHO. DE
VOLTA A SI, LÍDIA ESTÁ COM MEDO, DESCONFIADA. OLHA PRO SOFÁ E ENCONTRA UMA ROSA
VERMELHA EM CIMA DA ALMOFADA.
LÍDIA PEGA A ROSA COM RECEIO.
ADMIRA-A. LÍDIA ESTÁ SÉRIA E OLHA A SALA TODA PROCURANDO A MULHER. SENTA
NOVAMENTE NO SOFÁ E FICA PENSATIVA.
CENA 15- APTO. SALA. NOITE.
LÍDIA ESTÁ VENDO TV TOMANDO
SORVETE. RAUL CHEGA.
Raul - Boa Noite, amor. Demorei?
Lídia - Não... Só deu tempo deu
ficar aqui engordando...
Raul - Eu trouxe o nosso jantar.
Passei naquele restaurante que você gosta.
Lídia - Que bom, então vamos comer
no quarto? Eu fui ali em baixo e aluguei uns DVD’s.
Raul - É bom ver você reagindo,
amor. (SE BEIJAM)
Lídia - Vai tomar um banho que cê
ta todo suado. Deixa que eu preparo tudo aqui e levo pro quarto.
Raul - Vou lá. (SAI)
LÍDIA ABRE A SACOLA, COLOCA OS
PRATOS NUMA BANDEJA. ARRUMA TUDO. COLOCA SUCO EM DOIS COPOS. AGORA ELA TIRA UM
VIDRINHO DO BOLSO E DESPEJA ALGUMAS GOTAS DENTRO DE UM DOS COPOS.
CENA 16- APTO. QUARTO.
LÍDIA CHEGA COM O JANTAR NUMA
ENORME BANDEJA. RAUL SAI DO BANHO DE ROUPÃO.
Raul - Opa! Mas o que é isso? Um
banquete pro Alibabá e os 40 ladrões?
Lídia - Não, seu bobo. Nosso jantar.
Acho que merecemos algo assim depois de tudo o que aconteceu...
Raul - Você está certa. Eu te amo
e não canso de dizer...
Lídia - Eu é que preciso te
agradecer por tudo. Tirei a sorte grande... (SE BEIJAM)
Raul - Vamos atacar?
Lídia - Fique à vontade, sultão!
OS DOIS SENTAM NA CAMA PARA
COMER.
(PASSAGEM DE TEMPO)
RAUL ESTÁ DORMINDO. LÍDIA O
OBSERVA. PUXA OS CABELOS DELE COM FORÇA. RAUL NEM SE MOVE. LÍDIA LEVANTA.
LÍDIA ABRE O GUARDA ROUPAS. VESTE
ROUPAS PRETAS E COLOCA UM SOBRETUDO DE MESMA COR POR CIMA. VAI NA COZINHA, PEGA
UMA FACA E UM SACO DE LIXO PRETO. TAKE RÁPIDO DE LÍDIA SAINDO DE CASA, DONA
HERMÍNIA VÊ ELA APRESSADA. AGORA LÍDIA TIRANDO O CARRO DA GARAGEM DO
CONDOMÍNIO.
CENA 17- EXTERNA. NOITE.
LETREIRO: “21:OO PM”
LÍDIA DIRIGE LOUCAMENTE.
AVANÇANDO SINAL. ENCOSTA EM FRENTE Á UM MURO ALTO E PICHADO. ENXERGA UMA
GAROTINHA (APARENTEMENTE 7 ANOS) ENCOLHIDA EM MEIO A JORNAIS E PEDAÇOS DE PANO.
LÍDIA DESCE DO CARRO E VAI ATÉ A GAROTA.
Lídia - (doce) Boa Noite,
lindinha. Você está sozinha?
Menina - (agressiva) O que você
quer?
Lídia - Calma. Eu quero te ajudar.
Você deve estar com fome não é?
Menina - Se quiser me dar grana,
passa logo.
Lídia - Eu quero te levar para
comer num restaurante ma-ra-vi-lho-so!
Menina - (desconfiada) A dona ta
falando sério?
Lídia - Seríssimo lindinha. Eu
costumo ajudar crianças carentes. Sabe, depois que eu perdi meu filho, sinto
que esta é a minha missão. Você tem mamãe?
Menina -(triste) Não...
Lídia - (acariciando) Posso ser
sua mamãe por uma noite?
Menina - A dona é tão legal...
Pode sim. Eu tô com muita fome e frio...
Lídia - (chorosa) Então vamos. Meu
carro é aquele.
AS DUAS ENTRAM NO CARRO E LÍDIA
ARRANCA.
CENA 18- CARRO DE LÍDIA. INT.
NOITE.
Menina - Falta muito pra chegar,
dona? Já tem 2 dias que eu não como.
Lídia - Nossa! (TEMPO) Falta pouco,
querida. Já já você vai comer uma comida deliciosa. Você nunca vai esquecer
essa noite...
CENA 19- RESTARURANTE SIMPLES.
INT. NOITE.
TAKE RÁPIDO DA MENININHA
DEVORANDO UM PRATÃO DE COMIDA. LÍDIA OBSERVA COM FRIEZA.
CENA 20- CARRO DE LÍDIA. INT.
NOITE.
Menina - Obrigada Tia, você é
muito legal. Não é igual as outras.
Lídia - Eu sou diferente, meu
amor... Vou te levar num lugar agora. Você vai adorar.
MENININHA DÁ UM SORRISO DE
ENTUSIASMO.
CENA 21- EXTERNA. TERRENO BALDIO.
NOITE.
LÍDIA E A MENINA DESCEM DO CARRO.
Menina - A gente já chegou?
Lídia - Sim.
Menina - Aqui não é bonito que nem
você disse.
Lídia- Olha, quero te dizer que
eu adorei ter te conhecido, lindinha. Espero que você tenha se divertido.
Menina - Foi legal, tia... O que a
gente veio fazer aqui?
Lídia - A tia vai te dar um
presente...
Menina - O que é?
Lídia - Vira de costas e fecha os
olhos.
Menina - (VIRA-SE) tá legal.
LÍDIA ABRE A BOLSA DEVAGAR, TIRA
A FACA DE DENTRO. APROXIMA-SE MAIS DA MENINA. ESTÁ NERVOSA, TREMENDO.
Menina - Já?
Lídia - (chorando) Desculpa, meu
anjo...
LÍDIA CRAVA A FACA NAS COSTAS DA
CRIANÇA. GOLPE CERTEIRO. A MENINA NEM AGONIZA TANTO.
LÍDIA EMBALA A GAROTA COM O SACO
DE LIXO PRETO. PEGA O FÓSFORO E PÕE FOGO. ELA ESTÁ CHOCADA, CHORANDO. AGORA
ENXUGA AS LÁGRIMAS, FAZ O SINAL DA CRUZ.
Lídia - É por você, filho. Está
feito!
PLANO GERAL.
CENA 22- EXTERNA.
(TAKE ÚNICO DE 1
MINUTO). LÍDIA ENCHENDO A CARA NUM
BARZINHO CHIQUE.
CENA 23- APTO. SALA. NOITE
LETREIRO: “01:10 PM”
LÍDIA CHEGA EXAUSTA, MEIO BÊBADA.
SE JOGA NO SOFÁ. ESCUTA BAIXINHO UM CHORO DE BEBÊ.
Lídia - (SORRI) Guilherme...
LÍDIA SOBE A ESCADA RÁPIDO, PORÉM
COM DIFICULDADE.
CENA 24- APTO. QUARTO DE
GUILHERME. NOITE.
LÍDIA ABRE A PORTA DO QUARTO SEM
ASCENDER A LUZ. ANDA LENTAMENTE ATÉ O BERCINHO. TENSÃO. ENCONTRA UMA ROSA
VERMELHA DENTRO DO BERÇO, JUNTO COM UM “BOLINHO” ENROLADO EM UM PANO E SE MEXE.
LÍDIA ESTÁ EMOCIONADA E RECEOSA.
TOCA BEM DEVAGAR NO “BOLINHO” DE PANO E O DESENROLA DEVAGAR REVELANDO PARTES DO
CORPO DE UM BEBÊ. O CORPO ESTÁ PÁLIDO, A PELE ESTÁ FEIA.
LÍDIA SE ASSUSTA COM O QUE VÊ.
GUILHERME ESTÁ DETERIORADO, RECÉM-SAÍDO DA COVA.
MULHER DE VERMELHO APARECE.
Mulher - Muito bem, Lídia. Seu
filho está de volta. Feliz?
Lídia - Que horror! Esse não é o
meu filho. Eu fiz tudo que você me pediu. Quero o meu Guilherme de volta!
Mulher - Eu trouxe ele de volta.
Está aí! Não disse que ele seria o mesmo. De qualquer forma, obrigado por
arrecadar mais 2 almas para mim de bom grado.
Lídia - Do que você está falando?
Mulher - A sua alma e a da
menininha que você assassinou são minhas agora! Você fez um trato e sacrificou
uma criança por mim. Muito Obrigado, Lídia.
MULHER DE VERMELHO SOME.
Lídia- Isso não é verdade! Volta
aqui!
TEMPO. LÍDIA FICA PENSATIVA.
DESESPERADA.
Lídia- Isso não está
acontecendo... Ôh, Deus!
GUILHERME CHORA. LÍDIA AINDA
RECEOSA VAI ATÉ ELE E O ACALMA.
Lídia - Calma filhote... Não
chora. (AGORA COM TERNURA) Mamãe está aqui com você... Que bom que você voltou,
meu amor... Vamos tomar um banho?
RAUL ACORDA E VAI ATÉ O QUARTO.
Raul- Lídia? Meu amor, o que você
está fazendo aí a esta hora?
Lídia- (feliz) Olha só quem
voltou, amor! Olha Raul, o nosso Guilherme!
Raul- O quê?
RAUL SE APROXIMA AINDA SONOLENTO.
LÍDIA INDICA O BERÇINHO. RAUL OLHA, ARREGALA OS OLHOS E DÁ UM GRITO DE PAVOR.
UM MÉDIA METRAGEM DE: MARCOS TAND
ESCRITO POR: MARCOS TAND
REALIZAÇÃO: BELAS HISTÓRIAS E TVV
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
REALIZAÇÃO: BELAS HISTÓRIAS E TVV
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS