terça-feira, 10 de junho de 2014

A DAMA DE VERMELHO


"A DAMA DE VERMELHO" - MÉDIA METRAGEM

CENA 1- APARTAMENTO DE LÍDIA E RAUL. INT. DIA.

MUITAS CAIXAS. MUDANÇA. VÁRIOS HOMENS DE MACACÃO CARREGANDO MÓVEIS. MUITO RÍTIMO. LÍDIA ESTÁ COM O BEBÊ NOS BRAÇOS. ESSA CENA DEVE DURAR UNS DOIS MINUTOS.

Lídia - Raul! Fala pra eles colocarem a cama no quarto da direita!

Raul - Se conseguirem subir com ela primeiro...

CENA 2- MONTAGEM:

a)Lídia dando ordens aos carregadores;
b)Raul pegando o bebê dos braços de Lídia;
c)Carregadores exaustos;
d)Caminhão de mudança indo embora.

CENA 3- APT DO CASAL. SALA. NOITE

RAUL E LÍDIA DEITADOS NO CHÃO, EXAUSTOS. O BEBÊ ESTÁ DORMINDO NUMA CESTINHA. A SALA ESTÁ REPLETA DE CAIXAS E OBJETOS ESPALHADOS.

Lídia - Nossa eu estou exausta...

Raul - Eu comeria um cavalo!

Lídia - Nem vem! Se quiser macarrão instantâneo, está na caixa com fita amarela.

Raul - Não... Vou sair pra comprar qualquer coisa.

Lídia - Estou com desejo de sushi!

Raul - Íh, essa não cola mais. A Gravidez já passou meu amor. Vou ali na churrascaria da esquina. Vamos comer e não beliscar.

Lídia - Tá, né?! Volta logo, temos que decidir o nome do nosso bebê, já estamos no apartamento novo. Vou fazer a papinha dele, deve estar quase acordando.

Raul - Tudo bem, não perco isso por nada. Beijo!(Se levanta e sai).

CENA 4- CORREDOR DO ANDAR. NOITE.

RAUL ESTÁ ESPERANDO O ELEVADOR, APRESSADO. UMA SENHORA ESQUISITA CHEGA E O ENCARA.

Hermínia - Boa Noite.

Raul - Boa Noite, senhora.

Hermínia - Me chamo Hermínia, sou vizinha de vocês. Aqui do 214.

Raul - Ah, muito prazer, meu nome é Raul. (apertam as mãos)

Hermínia - Onde está sua esposa?

Raul - Ah, ela ficou em casa com nosso filho. Estou indo comprar o nosso jantar.

Hermínia - Vocês tem um filho, que maravilha. Uma criança sempre adoça a vida da gente. Como se chama?

Raul - Ainda não escolhemos o nome. Lídia e eu queremos batizá-lo conforme a numerologia. Fará oito meses agora. A astróloga nos recomendou a darmos o nome pra ele quando estivéssemos no apartamento novo.

ELEVADOR CHEGA. ELES ENTRAM.

Hermínia - Interessante, rapaz. Hoje em dia quase não se acredita mais nessas coisas. Eu, por exemplo, jogo cartas e perdi muitos clientes por falta de fé da parte deles.

Raul - Nossa, a gente adora essas coisas exotéricas. Eu sempre digo que se deve acreditar em tudo!

Hermínia - Pois você está certo, rapaz! Se quiserem me procurar depois... Lembre-se, eu moro no 214. A consulta é cortesia de nova vizinha. Pode bater, eu estou sempre em casa.
Raul- Nossa muito obrigado! Vamos sim viu! Lídia vai adorar.

ELEVADOR PARA, ELES SAEM.

Hermínia - Vou esperar vocês. Agora deixe-me ir, comprar os remédios da pressão. Até logo vizinho.

Raul - Até logo!

OS DOIS SAEM EM DIREÇÃO OPOSTA.

CENA 5- APTO DO CASAL. SALA. NOITE.

LÍDIA ESTÁ DANDO MAMADEIRA AO BEBÊ. RAUL CHEGA COM O JANTAR.

Lídia - até que enfim! Já estava ficando preocupada...

Raul - Lembre-me de não faltar a nossa primeira reunião de condomínio, o elevador aqui do lado é horrível.

Lídia - só não crie caso com a síndica, ouvi dizer que ela é um nojo.

Raul - Que é isso, você me conhece...

Lídia - Por isso mesmo.

Raul - Enfim, trouxe seu sushi, por isso demorei mais um pouquinho. Ah! Conheci uma senhorinha muito simpática que mora aqui do lado, tudo bem que ela é um pouco esquisita, mas pareceu ser gente boa.

Lídia - Senhorinha simpática, porém esquisita... Isso me lembra aquele filme da Drew Barrymore,como é mesmo o nome?

Raul - “DUPLEX”! (os dois riem) A senhorita anda muito imaginativa.

Lídia - Tô é preocupada aqui, nosso garoto ainda não tem um nome. A Astróloga disse que só tem vaga pra atender a gente semana que vem. Como vamos chamá-lo ate lá? De “coisa fofa”?

Raul - Não se preocupe, eu tenho a solução. Essa senhora que conheci pode nos ajudar. Ela joga cartas...

Lídia - e como cartas vão decidir o nome do nosso filho?

Raul - Sei lá, a cartomante é ela. A consulta com a astróloga não é só semana que vem? Eu entendo se quiser esperar... 

Lídia - Não, não, não! Eu estou cheia de tanto esperar. Quando podemos visitar a velha?

Raul - Amanhã mesmo!

Lídia - (acariciando o bebê) Como será que você vai se chamar hein?

CORTA RÁPIDO PARA: 

CENA 6- APTO. DE HERMÍNIA. SALA DE VISITAS. DIA.

A SALA É UMA ESPÉCIE DE CONSULTÓRIO ESPIRITUAL. TEM UMA ATMOSFERA EXOTÉRICA. VELAS, INSENSOS. RAUL, LÍDIA E HERMÍNIA ESTÃO SENTADOS À MESA. RAUL SEGURA O BEBÊ.

Hermínia - Guilherme. As cartas dizem que deverá se chamar Guilherme.

Lídia - Guilherme? Sério?

Raul - E o que significa?

Hermínia- Guilherme significa “abençoado, protegido”. Ou “renascimento” também. Na verdade tem várias interpretações, mas essas são as mais famosas.

Raul- Interessante...

Lídia- Então, vamos registrar hoje mesmo.

Hermínia - (olha as cartas, espanto) E o batizem o quanto antes. É realmente urgente.

Lídia - Por que? Está vendo alguma coisa aí nas cartas?

Hermínia - (disfarça) Nada demais, apenas para o garoto não pegar quebranto.

Raul- Ah tá.

Hermínia- Antes de vocês irem, eu tenho algumas recomendações a fazer.

Raul- Do que se trata?

Hermínia - eu não iria falar nada para não amedrontá-los, mas fui com a cara de vocês...

Lídia - Estou ficando aflita...

Hermínia - Não é pra assustar,é só que... Pelo que eu sei de numerologia, o apartamento de vocês, 213, segundo a soma dá o resultado 6. O que nunca é bom no 6º andar de um prédio que também tem somatória 6.

Raul - É verdade, amor.

Lídia - Como foi que não prestamos atenção nisso?

Raul - E agora?

Hermínia - Não fiquem aflitos. Só quis alertar. Uma boa limpeza espiritual e alguns amuletos resolverão o problema?

Lídia - Opa! Pera aí que de limpeza eu entendo. Para quê limpeza? Os amuletos resolveriam. Uma limpeza espiritual só se faz quando o ambiente está impregnado de algo maligno.

Raul - Está escondendo algo de nós, dona Hermínia?

Lídia - Se estiver é melhor contar, não acha?

Hermínia - Sim, é verdade. Desde quando eu moro aqui, neste mesmo apartamento. Quando cheguei aqui com meu marido, no início da década de 80, eu ouço uma história cabeluda.

Raul - Que história?

Hermínia - De uma mulher que morava no apartamento de vocês. Um dia, bem cedo da manhã, ela se atirou da janela. Até hoje não se sabe o que levou ela a se suicidar. Era uma mulher muito bonita, segundo dizem, e estava usando um vestido longo e bem vermelho. Desde então, muitos moradores já afirmaram ter visto ela andando no apartamento, cantando na sacada... O tempo máximo que um inquilino já ficou no 213 foi 3 meses. Depois de se mudar, este sofreu um AVC e morreu.

Lídia - Cruzes, mais que história horrível!

Raul - Daria um ótimo filme de terror. Até arrepiei aqui.

Hermínia - Desculpem, mas é só pra alertá-los, já que disseram querer passar um bom tempo aqui no edifício. É só fazer limpezas constantes e está tudo certo! (risinho sem graça)

Lídia - Então ta né? Só espero conseguir dormir!

GUILHERME COMEÇA A CHORAR (SEM ESCÂNDALO).

Raul - (para Guilherme) Não, meu amor. Você não vai ter pesadelos, coisa linda do papai.

Lídia - Me de ele. (RAUL PASSA GUILHERME PARA OS BRAÇOS DE LÍDIA)Não chora, vai ficar tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem...

CENA 7- APTO. DO CASAL. SALA DE VISITAS. DIA.

LETREIRO: “UMA SEMANA DEPOIS”; “18:45 PM”.

RAUL E LÍDIA ESTÃO BRINCANDO COM GUILHERME, DEITADOS EM UM BRANCO E PELUDO CARPETE CHEIO DE ALMOFADAS GRANDES.

Raul - aposto que ele vai dizer primeiro papai!

Lídia - Claro que não né filho! Vai dizer mamãe...

GUILHERME SORRI.

Raul - Como tem tanta certeza, bonitinha?

Lídia - Porque eu mereço mais!O carreguei por nove meses e dou de mamar. Você quase nem troca uma fralda.

Raul - Isso não é justo, eu ajudei a fazê-lo sabia? Além do mais eu dou muito apoio moral e ainda comprei o bercinho/

Lídia - (silêncio) Shii! Ele dormiu.

Raul - O quê?

Lídia - Nosso Guilherme dormiu.

Raul - É verdade. E a gente brigando por ele... (OS DOIS RIEM)

Lídia - Eu estava pensando desde ontem, a gente já tem uma semana aqui e nada de estranho aconteceu ainda.

Raul - Graças à Deus!

Lídia - Pois é. Ainda bem que a Dona Hermínia avisou e nos ajudou.

Raul - Só mesmo a síndica reclamou dos incensos... Aquela...

Lídia - Deixa pra lá.

Raul - Aliás, espero que você não tenha esquecido do batizado dele. É depois de amanhã.

Lídia - Jamais! Só que ainda tenho que dar uma saída pra comprar a roupinha. (TEMPO)

Raul - Ei, que tal a gente aproveitar que o Gui dormiu?

Lídia - E fazer o quê?

Raul - ah você sabe, o papai está com saudade da mamãe.

Lídia - Hum... Eu também estou (SE BEIJAM)

Raul - Vamos subir...

Lídia - Espera. (SE LEVANTA SEM ACORDAR GUILHERME E FECHA A PORTA DA SACADA)Todo cuidado é pouco!

RAUL LEVANTA. OS DOIS SOBEM A ESCADA.

CENA 8- QUARTO DO CASAL. NOITE

RAUL E LÍDIA SE DESPINDO ROMANTICAMENTE. É UMA CENA SENSUAL E DELICADA. SE ABRAÇAM E CAEM JUNTOS NA CAMA. BEIJOS E CARÍCIAS. FADE OUT.

CENA 9- SALA DE VISITAS. NOITE.

GUILHERME ESTÁ SE MEXENDO. ACORDA. GUILHERME ENGATINHA PELA SALA. A PORTA DA SACADA ABRE LENTAMENTE. TENSÃO.
GUILHERME ENGATINHA LENTAMENTE RUMO À SACADA. SORRINDO. EM SEUS OLHOS CASTANHOS CLAROS, SE REFLETE A IMAGEM SE UMA MULHER LINDA USANDO UM VESTIDO VERMELHO. GUILHERME SORRI.
CHEGANDO À BEIRA DA SACADA, VEMOS NUM ÂNGULO VERTICAL A ALTURA DO PRÉDIO E GUILHERME, PEQUENINO, LÁ NO ALTO DA JANELA. GUILHERME DÁ UM ÚLTIMO SORRISO E CAI DA JANELA.

CENA 10- APT. DO CASAL. SALA. NOITE.

INTERFONE TOCA INSISTENTEMENTE. LÍDIA, SONOLENTA, VEM ATENDER.

Lídia - (ATENDE) Oi! Sim é ela. O quê? É mentira!

LÍDIA LARGA O INTERFONE E CORRE PARA A SALA DE VISITAS. NÃO ENCONTRA GUILHERME. ESTÁ DESESPERADA. OLHA A PORTA DA SACADA ABERTA. EM UM FLASHBACK, LEMBRA QUE A TINHA FECHADO.

Lídia - (DESESPERADA, GRITA)Raul!

CENA 11- FACHADA DO PRÉDIO. EXT. NOITE.

MUITA GENTE. UMA AMBULÂNCIA E VIATURA DA POLÍCIA ESTÃO NO LOCAL. O PORTEIRO E A SÍNDICA CONVERSAM COM OS POLICIAIS. LÍDIA E RAUL CHEGAM.

Lídia - Onde está Guilherme? Cadê o meu filho!

Enfermeiro - Senhora isto pode ser um pouco chocante...

Lídia - Não interessa!

Raul - (chorando) Amor, é melhor você não ver/

Lídia - eu quero ver meu filho!

RAUL TENTA SEGURAR LÍDIA, MAS ELA AVANÇA NA MACA DA AMBULÂNCIA. SE ASSUSTA COM O QUE VÊ E GRITA HISTERICAMENTE.

Lídia - (Grita) Não! Meu bebê não.

Raul - (cai no choro) Nosso filho!

HERMÍNIA CHEGA.

Hermínia- (ABRAÇANDO OS DOIS) Queridos, eu vim assim que soube. Não fiquem assim. Guilherme virou um anjinho!

Lídia - A culpa é sua! Sua velha, você agourou o nosso futuro!

Hermínia - Mas o quê...

Raul - Não ligue para ela, dona Hermínia. Está muito abalada.

Lídia - O nosso Guilherme morreu por sua culpa! Velha macumbeira!

Raul - Lídia, pelo amor de Deus, você não sabe o que está dizendo! Se controla.

Hermínia - Não, deixa Raul. Tudo bem, eu entendo. Lídia não está com os nervos no lugar. Se precisarem de mim estarei rezando em casa. (sai)

Raul - Muito Obrigado.

Lídia - Raul, pelo amor de Deus, me leva pra casa?

Policial - Preciso conversar com vocês!

Raul - Agora não. Outra hora o senhor nos procura. Estaremos em casa. Estamos muito abalados. Minha esposa não tem condições de falar nada agora.

Policial - Ok. Tudo bem, eu entendo... Entraremos em contato em breve.

Raul - Vou esperar. Vamos, meu amor. Deixa que eu cuido de você... Eu cuido de tudo.

CENA 12- MONTAGEM COM TAKES RÁPIDOS:



a) ENTERRO DE GUILHERME;
b) LÍDIA E RAUL EM CASA, FALANDO COM A POLÍCIA;
c) LÍDIA ABRAÇANDO HERMÍNIA. RECONCILIAÇÃO;
d) RAUL, LÍDIA E HERMÍNIA NA MISSA DE SÉTIMO DIA;
e) RAUL E LÍDIA PASSEANDO NO PARQUE.

CENA 13- APTO. DO CASAL. QUARTO DE GUI. DIA.

LÍDIA ESTÁ ADMIRANDO O QUARTO. TOCANDO NOS BRINQUEDOS COM TERNURA. OLHANDO O BERÇO, ELA CHORA. RAUL CHEGA, BATE NA PORTA.

Raul - Toc-Toc, posso entrar?

Lídia - Eu não consigo me conformar...

Raul - Eu sei. A gente nunca se conforma com esse tipo de coisa.

Lídia - Por um momento parece que eu vou ouvir meu filho sorrir, chorar querendo colo. E agora eu não tenho mais em quem colocar a fralda; pra quem preparar a papinha...

Raul - (abraçando-a por trás) Eu estou aqui, meu amor. Nunca vou te abandonar... Sei que o nosso Gui está em algum lugar do céu nos protegendo, olhando por nós. Lá no meio das estrelas...

Lídia - O que seria e mim sem você, Raul... Você é tão calmo. Eu te amo.

Raul - Eu te amo mais ainda!

SE BEIJAM.

Raul - Espero que você não se importe de passar o dia sozinha. Eu avisei que iria passar o dia na editora resolvendo questões do novo livro.

Lídia - Tudo bem é o seu futuro. Nossa vida. Vai lá, eu prometo ficar bem.

Raul - Ok. Então eu já vou. Devo chegar no fim da tarde e trago o nosso jantar.

Lídia - Fico legal. (SE BEIJAM)

CENA 14- APTO. DO CASAL. SALA DE VISITAS. DIA.

LÍDIA ESTÁ NA FRENTE DA TV, ZAPEANDO OS CANAIS. DEIXA NUM FILME DE ROMANCE. ADORMECE. (TEMPO) LÍDIA ABRE OS OLHOS LENTAMENTE E SE ASSUSTA. UMA LINDA MULHER MORENA (QUE USA UM VESTIDO VERMELHO DESLUMBRANTE) A ESTÁ ENCARANDO.

Lídia - Quem é você?! Como entrou aqui?

Mulher- Calma Lídia...

Lídia- Como sabe o meu nome? QUEM É VOCÊ? Vou chamar a polícia!

DO NADA, A MULHER APARECE ATRÁS DE LÍDIA.

Mulher - (riso sarcástico) Não seja tola. Estou aqui para ajudá-la. Sei o que você está passando.

Lídia - Como assim? Eu não estou entendendo nada... Como fez isso?

Mulher - Apenas ouça-me. Você perdeu um filho e eu compreendo sua dor, mas se quiser tê-lo de volta basta me seguir... Você acredita no sobrenatural?

Lídia - Não! Eu não acredito mais em nada, nem em Deus e muito menos no diabo! Só posso estar ficando louca...

Mulher - Não acredita no diabo? Sabe, você deveria. Ele acredita em você.

Lídia - Já chega! Eu vou ligar para a polícia!
Mulher- Como se pudesse...

LÍDIA CAI NO SOFÁ E NÃO CONSEGUE SE LEVANTAR.

Lídia - Mas o que é isso? Não consigo me levantar...

Mulher - Preste bem atenção. Eu sei o tamanho da dor que uma mãe sente ao perder um filho. Sei como se sente, mas isso não trará o Guilherme de volta.

Lídia - Como sabe o nome do meu filho? SOCORRO!

Mulher - Você quer ter seu filho de volta ou não?

Lídia - É tudo o que eu mais quero...

Mulher - É simples. Até a meia noite você deve sacrificar uma criança, queimá-la e oferecer a mim e em troca eu devolvo o seu filho.

Lídia - Mas que horror! Eu jamais vou fazer uma coisa dessas!

Mulher - A decisão é sua. Se o fizer, terá seu lindo filhinho de volta. O destino foi muito injusto com você e seu marido. Estou te dando uma segunda chance. Se não quiser basta falar em definitivo, mas perderá a única oportunidade de ouvir o risinho fofo do seu Guilherme novamente...

Lídia - Não! Que diabo de proposta é essa?

Mulher - A única que pode satisfazer essa sua louca vontade de ter o seu Gui de novo... Ou isso ou nada.

Lídia - (pensa; eufórica) Eu aceito!

Mulher - Sábia escolha. Lembre-se: até a meia noite...

A MULHER DESAPARECE. LÍDIA ESTÁ PERPLEXA. E DE REPENTE ACORDA COMO SE TUDO NÃO TIVESSE PASSADO DE UM SONHO. DE VOLTA A SI, LÍDIA ESTÁ COM MEDO, DESCONFIADA. OLHA PRO SOFÁ E ENCONTRA UMA ROSA VERMELHA EM CIMA DA ALMOFADA.
LÍDIA PEGA A ROSA COM RECEIO. ADMIRA-A. LÍDIA ESTÁ SÉRIA E OLHA A SALA TODA PROCURANDO A MULHER. SENTA NOVAMENTE NO SOFÁ E FICA PENSATIVA.

CENA 15- APTO. SALA. NOITE.

LÍDIA ESTÁ VENDO TV TOMANDO SORVETE. RAUL CHEGA.

Raul - Boa Noite, amor. Demorei?

Lídia - Não... Só deu tempo deu ficar aqui engordando...

Raul - Eu trouxe o nosso jantar. Passei naquele restaurante que você gosta.

Lídia - Que bom, então vamos comer no quarto? Eu fui ali em baixo e aluguei uns DVD’s.

Raul - É bom ver você reagindo, amor. (SE BEIJAM)

Lídia - Vai tomar um banho que cê ta todo suado. Deixa que eu preparo tudo aqui e levo pro quarto.

Raul - Vou lá. (SAI)

LÍDIA ABRE A SACOLA, COLOCA OS PRATOS NUMA BANDEJA. ARRUMA TUDO. COLOCA SUCO EM DOIS COPOS. AGORA ELA TIRA UM VIDRINHO DO BOLSO E DESPEJA ALGUMAS GOTAS DENTRO DE UM DOS COPOS.

CENA 16- APTO. QUARTO.

LÍDIA CHEGA COM O JANTAR NUMA ENORME BANDEJA. RAUL SAI DO BANHO DE ROUPÃO.

Raul - Opa! Mas o que é isso? Um banquete pro Alibabá e os 40 ladrões?

Lídia - Não, seu bobo. Nosso jantar. Acho que merecemos algo assim depois de tudo o que aconteceu...

Raul - Você está certa. Eu te amo e não canso de dizer...

Lídia - Eu é que preciso te agradecer por tudo. Tirei a sorte grande... (SE BEIJAM)

Raul - Vamos atacar?

Lídia - Fique à vontade, sultão!

OS DOIS SENTAM NA CAMA PARA COMER.

(PASSAGEM DE TEMPO)

RAUL ESTÁ DORMINDO. LÍDIA O OBSERVA. PUXA OS CABELOS DELE COM FORÇA. RAUL NEM SE MOVE. LÍDIA LEVANTA.
LÍDIA ABRE O GUARDA ROUPAS. VESTE ROUPAS PRETAS E COLOCA UM SOBRETUDO DE MESMA COR POR CIMA. VAI NA COZINHA, PEGA UMA FACA E UM SACO DE LIXO PRETO. TAKE RÁPIDO DE LÍDIA SAINDO DE CASA, DONA HERMÍNIA VÊ ELA APRESSADA. AGORA LÍDIA TIRANDO O CARRO DA GARAGEM DO CONDOMÍNIO.

CENA 17- EXTERNA. NOITE.

LETREIRO: “21:OO PM”

LÍDIA DIRIGE LOUCAMENTE. AVANÇANDO SINAL. ENCOSTA EM FRENTE Á UM MURO ALTO E PICHADO. ENXERGA UMA GAROTINHA (APARENTEMENTE 7 ANOS) ENCOLHIDA EM MEIO A JORNAIS E PEDAÇOS DE PANO. LÍDIA DESCE DO CARRO E VAI ATÉ A GAROTA.

Lídia - (doce) Boa Noite, lindinha. Você está sozinha?

Menina - (agressiva) O que você quer?

Lídia - Calma. Eu quero te ajudar. Você deve estar com fome não é?

Menina - Se quiser me dar grana, passa logo.

Lídia - Eu quero te levar para comer num restaurante ma-ra-vi-lho-so!

Menina - (desconfiada) A dona ta falando sério?

Lídia - Seríssimo lindinha. Eu costumo ajudar crianças carentes. Sabe, depois que eu perdi meu filho, sinto que esta é a minha missão. Você tem mamãe?

Menina -(triste) Não...

Lídia - (acariciando) Posso ser sua mamãe por uma noite?

Menina - A dona é tão legal... Pode sim. Eu tô com muita fome e frio... 

Lídia - (chorosa) Então vamos. Meu carro é aquele.

AS DUAS ENTRAM NO CARRO E LÍDIA ARRANCA.

CENA 18- CARRO DE LÍDIA. INT. NOITE.

Menina - Falta muito pra chegar, dona? Já tem 2 dias que eu não como.

Lídia - Nossa! (TEMPO) Falta pouco, querida. Já já você vai comer uma comida deliciosa. Você nunca vai esquecer essa noite...

CENA 19- RESTARURANTE SIMPLES. INT. NOITE.

TAKE RÁPIDO DA MENININHA DEVORANDO UM PRATÃO DE COMIDA. LÍDIA OBSERVA COM FRIEZA.

CENA 20- CARRO DE LÍDIA. INT. NOITE.

Menina - Obrigada Tia, você é muito legal. Não é igual as outras.

Lídia - Eu sou diferente, meu amor... Vou te levar num lugar agora. Você vai adorar.

MENININHA DÁ UM SORRISO DE ENTUSIASMO.

CENA 21- EXTERNA. TERRENO BALDIO. NOITE.

LÍDIA E A MENINA DESCEM DO CARRO.

Menina - A gente já chegou?

Lídia - Sim.

Menina - Aqui não é bonito que nem você disse.

Lídia- Olha, quero te dizer que eu adorei ter te conhecido, lindinha. Espero que você tenha se divertido.

Menina - Foi legal, tia... O que a gente veio fazer aqui?

Lídia - A tia vai te dar um presente...

Menina - O que é?

Lídia - Vira de costas e fecha os olhos.

Menina - (VIRA-SE) tá legal.

LÍDIA ABRE A BOLSA DEVAGAR, TIRA A FACA DE DENTRO. APROXIMA-SE MAIS DA MENINA. ESTÁ NERVOSA, TREMENDO.

Menina - Já?

Lídia - (chorando) Desculpa, meu anjo...

LÍDIA CRAVA A FACA NAS COSTAS DA CRIANÇA. GOLPE CERTEIRO. A MENINA NEM AGONIZA TANTO.
LÍDIA EMBALA A GAROTA COM O SACO DE LIXO PRETO. PEGA O FÓSFORO E PÕE FOGO. ELA ESTÁ CHOCADA, CHORANDO. AGORA ENXUGA AS LÁGRIMAS, FAZ O SINAL DA CRUZ.

Lídia - É por você, filho. Está feito!

PLANO GERAL.

CENA 22- EXTERNA.

(TAKE ÚNICO DE 1 MINUTO). LÍDIA ENCHENDO A CARA NUM BARZINHO CHIQUE.

CENA 23- APTO. SALA. NOITE

LETREIRO: “01:10 PM”

LÍDIA CHEGA EXAUSTA, MEIO BÊBADA. SE JOGA NO SOFÁ. ESCUTA BAIXINHO UM CHORO DE BEBÊ.

Lídia - (SORRI) Guilherme...

LÍDIA SOBE A ESCADA RÁPIDO, PORÉM COM DIFICULDADE.

CENA 24- APTO. QUARTO DE GUILHERME. NOITE.

LÍDIA ABRE A PORTA DO QUARTO SEM ASCENDER A LUZ. ANDA LENTAMENTE ATÉ O BERCINHO. TENSÃO. ENCONTRA UMA ROSA VERMELHA DENTRO DO BERÇO, JUNTO COM UM “BOLINHO” ENROLADO EM UM PANO E SE MEXE.
LÍDIA ESTÁ EMOCIONADA E RECEOSA. TOCA BEM DEVAGAR NO “BOLINHO” DE PANO E O DESENROLA DEVAGAR REVELANDO PARTES DO CORPO DE UM BEBÊ. O CORPO ESTÁ PÁLIDO, A PELE ESTÁ FEIA.
LÍDIA SE ASSUSTA COM O QUE VÊ. GUILHERME ESTÁ DETERIORADO, RECÉM-SAÍDO DA COVA.
MULHER DE VERMELHO APARECE.

Mulher - Muito bem, Lídia. Seu filho está de volta. Feliz?

Lídia - Que horror! Esse não é o meu filho. Eu fiz tudo que você me pediu. Quero o meu Guilherme de volta!

Mulher - Eu trouxe ele de volta. Está aí! Não disse que ele seria o mesmo. De qualquer forma, obrigado por arrecadar mais 2 almas para mim de bom grado.

Lídia - Do que você está falando?

Mulher - A sua alma e a da menininha que você assassinou são minhas agora! Você fez um trato e sacrificou uma criança por mim. Muito Obrigado, Lídia.

MULHER DE VERMELHO SOME.

Lídia- Isso não é verdade! Volta aqui!

TEMPO. LÍDIA FICA PENSATIVA. DESESPERADA.

Lídia- Isso não está acontecendo... Ôh, Deus!

GUILHERME CHORA. LÍDIA AINDA RECEOSA VAI ATÉ ELE E O ACALMA.

Lídia - Calma filhote... Não chora. (AGORA COM TERNURA) Mamãe está aqui com você... Que bom que você voltou, meu amor... Vamos tomar um banho?

RAUL ACORDA E VAI ATÉ O QUARTO.

Raul- Lídia? Meu amor, o que você está fazendo aí a esta hora?

Lídia- (feliz) Olha só quem voltou, amor! Olha Raul, o nosso Guilherme!

Raul- O quê?

RAUL SE APROXIMA AINDA SONOLENTO. LÍDIA INDICA O BERÇINHO. RAUL OLHA, ARREGALA OS OLHOS E DÁ UM GRITO DE PAVOR.


UM MÉDIA METRAGEM DE: MARCOS TAND
ESCRITO POR: MARCOS TAND
REALIZAÇÃO: BELAS HISTÓRIAS E TVV
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS