1x2 – FLOWERS
O corpo de Oscar Johnson coube perfeitamente
na lata de lixo cuja Nick Collins pegara de um dos serventes do hotel onde se
encontrava. Coube depois que Nick quebrou todos os ossos do cadáver.
A cena do
crime estava armada. Cabia agora a Nick esconder todas as provas de um
homicídio que nem ele mesmo sabia se havia cometido.
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Antes de
abandonar no rio Colorado o corpo de Oscar, Nick manteve o quarto alugado no
hotel. Pretendia voltar ali mais tarde e limpar todas as provas, tudo o que poderia
lhe incriminar. Talvez fazer o que ele sabia fazer de melhor: investigar.
Investigar de que maneira ele chegara ali naquela noite.
Outra pessoa
com menos desespero e mais juízo chamaria a polícia, mas Nick sabia que aquilo
tudo não passava de uma cilada muito bem armada. E ele caíra naquela armadilha
como um patinho.
Nicholas
Collins não tinha inimigos ou a quem suspeitar, todavia os seus colegas de
trabalho sabiam de que ele era o preferido, pioneiro nos melhores e maiores
casos. O agente era humilde o bastante para achar que o seu trabalho nunca
estava bom o suficiente e isto fazia dele uma imagem de sonso por todos da
superintendência.
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Las Vegas, 16 de Agosto
de 2002
Naquela tarde, o Del Rey prateado de Nick foi estacionado à frente do
escritório de seu melhor amigo. Era fim de expediente e Philip Page foi pego de
surpresa, pois pretendia sair para jantar com a esposa e os dois filhos.
Apenas Nicholas poderia fazer com que
Philip desmarcasse qualquer compromisso importante, assim como ele confiaria
seus maiores segredos a ele. E isto era recíproco desde o dia em que eles se
conheceram, na faculdade de Direito, há dez anos.
— Nick? O que aconteceu? Parece até
que um caminhão passou por cima de você!
E, de fato, se a polícia estivesse
procurando um assassino, pela aparência Nicholas Collins seria o primeiro
suspeito.
— Philip, por favor, preciso
conversar com você. Só você pode me ajudar!
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O sol já se
punha quando Philip Page abriu novamente a porta de seu escritório para conversar
tranquilamente com o amigo. Nicholas se tremia, comportando-se como um
esquizofrênico.
— Pelo visto
aconteceu algo muito grave. — disse Philip, apontando para que Nick pudesse
sentar em uma das poltronas de sua sala.
— Eu matei
um homem, Philip. Eu acho que matei
um homem!
Philip
compreendia Nick mais do que ninguém e, após saber de toda a história, decidiu
ajudar o amigo.
— Nick, o
que você fez com o corpo?
— Joguei no
rio Colorado. — respondeu.
— Não! Não
deveria ter feito isso, Nicholas! Trabalha investigando crimes, deveria saber
que, mais cedo ou mais tarde, este corpo irá aparecer.
— Foi por
impulso, cara. Mas espero que até lá eu
tenha resolvido tudo.
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Sede do FBI Em
Washington D.C, 16 De Agosto De 2002
Jacqueline Adams, sozinha, examinava
o corpo de uma mulher, morta tendo sua língua arrancada. Tudo indicava que
havia sido crime passional. Tyler Gomez se aproximou e tentou assustar a médica
legista:
— Bu!
— Desista, Tyler. Você não vai me
assustar desse jeito. — disse Jacqueline.
— Nunca assustaria. A quem estou
tentando enganar? — Tyler observava a face horrenda da mulher morta. Estava
explícito: ela implorara ao assassino para sobreviver. — Dra. Adams,
encontraram a língua da nossa amiga. — disse ele.
Jacqueline, calma, cobriu o corpo com
um lençol branco, retirou as luvas e a máscara.
— Que bom.
—Parece que o namorado queria um
troféu. Algo que ficasse de recordação.
— Bom... crime resolvido. Ela está
morta, o cara será processado, talvez pegue prisão perpétua. — disse Jacqueline
Adams, sarcástica. — Mais uma mulher morta pelo companheiro. Isto, Tyler, é um absurdo.
— Dra.
Adams, não é a primeira vez que pegamos um caso desses.
— Estou
casada, Tyler. Talvez seja hora de procurar outra carreira.
—
Jacqueline, por favor, não faça das palavras que ouvi do Nick as suas.
— Trabalhar
aqui é para os fortes. Com licença, vou tomar um pouco de café.
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Já era noite
quando Nicholas Collins e Phillip Page chegaram ao hotel onde o crime
acontecera.
— Nick, você
tem a chave. Suba, coloque os lençóis sujos de sangue dentro de sua mochila e
limpe todas as evidências.
— E você,
Phillip?
— Vou
perguntar ao recepcionista do hotel quem fez o aluguel do quarto. Vá, Nick.
Daqui a quinze minutos eu ligo para o seu celular.
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Nicholas pôs
a chave na porta do quarto alugado e girou a maçaneta. Pretendia eliminar todas
as provas do crime, mas para sua surpresa nada havia ali a não ser um quarto
limpo, arrumado e longe de parecer um cenário de crime. O rapaz se assustou e
apenas rezou para não terem chamado a polícia.
“O assassino sempre volta à cena do crime. Preciso sair logo daqui. Estou
cada vez mais provando que eu sou o culpado de tudo ou caindo na armadilha
‘dele’”, pensava,
enquanto se aproximava da mesinha de cabeceira. Nela havia um ramalhete de
flores e um cartão. Nick rapidamente o pegou e leu. Dizia:
“Provando
a minha admiração pelo senhor, Sr. Nick Collins, voltei até o cenário do crime
e fiz questão de arrumar tudo pra você. Espero que aproveite seus últimos dias
de liberdade.
Atenciosamente,
Seu
Admirador Secreto.”