1x1 – PILOT
Las Vegas, 31 de Julho 2002
As
luzes se acenderam. Uma médica legista, o melhor agente do FBI e o seu chefe
entraram em um quarto vagabundo de motel. A cena do crime era horrenda, o que
despertava o faro investigativo de Nicholas Collins, aquele citado como o
melhor agente da Agência Federal de Investigação dos Estados Unidos da América.
Todos
observavam que o homem ali morto estava despido e seu saco escrotal lhe
faltava.
—
Crime passional? — perguntou Jacqueline Adams, a médica legista.
—
O que acha, Nicholas? — Tyler Gomez, o chefe do FBI, redirecionou a pergunta ao
seu melhor agente. Nick, por sua vez, nada respondeu, apenas continuou
observando o cadáver. Tyler compreendeu que Nick estava tirando conclusões.
Nick nunca errava.
—
Não. — respondeu Nicholas, finalmente — Cortes precisos no pescoço da vítima.
Isso é típico de uma figurinha carimbada no FBI. Brenda Johnson está atacando
novamente.
—
Não, Nick, Brenda não ataca há dois anos! — disse Jacqueline.
Nicholas
ignorou as obviedades da médica legista e olhou nos olhos de Tyler.
—
Tyler. Prepare tudo. Eu quero ser a isca.
—
Não tem medo de que ela corte as suas bolas? — brincou o chefe.
—
Se duvidar, eu corto as bolas dela.
Las Vegas, 15 de Agosto
de 2002
Nicholas Collins
estava observando aquela mulher com feminilidade e índole suspeitas. O travesti
com o pomo-de-adão maior do que qualquer agente do FBI não enganaria ninguém
nem de longe.
Os olhos de
todos estavam voltados para as suas bebidas, jogos e prostitutas daquele
estabelecimento. O travesti continuava a tomar o seu whisky e, diferentemente
de todos, Nicholas não tinha outra alternativa a não ser tirar alguém para
dançar. Seria ela.
— O que não
fazemos pelo trabalho? — suspirou Nick, encaminhando-se em direção ao
transformista.
A
mulher com feminilidade e índole suspeitas sorriu para Nick, pensando que
faturaria mais um cara naquela noite e que só quando estivessem em uma cama,
despidos, o amante casual descobriria que seu nome não era Brenda, e sim Oscar.
—
Meu nome é Brenda Johnson. Qual é a sua graça? — perguntou o travesti.
—
Eu sou Nicholas Collins. Sou agente do FBI. Você está presa. Ou melhor: preso.
Brenda
Johnson resistiu. Retirou um revólver da meia calça e atirou para um lugar
qualquer. As pessoas que estavam no estabelecimento corriam aterrorizadas. A
bala havia acertado em cheio a cabeça de uma das prostitutas que dançavam no
palco. Tal confusão fez com que Brenda pudesse fugir sem deixar qualquer chance
de Nicholas prendê-la.
—
Merda! — exclamou Nick. Após isso, solicitou uma ambulância para socorrer a
moça ferida.
A
prostituta já estava morta.
Washington, 15 de
Agosto de 2002
—
Eu sei que fui idiota em ter deixado a frutinha fugir. Mas aquele era um estabelecimento
público. Acho que me precipitei. Ou melhor: acho que é hora de eu me aposentar.
—
Poupe-me, Nick. Você tem apenas 32 anos e já é um agente renomado do FBI.
Poucos com sua idade tiveram essa chance. — disse Tyler, enquanto acendia um
charuto e se reconfortava na poltrona de sua sala.
—
Uma mulher morreu ontem por causa do meu descuido. Tyler você sabe como isso é
pra mim!
— Nicholas,
são ócios do ofício.
Tyler
assinou uma autorização e entregou a Nicholas.
— Tome.
Tire o dia de folga. — disse Tyler Gomez.
A cabeça de Nicholas Collins latejava do lado direito.
Realmente ele precisava descansar. Tomou o carro e seguiu para a sua casa, que
ficava a alguns quilômetros da sede do FBI em Washington, onde trabalhava. O
casebre, simples, mas perfeito para um homem solitário como ele, ficava
escondido numa uma pequena floresta. Nick adorava o canto dos pássaros, a
natureza e, principalmente, sua cama.
—
Parece que esqueci a porta aberta. Que estranho! — disse ele, ao perceber o
erro e entrando em casa.
Tomou um
banho rápido e deitou-se em sua cama. Esqueceu-se de tomar um remédio, então se
levantou e tomou uma aspirina, engolindo-a com vodca, o primeiro líquido que
achara. Deitou-se novamente e dormiu.
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Acordou.
Não, Nick não estava em sua cama. Não era o último lugar onde havia se deitado
para dormir. As paredes do quarto onde ele se encontrava estavam manchadas.
Sangue, ele tinha certeza. Assim como os lençóis. Encharcados, ensopados com
aquele líquido viscoso, vermelho. O cheiro de morte entrava em suas narinas e
só fazia aumentar a dor de cabeça que ele vinha sentindo. Olhou para o chão e
encontrou um corpo. Uma mulher despida de bruços.
Rapidamente
ele se levantou da cama onde estava e sacudiu a mulher. Ela não reagia. Virou-a
de frente e se assustou: era um homem. O travesti, Brenda Johnson. Oscar
Johnson. Como quiser, ele já estava morto. E tudo indicava que Nick havia lhe
matado. Ele não sabia como, mas suas mãos estavam sujas de sangue.