segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Pior Fic que já Existiu - Capítulo 01


I

Eu poderia contar uma história linda, com pessoas extraordinariamente bonitas, vidas perfeitas. Seria mais ou menos assim: Uma menina excepcionalmente bonita, um rapaz igualmente bonito, educado e gentil. Um conflito, pazes, tudo está bem quando termina bem, certo?
Não.
A sua vida não é assim, a minha também não. A de ninguém é. Não existem estradas perfeitas, o que existem são caminhos menos tortuosos e outros mais esburacados. A minha vida, que eu contarei para vocês por um tempo, é um caminho de barro bastante irregular. Talvez você prefira uma outra história, uma estrada perfeita, lisa, bem iluminada. Vá! Leia essa outra história deliciosa, sedutora e irreal. Iluda-se!
Mas eu vou seguir contando o que me aconteceu para quem quiser saber. E sem mais enrolação, que eu não vim aqui para isso.
Tudo começou em 16 de Maio de 1994, bem, nesse dia Rosa Lumier foi à clínica São Luís junto com seu marido Paulo Lumier. Enfim, eu nasci, mas não é realmente do início que eu quero começar. Basta dizer que meu nome é Helena, mas tenho o estranho apelido de Pupa, sem maiores explicações para isso. Morava com meus pais numa cidade pequena, alguns amigos, gosto de ler boas histórias, ver bons filmes.Detesto números, sempre me ferrei nas três irmãs más: Matemática, Física e Química. Fisicamente nunca fui grande coisa, uns quilinhos a mais...Certo, muitos a mais. Olhos de cores normais, nada de azul ou verde, só um castanho básico. Cabelo normal, nada daqueles belíssimos de propaganda de xampu. Aliás, é preciso um grande esforço para mantê-lo no lugar, se um dia você me vir por aí com o cabelo bagunçado pense que eu ralei para chegar no que agora você está chamando de “bagunçado”.
Meu pai recebeu uma boa proposta para trabalhar num grande jornal de uma grande cidade. Minha mãe conseguiu transferência , corretores de imóvel são necessários em todos os lugares. E eu? Bem eu ia entrar no meio do ano numa escola enorme, onde certamente eu não conhecia ninguém. Pensei em todas as possibilidades de tudo dar errado. Errado. Certo. Não sei. Na real, eu penso que não existe isso de 100% certo ou errado, como também não existe algo absolutamente bom ou ruim. O mundo não é feito de coisas exatas, é mais uma mistura. Eu vou lhe dizer como os fatos seguiram, e caberá a você julgar se o saldo foi positivo ou negativo.
(...)
Primeiro dia na escola nova, eu fiquei repassando todo um esquema mental para não cometer nenhum deslize. O que se tratando de mim era tecnicamente impossível. Devo admitir ainda que fiquei muito nervosa, o que já estava previsto. Fiquei contente pelo uso de uniforme ser obrigatório, assim não tinha como eu escolher a roupa errada. Meu pai queria chegar cedo ao trabalho no seu primeiro dia e por consequência eu cheguei cedo também, pedi umas orientações na frente da escola. Cheguei a minha sala, tinham só umas três pessoas.Murmurei um bom dia, que não foi respondido, sendo justa ele provavelmente não foi nem ouvido. Sentei na quarta cadeira do canto. Pus minha mochila no chão, tirei o celular do bolso e fiquei ouvindo alguma coisa da Pink.
A aula começou e eu não fui percebida. Só lá pelo quarto horário a professora de história ficou me encarando... me encarando... encarando mais um pouquinho...”Você é nova aqui?’’ . Afirmei que sim com a cabeça. Um milhão de cabeças com seu par de olhos curiosos viraram para mim. Desejei ser do tamanho de um alfinete e não de um filhotinho de elefante. “Bem vinda”. “Obrigada” . Tentei sorrir, mas quando tento sorrir sem real vontade de fazê-lo sempre sai uma cara de idiota. No intervalo uma garota com óculos de armação marrom e aparelho nos dentes veio até mim.
– Então você é novata?
– Sim
– Qual o seu nome?
– Helena. E o seu?
– Tâmara, seja bem vinda
– Valeu Tâmara
Aí chegou a hora da saída, me despedi da Tâmara – parecia ser bem legal, ainda bem que eu já tinha com quem falar no intervalo – fui descendo as escada que por sinal estavam entupidas de gente.
Os dias seguintes foram parecidos com o primeiro, depois de uns 3 meses eu e a Tâmara ficamos amigas. Ela também era amiga de um menino de penteado estranho chamado Jorge, que acabou se tornando meu amigo também. Tirando isso continuei sendo parcialmente ignorada pelo resto da sala, o que era relativamente bom. Mas essa ladainha toda não lhe interessa, não é mesmo? É,é, eu sei, mas tenho que dizer para que você entenda o que vem por aí. Ah, o que? O que você disse? Hum, sim você quer saber o que vem por aí, naturalmente.
Vem o mês de Outubro e a gincana do colégio. Seu colégio também faz gincana? O meu antigo não fazia. Esse colégio não só fazia como era uma gincana ultra,mega,hiper sofisticada. Tinha carreata, briga entre as turmas , um zilhão de danças e tudo. Inclusive era obrigatória que todos os alunos participassem de pelo menos uma dança. O QUE? Eu + dança = conjunto vazio . A líder da nossa turma, obviamente uma dessas meninas com muito no peito e pouco no cérebro, disse que a organização ia ser democraticamente por altura. Mas é claro que os grupinhos não foram desfeitos, acabou que eu fiquei sem par, a Tâmara sempre ia com o Jorge.
Eu pensei “Uhu pelo menos eu não danço!” . OK, isso não mudava o fato de eu ter ficado excluída, mas tudo tem um lado bom, eu já tinha quase me auto-consolado quando me falaram que uns garotos ainda faltavam, dois mais precisamente, aliás uma das GMLS (Garotas Mais Lindas da Sala) também estava sem par. Óbvio que ela não tinha sobrado como eu, um dos caras que faltava era o namorado dela. Enfim, no próximo ensaio eles viriam. E aí... aí a história realmente começa a ficar mais interessante e menos burocrática. Porque vamos acertar, como você leu até aqui? Isso aqui está muito chato. Mas vai mudar, eu garanto.