quarta-feira, 9 de abril de 2014

Que se Acendam as Luzes - Segundo Capítulo




         
         Era uma pista de aeroporto apenas para aeronaves pequenas e pousava naquele momento um jato particular. Eram nove da manhã. O jato, por fim, decolou. Um por um os passageiros foram descendo. Já estavam no Brasil. Estela foi à frente, levando uma mala. Outro integrante também levava uma mala. Mas não eram simples malas, e sim, malas que ajudavam no esquema.

      Um delegado estava sentado em sua cadeira, aquela com “rodinhas”, que fazem a mesma se movimentar. Com cotovelo apoiado à mesa, ele pensava, assim como todo delegado de polícia federal faz quando está na delegacia. Um detetive entrou na sala e foi logo sendo convidado a sentar pelo delegado, o qual falou após ver o mesmo sentado.
      – Então? Conseguiu? Era o que esperávamos?
      – Dr. Robson, é muito estranho. Esses médicos saem mais de uma vez por mês. Só que não os vemos chegar, muito menos sair. Não há como tirar conclusões objetivas. Precisamos ficar mais... Atrás deles, entendeu?
      – Entender eu entendi sim, mas ainda to achando que é aquilo que suspeitávamos. Tem tudo a ver.
      – Será mesmo Doutor?
      – Só pode ser...





      Estela se dirigia para sua sala, a diretoria do hospital Trindade, vendo os doentes esperando nos bancos. O que ela fazia era só ver. Entrou em sua sala, satisfeita, preparada para a próxima jornada. Ela começou a ler os papéis. De repente a porta bateu, e uma mulher entrou.
      – Com licença Dra. Estela, mas preciso falar com a senhora.
       Sente-se Dra. Silvia. – Silvia se sentou. Era uma morena, mas uma morena apenas bronzeada. Tinha os cabelos lisos castanhos, a mesma cor dos olhos. Após se ajeitar na cadeira, Silva disse:
      – Depois da saída da senhora e dos outros doutores como a Dra. Ingrid, o Dr. Antônio e também alguns enfermeiros, muita coisa aconteceu aqui.
      – Que tipo de coisa?
      – Muitos doentes, Doutora. Acho que a senhora precisa mandar atendê-los. Pelo menos os dos corredores. Estão fracos, desnutridos. Precisam ser atendidos.
      – Vou te falar de uma vez, Dra. Silvia. Esse hospital é meu. E por ser dona, eu que dou as regras e exijo quando preciso. Não precisam exigir de mim.
      Silvia se revoltou, começou a balançar a cabeça:
      – Pois exijo que a senhora tire os doentes dos corredores.
      – Então pague o tratamento deles, e seu desejo vai se realizar. Não quero chegar à falência. E se esses doentes querem sarar, que trabalhem para conseguirem dinheiro. Não sei o que adianta eles virem, sendo que não tem um “real”. Só servem para acabar com a imagem de meu hospital.
     Silvia não suportou. Era uma psicóloga e não podia ficar ali mais. Estava atendendo. Ela se levantou e saiu, sem dizer um “a”. Estela voltou a ler os documentos. Mas o seu celular tocou. Ela viu o nome e atendeu:
     – Pode falar, Carla.
     – Como saiu tudo, Estela?
     – Nas perfeitas condições.
     – A dona da funerária, aquela loira argentina maluca, apareceu ao menos pra nos ajudar?
     – Claro que sim. E ela está conosco.
     – Então já posso te dizer que hoje à noite, os capangas voltam a sequestrar.
Estela se chateou:
         – Mas já, Carla?
         – E por que essa pergunta?
         – Carla, a polícia pode desconfiar de nós sairmos o tempo todo. Precisamos esperar. – Carla estava em um apartamento em Minas Gerais, sentada em seu sofá impecável. Ela se ajeitou no mesmo para responder.

         – Está certa. Vou avisar a eles. Tenho que desligar. Essa noite eu vou dar um show aqui em Belo Horizonte.
         – Está em Minas Gerais?
         – Que eu saiba Belo Horizonte só existe em um lugar.
Carla desligou na cara de Estela, que se irritou com a falta de respeito da chefa.

         Minutos após, os capangas já estavam sabendo que Carla tinha deixado o sequestro pra cinco dias depois. Próxima segunda-feira.


Cinco dias depois...

         Silvia estava no refeitório do hospital Trindade, às duas da manhã, sentada numa mesa ao lado de uma amiga. Seu nome era Vitória, técnica em enfermagem. Elas se pareciam em tudo. Muitos já confundiram as duas. Tinham até mesmo o corte de cabelo e usavam sempre roupa branca. Estavam comendo bolachas com café. Silvia comentou:
         – Desconfio da Estela.
         – Em que parte? – Perguntou Vitória.
         – Em todas, principalmente sobre essas viagens dela. Eu vou descobrir Vitória, e não vai demorar.
Silvia mastigou um pedaço do pão, que por sinal estava seco.

     Às oito da manhã Valéria já estava andando pelos corredores da universidade de Direito, sorrindo. Olhava aos redores, vendo os alunos andarem também. Ela foi para a sua sala. Abriu a porta e percebeu que estava adiantada. Então ela se sentou, arrumando suas coisas. Cinco minutos depois, todos os alunos já estavam na sala, e o professor também.
         O professor era um homem na casa dos cinquenta. Era sábio. Sabia muito sobre direito. Ele olhou para os alunos e um rosto lhe chamou bastante atenção.
         – Como se chama? – Perguntou o professor Hilton.
         – Me chamo Valéria! – Respondeu a baladeira.
         – Por que quer fazer direito Valéria?
Valéria olhou ao redor e viu que todos os estudantes a olhavam, esperando a resposta. Ela respondeu:
         – Porque gosto de justiça. O mundo precisa de educação, mas de justiça também. Quero me especializar pra ser uma delegada. E estou aqui pra isso, pra servir à minha vocação.
Ao ouvir aquilo, o professor puxou saco de Valéria a aula inteira.
        
         Longe das leis e regras da faculdade de Direito, Renato escutava atentamente a palestra do primeiro dia de aula de jornalismo. Era uma professora, e muito bonita. A maioria dos garotos não prestava atenção na aula, e sim, nas pernas dela. Renato não. Estava em foco, escutando tudo. Ao terminar a palestra a professora perguntou:
         – O que entenderam?
Ninguém respondeu. Mas Renato levantou a mão e respondeu:
         – Que a notícia é importante. Mas não pode ser de uma forma vulgar. Deve mostrar respeito e opinião, apresentado críticas construtivas e que convençam o leitor.
Renato nem imaginava o seu futuro brilhante.




         Dessa vez Renato dançava ao lado da amiga na balada. Eram onze horas da noite. Na verdade, Renato apenas mexia os braços e as pernas. Valéria riu do amigo no meio daquele zum-zum-zum todo:
         – Renato! – Fez uma pausa. – Tá parecendo o Piu-Piu!
         – Ah é? Então parei...
Renato saiu, brincando, fingindo estar emburrado. Valéria foi atrás. Na rua, Valéria o segurou pelo braço:
         – Para, Renato! Larga de ser bobo. Eu tava brincando. Olha aqui, vamos falar da faculdade, vamos? Como foi sua aula?
Ele se virou para a amiga:
         – Ótima. É meu sonho!
         – Você gostou? Eu não gostei.
Renato levou um susto.
         – Por quê?
         – Porque eu adorei!
Renato fixou seus olhos nos olhos de Valéria, e eles se olharam durante alguns segundos.
Ao lado dali, eles não perceberam três homens, dentro de um carro preto obervando Valéria. Um dos homens disse:
         – É aquela garota ali mesmo. É bonita, baladeira. Tem um corpo bonito. Deve ser sadia. Temos que pegá-la.

Renato mudou seu tom para um tom sério e disse à amiga:
         – Quero te contar uma coisa Valéria, que eu tento dizer a anos.
Valéria se preocupou:
         – Fala.
Renato respirou fundo.
         – Eu... Eu... Gosto de...
Enquanto ele gaguejava, os bandidos, dentro do carro, aceleraram o mesmo. Valéria estava próxima da rua, virada de costas para a mesma, observando o garoto que queria lhe contar algo, mas ele se afastou e atravessou a rua, sentindo medo de soltar seus sentimentos. Renato continuou gaguejando e vendo que o carro se aproximava, ele gritou:
         – Cuidado Valéria!
Valéria se virou para trás, para ver o que era, enquanto Renato corria para salvá-la.


 COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO 
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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