CAPÍTULO 41
Lex concordou em partir imediatamente, sem longas despedidas. Abraçou Janaira, Briam e Lizzie e depois subiu no helicóptero atrás de Daniel, deixando seus amigos, sem nem mesmo olhar para trás. Nenhuma lágrima havia se formado em seus olhos e agradeceu por isso. Embora sentisse seu corpo todo se quebrando por dentro como se estivesse se consumindo.
Ficou
imaginando Jack Trevor, morto, transformado em um zumbi. Uma coisa sem vida e
grotesca diferente de tudo o que ele já fora. A raiva e mágoa que havia sentido
dele agora pareciam sem sentido. De qualquer forma, não conseguia perdoá-lo.
Ele a traiu. Vergonhosamente, Jack não iria cumprir sua parte do trato. Falsas
Promessas. Alexia MacNichols e Jack Trevor eram um perfeito casal de
mentirosos. Ambos. Só que ele morrera...
-
Coloque o headfone – disse-lhe
Dantas, entregando-lhe o aparato. Ele habilmente ligou o helicóptero e logo Lex
se viu afastando-se do casarão e de sua irmã que tinha lágrimas nos olhos e
acenava-lhe como se jamais fossem se ver novamente. Talvez isso acontecesse.
Talvez fosse apenas uma armadilha para coloca-la novamente numa sala branca
como se fosse um rato de laboratório.
-
Trevor me fez prometer que eu iria cuidar de você, senhorita Paris. Não precisa
ficar tão tensa ao meu lado – informou Dantas, com um sorriso difícil de
interpretar.
-
Meu nome é Alexia MacNichols e não Paris Lanister e eu posso cuidar de mim
mesma, Dantas! – respondeu Lex, sem conseguir controlar a própria língua.
Dantas
sorriu, exibindo os dentes alinhados.
-
Por que está rindo? – perguntou Alice, meio irritada.
-
Por que foi exatamente o que Jack Trevor disse que você diria... Pelo que
parece ele a conhece muito bem.
-
Conhecia... – corrigiu Lex, sentindo uma raiva surgir dentro de si e virou a cabeça
para o outro lado, fingindo apreciar a paisagem. Depois de cruzar o mar, Dantas
virou levemente para leste. Depois de alguns minutos, Dantas apontou para a
enorme construção no meio de um pequeno deserto.
Pelo
menos, dessa vez, Lex estava consciente e pode ver exatamente como a Cidadela
era. O casarão era mais perto da Cidadela do que a fortaleza por isso a viagem
fora tão rápida.
A
coisa toda era enorme: uma área de quilômetros de extensão um pouco afastada do
perímetro urbano da Capital. Havia
parques, plantações, estufas e outras casas menores circundados por ruas
extensas, mas o mais impressionante era o centro da Cidadela.
Havia
exatamente sete prédios enormes no olho do furação da Cidadela. Todos eles num
formato redondo. Seis em círculo e o sétimo perfazia o centro.
-
Aquele é o Órgão Central – informou Dantas apontando para o prédio bem no meio
da Cidadela, enquanto a sobrevoavam. – É
onde você vai ficar. O laboratório de Lanister é no terceiro subsolo. A maioria
do prédio fica no subsolo. No total de 50 andares. Os últimos trinta andares
são completamente anti-bombas. Você poderia estourar uma bomba nuclear e ainda
assim todos os que se abrigassem ali, permaneceriam vivos. Abraham uma vez me
disse que se todos os esforços para conseguir uma cura falhassem, ele usaria
uma bomba forte o suficiente para destruir toda a vida humana na terra.
-
Ele acabaria se matando no processo. Se não pela bomba, mas pela falta de
recursos depois. – contrariou Lex, sem deixar de estar visivelmente assustada
com a possibilidade.
-
Sim... acho que ele sabe disso, por isso ainda não tomou essa decisão. No
décimo andar, está o deposito de armamento e no décimo primeiro, um grande
deposito de fontes alimentícias em conserva. Abraham ocupa o 13º andar – seu
número de sorte - como sua casa particular, mas eu sei que ele observa tudo.
Por isso é preciso ter muito cuidado com o que faz ou fala na Cidadela. Há
câmeras em todos os lugares, mas eu sei de alguns pontos cegos. Você descobrirá
que o quarto e o banheiro que ocupará foram grampeados, mas se você entrar no
box do banheiro, encontrará um telefone como o que eu dei ao Sr. Casper. Você
não deve usá-lo, de qualquer forma, a não ser quando chegar a hora.
-
Que hora é essa? Como eu vou saber...?
-
Quando Abraham atacar a fortaleza, eu irei pelo ar, para dar as coordenadas
para o exército que irá por terra. Assim que o exército estiver longe o
suficiente da Cidadela, eu entrarei em contato com as ordens para a
insurreição.
-
E o que eu devo fazer?
-
Nada, na verdade. Meus homens e minha irmã estão preparados. Eles irão atacar
Abraham e tomar a Cidadela. O que você vai fazer é manter você e Lanister em
segurança.
-
Só isso? Então porque eu sou tão necessária para que você fosse me resgatar se
não vou fazer nada nessa rebelião?
-
Lanister precisa do seu sangue para algo.
-
O que? Não é a cura, é? Parece que estamos um pouco longe disso, não é?
Daniel
olhou para Lex de forma tão séria que a fez arquear a sobrancelhas.
-
Torre da Cidadela para Jango 9, repito, Torre da Cidadela para Jango 9 – uma
voz no Headfone assustou Lex que se
remexeu em sua cadeira.
-
Jango 9 para torre da Cidadela. Solicito autorização para pouso. Código 5263,
câmbio. – disse Dantas, com segurança.
-
Jango 9, autorização concedida, câmbio!
-
Deveríamos estar conversando sobre... “esses assuntos” em um helicóptero? –
perguntou Lex, um pouco trêmula com a aproximação do helicóptero do centro da
Cidadela, onde Lex já podia ver uma praça com um “H” pintado no chão. – Não há
uma caixa preta ou coisa assim?
-
Eu desativei a Caixa Preta e o rádio só é ativado quando aperto esse botão! –
disse Dantas, apontando para um botão azul no painel. – Mas você tem razão ao
dizer que não é seguro falar sobre rebelião na Cidadela. É muito importante que
você não revele nada e finja que você veio à força, para que ninguém desconfie
de minhas ações.
-
Certo! – falou Lex, um pouco nervosa.
-
E sobre o fato de você ser importante, Alexia... acho que não preciso dizer que
você representa muito para todos. Não é só a cura... mas é sua capacidade de
resistir. Enquanto a Srta. Janaira Silva e Briam Smith estavam presos na
Cidadela, eles contaram algumas histórias sobre você. Quando essas histórias se
espalharam, as pessoas, os escravos, os que querem se rebelar, viram você como
um símbolo.
-
Símbolo de que? Que histórias são essas que Briam e Janaira contaram?
-
De esperança, Alexia! – explicou Dantas. – É verdade que você foi a única que
sobreviveu de uma missão externa com quatro agentes mais experientes que você?
-
Bem... é! Mas...
-
E é verdade que você tem uma força suprema e que enfrentou Brandon? O homem
que... bem... o homem que te machucou há quase quatro anos atrás?
-
Eles não deveriam ter contado isso... – replicou Lex, aborrecida - É da minha
vida que estamos falando. E isso é algo íntimo.
-
Não, Alexia. Sinto muito, mas eles fizeram bem. Transformaram você num ícone.
Porque você acha que Abraham concordou em deixar Trevor tirar você daqui da
outra vez e leva-la para a fortaleza?
-
Por que Lanister...
-
Ora, Lanister. O velho é esperto, mas se faz de tolo para Abraham. Não foi por
isso. Os escravos começaram a se insurgir. Pequenas rebeliões aconteceram em
quatro dos seis pavilhões e os castigos tiveram que ser intensificados. Abraham sabe que quando você voltar, as
rebeliões podem acontecer novamente. Por isso, ele vai querer agir rápido e
isso será a ruina dele.
-
Eu não sei se posso ser o que você espera que eu seja! – replicou Lex,
sentindo-se mal com tudo aquilo de ser o símbolo de uma rebelião. Ela só estava
tentando sobreviver, só isso!
-
Não se preocupe com isso... Prepare-se, vamos descer!
O
helicóptero pousou com a mesma maestria com que Dantas fez no Casarão. Quando
as hélices, pararam, Dantas abriu a porta do seu lado, deu a volta e abriu a
porta do lado de Lex, puxando-a pela cintura, agarrando seu braço em seguida.
-
Eu terei que ser um pouco bruto com você, Alexia, sinto muito por isso! – disse
Dantas, puxando-a.
Quando
Lex deu alguns passos em direção ao Órgão Central, petrificou com o que viu: ao
redor da praça, descendo alguns degraus de onde o helicóptero havia pousado,
havia uma fila indiana com escravos. Eles tinham grilhões nos dois pés, nas
mãos e no pescoço. Davam pequenos passos, impedidos pelas correntes. Estavam
descalços e vestidos com trapos, seus rostos e corpos sujos, desnutridos,
tristes. Tinham os olhos voltados para baixo como se suas almas tivessem lhes
escapado do corpo. Um pouco atrás, um homem caminhava. Ele vestia um uniforme
idêntico ao de Dantas e usava um chicote. Quando um escravo velho parou,
tropeçando nos próprios grilhões, o agente balançou a braço, vibrou o chicote
no ar e atingiu o velho nas costas, criando uma feia cicatriz, ao lado de
outras já cicatrizadas.
-
Pare!!! – Lex gritou, pronta para atacar o agente bárbaro, mas Dantas a segurou
firmemente pela cintura, erguendo-a no ar, arrastando-a para dentro. – Solta,
me solta!!!
Enquanto
gritava, Lex percebeu que os escravos levantavam seus olhares para ela e se
remexiam em seus lugares, fazendo o agente torturador balançar o chicote mais
algumas vezes. Agora Lex entendia o que Dantas quis dizer com ser um símbolo da
rebelião. Ela podia ver uma pequena
centelha nos olhares daqueles homens escravizados, como se sua presença ali
realmente significasse a esperança da libertação.
Quando
entraram no prédio central, Dantas a arrastou até um elevador e apertou o botão
L-3. Lex ficou em silencio, mas não estava gostando daquela situação. Queria
fazer algo por aquele pobre coitado chicoteado simplesmente por não conseguir
caminhar com grilhões nos pés.
Quando
a porta se abriu, Daniel teve que arrastar Lex para dentro do que parecia ser
um enorme laboratório.
-
Tendo dificuldades com a mocinha?
Lex
virou para encarar o dono daquela voz sibilante e estranha. Parados diante
dela, estavam Abraham Smith, Lanister e
Brandon.
-
Ela é uma mocinha, de fato, mas sabe como morder e arranhar! – explicou Dantas.
– Mas eu a trouxe, de fato. Coisa que Brandon não fez, Sr. Smith.
-
É... eu não a trouxe, mas fiz todo o trabalho por você. Não esqueça que se Jack
Trevor e a fortaleza não são mais um problema, isso se deve a mim. – replicou
Brandon, com ódio nos olhos. Era visível que Dantas e Brandon não se davam e
isso era um ponto para Daniel.
-
Claro, você resolveu todos os problemas, deixando que a fortaleza fosse
invadida por um exército de zumbis. Sabe quantos homens eu terei que levar para
limpar o lugar.
-
Espero que não muitos, Dantas – replicou Smith, deixando a respiração de Lex em
suspenso. Se Dantas não conseguisse levar todo o exército da Cidadela para a
fortaleza, não poderia haver uma rebelião. – Você sabe muito bem o que acontece
quando a mocinha está aqui!
-
Não se preocupe com isso, Sr. Smith, eu tenho um plano para desmoralizar Paris
Lanister! – disse Dantas, olhando para Alexia que sustentava seu olhar. Assim
que o exército voltar da limpeza na fortaleza, Paris será chicoteada em
público, na praça. Quero ver se ela continua a ser insolente. Em meia hora, a
garota vai vender a alma do próprio pai para parar com o castigo. Quando os
escravos verem a cena, vão saber o que acontece com quem quer dar uma de
espertinha.
-
Eu não vou permitir isso. Abe, por favor! – reclamou Lanister, aproximando-se
de Lex. Ele parecia genuinamente preocupado, por isso, Lex desconfiou que tudo
o que Dantas lhe dissera antes era apenas armação para trazê-la até ali.
-
Eu prometi que iria mantê-la viva, Lanie, nada mais! – falou Abraham, com um
olhar malévolo para Lex que sentiu perdida entre um ninho de víboras.
-
Essa vadia merece coisa pior! – falou Brandon, dessa vez. – Se você me
permitir, Sr. Smith, posso fazer na praça pública o que fiz com ela a seis anos
atrás. Isso sim vai passar uma mensagem!
-
Seria interessante! – comentou Abraham, gargalhando. – Mas não em praça
pública. Vamos dar um tempo para Lanister. Você me mostrou a cura, mas está
demorando demais com os testes em humanos. Se dentro de uma semana você não
tiver terminado com isso, vou entregar a menina a Brandon para que ele faça o
que bem quiser com ela, está entendendo, Lanie?
-
E dessa vez, não haverá Jack Trevor para protege-la, gatinha! – falou Brandon.
Aquilo
atingiu Lex no âmago. Sentiu uma coisa estranha em seu estômago. Jack Trevor
morrera. Seu Jack havia partido desse mundo. Jamais o veria novamente. Ela o
amava! Ela o amava e o perdera como havia perdido seu querido pai.
-
Limpe sua boca para falar o nome dele!!! – gritou Lex, sem conseguir se segurar
e partiu para cima de Brandon. Antes que
ela pudesse chegar até o seu rosto, sentiu o braço de Dantas segurando-a pela
cintura.
Abraham
e Brandon começaram a rir.
-
Ela é brabinha, assim, é? – perguntou Abraham, olhando para Lex com maldade.
Lex
esforçou-se para se livrar dos braços de Dantas, mas não conseguiu.
-
Vou levar ela para o quarto, antes que ela machuque a si mesma. – falou Dantas,
arrastando Lex para um corredor todo branco. Foi então que Lex se desesperou,
pois imaginou que Daniel a levaria ao quarto branco em que fora mantida durante
quinze dias.
-
Por favor, por favor, não faça isso! – disse Lex, lutando contra os braços de
Dantas, mas enfim, ele chegou a uma porta, abriu-a e empurrou Lex até larga-la
em uma cama.
Ao
ver que era um quarto comum, Lex respirou aliviada. Olhou para Dantas, mas ele
desviou seu olhar para um pequeno ponto preto no teto do quarto: câmeras!
-
É melhor não aprontar, mocinha! – falou Dantas e saiu do quarto, trancando-o em
seguida.
Lex
deixou-se deitar na cama, entregando-se às lagrimas.
-
Oh, Jack... Jack... – chorou Lex, sentindo seu coração apertado. Nunca mais
veria seus olhos azuis, suas feições sérias, seu sorriso encantador e
enigmático. Tinha raiva dele. Ele prometera que iria a seu encontro. Ele
prometera, e nem tento manter a própria palavra – Maldito Jack!!!
Seu
grito reboou por todo o quarto, enchendo-a de cansaço. Dormiu sem que pudesse
perceber. E quando abriu os olhos, viu os olhos de Lanister sobre ela.
-
Tome esse chá! – disse ele, colocando uma xícara em suas mãos.
-
Sr. Lanister? – disse Lex, sonolenta, sentando-se na cama para segurar a xícara
que ele lhe oferecia.
-
Você estava falando durante seu sono. Dizia o nome de Jack Trevor... – falou
Lanister, puxando uma cadeira de plástico para colocar ao lado da cama. Lex
ficou enrubescida. Não queria falar sobre Jack com Lanister. Ele não era seu
pai. Fora... há muito tempo atrás, mas agora, Lex não se sentia mais
assim. – Você gostava dele, não é?
-
Ele foi bom pra mim! – respondeu ela, simplesmente, tomando alguns goles do
chá.
-
Então, eu fiz certo em mandar você para a fortaleza! – disse Lanister.
-
Sim, você me mandou para a fortaleza com uma mala com um compartimento secreto
cheio de informações que me colocaram em maus lençóis com Jack.
-
Não fui eu. Eu falei para entregar a maleta a Jack pessoalmente. Você deixou a
mala em algum lugar durante algum tempo sem guarda?
-
Na primeira noite em que passei na fortaleza, deixei a mala em um armário. Foi
só por alguns minutos e Brandon não sabia àquela altura quem eu era.
-
Estranho. Não pode ter sido Bio. – admitiu Lanister Eu tenho estado em contato
com ele. Ele parece ser um pouco senil, mas parece ser um bom cientista e um
homem que está tentando lutar contra todo esse inferno.
Lex
não conseguiu segurar um sorriso. Lanister chamando Bio de senil. Que concurso
de doidos varridos.
-
Não, de fato, não. Mas não quero pensar mais nisso. – falou Lex, tomando mais
alguns goles.
-
Sinto muito, por tudo. Acho que você deve me culpar por tudo o que tem
acontecido.
-
E não é sua culpa? – perguntou Lex, com uma nota agressiva. Não podia evitar. Sentia
raiva e Lanister sendo condescende com ela não estava ajudando.
-
Eu só tentei salvar minha filha. – falou Lanister, com um olhar paterno para
Lex.
-
Eu não sou sua filha! – retrucou Lex, sabendo que isso iria feri-lo. – Meu pai
é Teddy MacNichols.
-
Eu sei, Alexia. Sei que Teddy foi seu pai biológico e de criação também. Sei
que sempre o terá como uma imagem de pai em sua memória. Eu não poderia querer
algo diferente para você. Mas por cinco anos, você foi Paris Lanister. Eu
carreguei você em meus braços e você me chamava de pai. E você era tudo pra
mim. Sua mãe, Amanda, ela achou que eu estava machucando você, por conta das
sessões de tratamento dolorosas, mas durante o tempo todo, eu só queria curar
você.
-
Eu sei, Sr. Lanister. Eu me lembrei disso!
-
Lembrou? Lembrou? Lembrou das coisas boas também? Lembrou das aulas de dança
que fazíamos na sala de jantar no apartamento da capital? Lembrou das histórias
que eu costumava ler pra você durante a noite? Lembrou dos dias que nós
passamos na casa de veraneio?
-
Na casa de veraneio? – perguntou Lex, confusa. – Eu lembro dos nossos dias na
casa de veraneio. Mas tudo isso foi com Teddy, não com você!
-
É mesmo? – falou Lanister. – Tudo bem, Alexia. Não quero roubar nenhuma memória
feliz com Teddy, mas quero que você saiba que você é e sempre será minha filhinha,
mesmo que você não queira.
Lanister
levantou-se e fez menção em deixar o quarto, mas Lex o segurou pela mão.
-
Espere! – disse ela, titubeante. De fato, Lex não tinha Lanister como um pai,
mas era o único amigo que tinha naquele momento e ela não queria ficar sozinha.
– O senhor pode ficar mais algum tempo?
Ele
sorriu e sua face se iluminou.
-
Claro que posso! – disse ele, sentando-se novamente na cadeira.
Os
dois ficaram assim lado a lado, enquanto Lex terminava o chá. Pai e filha em algum tempo passado que o
destino quis novamente reunir e embora pudessem agora ficar juntos, ambos
sabiam que era por muito pouco tempo.
-
Todas aquelas pessoas lá fora, Sr. Lanister! – disse Lex, quebrando o silêncio,
assim que terminara o chá. – Escravos, literalmente escravos. Quando Janaira e
Briam me contaram o que acontecia aqui, eu pude pensar algumas coisas, mas
jamais imaginei que me viria um filme épico como se eu estivesse no Egito
antigo e Abraham fosse o faraó.
-
Sim, é terrível! – disse Lanister, baixando os olhos. – E tenho minha parcela
de culpa sobre o sofrimento daquela gente. Mas você precisa acreditar que eu
nunca quis que isso acontecesse.
-
Eu acredito! – disse Lex, apertando levemente a mão do Sr. Lanister. – Sabe...
agora que vi o que vi, fico imaginando como Jack era um homem bom. Ele poderia
ter se aproveitado da situação para sua própria proteção. Poderia ser alguém
como Abraham ou Brandon, transformando todos em escravos, mas ele não fez isso.
Ele se sentia responsável por todos na fortaleza, por sua segurança, seu bem
estar.
-
Eu sabia que ele era um bom homem, no fim. Eu só queria ter acreditado nele
antes, ao invés de persegui-lo como a um terrorista. O que aconteceu com a
filha dele foi um infeliz desastre. Eu juro a você que eu estava tentando
curá-la. Achei que a droga agiria no corpo dela assim como agiu no seu, mas eu
estava muito longe disso. Eu preparei o seu corpo para receber o vírus que
finalmente a curou. Mas a filhinha de Trevor não havia sido preparada. O vírus
não se adequou às suas moléculas, como fez em seu corpo.
-
Não pense mais nisso, Sr. Lanister. – falou Lex, sentindo-se mal por Jack, por
seu sofrimento, pelas perdas que havia acontecido em sua vida. Ter perdido a
filha deixou-o mais amargo, mais brutal e perigoso, mas não transformou-o num
monstro, pelo contrário, dentro de sua alma, havia um homem protetor e justo. E
agora, ele havia se perdido – Não adianta mais pensar no passado. Se há uma
coisa que aprendi nesse apocalipse, é que precisamos continuar apesar de tudo.
Mesmo quando já não temos mais motivos para continuar.
-
Você o amava! – declarou Lanister, lendo seu rosto. Dessa vez não fora uma
pergunta, fora uma afirmação. Algo que Lex não podia negar.
-
Eu o amava, sim... – disse Lex, sentindo pequenos estilhaços de vidro dentro de
si. Apesar de tudo, apesar dos problemas que havia entre eles, apesar daquela
amarga despedida em que Jack praticamente a escorraçou da fortaleza, apesar
disso, ela o amava.
Lex
não conseguiu mais controlar as próprias lágrimas. Havia driblado os próprios
sentimentos durante o dia inteiro, mas agora aquele sentimento vinha forte e
poderoso. Ela começou a soluçar, enterrando o rosto nas mãos, mas Lanister se
aproximou e a tomou em seus braços, alisando seus cabelos enquanto ela se
aconchegava naquele homem que era praticamente um estranho.
-
Tudo bem, minha filha... eu estou do seu lado, agora.
ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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