quarta-feira, 9 de abril de 2014

A ERA DOS MORTOS - CAPÍTULO 41


CAPÍTULO 41


Lex concordou em partir imediatamente, sem longas despedidas. Abraçou Janaira, Briam e Lizzie e depois subiu no helicóptero atrás de Daniel, deixando seus amigos, sem nem mesmo olhar para trás. Nenhuma lágrima havia se formado em seus olhos e agradeceu por isso. Embora sentisse seu corpo todo se quebrando por dentro como se estivesse se consumindo.

Ficou imaginando Jack Trevor, morto, transformado em um zumbi. Uma coisa sem vida e grotesca diferente de tudo o que ele já fora. A raiva e mágoa que havia sentido dele agora pareciam sem sentido. De qualquer forma, não conseguia perdoá-lo. Ele a traiu. Vergonhosamente, Jack não iria cumprir sua parte do trato. Falsas Promessas. Alexia MacNichols e Jack Trevor eram um perfeito casal de mentirosos. Ambos. Só que ele morrera...

- Coloque o headfone – disse-lhe Dantas, entregando-lhe o aparato. Ele habilmente ligou o helicóptero e logo Lex se viu afastando-se do casarão e de sua irmã que tinha lágrimas nos olhos e acenava-lhe como se jamais fossem se ver novamente. Talvez isso acontecesse. Talvez fosse apenas uma armadilha para coloca-la novamente numa sala branca como se fosse um rato de laboratório.

- Trevor me fez prometer que eu iria cuidar de você, senhorita Paris. Não precisa ficar tão tensa ao meu lado – informou Dantas, com um sorriso difícil de interpretar.

- Meu nome é Alexia MacNichols e não Paris Lanister e eu posso cuidar de mim mesma, Dantas! – respondeu Lex, sem conseguir controlar a própria língua.

Dantas sorriu, exibindo os dentes alinhados.

- Por que está rindo? – perguntou Alice, meio irritada.

- Por que foi exatamente o que Jack Trevor disse que você diria... Pelo que parece ele a conhece muito bem.

- Conhecia... – corrigiu Lex, sentindo uma raiva surgir dentro de si e virou a cabeça para o outro lado, fingindo apreciar a paisagem. Depois de cruzar o mar, Dantas virou levemente para leste. Depois de alguns minutos, Dantas apontou para a enorme construção no meio de um pequeno deserto.

Pelo menos, dessa vez, Lex estava consciente e pode ver exatamente como a Cidadela era. O casarão era mais perto da Cidadela do que a fortaleza por isso a viagem fora tão rápida.

A coisa toda era enorme: uma área de quilômetros de extensão um pouco afastada do perímetro urbano da Capital.  Havia parques, plantações, estufas e outras casas menores circundados por ruas extensas, mas o mais impressionante era o centro da Cidadela.

Havia exatamente sete prédios enormes no olho do furação da Cidadela. Todos eles num formato redondo. Seis em círculo e o sétimo perfazia o centro.

- Aquele é o Órgão Central – informou Dantas apontando para o prédio bem no meio da Cidadela, enquanto a sobrevoavam.  – É onde você vai ficar. O laboratório de Lanister é no terceiro subsolo. A maioria do prédio fica no subsolo. No total de 50 andares. Os últimos trinta andares são completamente anti-bombas. Você poderia estourar uma bomba nuclear e ainda assim todos os que se abrigassem ali, permaneceriam vivos. Abraham uma vez me disse que se todos os esforços para conseguir uma cura falhassem, ele usaria uma bomba forte o suficiente para destruir toda a vida humana na terra.

- Ele acabaria se matando no processo. Se não pela bomba, mas pela falta de recursos depois. – contrariou Lex, sem deixar de estar visivelmente assustada com a possibilidade.

- Sim... acho que ele sabe disso, por isso ainda não tomou essa decisão. No décimo andar, está o deposito de armamento e no décimo primeiro, um grande deposito de fontes alimentícias em conserva. Abraham ocupa o 13º andar – seu número de sorte - como sua casa particular, mas eu sei que ele observa tudo. Por isso é preciso ter muito cuidado com o que faz ou fala na Cidadela. Há câmeras em todos os lugares, mas eu sei de alguns pontos cegos. Você descobrirá que o quarto e o banheiro que ocupará foram grampeados, mas se você entrar no box do banheiro, encontrará um telefone como o que eu dei ao Sr. Casper. Você não deve usá-lo, de qualquer forma, a não ser quando chegar a hora.

- Que hora é essa? Como eu vou saber...?

- Quando Abraham atacar a fortaleza, eu irei pelo ar, para dar as coordenadas para o exército que irá por terra. Assim que o exército estiver longe o suficiente da Cidadela, eu entrarei em contato com as ordens para a insurreição.

- E o que eu devo fazer?

- Nada, na verdade. Meus homens e minha irmã estão preparados. Eles irão atacar Abraham e tomar a Cidadela. O que você vai fazer é manter você e Lanister em segurança.

- Só isso? Então porque eu sou tão necessária para que você fosse me resgatar se não vou fazer nada nessa rebelião?

- Lanister precisa do seu sangue para algo.

- O que? Não é a cura, é? Parece que estamos um pouco longe disso, não é?

Daniel olhou para Lex de forma tão séria que a fez arquear a sobrancelhas.

- Torre da Cidadela para Jango 9, repito, Torre da Cidadela para Jango 9 – uma voz no Headfone assustou Lex que se remexeu em sua cadeira.

- Jango 9 para torre da Cidadela. Solicito autorização para pouso. Código 5263, câmbio. – disse Dantas, com segurança.

- Jango 9, autorização concedida, câmbio!

- Deveríamos estar conversando sobre... “esses assuntos” em um helicóptero? – perguntou Lex, um pouco trêmula com a aproximação do helicóptero do centro da Cidadela, onde Lex já podia ver uma praça com um “H” pintado no chão. – Não há uma caixa preta ou coisa assim?

- Eu desativei a Caixa Preta e o rádio só é ativado quando aperto esse botão! – disse Dantas, apontando para um botão azul no painel. – Mas você tem razão ao dizer que não é seguro falar sobre rebelião na Cidadela. É muito importante que você não revele nada e finja que você veio à força, para que ninguém desconfie de minhas ações.

- Certo! – falou Lex, um pouco nervosa.

- E sobre o fato de você ser importante, Alexia... acho que não preciso dizer que você representa muito para todos. Não é só a cura... mas é sua capacidade de resistir. Enquanto a Srta. Janaira Silva e Briam Smith estavam presos na Cidadela, eles contaram algumas histórias sobre você. Quando essas histórias se espalharam, as pessoas, os escravos, os que querem se rebelar, viram você como um símbolo.

- Símbolo de que? Que histórias são essas que Briam e Janaira contaram?

- De esperança, Alexia! – explicou Dantas. – É verdade que você foi a única que sobreviveu de uma missão externa com quatro agentes mais experientes que você?

- Bem... é! Mas...

- E é verdade que você tem uma força suprema e que enfrentou Brandon? O homem que... bem... o homem que te machucou há quase quatro anos atrás?

- Eles não deveriam ter contado isso... – replicou Lex, aborrecida - É da minha vida que estamos falando. E isso é algo íntimo.

- Não, Alexia. Sinto muito, mas eles fizeram bem. Transformaram você num ícone. Porque você acha que Abraham concordou em deixar Trevor tirar você daqui da outra vez e leva-la para a fortaleza?

- Por que Lanister...

- Ora, Lanister. O velho é esperto, mas se faz de tolo para Abraham. Não foi por isso. Os escravos começaram a se insurgir. Pequenas rebeliões aconteceram em quatro dos seis pavilhões e os castigos tiveram que ser intensificados.  Abraham sabe que quando você voltar, as rebeliões podem acontecer novamente. Por isso, ele vai querer agir rápido e isso será a ruina dele.

- Eu não sei se posso ser o que você espera que eu seja! – replicou Lex, sentindo-se mal com tudo aquilo de ser o símbolo de uma rebelião. Ela só estava tentando sobreviver, só isso!

- Não se preocupe com isso... Prepare-se, vamos descer!

O helicóptero pousou com a mesma maestria com que Dantas fez no Casarão. Quando as hélices, pararam, Dantas abriu a porta do seu lado, deu a volta e abriu a porta do lado de Lex, puxando-a pela cintura, agarrando seu braço em seguida.

- Eu terei que ser um pouco bruto com você, Alexia, sinto muito por isso! – disse Dantas, puxando-a.

Quando Lex deu alguns passos em direção ao Órgão Central, petrificou com o que viu: ao redor da praça, descendo alguns degraus de onde o helicóptero havia pousado, havia uma fila indiana com escravos. Eles tinham grilhões nos dois pés, nas mãos e no pescoço. Davam pequenos passos, impedidos pelas correntes. Estavam descalços e vestidos com trapos, seus rostos e corpos sujos, desnutridos, tristes. Tinham os olhos voltados para baixo como se suas almas tivessem lhes escapado do corpo. Um pouco atrás, um homem caminhava. Ele vestia um uniforme idêntico ao de Dantas e usava um chicote. Quando um escravo velho parou, tropeçando nos próprios grilhões, o agente balançou a braço, vibrou o chicote no ar e atingiu o velho nas costas, criando uma feia cicatriz, ao lado de outras já cicatrizadas.

- Pare!!! – Lex gritou, pronta para atacar o agente bárbaro, mas Dantas a segurou firmemente pela cintura, erguendo-a no ar, arrastando-a para dentro. – Solta, me solta!!!

Enquanto gritava, Lex percebeu que os escravos levantavam seus olhares para ela e se remexiam em seus lugares, fazendo o agente torturador balançar o chicote mais algumas vezes. Agora Lex entendia o que Dantas quis dizer com ser um símbolo da rebelião.  Ela podia ver uma pequena centelha nos olhares daqueles homens escravizados, como se sua presença ali realmente significasse a esperança da libertação.

Quando entraram no prédio central, Dantas a arrastou até um elevador e apertou o botão L-3. Lex ficou em silencio, mas não estava gostando daquela situação. Queria fazer algo por aquele pobre coitado chicoteado simplesmente por não conseguir caminhar com grilhões nos pés.

Quando a porta se abriu, Daniel teve que arrastar Lex para dentro do que parecia ser um enorme laboratório.

- Tendo dificuldades com a mocinha?

Lex virou para encarar o dono daquela voz sibilante e estranha. Parados diante dela, estavam  Abraham Smith, Lanister e Brandon.

- Ela é uma mocinha, de fato, mas sabe como morder e arranhar! – explicou Dantas. – Mas eu a trouxe, de fato. Coisa que Brandon não fez, Sr. Smith.

- É... eu não a trouxe, mas fiz todo o trabalho por você. Não esqueça que se Jack Trevor e a fortaleza não são mais um problema, isso se deve a mim. – replicou Brandon, com ódio nos olhos. Era visível que Dantas e Brandon não se davam e isso era um ponto para Daniel.

- Claro, você resolveu todos os problemas, deixando que a fortaleza fosse invadida por um exército de zumbis. Sabe quantos homens eu terei que levar para limpar o lugar.

- Espero que não muitos, Dantas – replicou Smith, deixando a respiração de Lex em suspenso. Se Dantas não conseguisse levar todo o exército da Cidadela para a fortaleza, não poderia haver uma rebelião. – Você sabe muito bem o que acontece quando a mocinha está aqui!

- Não se preocupe com isso, Sr. Smith, eu tenho um plano para desmoralizar Paris Lanister! – disse Dantas, olhando para Alexia que sustentava seu olhar. Assim que o exército voltar da limpeza na fortaleza, Paris será chicoteada em público, na praça. Quero ver se ela continua a ser insolente. Em meia hora, a garota vai vender a alma do próprio pai para parar com o castigo. Quando os escravos verem a cena, vão saber o que acontece com quem quer dar uma de espertinha.

- Eu não vou permitir isso. Abe, por favor! – reclamou Lanister, aproximando-se de Lex. Ele parecia genuinamente preocupado, por isso, Lex desconfiou que tudo o que Dantas lhe dissera antes era apenas armação para trazê-la até ali.

- Eu prometi que iria mantê-la viva, Lanie, nada mais! – falou Abraham, com um olhar malévolo para Lex que sentiu perdida entre um ninho de víboras.

- Essa vadia merece coisa pior! – falou Brandon, dessa vez. – Se você me permitir, Sr. Smith, posso fazer na praça pública o que fiz com ela a seis anos atrás. Isso sim vai passar uma mensagem!

- Seria interessante! – comentou Abraham, gargalhando. – Mas não em praça pública. Vamos dar um tempo para Lanister. Você me mostrou a cura, mas está demorando demais com os testes em humanos. Se dentro de uma semana você não tiver terminado com isso, vou entregar a menina a Brandon para que ele faça o que bem quiser com ela, está entendendo, Lanie?

- E dessa vez, não haverá Jack Trevor para protege-la, gatinha! – falou Brandon.

Aquilo atingiu Lex no âmago. Sentiu uma coisa estranha em seu estômago. Jack Trevor morrera. Seu Jack havia partido desse mundo. Jamais o veria novamente. Ela o amava! Ela o amava e o perdera como havia perdido seu querido pai.

- Limpe sua boca para falar o nome dele!!! – gritou Lex, sem conseguir se segurar e partiu  para cima de Brandon. Antes que ela pudesse chegar até o seu rosto, sentiu o braço de Dantas segurando-a pela cintura.

Abraham e Brandon começaram a rir.

- Ela é brabinha, assim, é? – perguntou Abraham, olhando para Lex com maldade.

Lex esforçou-se para se livrar dos braços de Dantas, mas não conseguiu.

- Vou levar ela para o quarto, antes que ela machuque a si mesma. – falou Dantas, arrastando Lex para um corredor todo branco. Foi então que Lex se desesperou, pois imaginou que Daniel a levaria ao quarto branco em que fora mantida durante quinze dias.

- Por favor, por favor, não faça isso! – disse Lex, lutando contra os braços de Dantas, mas enfim, ele chegou a uma porta, abriu-a e empurrou Lex até larga-la em uma cama.

Ao ver que era um quarto comum, Lex respirou aliviada. Olhou para Dantas, mas ele desviou seu olhar para um pequeno ponto preto no teto do quarto: câmeras!

- É melhor não aprontar, mocinha! – falou Dantas e saiu do quarto, trancando-o em seguida.

Lex deixou-se deitar na cama, entregando-se às lagrimas.

- Oh, Jack... Jack... – chorou Lex, sentindo seu coração apertado. Nunca mais veria seus olhos azuis, suas feições sérias, seu sorriso encantador e enigmático. Tinha raiva dele. Ele prometera que iria a seu encontro. Ele prometera, e nem tento manter a própria palavra – Maldito Jack!!!

Seu grito reboou por todo o quarto, enchendo-a de cansaço. Dormiu sem que pudesse perceber. E quando abriu os olhos, viu os olhos de Lanister sobre ela.

- Tome esse chá! – disse ele, colocando uma xícara em suas mãos.

- Sr. Lanister? – disse Lex, sonolenta, sentando-se na cama para segurar a xícara que ele lhe oferecia.

- Você estava falando durante seu sono. Dizia o nome de Jack Trevor... – falou Lanister, puxando uma cadeira de plástico para colocar ao lado da cama. Lex ficou enrubescida. Não queria falar sobre Jack com Lanister. Ele não era seu pai. Fora... há muito tempo atrás, mas agora, Lex não se sentia mais assim.  – Você gostava dele, não é?

- Ele foi bom pra mim! – respondeu ela, simplesmente, tomando alguns goles do chá.

- Então, eu fiz certo em mandar você para a fortaleza! – disse Lanister.

- Sim, você me mandou para a fortaleza com uma mala com um compartimento secreto cheio de informações que me colocaram em maus lençóis com Jack.

- Não fui eu. Eu falei para entregar a maleta a Jack pessoalmente. Você deixou a mala em algum lugar durante algum tempo sem guarda?

- Na primeira noite em que passei na fortaleza, deixei a mala em um armário. Foi só por alguns minutos e Brandon não sabia àquela altura quem eu era.

- Estranho. Não pode ter sido Bio. – admitiu Lanister Eu tenho estado em contato com ele. Ele parece ser um pouco senil, mas parece ser um bom cientista e um homem que está tentando lutar contra todo esse inferno.

Lex não conseguiu segurar um sorriso. Lanister chamando Bio de senil. Que concurso de doidos varridos.

- Não, de fato, não. Mas não quero pensar mais nisso. – falou Lex, tomando mais alguns goles.

- Sinto muito, por tudo. Acho que você deve me culpar por tudo o que tem acontecido.

- E não é sua culpa? – perguntou Lex, com uma nota agressiva. Não podia evitar. Sentia raiva e Lanister sendo condescende com ela não estava ajudando.

- Eu só tentei salvar minha filha. – falou Lanister, com um olhar paterno para Lex.

- Eu não sou sua filha! – retrucou Lex, sabendo que isso iria feri-lo. – Meu pai é Teddy MacNichols.

- Eu sei, Alexia. Sei que Teddy foi seu pai biológico e de criação também. Sei que sempre o terá como uma imagem de pai em sua memória. Eu não poderia querer algo diferente para você. Mas por cinco anos, você foi Paris Lanister. Eu carreguei você em meus braços e você me chamava de pai. E você era tudo pra mim. Sua mãe, Amanda, ela achou que eu estava machucando você, por conta das sessões de tratamento dolorosas, mas durante o tempo todo, eu só queria curar você.

- Eu sei, Sr. Lanister. Eu me lembrei disso!

- Lembrou? Lembrou? Lembrou das coisas boas também? Lembrou das aulas de dança que fazíamos na sala de jantar no apartamento da capital? Lembrou das histórias que eu costumava ler pra você durante a noite? Lembrou dos dias que nós passamos na casa de veraneio?

- Na casa de veraneio? – perguntou Lex, confusa. – Eu lembro dos nossos dias na casa de veraneio. Mas tudo isso foi com Teddy, não com você!

- É mesmo? – falou Lanister. – Tudo bem, Alexia. Não quero roubar nenhuma memória feliz com Teddy, mas quero que você saiba que você é e sempre será minha filhinha, mesmo que você não queira.

Lanister levantou-se e fez menção em deixar o quarto, mas Lex o segurou pela mão.

- Espere! – disse ela, titubeante. De fato, Lex não tinha Lanister como um pai, mas era o único amigo que tinha naquele momento e ela não queria ficar sozinha. – O senhor pode ficar mais algum tempo?

Ele sorriu e sua face se iluminou.

- Claro que posso! – disse ele, sentando-se novamente na cadeira.

Os dois ficaram assim lado a lado, enquanto Lex terminava o chá.  Pai e filha em algum tempo passado que o destino quis novamente reunir e embora pudessem agora ficar juntos, ambos sabiam que era por muito pouco tempo.

- Todas aquelas pessoas lá fora, Sr. Lanister! – disse Lex, quebrando o silêncio, assim que terminara o chá. – Escravos, literalmente escravos. Quando Janaira e Briam me contaram o que acontecia aqui, eu pude pensar algumas coisas, mas jamais imaginei que me viria um filme épico como se eu estivesse no Egito antigo e Abraham fosse o faraó.

- Sim, é terrível! – disse Lanister, baixando os olhos. – E tenho minha parcela de culpa sobre o sofrimento daquela gente. Mas você precisa acreditar que eu nunca quis que isso acontecesse.

- Eu acredito! – disse Lex, apertando levemente a mão do Sr. Lanister. – Sabe... agora que vi o que vi, fico imaginando como Jack era um homem bom. Ele poderia ter se aproveitado da situação para sua própria proteção. Poderia ser alguém como Abraham ou Brandon, transformando todos em escravos, mas ele não fez isso. Ele se sentia responsável por todos na fortaleza, por sua segurança, seu bem estar.

- Eu sabia que ele era um bom homem, no fim. Eu só queria ter acreditado nele antes, ao invés de persegui-lo como a um terrorista. O que aconteceu com a filha dele foi um infeliz desastre. Eu juro a você que eu estava tentando curá-la. Achei que a droga agiria no corpo dela assim como agiu no seu, mas eu estava muito longe disso. Eu preparei o seu corpo para receber o vírus que finalmente a curou. Mas a filhinha de Trevor não havia sido preparada. O vírus não se adequou às suas moléculas, como fez em seu corpo.

- Não pense mais nisso, Sr. Lanister. – falou Lex, sentindo-se mal por Jack, por seu sofrimento, pelas perdas que havia acontecido em sua vida. Ter perdido a filha deixou-o mais amargo, mais brutal e perigoso, mas não transformou-o num monstro, pelo contrário, dentro de sua alma, havia um homem protetor e justo. E agora, ele havia se perdido – Não adianta mais pensar no passado. Se há uma coisa que aprendi nesse apocalipse, é que precisamos continuar apesar de tudo. Mesmo quando já não temos mais motivos para continuar.

- Você o amava! – declarou Lanister, lendo seu rosto. Dessa vez não fora uma pergunta, fora uma afirmação. Algo que Lex não podia negar.

- Eu o amava, sim... – disse Lex, sentindo pequenos estilhaços de vidro dentro de si. Apesar de tudo, apesar dos problemas que havia entre eles, apesar daquela amarga despedida em que Jack praticamente a escorraçou da fortaleza, apesar disso, ela o amava.

Lex não conseguiu mais controlar as próprias lágrimas. Havia driblado os próprios sentimentos durante o dia inteiro, mas agora aquele sentimento vinha forte e poderoso. Ela começou a soluçar, enterrando o rosto nas mãos, mas Lanister se aproximou e a tomou em seus braços, alisando seus cabelos enquanto ela se aconchegava naquele homem que era praticamente um estranho.

- Tudo bem, minha filha... eu estou do seu lado, agora.


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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