VIGÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTULO
Música: Amy
Winehouse – Back to Black.
Estamos agora em um
cemitério de classe – o mesmo em que o corpo da falecida e suicida esposa de
Wagner, Norma Peregrini, foi enterrado. Dois homens levam o caixão e há apenas
um conhecido nesta cena: Ugo.
Os homens enfim colocam o caixão no
túmulo. Ugo joga sua rosa branca e diz:
―
Assim como eu imaginava, não apareceu ninguém. Mas eu estou aqui. Mesmo assim
eu estou aqui. E que no inferno você esteja explodindo de ódio. Verme. – se
dirige aos coveiros: – podem enterrar.
Ugo
se abaixa, pega um punhado de terra e joga no túmulo. Alguém chega ao local,
bem ao lado dele. Ugo vê primeiro os pés da pessoa. O esmalte vermelho
cintilante brilha: é uma mulher. Olha para cima.
–
Cida? O que faz aqui?
Ingrid dá um sorriso e responde:
—
Era um bom homem.
—
Não, não era. Eu quero que você vá embora daqui. Era apenas a secretária dele,
Cida.
―
E você era apenas o motorista. – Ingrid joga sua rosa branca no túmulo e encara
Ugo. – Dá quase no mesmo. A não ser que vocês fossem algo mais.
―
O que está querendo dizer Cida?
―
Nada. As fotos das revistas dizem tudo. Que show foi aquele da Jennifer Lopez
hein?
Ingrid
vira as costas e sai. Ugo pensa em puxar seu revólver e atirar, mas por conta
dos coveiros que ali estão ele não o faz.
***
Na
mansão Peregrini, Vanessa e Gisela chegam com mais compras. Fidel tem de
carregar tudo até a suíte principal, onde Wagner dormia. Bisavó e bisneta estão
mudando seus aposentos para o local.
—
Minha neta, vai ser bom dividir este enorme quarto com você.
—
Vai ser legal mesmo bisav... Tia Gisela.
—
Fidel — diz Gisela — pode deixar as sacolas aí em cima da cama e sair.
—
Como quiser.
Fidel resmunga alguma coisa e sai.
—
Neste momento vovô Wagner deve estar enterrado. – comenta Vanessa enquanto rói
as unhas sem nenhuma preocupação.
—
E eu com isso? Se eu não pude ir ao enterro da minha filha por culpa dele, por
que iria para o dele? Agora no velório dele não deve ter nem ido duas pessoas,
e olha que ele tinha muitos sócios.
***
Na
cada de D. Inês, Ingrid chega. Pousa sua bolsa na mesa, senta-se e tira o salto
alto desajeitadamente. Inês pergunta:
―
Onde você foi?
―
No cemitério. Fui ao enterro do Wagner.
―
Bruno esteve aqui. O que aconteceu entre vocês?
―
Não quero falar sobre isso agora. Agora eu só quero dormir e esquecer os
problemas.
―
Mas minha filha ele parece ser um rapaz tão bom!
―
Por favor, depois a gente conversa. – Ingrid dá um beijo na testa de Inês e
sai.
***
Música: Amy
Winehouse – Back to Black.
Fidel se encontra no pequeno
quarto que divide com Analú na mansão. Uma mini capela no pé da sua cama é
mostrada e o mordomo acende algumas velas. Várias fotos ao redor de uma pequena
estátua da cantora Amy Winehouse são mostradas. Ele se benze e começa a rezar.
—
Oh, santa Amy, darling... Receba a alma deste pobre homem que aí vai. Sei que
por trás daquela aparência de cachorro Pitty Bull dele, que, diga-se de
passagem, lhe dava todo o charme, Wagner era um bom homem. Oh, Amy... estou
pensando em me candidatar a vereador. Será que eu consigo. Ajude-me, please?
Os
dias se passaram e a repercussão da morte de Wagner vai embora, dando lugar ao
julgamento do mensalão, e claro, às eleições para prefeito e vereador em cada
cidade. Levando isso em conta, Fidel resolve se candidatar a vereador pelo PPD
(Partido Popular da Diversidade).
―
Se prepara pra gravar, Fidel! – diz o cameraman.
―
Mas quem vai gravar a propaganda eleitoral não vai ser eu...
―
E quem vai ser, seu Fidel? Aqui é questão de tempo, filho!
―
Não sou seu filho. E me dá licença que quem vai aparecer aqui agora é a...
Fidel vai para o camarim e minutos
depois entra no estúdio de gravação como:
—
... Stefanie Raio Laser! — Fidel olha para o câmera, que está boquiaberto. – O
que é? Nunca me viu? Põe logo essa bagaça aí pra gravar!
Hora
de gravar a propaganda, ou seja, hora de vexame. Fidel (vestido de mulher) se
posiciona numa cadeira e coloca as mãos uma em cima da outra, como se estivesse
no quadro de Da Vinci, Monalisa. Com uma voz mansa, grava:
―
Se você quiser uma Fortaleza mais justa e livre de preconceitos, gatinhos,
votem 24024, Stefanie Raio Laser, sua candidata tigresa. Miau! – gesticula com
a mão direita ― Não se esqueça, dia 7 de outubro, Stefanie Raio Laser.
Depois
de gravar a propaganda eleitoral, Fidel, ou melhor, Stefanie Raio Laser sai nas
ruas do bairro Dionísio Torres para fazer panfletagem. Os panfletos são
entregues por ele mesmo para todas as pessoas que ali passam, as quais vaiam
Fidel até o último fio de voz.
―
Ai, santa Amy, eu não vou conseguir ganhar essa eleição... “No, no,no”. — canta
no ritmo de Rehab.
***
Vanessa vem andando pela calçada
quando esbarra com Bruno. As sacolas que trazia caem todas no chão.
―
Me desculpa, moça.
―
Abaixa logo e pega isso aí que eu to apressada.
―
Já inventaram o “por favor”... – diz Bruno, agachando-se e colocando os objetos
dentro da sacola. – Mas como eu to perturbado, vou fazer isso de graça. – Ele
se levanta e entrega os pacotes à neta de Wagner.
Um carro passa em cima de uma poça
em frente à calçada e acaba molhando os dois.
―
Ai que, merda!
―
Calma, moça, eu moro perto daqui, você pode vir comigo.
―
E se você for um tarado?
―
Fique aí suja de lama, então. – Bruno vira e sai caminhando.
―
Ta, eu vou.
***
Eles
chegam ao apartamento de Bruno. Ele mostra onde é o banheiro para a moça (que é
no quarto dele). Bruno acaba por tirar a roupa no seu quarto também.
―
Não sai do banheiro agora, que eu to pelado.
―
Ta, vou demorar um pouco aqui. Que saco ter que vestir uma roupa que eu acabei
de comprar...
O
celular de Vanessa toca. Trata-se de seu pai.
—
Pai... Pai por favor, não me liga mais. Eu já lhe disse que sou uma herdeira
Peregrini legítima e...
Bruno
não deixa de ouvir a conversa.
—
Então ela é parente do Wagner Peregrini...
Vanessa
continua a falar com o pai.
—
O quê? O senhor vai vir para Fortaleza?
***
Recife
– Pernambuco
Adriano
continua a falar com a filha.
—
Sim, Vanessa. Vou buscar o que é meu de direito: a minha parte da herança.
(ESPAÇO PARA A ABERTURA)
Música: Guns N’ Roses – Don’t Cry
Passam-se alguns dias. Alessandra se arruma
em frente ao espelho. Ela põe um vestido especial, vermelho. Uma joia, a mais
cara. É uma ocasião especial. Gianpaolo chega ao quarto e a abraça por trás.
— Preparada para ver seus irmãos e sua avó
depois de 25 anos, meu amor? — pergunta ele.
— Sim. — responde — Este dia ficará para a
história da minha vida. A leitura do testamento de Wagner Peregrini.
— Amor... Você acha que seu pai foi
assassinado?
— Por que está perguntando isso? Claro que
ele não foi... De certa o capacho dele (Ugo) o esqueceu em algum lugar naquele
cruzeiro. Na hora da correria ele caiu no mar. Acontece. Me ajuda com os botões
do vestido?
A cada botão que Gianpaolo abotoava, ela
lembra de cada fase de sua sofrida infância. Quando sua mãe morreu, quando o
pai a trancafiou com os irmãos em um quarto e os maltratou. Ou quando teve de
se separar deles, indo para um convento.
***
Bruno seduziu Vanessa, mas nunca esqueceu
Ingrid. Contudo, sua ambição era maior. Ele queria se infiltrar na mansão
Peregrini e acompanhar toda a leitura do testamento, filmar, tirar fotos.
Vanessa o convida para a acompanhar no
evento. Ele é o primeiro a chegar, e ela o recebe o cobrindo de beijos. Gisela
estranha o rapaz, mas nada diz.
— Tia
Gisela... Este é meu namorado. Bruno Valente.
— Encantado. — ele beija a mão de Gisela.
— Prazer em conhecê-lo. — Gisela dá um
sorriso falso.
Albaniza Dias, a advogada, chega à mansão,
acompanhada de seu filho, o também advogado Victorio Machado Dias.
— Não sei o que será deste império sem o
Wagner. Pode ser que ele seja destruído... — Albaniza comenta com o filho.
— Wagner realmente fez um bom trabalho com
a Flash Magazine enquanto viveu. Ele morreu pela Flash, digamos assim... — diz
Victorio.
Gisela se aproxima. A senhora idosa
cumprimenta os advogados. Fidel serve champanhe e canapés para eles.
— Quando começaremos a leitura?
— Daqui a pouco, senhorita Gisela. —
responde Albaniza. Victorio bebe champanhe.
***
Ugo procura desesperadamente em seu quarto
o documento que fez Wagner assinar no cruzeiro, mas não acha.
— Maldição! O que farei agora? O eu direi a
Cérebro?
Ugo se
lembra do momento que fez Wagner assinar o documento.
FLASHBACK.
Ugo se levanta e prepara uma bebida de vodca
com suco de laranja para ambos. Ele entrega um copo para Wagner.
― Vamos comemorar então, Wagner. Nada
melhor do que vodca. Brindamos...
― Um brinde.
Wagner
já está completamente bêbado. Ele ri à toa e Ugo apenas o observa.
― Ugo, você é um ótimo companheiro. Até
encheu minha cara! — ri.
Ugo
retira o documento impresso da pasta e dá uma caneta para que Wagner o assine.
― Assina Wagner. Assina. Coloca tuo nome
aqui.
― Assinar? Pra quê? – Wagner já está quase
desmaiando.
― Finge que é um autógrafo. Assina...
FIM DO FLASHBACK.
***
Alessandra
e Gianpaolo chegam à mansão. O porteiro abre o portão e pede para que eles
deixem o carro no estacionamento.
—
Preparada? — pergunta Gianpaolo. Alessandra dirige o carro, procurando o melhor
local para estacioná-lo.
—
Nenhum frio na barriga.
***
Alex
e Analú descem as escadas. Eles estão vestidos perfeitamente bem. Todos os
convidados no salão olham para cima e acompanham com os olhos a descida do
casal.
—
Pra quê tudo isso? — sussurra Analú.
—
Hoje é um dia importante, amor. —
responde ele.
Alessandra
e Gianpaolo chegam ao salão, e logo atrás deles, entra Adriano. Os três irmãos
se aproximam, e um fica olhando para o rosto do outro. Adriano, Alessandra e
Alex se reencontraram depois de tanto tempo.