quarta-feira, 9 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 21




VIGÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTULO

Música: Amy Winehouse – Back to Black.
     Estamos agora em um cemitério de classe – o mesmo em que o corpo da falecida e suicida esposa de Wagner, Norma Peregrini, foi enterrado. Dois homens levam o caixão e há apenas um conhecido nesta cena: Ugo.
Os homens enfim colocam o caixão no túmulo. Ugo joga sua rosa branca e diz:
     ― Assim como eu imaginava, não apareceu ninguém. Mas eu estou aqui. Mesmo assim eu estou aqui. E que no inferno você esteja explodindo de ódio. Verme. – se dirige aos coveiros: – podem enterrar.
     Ugo se abaixa, pega um punhado de terra e joga no túmulo. Alguém chega ao local, bem ao lado dele. Ugo vê primeiro os pés da pessoa. O esmalte vermelho cintilante brilha: é uma mulher. Olha para cima.
     – Cida? O que faz aqui?
Ingrid dá um sorriso e responde:
     — Era um bom homem.
     — Não, não era. Eu quero que você vá embora daqui. Era apenas a secretária dele, Cida.
     ― E você era apenas o motorista. – Ingrid joga sua rosa branca no túmulo e encara Ugo. – Dá quase no mesmo. A não ser que vocês fossem algo mais.
     ― O que está querendo dizer Cida?
     ― Nada. As fotos das revistas dizem tudo. Que show foi aquele da Jennifer Lopez hein?
     Ingrid vira as costas e sai. Ugo pensa em puxar seu revólver e atirar, mas por conta dos coveiros que ali estão ele não o faz.
***
     Na mansão Peregrini, Vanessa e Gisela chegam com mais compras. Fidel tem de carregar tudo até a suíte principal, onde Wagner dormia. Bisavó e bisneta estão mudando seus aposentos para o local.
     — Minha neta, vai ser bom dividir este enorme quarto com você.
     — Vai ser legal mesmo bisav... Tia Gisela.
     — Fidel — diz Gisela — pode deixar as sacolas aí em cima da cama e sair.
     — Como quiser.
Fidel resmunga alguma coisa e sai.
     — Neste momento vovô Wagner deve estar enterrado. – comenta Vanessa enquanto rói as unhas sem nenhuma preocupação.
     — E eu com isso? Se eu não pude ir ao enterro da minha filha por culpa dele, por que iria para o dele? Agora no velório dele não deve ter nem ido duas pessoas, e olha que ele tinha muitos sócios.
***
     Na cada de D. Inês, Ingrid chega. Pousa sua bolsa na mesa, senta-se e tira o salto alto desajeitadamente. Inês pergunta:
     ― Onde você foi?
     ― No cemitério. Fui ao enterro do Wagner.
     ― Bruno esteve aqui. O que aconteceu entre vocês?
     ― Não quero falar sobre isso agora. Agora eu só quero dormir e esquecer os problemas.
     ― Mas minha filha ele parece ser um rapaz tão bom!
     ― Por favor, depois a gente conversa. – Ingrid dá um beijo na testa de Inês e sai.
***
Música: Amy Winehouse – Back to Black.
     Fidel se encontra no pequeno quarto que divide com Analú na mansão. Uma mini capela no pé da sua cama é mostrada e o mordomo acende algumas velas. Várias fotos ao redor de uma pequena estátua da cantora Amy Winehouse são mostradas. Ele se benze e começa a rezar.
     — Oh, santa Amy, darling... Receba a alma deste pobre homem que aí vai. Sei que por trás daquela aparência de cachorro Pitty Bull dele, que, diga-se de passagem, lhe dava todo o charme, Wagner era um bom homem. Oh, Amy... estou pensando em me candidatar a vereador. Será que eu consigo. Ajude-me, please?
     Os dias se passaram e a repercussão da morte de Wagner vai embora, dando lugar ao julgamento do mensalão, e claro, às eleições para prefeito e vereador em cada cidade. Levando isso em conta, Fidel resolve se candidatar a vereador pelo PPD (Partido Popular da Diversidade).
     ― Se prepara pra gravar, Fidel! – diz o cameraman.
     ― Mas quem vai gravar a propaganda eleitoral não vai ser eu...
     ― E quem vai ser, seu Fidel? Aqui é questão de tempo, filho!
     ― Não sou seu filho. E me dá licença que quem vai aparecer aqui agora é a...
Fidel vai para o camarim e minutos depois entra no estúdio de gravação como:
     — ... Stefanie Raio Laser! — Fidel olha para o câmera, que está boquiaberto. – O que é? Nunca me viu? Põe logo essa bagaça aí pra gravar!
     Hora de gravar a propaganda, ou seja, hora de vexame. Fidel (vestido de mulher) se posiciona numa cadeira e coloca as mãos uma em cima da outra, como se estivesse no quadro de Da Vinci, Monalisa. Com uma voz mansa, grava:
     ― Se você quiser uma Fortaleza mais justa e livre de preconceitos, gatinhos, votem 24024, Stefanie Raio Laser, sua candidata tigresa. Miau! – gesticula com a mão direita ― Não se esqueça, dia 7 de outubro, Stefanie Raio Laser.
     Depois de gravar a propaganda eleitoral, Fidel, ou melhor, Stefanie Raio Laser sai nas ruas do bairro Dionísio Torres para fazer panfletagem. Os panfletos são entregues por ele mesmo para todas as pessoas que ali passam, as quais vaiam Fidel até o último fio de voz.
     ― Ai, santa Amy, eu não vou conseguir ganhar essa eleição... “No, no,no”. — canta no ritmo de Rehab.
***
Vanessa vem andando pela calçada quando esbarra com Bruno. As sacolas que trazia caem todas no chão.
     ― Me desculpa, moça.
     ― Abaixa logo e pega isso aí que eu to apressada.
     ― Já inventaram o “por favor”... – diz Bruno, agachando-se e colocando os objetos dentro da sacola. – Mas como eu to perturbado, vou fazer isso de graça. – Ele se levanta e entrega os pacotes à neta de Wagner.
Um carro passa em cima de uma poça em frente à calçada e acaba molhando os dois.
     ― Ai que, merda!
     ― Calma, moça, eu moro perto daqui, você pode vir comigo.
     ― E se você for um tarado?
     ― Fique aí suja de lama, então. – Bruno vira e sai caminhando.
     ― Ta, eu vou.
***
     Eles chegam ao apartamento de Bruno. Ele mostra onde é o banheiro para a moça (que é no quarto dele). Bruno acaba por tirar a roupa no seu quarto também.
     ― Não sai do banheiro agora, que eu to pelado.
     ― Ta, vou demorar um pouco aqui. Que saco ter que vestir uma roupa que eu acabei de comprar...
     O celular de Vanessa toca. Trata-se de seu pai.
     — Pai... Pai por favor, não me liga mais. Eu já lhe disse que sou uma herdeira Peregrini legítima e...
     Bruno não deixa de ouvir a conversa.
     — Então ela é parente do Wagner Peregrini...
     Vanessa continua a falar com o pai.
     — O quê? O senhor vai vir para Fortaleza?
***
Recife – Pernambuco
     Adriano continua a falar com a filha.
     — Sim, Vanessa. Vou buscar o que é meu de direito: a minha parte da herança.

(ESPAÇO PARA A ABERTURA)

Música: Guns N’ Roses – Don’t Cry

     Passam-se alguns dias. Alessandra se arruma em frente ao espelho. Ela põe um vestido especial, vermelho. Uma joia, a mais cara. É uma ocasião especial. Gianpaolo chega ao quarto e a abraça por trás.
    
     — Preparada para ver seus irmãos e sua avó depois de 25 anos, meu amor? — pergunta ele.
    
     — Sim. — responde — Este dia ficará para a história da minha vida. A leitura do testamento de Wagner Peregrini.

     — Amor... Você acha que seu pai foi assassinado?
    
     — Por que está perguntando isso? Claro que ele não foi... De certa o capacho dele (Ugo) o esqueceu em algum lugar naquele cruzeiro. Na hora da correria ele caiu no mar. Acontece. Me ajuda com os botões do vestido?

     A cada botão que Gianpaolo abotoava, ela lembra de cada fase de sua sofrida infância. Quando sua mãe morreu, quando o pai a trancafiou com os irmãos em um quarto e os maltratou. Ou quando teve de se separar deles, indo para um convento.

***

     Bruno seduziu Vanessa, mas nunca esqueceu Ingrid. Contudo, sua ambição era maior. Ele queria se infiltrar na mansão Peregrini e acompanhar toda a leitura do testamento, filmar, tirar fotos.
    
     Vanessa o convida para a acompanhar no evento. Ele é o primeiro a chegar, e ela o recebe o cobrindo de beijos. Gisela estranha o rapaz, mas nada diz.
     — Tia Gisela... Este é meu namorado. Bruno Valente.
     — Encantado. — ele beija a mão de Gisela.
     — Prazer em conhecê-lo. — Gisela dá um sorriso falso.
     Albaniza Dias, a advogada, chega à mansão, acompanhada de seu filho, o também advogado Victorio Machado Dias.
     — Não sei o que será deste império sem o Wagner. Pode ser que ele seja destruído... — Albaniza comenta com o filho.
     — Wagner realmente fez um bom trabalho com a Flash Magazine enquanto viveu. Ele morreu pela Flash, digamos assim... — diz Victorio.
     Gisela se aproxima. A senhora idosa cumprimenta os advogados. Fidel serve champanhe e canapés para eles.
     — Quando começaremos a leitura?
     — Daqui a pouco, senhorita Gisela. — responde Albaniza. Victorio bebe champanhe.

***
     Ugo procura desesperadamente em seu quarto o documento que fez Wagner assinar no cruzeiro, mas não acha.
     — Maldição! O que farei agora? O eu direi a Cérebro?
Ugo se lembra do momento que fez Wagner assinar o documento.

FLASHBACK.
     Ugo se levanta e prepara uma bebida de vodca com suco de laranja para ambos. Ele entrega um copo para Wagner.
     ― Vamos comemorar então, Wagner. Nada melhor do que vodca. Brindamos...
     ― Um brinde.
Wagner já está completamente bêbado. Ele ri à toa e Ugo apenas o observa.
     ― Ugo, você é um ótimo companheiro. Até encheu minha cara! — ri.
Ugo retira o documento impresso da pasta e dá uma caneta para que Wagner o assine.
     ― Assina Wagner. Assina. Coloca tuo nome aqui.
     ― Assinar? Pra quê? – Wagner já está quase desmaiando.
     ― Finge que é um autógrafo. Assina...
FIM DO FLASHBACK.
***
     Alessandra e Gianpaolo chegam à mansão. O porteiro abre o portão e pede para que eles deixem o carro no estacionamento.
     — Preparada? — pergunta Gianpaolo. Alessandra dirige o carro, procurando o melhor local para estacioná-lo.
     — Nenhum frio na barriga.
***
     Alex e Analú descem as escadas. Eles estão vestidos perfeitamente bem. Todos os convidados no salão olham para cima e acompanham com os olhos a descida do casal.
     — Pra quê tudo isso? — sussurra Analú.
     — Hoje é um dia importante, amor. — responde ele.
     Alessandra e Gianpaolo chegam ao salão, e logo atrás deles, entra Adriano. Os três irmãos se aproximam, e um fica olhando para o rosto do outro. Adriano, Alessandra e Alex se reencontraram depois de tanto tempo.
     — Meus netinhos! — exclama Gisela.