Aeroporto de Congonhas, São Paulo.
Segunda-Feira.
Eram dois jovens, com dois sonhos, no
saguão daquele imenso aeroporto às quatro da tarde. Ela, com uma sapatilha
florada, uma calça jeans azul marinho e uma camisa regata verde folha. Seus
cabelos loiros e seus lindos olhos azuis se mexiam o tempo todo. Essas eram as
características essenciais da baladeira Valéria.
Ao lado dela, um jovem loiro, de olhos
azuis, também. Um garoto apaixonado pela escrita. Honesto, assim como ela. Esse
era Renato, que usava uma jaqueta de couro marrom, uma calça jeans preta, e um
simples tênis cinza.
Os dois se olhavam enquanto andavam. Ao
saírem pra rua, que estava movimentada como sempre, Valéria abriu os braços,
como se quisesse voar e disse para seu amigo, com um lindo sorriso, mostrando
seus dentes brancos.
–
To tão feliz Renato, parece que a vida está sorrindo pra mim.
– Sei que está, Valéria, aliás, nós
dois estamos. Ganhamos nosso futuro.
Eles
soltaram gargalhadas de felicidades. Correram e se abraçaram. Renato girou Valéria.
Eles tinham motivo sim para estarem
felizes. Passaram no vestibular. Valéria ganhou direito e Renato jornalismo.
Eles sempre foram amigos. Desde a primeira vez que se viram no primeiro ano do
ensino fundamental nunca desgrudaram, e cresceram juntos. Depois que ganharam
bolsas de estudos, precisaram deixar suas famílias no Paraná e se mudarem para
São Paulo. E eles receberiam todo mês uma quantia em dinheiro dos pais, que se
importam muito com eles.
Assim como o vento, as horas passaram
depressa naquele dia. Os carros circulavam as avenidas centrais de São Paulo. E
naquela cidade grande havia uma multidão, onde acontecia um show. Mas não era
um simples show. Era o show de Carla Chrustins, uma das cantoras de música
romântica mais famosa do mundo.
Seu rosto com um tom misterioso, seus
olhos e seus cabelos cor caju. Seu vestido preto longo, com pratas pregadas.
Essa era aquela mulher que se apresentava, cantando com uma voz doce sua música
de maior sucesso: “Deixa”.
Às vezes, paro e me pergunto,Se um dia o nosso amor pode acabar,Mas eu fico a pensar por um minuto,
E de repente, me vejo a delirar.
Então deixa,
Eu entrar profundamente em ti,
Deixa,Eu sorrir tão belo assim.Deixa ser real o nosso amor,
Porque ele é assim, tão lindo!
Eu sei que às vezes não é fácil,
Mas a vida me ensina a continuar.E me vejo num abismo bem perdida,
O medo é grande, que me faz até gritar.
Então deixa,
Eu entrar profundamente em ti,
Deixa,Eu sorrir tão belo assim.Deixa ser real o nosso amor,
Porque ele é assim, tão lindo.
Fãs gritavam e choravam quando viram a
diva no palco brilhando. Aquela foi “apenas a última” música da cantora naquele
palco hoje. Ela saiu jogando beijos. Ao
se virar, para entrar no camarim, sua cara mudou para um tom de nojo e palavras
saíram de sua boca:
– Bando de desesperados! A garganta
deles podia queimar de ardência.
Ela continuou andando até chegar a uma
porta, que foi aberta. Entrou com um olhar de “não me toque” e ficou em pé,
abrindo os braços. Rapidamente algumas mulheres tiraram sua roupa e a vestiram
novamente. Essas mulheres não podiam nem se quer tocar a diva direito. Ao ver
que está vestida, ela se sentou numa cadeira. Dois homens invadiram a sala e
começaram a passar maquiagem e arrumar os seus cabelos, enquanto isso, ela
pensou:
“Preciso
falar com a Estela, fazer um novo negócio.”
Carla se dirigiu a sua limusine preta, toda vestida
de preto, sua cor favorita. Os fãs tentaram ao menos tocá-la, mas a mulher se
afastou. Carla entrou na limusine, que teve a porta aberta pelo motorista. Os
flashes das câmeras fotografaram-na. Quando o motorista começou a dirigir,
Carla deu um sorriso. Ele olhou pelo retrovisor, sorrindo também. E foi aí que
a patroa disse:
– Abraão, leve-me para o hospital Trindade.
E já.
Abraão
respondeu:
– Pois não, senhora.
Carla
soltou um sorriso e completou:
– Quero ver o sangue derramando.
A
limusine seguiu seu destino.
O pessoal estava se animando na balada de
música eletrônica às onze da noite. As luzes brilhavam no rosto de todos
naquele lugar. Mas quem estava brilhando mesmo era Valéria, com uma calça jeans
preta, um salto alto de quinze centímetros, preto também. Uma camisa branca e
por cima um blazer cor vinho. Ela dançava sem parar, ainda mais quando o refrão
das músicas tocava. Renato, sentado num
tamborete, bebendo um uísque, observava sua amiga dançando. Valéria o viu a
olhando e falou:
– Vem dançar Natinho!
– Ah Valéria, pode continuar dançando.
Eu não to com vontade.
Valéria
se aproximou dele, com um olhar sensível:
– Renato, só uma vez! Larga de ser
bobo. Você tem que aproveitar a vida! Se soltar, se envolver, se mexer. Quando
ficar velhinho não vai poder...
– Mas Valéria...
– Tá bem... Seu chato! – Responde ela
brincando.
Ela
voltou para a pista de dança. Renato sentiu uma enorme vontade de abraçá-la. Por
um momento, ele sentiu seu coração acelerar. Estou apaixonado e sempre estive. – Pensou.
Uma mulher toda de preto andava pelos
corredores do hospital Trinade apressadamente. Usava um óculo preto. Enquanto
ela andava, doentes olhavam-na com um olhar de tristeza, enquanto ela nem dava
moral e seguia para uma sala, na verdade uma diretoria. Rapidamente ela abriu a
porta e se deparou com uma mulher toda de branco. Uma cardiologista de cabelos
castanhos com franja e uma boca carnuda. A mulher de preto trancou a porta e se
sentou, tirando a peruca e se revelando. A de branco comentou:
– Disfarçou bem dessa vez Carla! Uma
bandida profissional mesmo.
– Não vim aqui pra falar sobre meu
disfarce. Vim pra terminarmos de fechar o negócio e fazermos outro. Aqueles seis
garotos, quanto fica?
Estela
a encarou, séria, e respondeu:
– Serão tirados: coração, rins, fígado,
baço, intestino delgado e pulmão. Mas vamos fazer o seguinte, eu te pago quatro
milhões pelos seis rapazes.
Carla
soltou uma gargalhada:
– Seis milhões e não se fala mais
nisso. Eu sou a chefa, quem manda é eu, portanto, negócio fechado. E vamos logo
com esses rapazes porque depois quero garotas. Elas se cuidam mais. Não fumam,
não bebem quanto os rapazes bebem. Os pulmões devem ser sadios.
Estela
então respondeu à Carla:
– Negócio fechado então. O tráfico não
pode parar, assim como meu hospital.
Carla
se levantou dizendo:
– Os garotos já devem estar na
Argentina. Vão enlouquecer quando descobrirem. E pode preparar os médicos
parceiros, vocês precisam viajar amanhã, o quanto mais antes. Depois que
chegarem, eu vou reunir os capangas. E dessa vez, como eu já disse, serão
garotas.
Carla pôs a peruca e abriu a porta, saindo,
e enfrentando novamente o corredor do hospital.
Buenos Aires,
Argentina.
Dois táxis acabaram de chegar a frente a uma
“clínica” às onze da manhã. Médicos e enfermeiros auxiliares desceram dele.
Todos entraram juntos no lugar, conduzidos por Estela. Andaram pelos corredores
escuros e por fim chegaram à outra porta, que foi aberta por Estela.
A vista era assustadora. Seis rapazes,
todos nus, tapados apenas com lençóis e amarrados em cordas. Eles gritavam.
Estavam amarrados desde a noite passada, com medo.
– O que vão fazer com a gente? –
Perguntou um deles, preocupado.
Estela
respondeu se aproximando dele:
– Se eu fosse você, eu ficava feliz,
pois você vai ajudar muita gente.
– Ajudar como? – Era a pergunta de
outro rapaz.
Estela
se virou para o mesmo:
– Chega de perguntas. – Ela olhou para
os médicos e enfermeiros auxiliares – Vamos ao trabalho.
Rapidamente, eles anestesiaram todos,
que dormiram profundamente. Duas horas se passaram e já estavam quase
terminando.
A Dra. Ingrid Steffens estava na parte
mais importante. O coração. Ela pediu aos auxiliares todos os instrumentos
necessários. Primeiro ela riscou em volta a parte que será cortada. Depois,
usando um bisturi, começou a cortar. Minutos depois, ela conseguiu terminar.
Arrancou o coração do corpo do jovem e o levantou com ele palpitando, dizendo:
– Isso dá muito dinheiro!
O
sangue do coração se espalhou pelas luvas nas mãos dela, que sorriu feliz com o
trabalho. Depois de colocarem todos os órgãos junto com gelo nas malas, a porta
da sala fechada se abriu e uma mulher loira entrou acompanhada de seis homens.
Ingrid, Estela, Antônio e os outros observaram enquanto a loira fitava os
cadáveres. Então, ela se virou para os homens e ordenou:
– Podem começar!
Então,
os seis homens se aproximaram dos corpos tapados pelos lençóis encharcados de
sangue e começaram a limpá-los. A mulher se aproximou de Estela:
– Cumpri com nosso trato mais uma vez.
Quero uma nova boa quantia.
Estela
entregou à Ayelen um cheque no valor de duzentos mil reais e disse:
– Não se preocupe Ayelen, paguei tudo
de acordo com os conformes. Ou não confia em nossa quadrilha?
Ayelen
olhou para Ingrid, Antônio e os outros parados que estavam esperando a
resposta, assim como Estela. A boca da argentina se abriu:
–
Claro que confio. Vocês é que não confiam em mim.
Os corpos dos rapazes ficaram prontos depois
de duas horas. Seis caixões entraram na sala, os quais receberam os corpos. Os
caixões foram fechados e carregados um por um para um caminhão médio. Ayelen
cumprimentou os parceiros e entrou no seu carro, com mais quatro homens. Os
outros dois levaram o caminhão com os caixões, que foram levados para um
cemitério abandonado. Os integrantes do hospital Trindade fecharam aquela
clínica e entraram nos táxis, seguindo para o aeroporto.
Lá, todos ficaram no mesmo rumo, e
começaram a andar. Era como uma tropa, toda vestida de branca, levando naquelas
malas, os órgãos de seis rapazes sonhadores, que tinham uma longa vida pela
frente, uma vida interrompida pela maldade. Quem
serão as próximas vítimas?
COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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