segunda-feira, 7 de abril de 2014

Que se Acendam as Luzes - Primeiro Capítulo






Aeroporto de Congonhas, São Paulo. 
Segunda-Feira.
         Eram dois jovens, com dois sonhos, no saguão daquele imenso aeroporto às quatro da tarde. Ela, com uma sapatilha florada, uma calça jeans azul marinho e uma camisa regata verde folha. Seus cabelos loiros e seus lindos olhos azuis se mexiam o tempo todo. Essas eram as características essenciais da baladeira Valéria.
         Ao lado dela, um jovem loiro, de olhos azuis, também. Um garoto apaixonado pela escrita. Honesto, assim como ela. Esse era Renato, que usava uma jaqueta de couro marrom, uma calça jeans preta, e um simples tênis cinza.
         Os dois se olhavam enquanto andavam. Ao saírem pra rua, que estava movimentada como sempre, Valéria abriu os braços, como se quisesse voar e disse para seu amigo, com um lindo sorriso, mostrando seus dentes brancos.
         – To tão feliz Renato, parece que a vida está sorrindo pra mim.
         – Sei que está, Valéria, aliás, nós dois estamos. Ganhamos nosso futuro.
Eles soltaram gargalhadas de felicidades. Correram e se abraçaram. Renato girou Valéria.
         Eles tinham motivo sim para estarem felizes. Passaram no vestibular. Valéria ganhou direito e Renato jornalismo. Eles sempre foram amigos. Desde a primeira vez que se viram no primeiro ano do ensino fundamental nunca desgrudaram, e cresceram juntos. Depois que ganharam bolsas de estudos, precisaram deixar suas famílias no Paraná e se mudarem para São Paulo. E eles receberiam todo mês uma quantia em dinheiro dos pais, que se importam muito com eles.

         Assim como o vento, as horas passaram depressa naquele dia. Os carros circulavam as avenidas centrais de São Paulo. E naquela cidade grande havia uma multidão, onde acontecia um show. Mas não era um simples show. Era o show de Carla Chrustins, uma das cantoras de música romântica mais famosa do mundo.
         Seu rosto com um tom misterioso, seus olhos e seus cabelos cor caju. Seu vestido preto longo, com pratas pregadas. Essa era aquela mulher que se apresentava, cantando com uma voz doce sua música de maior sucesso: “Deixa”.
Às vezes, paro e me pergunto,Se um dia o nosso amor pode acabar,Mas eu fico a pensar por um minuto,
E de repente, me vejo a delirar.
Então deixa,
Eu entrar profundamente em ti,
Deixa,Eu sorrir tão belo assim.Deixa ser real o nosso amor,
Porque ele é assim, tão lindo!
Eu sei que às vezes não é fácil,
Mas a vida me ensina a continuar.E me vejo num abismo bem perdida,
O medo é grande, que me faz até gritar.
Então deixa,
Eu entrar profundamente em ti,
Deixa,Eu sorrir tão belo assim.Deixa ser real o nosso amor,
Porque ele é assim, tão lindo.

         Fãs gritavam e choravam quando viram a diva no palco brilhando. Aquela foi “apenas a última” música da cantora naquele palco hoje. Ela saiu jogando beijos.  Ao se virar, para entrar no camarim, sua cara mudou para um tom de nojo e palavras saíram de sua boca:
         – Bando de desesperados! A garganta deles podia queimar de ardência.
         Ela continuou andando até chegar a uma porta, que foi aberta. Entrou com um olhar de “não me toque” e ficou em pé, abrindo os braços. Rapidamente algumas mulheres tiraram sua roupa e a vestiram novamente. Essas mulheres não podiam nem se quer tocar a diva direito. Ao ver que está vestida, ela se sentou numa cadeira. Dois homens invadiram a sala e começaram a passar maquiagem e arrumar os seus cabelos, enquanto isso, ela pensou:
“Preciso falar com a Estela, fazer um novo negócio.”
        


      Carla se dirigiu a sua limusine preta, toda vestida de preto, sua cor favorita. Os fãs tentaram ao menos tocá-la, mas a mulher se afastou. Carla entrou na limusine, que teve a porta aberta pelo motorista. Os flashes das câmeras fotografaram-na. Quando o motorista começou a dirigir, Carla deu um sorriso. Ele olhou pelo retrovisor, sorrindo também. E foi aí que a patroa disse:
         – Abraão, leve-me para o hospital Trindade. E já.
Abraão respondeu:
         – Pois não, senhora.
Carla soltou um sorriso e completou:
         – Quero ver o sangue derramando.
A limusine seguiu seu destino.






          O pessoal estava se animando na balada de música eletrônica às onze da noite. As luzes brilhavam no rosto de todos naquele lugar. Mas quem estava brilhando mesmo era Valéria, com uma calça jeans preta, um salto alto de quinze centímetros, preto também. Uma camisa branca e por cima um blazer cor vinho. Ela dançava sem parar, ainda mais quando o refrão das músicas tocava.  Renato, sentado num tamborete, bebendo um uísque, observava sua amiga dançando. Valéria o viu a olhando e falou:
         ­– Vem dançar Natinho!
         – Ah Valéria, pode continuar dançando. Eu não to com vontade.
Valéria se aproximou dele, com um olhar sensível:
         – Renato, só uma vez! Larga de ser bobo. Você tem que aproveitar a vida! Se soltar, se envolver, se mexer. Quando ficar velhinho não vai poder...
         – Mas Valéria...
         – Tá bem... Seu chato! – Responde ela brincando.
Ela voltou para a pista de dança. Renato sentiu uma enorme vontade de abraçá-la. Por um momento, ele sentiu seu coração acelerar. Estou apaixonado e sempre estive. – Pensou.

         Uma mulher toda de preto andava pelos corredores do hospital Trinade apressadamente. Usava um óculo preto. Enquanto ela andava, doentes olhavam-na com um olhar de tristeza, enquanto ela nem dava moral e seguia para uma sala, na verdade uma diretoria. Rapidamente ela abriu a porta e se deparou com uma mulher toda de branco. Uma cardiologista de cabelos castanhos com franja e uma boca carnuda. A mulher de preto trancou a porta e se sentou, tirando a peruca e se revelando. A de branco comentou:
         – Disfarçou bem dessa vez Carla! Uma bandida profissional mesmo.
         – Não vim aqui pra falar sobre meu disfarce. Vim pra terminarmos de fechar o negócio e fazermos outro. Aqueles seis garotos, quanto fica?
Estela a encarou, séria, e respondeu:
         – Serão tirados: coração, rins, fígado, baço, intestino delgado e pulmão. Mas vamos fazer o seguinte, eu te pago quatro milhões pelos seis rapazes.
Carla soltou uma gargalhada:
         – Seis milhões e não se fala mais nisso. Eu sou a chefa, quem manda é eu, portanto, negócio fechado. E vamos logo com esses rapazes porque depois quero garotas. Elas se cuidam mais. Não fumam, não bebem quanto os rapazes bebem. Os pulmões devem ser sadios.
Estela então respondeu à Carla:
         – Negócio fechado então. O tráfico não pode parar, assim como meu hospital.
Carla se levantou dizendo:
         – Os garotos já devem estar na Argentina. Vão enlouquecer quando descobrirem. E pode preparar os médicos parceiros, vocês precisam viajar amanhã, o quanto mais antes. Depois que chegarem, eu vou reunir os capangas. E dessa vez, como eu já disse, serão garotas.  

     Carla pôs a peruca e abriu a porta, saindo, e enfrentando novamente o corredor do hospital.

Buenos Aires, Argentina.

     Dois táxis acabaram de chegar a frente a uma “clínica” às onze da manhã. Médicos e enfermeiros auxiliares desceram dele. Todos entraram juntos no lugar, conduzidos por Estela. Andaram pelos corredores escuros e por fim chegaram à outra porta, que foi aberta por Estela.
         A vista era assustadora. Seis rapazes, todos nus, tapados apenas com lençóis e amarrados em cordas. Eles gritavam. Estavam amarrados desde a noite passada, com medo.
         – O que vão fazer com a gente? – Perguntou um deles, preocupado.
Estela respondeu se aproximando dele:
         – Se eu fosse você, eu ficava feliz, pois você vai ajudar muita gente.
         – Ajudar como? – Era a pergunta de outro rapaz.
Estela se virou para o mesmo:
         – Chega de perguntas. – Ela olhou para os médicos e enfermeiros auxiliares – Vamos ao trabalho.
         Rapidamente, eles anestesiaram todos, que dormiram profundamente. Duas horas se passaram e já estavam quase terminando.
         A Dra. Ingrid Steffens estava na parte mais importante. O coração. Ela pediu aos auxiliares todos os instrumentos necessários. Primeiro ela riscou em volta a parte que será cortada. Depois, usando um bisturi, começou a cortar. Minutos depois, ela conseguiu terminar. Arrancou o coração do corpo do jovem e o levantou com ele palpitando, dizendo:
         – Isso dá muito dinheiro!
O sangue do coração se espalhou pelas luvas nas mãos dela, que sorriu feliz com o trabalho. Depois de colocarem todos os órgãos junto com gelo nas malas, a porta da sala fechada se abriu e uma mulher loira entrou acompanhada de seis homens. Ingrid, Estela, Antônio e os outros observaram enquanto a loira fitava os cadáveres. Então, ela se virou para os homens e ordenou:
         – Podem começar!
Então, os seis homens se aproximaram dos corpos tapados pelos lençóis encharcados de sangue e começaram a limpá-los. A mulher se aproximou de Estela:
         – Cumpri com nosso trato mais uma vez. Quero uma nova boa quantia.
Estela entregou à Ayelen um cheque no valor de duzentos mil reais e disse:
         – Não se preocupe Ayelen, paguei tudo de acordo com os conformes. Ou não confia em nossa quadrilha?
Ayelen olhou para Ingrid, Antônio e os outros parados que estavam esperando a resposta, assim como Estela. A boca da argentina se abriu:
         – Claro que confio. Vocês é que não confiam em mim.
Os corpos dos rapazes ficaram prontos depois de duas horas. Seis caixões entraram na sala, os quais receberam os corpos. Os caixões foram fechados e carregados um por um para um caminhão médio. Ayelen cumprimentou os parceiros e entrou no seu carro, com mais quatro homens. Os outros dois levaram o caminhão com os caixões, que foram levados para um cemitério abandonado. Os integrantes do hospital Trindade fecharam aquela clínica e entraram nos táxis, seguindo para o aeroporto.

         Lá, todos ficaram no mesmo rumo, e começaram a andar. Era como uma tropa, toda vestida de branca, levando naquelas malas, os órgãos de seis rapazes sonhadores, que tinham uma longa vida pela frente, uma vida interrompida pela maldade. Quem serão as próximas vítimas?


 COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO 
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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