segunda-feira, 7 de abril de 2014

A ERA DOS MORTOS - CAPÍTULO 40


CAPÍTULO 40



A conversa com a Dr. Melanie fora pesada para o café da manhã. O tempo todo a médica ficou falando de Abril e de como fora covarde por não ter tido a coragem de ficar ao lado dele. Por mais que quisesse ajudar a médica naquele momento, Lex não conseguiu focar a atenção e seu pensamento voou para bem longe. Agradeceu mentalmente quando Janaira e Lizzie apareceram para o café. Como Lizzie estava pálida, a médica quis examiná-la e prescreveu alguns remédios. Aproveitando o ensejo, Lex escapuliu da cozinha para fora do casarão.

Caminhando ao redor da casa, Lex percebeu que Steve já estava acordado e estava no lado exterior da casa, colhendo tomates. Lex resolveu ajuda-lo. Tomou uma cesta e, seguida sempre por Bob, escolhia os tomates conforme as orientações de Steve.

Steve era muito calado e Lex agradeceu por isso. Não queria alguém falando ao seu lado o tempo todo.  Já havia enchido sua cesta, quando escutou um grande barulho sob sua cabeça. Pelo plástico transparente da estufa, ela percebeu que era um helicóptero. Seu coração disparou no mesmo instante. Seria Jack??? Teria Jack sobrevivido e vindo ao seu encontro? Ele havia prometido isso, não havia?

Lex correu para trás do casarão, mas viu que o helicóptero de Alexander estava ali, pousado, desde o dia em que chegaram. Não poderia ser Jack, ou poderia? Teria ele outro helicóptero?

Parou a alguns metros de onde o outro helicóptero estava tentando pousar, num espaço milimétrico perto do helicóptero de Alexander e próximo da cerca elétrica. Era um helicóptero um pouco menor, todo branco com janelas escurecidas por uma película negra.

Enquanto Lex assistia ao pouso feito com maestria, Lizzie, Janaira, Melanie e Casper chegaram e se posicionaram perto dela.

- Esse helicóptero é da fortaleza? – perguntou Lex, falando alto o suficiente para que Casper a escutasse.

- A fortaleza só possui um helicóptero – falou Casper e sacou o revolver do coldre da cocha. – Tem aí seu revolver?

Lex não estava com o revolver e ao perceber isso, Casper puxou Lex para trás de si, protegendo-a com seu corpo, o que deixou Janaira levemente enciumada ao seu lado.

O helicóptero enfim pousou, deixando todos tensos. Um minuto depois, a porta se abriu e um homem desceu.

Ele usava óculos escuros e era tão alto quanto Casper. Era loiro, com cabelos lisos e penteado curto. Apenas na franja, os cabelos seguiam até os olhos, o que lhe dava uma aparência nórdica. Vestia-se com uma roupa que parecia muito com a dos agentes da fortaleza, mas tinha umas insígnias diferentes em cor azul e vermelha.

- Olá!!! – ele disse, retirando os óculos e se aproximando.

- Mãos para o alto! – falou Casper, num tom firme e autoritário, apontando o revolver para ele – Ou eu atiro.

- Eu vim em paz! – respondeu o misterioso piloto.

- Nada do que vem da Cidadela tem a ver com paz. – retrucou Casper, sem se mover.  Lex percebeu que a arma dele estava destravada e o dedo estava no gatilho, prestes a entrar em ação.

- Como você sabe que ele é da Cidadela? – perguntou Lex a Casper.

- A insígnia!!! – falou Janaira, visivelmente nervosa. – Eu vi essas insígnias nas portas da cidadela, em todo o lugar...

- De fato, eu sou da Cidadela mas não vim em nome da Cidadela... – disse o homem com as mãos para o alto. – Eu vim em nome de Jack Trevor...

- Jack??? Ele está vivo? – perguntou Lex, saindo de detrás de Casper para se aproximar do homem.

- Infelizmente, não... – respondeu o homem, sem se mover e sem tirar os olhos de Casper. – Devo assumir que a senhorita é Paris Lanister.

Lex não conseguiu processar o que o homem dissera. Trevor não estava vivo? Ela sentiu o mundo tremer, mas parecia que ninguém mais o sentira.

- Jack morreu? – insistiu ela, sentindo-se enjoada. Parecia que alguém havia socado seu estômago e o café da manhã estava querendo reaparecer. Ela aproximou-se ainda mais, desvencilhando-se das mãos de Casper que tentava puxá-la novamente para perto de si.

- Moça... eu tentei ajuda-lo. Encontrei ele e alguns sobreviventes no terraço da fortaleza. Ele estava bem, mas fomos atacados e ele foi mordido. Antes de morrer, ele me deu isso... – disse o homem, retirando de dentro de um dos bolsos um papel.

- Devagar, se não quiser morrer... – disse Casper... aproximando-se dele para ver o papel.

- Oh, Deus... ! – disse Lex ao ver que o papel estava todo ensanguentado.  No bilhete improvisado, era possível divisar a letra de Trevor com nitidez.

“ Casper...
Entregue Alexia a Dantas... Jack”

Casper olhou para Lex e ela soube no mesmo instante que ele obedeceria a uma ordem de Jack, mesmo que fosse uma ordem do além.

- Ora, vamos, Casper... até um idiota pode pensar que Jack foi torturado para escrever isso... – falou Janaira, arrancando o bilhete da mão do namorado.

- Jack jamais faria isso sob tortura. Ele sabe o que Alexia representa. – respondeu Casper, abaixando a arma e a colocando de volta no coldre – Você é Dantas do billhete?

- Daniel Dantas – respondeu o homem, estendendo a mão para cumprimentar Casper – Eu sinto muito pelo seu líder. Eu soube que Jack Trevor era um homem justo e memorável.

- Responda-me, Dantas... porque Jack quer que eu confie a você o nosso mais precioso recurso? – perguntou Casper, olhando de relance para Lex, que não conseguia levantar os olhos do bilhete nas mãos de Janaira.

- Como eu expliquei ao Sr. Trevor, eu sou o chefe de segurança da Cidadela. Eu era o chefe de segurança das Industrias Lanister e trabalhei a minha vida inteira para Lanister e Abraham. Mas desde que eu fui para a Cidadela, eu fui obrigado a instalar um sistema de controle abusivo para os cidadãos da Cidadela. Não foi minha intenção. Eu achei que isso mudaria quando o tempo passasse. Que Abraham seria um bom líder. Que as atrocidades que aconteceram eram apenas para instaurar uma ordem naquele caos mas... bem... a Srta. Silva testemunhou a forma como...

- Exatamente... – falou Janaira, segurando o braço de Lex. – Eu sei que nada de bom pode acontecer na Cidadela. E eu não vou deixar que levem minha amiga para lá.

- Eu sei disso, Srta. Silva... – continuou Dantas. – Mas eu tenho um plano. Um plano que pode acabar com Abraham e libertar o povo da Cidadela. Para que esse plano funcione, eu preciso que Paris venha comigo.

- Infelizmente nós precisamos de mais informações, Dantas. Trevor não me daria a ordem de deixar você tirar Lex daqui sem uma boa explicação. – adicionou Casper.

- Imagino que sim – colocou Dantas, respirando fundo. - Desde que Lanister passou a trabalhar na cura para Abraham, nós estamos trabalhamos num plano e parece que finalmente há uma chance.

- Você e Lanister? – perguntou Janaira, curiosa.

Lex também estaria curiosa se sua mente pudesse funcionar corretamente. Mas ela estava tão fora de si que deslizaria para o chão se Janaira não a estivesse sustentando, segurando seu braço firmemente. Vez ou outra, sua amiga lhe dirigia um olhar preocupado. Ela sabia o que Trevor significava para Lex.

- Sim, um plano bastante complexo. – adicionou Daniel - Uma rebelião interna para derrotar Abraham, enquanto ele está preocupado com um inimigo externo. - Dantas explicou, mas aquilo não esclarecia nada, por isso, o misterioso chefe da segurança da Cidadela continuou – Enquanto a sua fortaleza estava sendo destruída por zumbis, Brandon chegou a Cidadela informando o que ele havia feito. Abraham me deu ordens para que eu fosse à fortaleza e te resgatasse antes que algo acontecesse a você, Srta. Lanister.  Eu voltei à Cidadela dizendo que eu sabia sobre a fortaleza e que sabia onde você estava. Desde o início Abraham queria capturar você e então limpar a fortaleza dos zumbis e usufruir dos recursos que Jack Trevor tão arduamente conseguiu construir.

- Por que meu tio faria isso se há recursos ilimitados na Cidadela? – dessa vez foi Briam que disse isso, surgindo atrás de todos, ao lado de Steve e do cão Bob.

- De fato, seu tio tem muitos recursos na Cidadela, mas há muitos escravos e muitas pessoas e os recursos estão rapidamente acabando. Abraham achava que a essa altura, os zumbis já estariam mortos e os recursos disponíveis para o resto da vida, mas sua tentativa em criar uma cura falhou miseravelmente. Por isso ele estava tão interessado em usar a fortaleza. Foi então que Lanister teve uma brilhante ideia. Lanister disse que encontrou a cura e fez uma demonstração... er... falsa para Abraham usando ratos. Isso desviou Abraham de seu objetivo imediato e nos deu o tempo necessário para preparar um plano.

- Tudo bem, moço... e que plano é esse? – perguntou Janaira, impaciente. – Pois você está falando e falando e não está explicando nada.

- O nosso plano é esse: vou levar Lex comigo. Vou dizer a eles que eu matei todos vocês, todos os sobreviventes da fortaleza. Com Lex na Cidadela para garantir a produção da cura, Abraham vai querer invadir a fortaleza para limpá-la e aproveita-la. Para um ataque de larga escala, eu mandarei todos os homens nos quais não confio. Abraham vai ficar com um pequeno número de guardas, o que nos dará a oportunidade para mata-lo e reclamar a Cidadela para nós.

- E o que vai acontecer quando o seu exército retornar para a Cidadela? – perguntou Janaira.

- Eles não vão retornar... – afirmou Dantas, com um sorriso sombrio nos lábios – antes de deixar a fortaleza, eu deixei uma grande quantidade de explosivos instalada. Assim que os homens da Cidadela invadirem o prédio, irá tudo pelos ares.

- Mas então, perderíamos os recursos da fortaleza... – colocou Briam, aproximando-se ainda mais.

- Sim... mas não há outra alternativa.

- E se algo der errado... e se os homens de Abraham sobreviverem? – perguntou Casper, ainda desconfiado de Dantas.

- Bem, há na Cidadela um grande armamento com milhares de armas, explosivos e outras coisinhas legais. Mesmo que os homens de Abraham sobrevivam, quando nós libertarmos os escravos, será mais de um milhão de pessoas raivosas armadas até os dentes contra, no máximo, mil soldados, no pior das hipóteses.

- Parece um bom plano, Dantas, mas como poderemos confiar em você. – adicionou Casper.

- É! – concordou Janaira – Você sempre trabalhou para Abraham, por que mudou de ideia de repente?

Dantas olhou para os próprios pés, como se avaliasse o que iria dizer em seguida, depois, soltou um suspiro que revelava uma dor profunda e continuou.

- Ele matou minha esposa. – declarou ele e era possível ver que ele falava sério. – Desde que fomos abrigados na Cidadela, minha mulher, Adelia, começou a agir estranhamente. Ela parecia estar com medo o tempo todo e eu imaginei que era somente por causa dos zumbis, mas nada melhorou e quando eu a pressionei, ela me confessou que Abraham a vinha assediando, fazendo ameaças. Eu não quis acreditar, é claro. Achei que era tudo da cabeça dela. Minha mulher já teve problemas psicológicos antes.

Lex sabia o que era isso. Não ter credito por problemas psicológicos e a história de Dantas a afetou. Abraham agia exatamente como Brandon, talvez mais sordidamente.

- Três dias depois Abraham me deu a noticia de que minha mulher havia sido infectada e foi assassinada e cremada. Só que minha irmã faz parte da equipe de legistas da Cidadela e ela me contou o que viu no corpo de Adelia antes de ela ser cremada. Não havia indícios de infecção, mas havia indícios de um estupro brutal. Desde então Danielle, minha irmã, e eu, vimos trabalhando na rebelião.  Não foi fácil eu ter me controlado. Eu queria matar Abraham a todo custo, mas minha irmã me convenceu que se eu matasse Abraham, outro tomaria seu lugar e aquelas pessoas, todos aqueles escravos estariam submetidos de qualquer jeito. Eu não quero somente matar Abraham, eu quero destruir seu poderio e tentar fazer alguma coisa para mudar o que está acontecendo, porque no minuto em que ele tiver a cura, então não haverá mais volta e ele tomará tudo e o mundo será ainda pior do que já está.

- Ok, digamos que nós acreditamos em você... – falou Casper, instintivamente abraçando Janaira. Lex imaginou que Casper havia se colocado no lugar de Dantas ao perder a mulher que amava de maneira tão brutal – e onde nós nos encaixamos nessa historia toda?

Dantas retirou do seu cinto um pequeno dispositivo que parecia um celular maior e quadrado.

- Isso é um telefone por satélite. Eu tenho uma linha segura. Vou poder ligar pra vocês sem ser rastreado pela Cidadela. Vocês devem ficar aqui por enquanto ou ir para outro lugar que acharem seguro. Jack Trevor me informou que muitos sobreviventes da fortaleza fora para o supermercado Zumba.

- Esse era o plano B, caso o pior acontecesse na fortaleza – confirmou Casper – Trevor deve ter mesmo confiado em você para lhe dar essa informação. Eu tenho que confiar que tudo isso pode ser uma historinha pra boi dormir. Mas eu confio em Trevor a minha vida e se ele acreditou em você, eu também acredito. Entretanto, Dantas, eu não sei se Lex vai querer te ajudar e eu não poderei obriga-la.

- E vou, eu ajudo! – falou Lex, surpreendendo-se em escutar a própria voz.  

- Lex... é melhor pensar duas vezes antes de... – Lizzie iniciou.

- Eu já decidi – Lex avisou, olhando para Lizzie que parecia assustada – Vou fazer o que for necessário para colocar um fim nisso tudo.  Estou cansada... terrivelmente cansada e não quero continuar nesse jogo de gato e rato com Brandon ou com Abraham. Isso vai acabar... tem que acabar... 


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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