segunda-feira, 7 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 20



VIGÉSIMO CAPÍTULO
Momentos de Alta Tensão no navio onde está acontecendo o lançamento da nova Flash Magazine. Ugo está prestes a assassinar Wagner e os convidados que estão a bordo do navio estão nervosos por causa de um blackout.
***
     Pessoas correndo para todos os lados do navio loucamente. Ingrid e Bruno abraçados em meio a elas. Chove e troveja bastante. O navio balança muito.
     ― O que a gente faz Ingrid?
     ― Esse apagão é coisa do Ugo. Vamos até o quarto do Wagner agora mesmo antes que seja tarde demais. Vem, Bruno!
Bruno e Ingrid andam alguns metros e chegam até a parte lateral do navio. Ainda há muita gente correndo por lá. Uma delas esbarra em Ingrid que acaba caindo para fora do navio. Ela fica agarrada à grade com uma mão e Bruno segura sua outra mão.
     ― Me ajuda! Eu vou cair! Eu vou cair!
     ― Calma, Ingrid!
     Ingrid acaba olhando para baixo e vê a água do mar agitada, o que faz o navio balançar ainda mais. A chuva dificulta a visão de ambos.
***
Música: Marilyn Manson – Tourniquet.
     Está tudo escuro no quarto onde Wagner e Ugo estão. Ugo finalmente acende uma lanterna no seu rosto. Wagner continua no chão.
     ― Chegou a hora do nosso acerto de contas, Wagner.
     ― Você quer me matar, Ugo? Manda ver então. Quem te mandou me matar? Foi a Gisela? O Adriano? O Alex?A Alessandra? Ingratos!
     Calla-te! — Ugo encosta uma faca no pescoço de Wagner. – Por que eles seriam gratos a quem só os fez mal?
     ― Você também é um ingrato! Sempre te dei tudo do bom e do melhor!
     ― Filho de uma puta! — dá um soco no rosto de Wagner. — Eu tive que te aguentar a minha vida toda! Eu vomitava quando você terminava de... De...  Eu tenho nojo de você! Sempre tive! Sempre terei.
     ― Você não teria coragem de me matar. Você me ama, Ugo! — Wagner gargalha, mas é impossível não notar pavor em sua voz.
     ― A única gazelinha saltitante da história é tu, Wagner. Você sempre se aproveitou de mim porque eu era criança. Você se achava superior por ser mais velho. Agora a situação se repete, mas é ao contrário. EU ESTOU NO COMANDO!
***
Tema de suspense
     ― Socorro! Socorro! – Bruno pede ajuda para resgatar Ingrid que continua pendurada do lado de fora do navio.
Fidel(ainda vestido de mulher) aparece aflito.
     ― Moço, moça ou sei lá o quê. Me ajuda aqui!
O mordomo olha para fora do navio e vê Ingrid desesperada.
     ― Oh, nossa! Calminha garota que eu vou te puxar.
Fidel dá a outra mão para Ingrid que com a ajuda de Bruno a puxa de volta para dentro do navio.
***
Ugo joga Wagner dentro da banheira do quarto e começa a afogá-lo.
     ― Socorro! Socorro!
     ― Pode gritar o quanto quiser. Estão todos salvando suas vidas. Por que salvariam a sua?
     ― Desgraçado! Você vai me matar, mas eu te deixei uma surpresinha... Você vai definhar como eu.
     ― Chega de conversa. Chegou sua hora...
     Ugo força a cabeça de Wagner para dentro da água da banheira e permanece a pressionando até que não sente mais nenhum sinal vital do patrão. Wagner está morto.
     Olha para os lados. Ainda está tudo escuro. A tempestade baixou um pouco e não há mais ninguém do lado de fora do navio, apenas ele e o corpo de Wagner, sentado na cadeira de rodas.
Ugo olha pra baixo, para o lado de fora do navio. Apenas água.
     ― Você sempre disse que queria ter paz, não?Não há lugar mais calmo do que o mar. Ciao, Wagner.
     Ugo afasta a cadeira pra frente à grade do navio e a inclina, de modo que o corpo do homem cai dentro d’água. Ugo sai e deixa a cadeira no mesmo lugar.

(ESPAÇO PARA A ABERTURA)

Música : Yann Tiersen - Comptine d'un Autre Ete.
Narrado por Ingrid.
“Parecia uma manhã normal naquele cruzeiro. Seria o dia em que nós desembarcaríamos de volta a Fortaleza. Mas não era. Naquela manhã foi anunciada oficialmente a morte de Wagner Peregrini – mesmo sem ao menos terem achado o seu corpo, que caíra no mar.
Ao descermos no porto, pessoas correram desesperadas e assustadas, todas com pressa para sair daquele navio de perdição.
Eu abracei Bruno, e só sabia chorar. Fidel, o moço que me ajudou quando eu estava pendurada para fora do navio chorava como uma viúva (depois fui saber que ele era o mordomo do meu pai).
Eu, Ingrid, tinha de me portar como uma secretária, a simples secretária de Wagner, Cida; no fundo, porém eu sabia que se eu me esforçasse mais teria salvado sua vida. Ugo pagará pelo que fez.”
***
Fidel veste preto; Ugo é frio e Alex ainda mais. O clima na Mansão Peregrini não poderia ser outro. Estão eles reunidos na sala de estar para uma sessão nostalgia.
     ― Que vazio dentro dessa casa! – comenta Fidel. – Mesmo com aquele jeito turrão dele, eu gostava do Wagner.
     ― Será que acharam o corpo? – pergunta Alex.
     ― É uma crueldade declararem ele como morto sem ao menos terem achado o corpo. – diz Analú.
     ― Ele está morto! – Ugo exclama. Todos olham para ele e ele se explica:
     ― Se não estava no navio, só pode ter caído na água. Deve ter se desequilibrado, caído da cadeira de rodas na hora do blackout...
***
     Alessandra prepara o desfile de moda que seria naquela noite. Lançaria oficialmente sua coleção no Brasil. Está agora vendo as medidas de uma das modelos quando seu celular toca. É seu marido.
     ― Oi, amor!
     ― Alessandra, já está sabendo da notícia?
     ― Que notícia?
Gianpaolo fica com medo de dar a notícia, mas segue em frente:
     ― Seu pai morreu esta noite.
     Por mais que Alessandra guardasse rancor no coração, resolveu adiar o desfile e se isolar em sua casa, nos seus aposentos, tendo como companhia taças de vinho e óperas, as quais adorava ouvir em quaisquer situações.
     Na Flash Magazine, o clima é de luto. Aquele seria o primeiro dia da revista sob a administração de Gisela Saboya, porém resolveram também não funcionar naquele dia.
     Ingrid resolveu passar no escritório que era de Wagner, aproveitando que não havia ninguém no prédio da Flash. Bruno estava com ela, e ao chegarem à porta da sala, viram Ugo sentado na cadeira do escritório, com as pernas em cima da mesa e tomando uma taça de champanhe.
     ― A essa hora você deve estar sendo devorado pelos tubarões, Wagner! – Ugo toma um gole de champanhe – e eu estou aqui! Aqui no lugar que era seu! HAHA!
     Pela brecha deixada pela porta entreaberta, Ingrid e Bruno observavam os desabafos de Ugo.
     ― Vamos sair daqui, Ingrid. Esse cara é doente... Ou melhor, sai do meio desse pessoal. É perigoso. Você não precisa mais trabalhar aqui. Não há nada mais que você possa fazer. É tarde.
     ― Ainda há alguma coisa que me prende aqui. Eu quero saber quem mandou o Ugo matar o Wagner.
     Bruno e Ingrid acabam se distraindo conversando. Ugo de repente abre a porta e os surpreende:
     ― O que disse, Cida?
Ingrid e Bruno ficam surpresos e consequentemente sem palavras.
     ― ESTOU ESPERANDO UMA EXPLICAÇÃO, CIDA! – Ugo empurra Ingrid, que bate as costas na parede.
Ingrid olha para Bruno e indaga:
     ― Não vai fazer nada?
Bruno não tem nenhuma reação. Ingrid fica furiosa e sai.
***
Música : Yann Tiersen - Comptine d'un Autre Ete.
Ingrid corre e atravessa rapidamente a avenida. Bruno tenta alcançá-la, mas o sinal abre e os carros passam sem deixar nenhuma brecha.
“Não tenho medo do que possa acontecer. Agora que mergulhei de cabeça nesse mistério, sinto que não posso contar com ninguém nesse momento. Achei que poderia amá-lo até o fim da minha vida, mas vejo que pra ele eu não passava de uma das putas francesas para quem eu sei que ele já prometera mundos e fundos. Eu sou diferente. Muito diferente.”
***
Analú está distraída lavando as louças quando alguém a abraça por trás e lhe rouba um beijo.
     ― Que susto, Alex! – Ela sorri.
     ― To tão feio assim?
Analú coloca um pouco de espuma no nariz de Alex.
     ― Pelo contrário: lindo como sempre. Mas porque está esbanjando sorrisos? Posso saber? Pelo que até eu sei, ta todo mundo de luto nessa casa.
Ele a força, fazendo com que ela vire de frente.
     ― Alex, aqui, assim não! Vai que alguém aparece aí.
     ― Já não acha que a gente já perdeu tempo demais, amor? Nós fomos criados aqui nessa droga de mansão a vida inteira. Eu vivendo sob a ditadura do Wagner, mas agora estou livre, Analú.
     ― Por que ta dizendo isso?
     ― Por que não há nada mais que impeça a nossa felicidade. – Alex tira do bolso uma caixinha e a abre. – Ana Luíza, deseja ser a senhora Alex Peregrini para todo o sempre? Casa comigo?
Música: Linkin Park – Burn it Down. Eles se abraçam e se beijam.
     ― É claro que eu aceito!
***
     Enquanto isso, um caminhão descarrega lixo no aterro, como todos os dias. Mas aquele trazia algo que estava sendo muito procurado pela família Peregrini.
     ― Esse aqui veio da Barra do Ceará. Descarrega aqui! — gritou um catador de lixo.
Enquanto o lixo do caminhão era descarregado, outro catador comentava:
     ― Só tem areia da praia!
     Tavam cavando uns buraco lá na praia pra fazer uns troço aí. Essa areia aí teve de vir pra cá.
     ― Ei, caiu uma coisa ali. – apontou o catador. – vamo lá!
     Eles correm e ao chegarem ao local onde o lixo estava sendo descarregado, acham um braço saindo de dentro da areia.
     ― Puxa!
     ― Eu não!
     ― Então deixa que eu mesmo puxo, bicho cagão. Deve ta se borrando de medo! Não é um zumbi não, sô.
     O catador puxa o tal braço e o outro acaba ajudando. Eis que da areia surge o corpo de Wagner aos poucos. Ele, ainda com a faceta assustada com a qual morrera.
     ― Credo em cruz! Se não é aquele moço rico da revista que caiu no mar! — o catador mais medroso se benze.