segunda-feira, 21 de abril de 2014

Que se Acendam as Luzes - Capítulo 07


     Robson não ficou muito surpreso com o que Valéria dissera, pois suspeitava disso desde o princípio, há mais de dez anos. Como ele tinha em sua frente uma vítima dessa história, ele não via o porquê em desperdiçar uma chance daquelas.
         – Me explique tudo Valéria. Conte-me detalhe por detalhe.
Então Valéria começou a contar o drama que viveu na Argentina. Robson se interessava cada vez mais pela história. É claro que Valéria se emocionou ao contar, pois esteve na mira da morte. A PM contou do momento em que estava amarrada na cama, nua. Contou também do momento em que foi presa no aeroporto e qual sua sensação. Depois de ouvir tudo o que a mulher lhe disse, o delegado balançou a cabeça dizendo:
         – Valéria, nós suspeitávamos disso sempre. E agora que você me contou, tenho certeza. E precisamos...
         – Espere – Interrompeu a ruiva – Eu tenho um plano.
Robson ficou surpreso.
         – Você tem um... Plano?
         – Sim, posso lhe contar?
         – Claro. Fique à vontade.
Valéria se levantou e começou a andar de um lado para o outro na sala. Seus cabelos estavam soltos, e, quando ela movimenta a cabeça, eles se mexiam, dando um ar de sensualidade e beleza. Ela começou a falar:
         – Eu quero fingir ser uma nova vítima. Com uma nova identidade. E quero me infiltrar novamente na quadrilha. Enquanto vocês seguram os médicos no Brasil, eu fico na Argentina, e, como bote central, espero vocês lá, onde nós renderemos todos.
Robson não ficou admirado com a ideia, pois a mesma era comum entre os planos policiais. É claro que ele aprovou e enfim, a equipe estava pronta para começaram com a jornada.




   Já imaginou a dor de ver a casa onde você mora sendo demolida logo de manhã? O que você sentiria? Ninguém merece esse tipo transtorno, mas muitos passam por isso e Suelen e sua família sentiam um aperto no coração ao verem o cortiço onde moraram a mais de vinte anos sendo destruído por algumas máquinas. A moça correu até uma delas, a qual estava sendo guiada por um operário.
         – Pare com isso agora!
         – São ordens, moça – Respondeu o homem – Ordens do patrão. Vocês não quiseram sair, agora já era.
         – Quem é o patrão de vocês? – Perguntou Suelen, que já estava muito nervosa.
         – O patrão sou eu, Sebástian Cruz – Disse uma voz.
Suelen se virou para trás e viu que um homem já de idade, com cabelos grisalhos, e com terno e gravata a observava dos pés à cabeça.
         – Então é você o pançudo desgraçado que tá mandando no trem?
         – Olha como fala comigo, garota – A interrompeu – Você não sabe com quem está falando.

         – Sei sim. To falando com um filho duma égua que se acha o todo poderoso e cheio de moral só porque tem dinheiro. Mas você se engana, meu bem. 
         – Não adianta chorar. Vaze daqui. Eu avisei há muito tempo, já era pra vocês terem ido embora. Vamos! O que está esperando? Saia. Ou quer ser esmagada pelas máquinas?
Após dizer isso o homem caiu nas gargalhadas e Suelen lhe meteu uma tapa na cara, que estalou. O homem passou a mão no rosto, e gritando agarrou o braço da moça:
         – Mulher nenhuma bate em mim.
A mãe da garota, Márcia, correu até o homem, junto da outra filha, Dafne.
         – Solte minha filha, seu...
Sebástian soltou o braço de Suelen e entrou em seu carro luxuoso. Suelen voltou a chorar e abraçou a mãe, dizendo:
         – Velho desgraçado, ele me paga. Se ele quer o terreno, o terreno ele vai ter, mas eu vou recuperar tudo o que eu perdi de volta.
Dafne resmungou como se estivesse em dúvida e Suelen respondeu.
         – Vou fazer “revenge”. Esse velhote me paga.
– Pra onde vamos agora? – Perguntou Dafne mudando de assunto.
– Vamos pra casa de uma amiga minha – Respondeu a mãe das garotas – Tenho certeza que ela nos acolherá.
E assim, apenas com algumas mudas de roupas, elas foram para a casa da tal amiga de Márcia, deixando para trás a destruição causada pelas máquinas.     

         Ana Paula e Gabriel, uma dupla de cantores de música sertaneja muito conhecida no Brasil. Eram conhecidos principalmente pelo motivo de Gabriel ter se declarado para amada em pleno show, fazendo muitos fãs ficarem ainda mais fanáticos pela sensibilidade dos dois. E naquele dia, na grande São Paulo, o show deles estava a todo vapor, com muita gente, como sempre. A música que os dois cantavam se chamava “Por quê?”, que tinha a seguinte letra:

Ninguém...
Nunca brilhou tão forte assim,
Nunca foi tão real em mim,
Assim como você.

Até parece que um dia
Eu irei te esquecer,
Pois não paro de pensar nos momentos
Que vivemos juntos, felizes, mas tudo acabou.

Por quê?
Por que você foi embora?
Por que me deixou na mão?
E agora o que eu faço
Pra tirar você do meu coração?
Por quê?
Volta meu amor, volta!
Volta pra minha vida!

         Aplausos não faltaram com o fim do show.
         – Amo vocês! – gritou Ana Paula para a multidão de pessoas. E então, todos os fãs que estavam ali começaram a gritar:
         – Beija! Beija! Beija!...

         Ana Paula e Gabriel se olharam e não resistem um ao outro. O beijo foi tão puro, tão intenso, que durou mais de um minuto. Mas Gabriel e Ana Paula não imaginavam o que o destino cruel reservava.
        



      Em seu escritório de seu simples apartamento, Renato terminava de escrever seu livro: “O amor é uma peça”. Durante o tempo que Valéria ficou presa, o rapaz se formou em jornalismo, escreveu muita coisa para jornais, mas não ficou famoso. Ele não queria cair em si e ver que o que ele sabia fazer de verdade era escrever livros. Oportunidades não faltavam.
     Ele então parou de escrever e salvou o documento em seu computador, lembrando que tinha de se encontrar com Ingrid, a moça que ele beijou na balada na noite passada. Eles marcaram um encontro, mas Renato não estava interessado nela, pois nunca se interessou por ninguém depois de Valéria, seu grande amor.
        



     Em meio àquele cheiro hospitalar, Estela e Ingrid estavam conversando na diretoria. O assunto era o mesmo: tráfico de órgãos, o qual nunca deixou de ser tão interessante para as duas. Após soltar uma gargalhada, Ingrid falou:
         – Acho engraçado mesmo quando o pessoal traficado começa a chorar pelado nas camas.
Estela riu horrorosamente da piada e completou:
         – E ainda por cima: todos sentem vergonha.
Ingrid não riu do que Estela dissera, e a última, ao perceber, deu uma “rapada” na garganta, ficando séria e mudando de assunto:
         – Bom, acho que a Carla se esqueceu de voltarmos a traficar.
         – É verdade. – Concordou Ingrid – Faz mais de um mês. O que aconteceu com ela?
         – Acho que está muito ocupada nos shows, ainda mais com aquela nova música dela de sucesso, que saiu agora. Como se chama mesmo? Ah, me lembrei, se chama: “Tráfico de corações”.
         – Será que ela se inspirou em nossa quadrilha para montar a letra?
Ao dizer isso, Ingrid escutou um barulho e de repente viu a porta se abrindo rapidamente, e uma mulher entrou.
         – Sílvia? – Perguntou Estela muita surpresa.
Sílvia balançou a cabeça com um sorriso irônico e disse:
         – Traficantes de órgãos, né? Cadê a polícia?


 COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO 
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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