Dez anos depois...
Ao som de “I’ m In
Here – Sia”...
– Tem certeza? – Era a pergunta de
Robson para a linda moça loira a sua frente.
– Tenho sim delegado. Eu quero ser uma
policial.
Robson
se espantou com a coragem de Valéria, que por bom comportamento saiu da cadeia
em dez anos. A garota, ou melhor, a mulher, ainda não viu os pais depois de sua
saída, muito menos Renato.
– Valéria, você tem realmente alguma coisa a
ver com aquele esquema do tráfico de órgãos? – Foi a pergunta direta e objetiva
de Robson para a futura PM.
– Eu prometo te contar tudo, mas agora
quero que providencie meu treinamento, pro quanto mais antes. Depois que eu me
diplomar, tenho muita coisa a contar.
Logo às nove da manhã de uma
segunda-feira, Valéria já estava em centro de treinamento.
– Você entendeu o
que eu disse? – perguntou o treinador para ela.
– Entendi.
Com
a arma na mão, ela mirou para o alvo e atirou, mas não acertou. Tentou mais uma
vez e não conseguiu. Com mais uma tentativa ela acertou “em cima da mosca”.
– É isso aí – Exclamou ao ver o feito.
Mas isso não era tudo. Valéria tinha
muito que treinar e aprender nesse centro de treinamento. Justiça é uma coisa
difícil de conseguir quando quem quer fazê-la é visto de tal maneira meio
“suja” na sociedade.
Ela precisava fazer a carteira de
habilitação, afinal, todos os policiais precisam saber dirigir. Ela começou a
frequentar as aulas de habilitação uma semana depois. Em poucos dias de aula
ela já aprendeu todas as regras do trânsito. Meses se passaram e ela terminou a
carteira de motorista.
E no centro de treinamento Valéria
acelerava um carro, com uma velocidade enorme. Ao chegar a uma pista reta e
limpa, ela virou o carro numa manobra radical. Dentro dele, ela sorriu
satisfeita e confiante.
Três anos depois...
– Polícia Federal, mãos para o alto! –
Gritou Valéria com a arma mirada na cara do bandido, em plena meia noite. O
bandido tentou render um homem para tomar o dinheiro que ele carregava nas mãos,
mas Valéria conseguiu chegar a tempo. Estava passando pela rua de carro e viu o
assaltante em ação. Desceu do carro e o rendeu, pois estava com a arma amarrada
à sua coxa.
E
agora, eles estavam frente a frente. Valéria com a arma apontando pra cara
dele, o qual poderia ter seus miolos arrebentados em segundos se a PM quisesse.
– É melhor você ficar quietinho
enquanto eu chamo o carro da polícia.
Valéria
tirou os olhos do bandido para teclar no celular, e foi aí que o homem deu-lhe
um soco no estômago. A arma caiu, assim como Valéria, com o celular na mão. O
bandido tentou pegar a arma, mas Valéria foi mais rápida, e mesmo com toda
aquela dor na barriga por causa da pancada, ela se levantou, e nessa hora o
homem correu rapidamente.
– Parado! Eu disse “parado”! – Gritou ela
enquanto corria desesperadamente atrás dele, que se aproximou de uma mulher
montada numa moto e a derrubou, roubando o veículo e saindo em disparada, sem
capacete.
– Seu filho duma égua cara de bunda! –
Resmungou a mulher ao ver o cara já longe. Ela voltou a falar quando viu um
carro vermelho em alta velocidade perseguindo a moto – Que velocidade!
Velocidade era o que Valéria sentia
dentro daquele carro enquanto perseguia o bandido. Ela decidiu aumentar mais um
pouco a mesma e com isso ultrapassou os cem quilômetros por hora. O bandido, em
cima da moto e sem capacete continuava correndo pelas ruas. Valéria se
aproximou da moto, fazendo o bandido ficar com medo e se desequilibrar, caindo
sobre o asfalto, se machucando. Valéria se aproximou. Ela estava vestida com
roupa de policial: bota de couro, uniforme e até um boné. Então ela tirou o último
e balançou seus lindos cabelos ruivos, que na verdade eram loiros, pois ela os
pintou há dez dias.
– Você perdeu.
Ao
dizer isso já era possível escutar a sirena do carro de polícia se aproximando.
Ao som de “Don’ t
You Worry Child – Swedish House Mafia”...
Ele não estava na balada de música
eletrônica para dançar, e sim, para se lembrar dos bons momentos que passou ao
lado de Valéria naquela balada. Sentado em um tamborete e tomando uma bebida,
Renato não tirava da cabeça o sorriso de Valéria. Sem que ele percebesse, uma
mulher o observava. E tinha uma beleza oriental. Seus cabelos negros se mexiam
enquanto ela dançava. Ela então decidiu se aproximar do rapaz e se apresentar.
– Vem sempre aqui?
– Não, só vim aqui hoje pra relembrar
uma coisa.
– Ah, prazer – Disse ele lhe estendendo
a mão – Eu me chamo Ingrid.
Renato
a encarou e percebeu que ela possui uma beleza extraordinária, privilégio que
Ingrid Steffens nunca deixou de ter.
– Prazer – Respondeu ele pegando na mão
dela – Renato.
Então
Ingrid se sentou ao lado dele.
– Garçom – Disse ela para o balconista
– Eu quero um vinho branco.
O
garçom a atendeu. Ingrid despejou um pouco do vinho no copo e começou a beber,
olhando para Renato, que sorriu para ela. Ingrid o viu de uma forma como nunca
viu ninguém.
– Quer dançar? – Perguntou ela.
– Eu não sou bom em dança.
– Eu também não, mas venha.
Assim como Valéria fazia, ela o puxou para a
pista de dança, e de repente Renato se viu mexendo. Seus braços se soltaram,
assim como suas pernas. Naquele ritmo de dança Ingrid agarrou a cintura do
rapaz e lhe deu um beijo, que foi iluminado por aquelas luzes da balada.
Longe das baladas e em uma vista mais
séria, Valéria estava na delegacia de polícia federal, na frente de Robson.
– Então decidiu me contar tudo? –
Perguntou ele.
– Sim, e quero que ouça com atenção e
que acredite em mim. – Respondeu ela, que continuou – Eu fui sim sequestrada,
mas vítima. O tráfico de órgãos existe mesmo, delegado, pelo menos aqui nessa
cidade. O que acontece é que eu fui levada para a Argentina, me sequestraram
aqui no Brasil e lá me vi como uma defunta. Eu fiquei amarrada, assim como
outras cinco jovens que também foram sequestradas.
– Então quer dizer que você não era a
única vítima?
– Não.
– Por que não quis contar antes?
Valéria
se sentiu um pouco triste em responder essa pergunta.
– Eles disseram que se eu contasse pra
alguém, principalmente pra polícia, eles matariam o Renato.
Após
escutar PM revelou, Robson fica pensando por alguns segundos. Ao voltar em si,
ele encarou-a e faz a pergunta chave:
– Então me responda: pra qual hospital
os órgãos traficados são levados?
Valéria
se preparou antes de soltar o que ficou guardado dentro de si há treze anos,
uma pista para a polícia.
– Hospital Trindade, de Estela Lumbré.
COLABORADOR-
LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE
ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO
POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO -
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