sexta-feira, 18 de abril de 2014

A ERA DOS MORTOS - 45


CAPÍTULO 45


Havia um estranho silencio no jipe. No volante, Jack conduzia o veículo com habilidade e uma certa velocidade. Lex estava do seu lado, mas fora alguns olhares e um toque por acidente, Jack não lhe dirigiu uma palavra. Atrás estavam Janaira, Danielle e Lanister. Danielle estava com a perna ferida, mas ela havia dito que poderia andar sem mancar. O pior era Dantas, que só conseguia andar com uma muleta. Ele não seria de grande valia para aquela missão, mas seu papel era outro.

Ele estava no jipe que seguia a frente, com Casper dirigindo e Hermes no carona. Oito pessoas seguindo para uma missão suicida em que nenhum poderia voltar.

Era tarde demais para voltar atrás.

Lex ajustou seu interfone no ouvido direito. Ele tinha uma pequeno microfone pelo qual ela poderia falar. Danielle explicou rapidamente como usá-lo: havia um pequeno botão que acionava o interfone ao tocar levemente com o dedo. Eles estava usando uma linha segura, mas para evitar problemas, o combinado era liga-lo somente quando Danielle ordenasse, uma vez que ela seria os olhos e os ouvidos daquela missão.

A viagem durou mais do que o previsto, pois eles dirigiam com cuidado, os faróis desligados, evitando manobras que pudessem levantar poeira e chamar a atenção dos “olheiros” da Cidadela. Assim como na fortaleza, Dantas informou que em cada portão da Cidadela havia quatro guardas olheiros que estavam sempre atentos a tudo, usando binóculos especiais para ao dia e para a noite. 

Em determinado ponto, Lanister bateu nas costas de Jack e pediu que virasse a direita.

Aquilo também estava previsto.

- Lex... ? – Janaira balbuciou e Lex virou a cabeça.

Janaira estava olhando para o veículo de Casper que se afastava velozmente.

- Oh, Deus, Lex... me diga que esse plano vai funcionar...

Lex esticou a mão para segurar a mão da amiga, mas antes que pudesse lhe dizer algo confortador, Jack adiantou-se:

- Vai dar tudo certo, Janaira. Antes que o dia amanheça, tudo isso vai acabar... – disse Jack, olhando para Lex... – finalmente...

- Diminua... acho que estamos chegando perto.  – falou Lanister.

De fato, havia uma sombra no meio do caminho, mas era difícil ver com os faróis desligados. Quando pararam, Lex percebeu que se tratava de um enorme escotilha enterrada no meio do deserto. Na fechadura – uma enorme alavanca arredondada como nas escotilhas de submarinos – havia um painel eletrônico muito parecido com os que havia na mansão Lanister.

- Espero que isso dê certo! – falou Trevor, afastando-se para que Lanister digitasse a senha. Na primeira tentativa, apareceu “ERROR” no painel eletrônico.

- Oops... acho que o último número é três e não seis.

- Você acha? – perguntou Jack, incrédulo.

- Escuta aqui, velho! Se você digitar errado essa senha três vezes, isso vai aparecer no Painel de Controle e então estaremos fritos! – berrou Danielle, impaciente.

- Espere... vou digitar novamente. – falou Lanister, parecendo nervoso.

Quando terminou de digitar, o painel eletrônico emitiu um sinal e a escotilha se abriu alguns centímetros.

- Ainda bem! – falou Lanister.

Quando Jack abriu a escotilha, Lex percebeu que se tratava de um duto arredondado. Num dos lados era possível ver uma escada vertical. Os degraus eram tubos de aço parafusados na parede do duto. Estava tão escuro que não era possível ver o fundo.

- Ninguém tem uma lanterna? – perguntou Janaira, visivelmente amedrontada pelo abismo sem fundo que o grupo estava prestes a enfrentar.

- Se ligarmos uma lanterna aqui, os guardas da Cidadela podem perceber... Vamos entrar e quando trancarmos a escotilha, poderemos iluminá-la.

- Mas se trancarmos a escotilha... não haverá mais como voltar, Jack! – disse Janaira.

Jack não precisou responder. Seu rosto dizia “não há mais volta”. E  todos se calaram pois sabiam que em poucas horas, tudo acabaria. Se não para Abraham, mas para eles mesmos.

Jack foi o primeiro a entrar. Como nos esgotos de Parnaso, Lex decidiu ir por último. Janaira entrou depois de Jack, seguida por Lanister e por Danielle. Apesar de estarem todos armados com dois revolveres cada, mais um faca, Jack e Lex eram os únicos que estavam portando rifles e granadas. Por isso, antes de entrar na escotilha, Lex ajustou a bandoleira, colocando o rifle nas costas e desceu alguns degraus, puxando a pesada escotilha que se lacrou imediatamente. Por sorte, Lex percebeu que havia um painel eletrônico idêntico no lado de dentro. Era óbvio: aquele duto havia sido projetado para uma evacuação, não para um invasão. Era sorte, terem conseguido entrar.

Lex viu uma luz se acender mais abaixo. Provavelmente, Jack havia acendido uma das lanternas do seu colete. Lex fez o mesmo com o seu.

Mesmo com a fraca luz, era impossível ver o fundo do duto. Continuaram descendo por muito tempo. Depois de alguns minutos, Lex percebeu que Danielle estava escorregando e esticou a mão para segurá-la pelo colete.

- Obrigada! – sussurrou ela, meio sem graça. A perna machucada estava cobrando seu preço. Ela escorregou mais vezes, e descia vagarosamente. Não levou muito tempo para que elas se afastassem do grupo.

Passou mais uma hora até que elas puderam escutar a voz de Jack Trevor em sussurro:

- Alexia? Danielle? Vocês estão bem?

- Estamos bem! – sussurrou Lex em retorno.

- Estou nos atrasando, não é? – falou Danielle, ofegante.

- Vá com calma e no seu tempo, Danielle. Precisamos de você em um só pedaço.

Minutos depois, elas chegaram ao fim do duto, saindo numa câmara escura, trancada por uma porta em forma de escotilha. Novamente, havia um painel eletrônico como chave, mas esse estava apagado.  

Jack ajudou Danielle a descer da escada e ela imediatamente sentou-se no chão e massageou a perna.

- Eu preciso de alguns minutos, ou não vou conseguir andar normalmente.

- 10 minutos, então! – disse Jack, ajudando Lex a descer da escola. Ele a segurou pela cintura e quando ele olhou para ela, Lex sentiu um leve tremor em sua mão.

- Tudo bem? – perguntou Lex, preocupada com Jack, mas ele estreitou os olhos.

- Claro. – disse ele simplesmente, sem que Lex pudesse compreender o que se passavam em sua cabeça.

- E agora, qual é o plano? – perguntou Janaira.

- Os guardas fazem rondas por esses corredores só uma vez, por volta da meia noite. – explicou Danielle - Vamos esperar que eles passem e depois nós vamos. O pessoal do Painel de Controle vai achar que é só a equipe de ronda e, com alguma sorte, eles não vão acionar o alarme quando entrarmos no elevador. É por isso que eu mandei você vir de boné.

Lex olhou para Janaira. Todos, inclusive Lanister, estavam vestidos com os uniformes da Cidadela e todos usavam bonés. Na fortaleza, Danielle e Janaira tiveram uma pequena discussão sobre o boné. É que Janaira tinha o cabelo muito comprido e volumoso e ela precisou fazer um coque, preso ao boné, o que realmente não ficou muito bom, mas concordava com Danielle que o boné dificultaria o reconhecimento deles pelos guardas que monitoravam as câmeras no Painel de Controle.

Pela ínfima janela na escotilha, Lex percebeu que o último andar subterrâneo do Orgao Central era um enorme galpão mal iluminado.

- Há milhões de caixas de madeiras ali fora. Você sabe o que há nessas caixas?

- Mantimentos, recursos, alimentos, remédios. – respondeu Danielle – Eu já desci aqui antes com meu irmão. Esses mantimentos podem manter a Cidadela por um ano, mas Abraham trata os escravos com pão seco e lavagem de porco. Os dez últimos andares são iguais: lotados com essas caixas.

- Os guardas estão vindo – disse Lex, escondendo-se. – Vocês estão prontas?

- Minha perna está me matando! – falou Danielle se levantando. – Mas acho que consigo disfarçar o suficiente.  Liguem os interfones!

Quando as luzes das lanternas dos guardas estavam longe, Jack abriu a escotilha e deixou que Janaira e Danielle passassem.

- Será que isso dará certo? – perguntou Lex.

- Não dá de ver direito daqui, mas acho que há poucas câmeras. Os monitores do Painel de Controle provavelmente nem vão dar muita importância. O que me preocupa é o confronto delas com eles. Eles podem atirar e o barulho pode atrair outros.

- Acho que vamos saber em poucos minutos. – opinou Lanister, estranhamento calmo.

Levou mais do que poucos minutos. Levou quase meia hora. Lex já estava andando de um lado para outro, imaginando o pior, quando escutou um ruído em seu ouvido direito e a voz embargada e entrecortada de Janaira se fez ouvir.

- Alô, alô, Jack... você está aí?

- Janaira? Danielle? Vocês estão bem?

- Oh, Deus... Jack, Danielle foi ferida.

- Ok, Janaira, você está segura?

- Sim, estou segura. Danielle matou os dois. Mas um deles tirou uma faca do coldre na perda e atingiu Danielle enquanto ela lhe dava uma chave de braço. Ele morreu, mas Danielle está muito mal.

- A sala é impenetrável, Janaira, feche a porta e fique em segurança. Não podemos voltar atrás, você terá que assumir o papel de Danielle... está escutando?

- E Danielle? – Janaira perguntou.

- Eu vou até lá! – falou Lex, olhando para Jack. – Eu conheço a Janaira, ela deve estar apavorada agora.

- Mas eu preciso de você. – replicou Trevor.

- Eu vou. – disse Lanister. - Janaira, minha filha, você está me escutando. Eu vou pra aí... Você precisa me guiar.

- Ok... por favor, venha rápido. Danielle está muito pálida e está perdendo muito sangue.

Lanister saiu rapidamente, deixando Jack e Lex a sos.

- Deus do Céu! – disse Lex, respirando fundo. – Pobre Danielle.

- Dantas ficará muito triste se algo acontecer a sua irmã.

O tempo se arrastou por mais alguns minutos, enquanto Lex tentava inutilmente controlar a própria respiração. Aquela missão não havia começado bem. 

- Será que vai dar tempo pra...

- Vai sim... – respondeu Jack, parecendo distante. – Tem que dar certo. Precisamos ter alguma sorte, Lex.

- Lex? – perguntou Lex, sem conter um sorriso tímido. – É a primeira vez que você me chama assim.

- Eu gosto do seu nome completo: Alexia. É um nome bonito e forte como você.

- Você não me achava assim no início. – replicou Lex.

- Eu sempre te achei forte. – falou Jack, num tom suave – Você havia passado pelo inferno e ainda estava viva. Se isso não é ser forte, eu não sei o que é...  Se você não quiser que eu te chame de Lex.

- Eu gosto de você me chamando de Alexia. Mas todas as pessoas que me amam me chamam de Lex... quero dizer...

- Eu entendi. E de qualquer forma, a sentença é verdadeira, você sabe! – disse Jack, olhando para ela com aqueles grandes olhos azuis.

- Jack...

- Jack, Lex... – disse Janaira no interfone. – Lanister já chegou. Ele está cuidando de Danielle. Agora vocês precisam me dizer o que fazer.

- Olhe nos monitores, Janaira. Procure Brandon e Abraham. Onde eles estão agora.

- Espere... droga, são muitos monitores. O que? Espere um pouco, Danielle está dizendo alguma coisa. – Era possível escutar a voz desesperada de Danielle no fundo. Ela estava dando a Janaira algum tipo de instrução - Ah, tá... entendi... Aqui... Aquele fuinha miserável está no 13 andar e há muitos agentes lá. Todos os agentes praticamente estão lá com o Abraham. Parece que está havendo alguma reunião.

- Isso é ótimo! Como estão os elevadores, Janaira? – perguntou Jack, abrindo a escotilha.

- É muito arriscado, Jack. – informou Janaira. Eles estão sendo usados pra cima e pra baixo com agentes neles. É arriscado.

- Ok, nós vamos pegar as escadas.

Jack segurou a mão de Lex e eles correram até encontrar a porta que dava acesso as escadarias. Quando olhou para a cima, no fosso da escadaria, Lex desanimou.

- Oh, Deus... – disse ele, admirando a escadaria interminável.

Eles começaram a subir as escadas. A subida era mais desgastante do que a descida naquele duto. O bom era que não havia nenhum agente por ali e puderam fazer o trajeto em mais ou menos vinte minutos. Quando já estavam quase no térreo, Lex pediu para parar alguns segundos, até recuperar o folego.

- Janaira, está escutando? – perguntou Jack – Estamos quase saindo. Observe como está o térreo. Você precisa nos guiar por onde podemos ir.

- Ok.. assim que saírem, vão para esquerda. Há uma saída lateral. Não há nenhum agente ali. Mas tomem cuidado ao saírem pela porta da escadaria. Há três agentes no saguão de entrada.

Seguindo as instruções de Janaira, Lex e Jack saíram silenciosamente pela porta da escadaria. Eles viram os agentes que guardavam o saguão de entrada, mas eles estavam mais preocupados com o exterior e não seu interior. Caminhando às costas deles, os dois conseguiram alcançar a porta lateral e saíram para o exterior.

- Ok, Janaira. Estamos diante do Pavilhão Nº 4.

Jack desceu as escadas do Órgão Central com Lex ao seu encalço. Eles tomaram uma das estradas da Cidadela, entre o pavilhão 4 e 5. Em um determinado ponto, a estrada se abria, mas Jack parou antes disso, num dos portões do pavilhão. Enquanto aguardavam, Lex percebeu que havia um certo movimento interno no pavilhão. Alguns escravos havia notado a presença deles. Alguns segundos depois, a porta se abriu.

- Entre, Lex. Eu vou para o 5.

Quando Jack se afastou, Lex entrou no pavilhão 4, fechando a porta atrás de si.  


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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