Descontrolada, Valéria começou a chorar incondicionalmente. Estela riu do desespero da jovem, que gritou:
– Por favor, me solte. Eu te imploro. Não
quero morrer... O que vocês vão fazer comigo?
Ingrid,
Antônio e os enfermeiros observavam o desespero dela. Estela ficou séria, e
encarou-a dizendo:
– Cala a boca, garota. Não tem saída.
Você vai morrer, e vai ser agora.
Enquanto
isso, as outras cinco jovens, amarradas e nuas também, não paravam de
chorar. A agulha da anestesia nas mãos
de Estela se aproximou de Valéria.
– Para! Não! Eu te imploro, por minha
vida... Por favor, não!
A
saliva de Valéria passa pela sua boca. Lágrimas e mais lágrimas escorreram não
só de seu rosto, mas do rosto de todas as jovens, que estavam ali, nas mãos do
perigo.
Valéria
cuspiu na cara de Estela, que ficou nervosa, colocando a seringa em cima de uma
mesa de vidro. Aproximou-se de Ingrid e de Antônio.
– Liga pra chefa! Ela sabe o que fazer...
Vamos ver o que ela diz! – Era Antônio aconselhando Estela, que pega o
telefone, procurando o número de Carla. Ao achar o mesmo, rapidamente ela põe
pra ligar. Segundos depois, Carla estava na linha:
– Pode falar Estela.
Carla
estava deitada em uma cama, em um apartamento luxuoso de São Paulo, com rodelas
de pepinos nos olhos. Estava relaxando, com a toalha de banho enrolada no
cabelo e uma roupa, de banho também, cobrindo o seu corpo.
– É uma jovem... Está implorando por sua
vida. Chegou a dizer que faria qualquer coisa pra não morrer. Na verdade isso
sempre acontece, mas essa jovem, como eu posso dizer... Está muito apavorada. –
Explicou Estela.
Carla
se levantou da cama soltando gargalhadas e respondeu, com um gesto delicado:
– Tive uma ideia. Se ela faz qualquer
coisa, mandem-na transportar os órgãos para o Brasil. Quando ela chegar e
estiver tudo bem, ela morre. Pelo menos isso pode dar lucro. As desconfianças
de que seu hospital está ligado a esse crime são muitas. Se ela levar os
órgãos, pelo menos uma mala está garantida. Vocês sabem como é o decorrer do
plano, mas façam exatamente como eu disse.
– Tem certeza? E se...
– Esqueceu quem sou eu? – Perguntou
Carla antes de desligar a ligação na cara de Estela, como sempre faz.
Estela
também desligou e suspirou bem fundo, se virando para os parceiros e dizendo:
– Vou explicar tudo a vocês...
Apressadamente, Sílvia andava pelos corredores do hospital Trindade, curiosa. De repente ela viu Vitória se aproximando e correu até ela:
– Tem sinal da Estela?
– Não a vi hoje. Tenho certeza que não veio
ao hospital.
Sílvia
se apavorou.
– Eu tenho que...
– Não! – Gritou Vitória – Não pode.
– Pensa comigo: se eu encostar a Estela
ela vai contar tudo.
Vitória
balançou a cabeça e segurou o braço da amiga.
– Você, por ser psicóloga, devia saber
muito bem que ninguém deve chantagear as outras pessoas emocionalmente. Esqueceu?
Sílvia
empurrou a amiga com força e saiu correndo. Nesse exato momento, um garoto
estava sendo levado pelos corredores para a sala de cirurgia. Sofrera um
atropelamento. Vitória foi atrás, para ajudar.
Enquanto os médicos no Brasil trabalhavam no hospital Trindade, Valéria vivia momentos de horrores em Buenos Aires, Argentina, trancada dentro de uma sala. Ela chorava deitada sobre o chão. Estava agora vestida. Antes, ela estava nua, assim como as cinco garotas que continuavam amarradas e na mira da morte, todas deitadas naquelas camas. De repente a imagem de Renato apareceu em sua cabeça e ela se lembrou da frase que ele dissera antes de ela ser pega:
“– Eu... Eu... Gosto de...”.
E
Valéria voltou em si, limpando as lágrimas. Seu coração estava palpitando muito
rápido.
– Não vou fazer isso. – Disse Valéria
chorando.
Agora
já era tarde. Valéria estava se dirigindo para um táxi que a esperava na beira
da rua. Antes de entrar no carro, ela sentiu alguém segurando seu braço:
– É melhor você fazer direitinho, pois
te damos o direito de viver. Portanto: obedeça! – Ameaçou Estela.
A
moça entrou. Estela também, e se sentou do lado dela, no banco de trás. O
taxista pôs “as malas” de Valéria no bagageiro. Ingrid também entrou no táxi e se
sentou do outro lado. Valéria ficou entre as duas, que olharam o rosto da moça,
que deixa lágrimas cair. Antônio se sentou no banco da frente. Ao se ajeitar,
virou para trás, e, ao perceber que está tudo pronto, ordenou ao taxista:
– Podemos ir.
Ao
ver que o táxi já estava em movimento, Valéria se sentiu como uma criminosa,
responsável por destruir a vida de muita gente.
– Como vocês têm coragem de fazer isso?
Arrancar os órgãos das pessoas por dinheiro? – Perguntou a moça.
Ingrid
respondeu rapidamente:
– Não é uma questão de coragem. É uma
questão de querer.
Ao
ouvir isso, Valéria gritou:
– Eu vou contar tudo à polícia!
Estela
a encarou e disse:
– Olha bem, garota: experimenta fazer
isso pra você ver. E outra, se alguém te flagrar e você nos entregar... É
melhor que fique preparada, pois a desgraça estará à sua volta, pronta pra
arrancar os seus fígados, e prepará-los com um molho saboroso, com sabor de
sangue.
Valéria
tossiu ao escutar essas palavras.
– Pois eu não tenho medo. Sabe o que eu
vou fazer depois que eu entregar esses órgãos no seu hospital? Correr pelas
ruas a fora, gritando que vocês traficam órgãos, seus bandos de desgraçados.
Estela
meteu uma bofetada na cara da baladeira, o que faz o taxista olhar no
retrovisor. A dona do hospital Trindade viu que ficou com a mão molhada, pois
se encostara às lágrimas de Valéria, que continuava chorando.
– Se não nos obedecer, garota, além de
você morrer, o Renato também morre!
Valéria
levou um susto. Como ela sabe do Renato? Pensou a baladeira.
– Você... Conhece-o?
Ingrid
fez questão de responder a pergunta:
– Vimos na tela de seu celular vocês dois,
abraçados, com a legenda no cantinho: “Renato e Valéria: eternos amigos.” Que
lindo!
Valéria
começou a respirar com dificuldade:
– Não, vocês não vão fazer nada com
ele. Ele...
– Não, não vamos fazer nada com ele –
Disse Estela, que continuou – se você ficar quieta e não abrir a boca. E agora?
Quer morrer ou ser feliz com o amiguinho?
Valéria
arregalou os olhos. E agora?
Aeroporto Internacional Ministro Pistarini.
Ela andava apressadamente pelo saguão do
aeroporto argentino. Não parava de se virar para os lados, para conferir se
alguém olhava. Seu salto alto batia tão forte no chão que muitas pessoas
chegavam a escutar. E ela continuou andando, vestida com a mesma roupa de
quando ela foi pega. Em cada mão, uma mala, cheia de órgãos humanos. Ao sentir
vontade de chorar, ela respirou fundo.
– Ai meu Deus! – Exclamou a moça,
morrendo de medo. E seu medo se tornou mais forte quando se dirigiu para o
avião. Novamente sentiu-se como uma criminosa. Mas por fim, ela entrou na
aeronave e voou para o Brasil.
A dois mil metros de altura voava um jato,
com destino ao Brasil. Mais quatro
malas de órgãos estavam ali, apoiadas no chão. Ao lado delas, Estela e Antônio
conversavam.
– Será que a moça consegue? – Perguntou
Antônio.
– É provável que não. Mas ela não nos
entregará. Fique sossegado. Ela não quer ver o amigo morto. – Disse Estela
fazendo o maior esforço para não mostrar sua incerteza.
E
Antônio apoiou sua cabeça na poltrona, para dormir.
Horas depois...
Aeroporto de Congonhas, São Paulo.
Aeroporto de Congonhas, São Paulo.
Mais uma vez Valéria experimentava a sensação de fuga, enquanto andava pelo saguão do aeroporto, dessa vez: brasileiro, às oito horas da noite. Ela pensava: Vai dar tudo certo. É só entregar as malas no hospital e acabou. E ela estava enganada, pois a sua frente, dois policiais federais examinavam as bagagens. Ela parou de uma vez. Engoliu sua saliva. Sentiu seu coração palpitar aceleradamente. Ao voltar a andar, sentiu suas pernas bambas. Ela tinha que passar ali, por aquela porta, sem que os policiais vissem. Ela confiou em si mesma. Seguiu em frente, respirando desesperadamente. Aproximou-se da porta, e é aí que ela escutou um PM gritando:
– Polícia Federal! Precisamos ver suas
bagagens.
E
Valéria sentiu-se acabada.
“Um tiro no escuro.
Um passado perdido no espaço. Estou me despedaçando, despedaçando”.
COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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