segunda-feira, 14 de abril de 2014

Que se Acendam as Luzes - Capítulo 04



         Descontrolada, Valéria começou a chorar incondicionalmente. Estela riu do desespero da jovem, que gritou:
         – Por favor, me solte. Eu te imploro. Não quero morrer... O que vocês vão fazer comigo?
Ingrid, Antônio e os enfermeiros observavam o desespero dela. Estela ficou séria, e encarou-a dizendo:
         – Cala a boca, garota. Não tem saída. Você vai morrer, e vai ser agora.
Enquanto isso, as outras cinco jovens, amarradas e nuas também, não paravam de chorar.  A agulha da anestesia nas mãos de Estela se aproximou de Valéria.
         – Para! Não! Eu te imploro, por minha vida... Por favor, não!
A saliva de Valéria passa pela sua boca. Lágrimas e mais lágrimas escorreram não só de seu rosto, mas do rosto de todas as jovens, que estavam ali, nas mãos do perigo.
        
Valéria cuspiu na cara de Estela, que ficou nervosa, colocando a seringa em cima de uma mesa de vidro. Aproximou-se de Ingrid e de Antônio.
         – Liga pra chefa! Ela sabe o que fazer... Vamos ver o que ela diz! – Era Antônio aconselhando Estela, que pega o telefone, procurando o número de Carla. Ao achar o mesmo, rapidamente ela põe pra ligar. Segundos depois, Carla estava na linha:
         – Pode falar Estela.
Carla estava deitada em uma cama, em um apartamento luxuoso de São Paulo, com rodelas de pepinos nos olhos. Estava relaxando, com a toalha de banho enrolada no cabelo e uma roupa, de banho também, cobrindo o seu corpo.
– É uma jovem... Está implorando por sua vida. Chegou a dizer que faria qualquer coisa pra não morrer. Na verdade isso sempre acontece, mas essa jovem, como eu posso dizer... Está muito apavorada. – Explicou Estela.


Carla se levantou da cama soltando gargalhadas e respondeu, com um gesto delicado:
         – Tive uma ideia. Se ela faz qualquer coisa, mandem-na transportar os órgãos para o Brasil. Quando ela chegar e estiver tudo bem, ela morre. Pelo menos isso pode dar lucro. As desconfianças de que seu hospital está ligado a esse crime são muitas. Se ela levar os órgãos, pelo menos uma mala está garantida. Vocês sabem como é o decorrer do plano, mas façam exatamente como eu disse.
         – Tem certeza? E se...
         – Esqueceu quem sou eu? – Perguntou Carla antes de desligar a ligação na cara de Estela, como sempre faz.
Estela também desligou e suspirou bem fundo, se virando para os parceiros e dizendo:
         – Vou explicar tudo a vocês...


      Apressadamente, Sílvia andava pelos corredores do hospital Trindade, curiosa. De repente ela viu Vitória se aproximando e correu até ela:
     – Tem sinal da Estela?
     – Não a vi hoje. Tenho certeza que não veio ao hospital.
Sílvia se apavorou.
         – Eu tenho que...
         – Não! – Gritou Vitória – Não pode.
         – Pensa comigo: se eu encostar a Estela ela vai contar tudo.
Vitória balançou a cabeça e segurou o braço da amiga.
         – Você, por ser psicóloga, devia saber muito bem que ninguém deve chantagear as outras pessoas emocionalmente. Esqueceu?
Sílvia empurrou a amiga com força e saiu correndo. Nesse exato momento, um garoto estava sendo levado pelos corredores para a sala de cirurgia. Sofrera um atropelamento. Vitória foi atrás, para ajudar.
        

      Enquanto os médicos no Brasil trabalhavam no hospital Trindade, Valéria vivia momentos de horrores em Buenos Aires, Argentina, trancada dentro de uma sala. Ela chorava deitada sobre o chão. Estava agora vestida. Antes, ela estava nua, assim como as cinco garotas que continuavam amarradas e na mira da morte, todas deitadas naquelas camas. De repente a imagem de Renato apareceu em sua cabeça e ela se lembrou da frase que ele dissera antes de ela ser pega:
     “– Eu... Eu... Gosto de...”.
E Valéria voltou em si, limpando as lágrimas. Seu coração estava palpitando muito rápido.

         
         – Não vou fazer isso. – Disse Valéria chorando.
Agora já era tarde. Valéria estava se dirigindo para um táxi que a esperava na beira da rua. Antes de entrar no carro, ela sentiu alguém segurando seu braço:
         – É melhor você fazer direitinho, pois te damos o direito de viver. Portanto: obedeça! – Ameaçou Estela.
A moça entrou. Estela também, e se sentou do lado dela, no banco de trás. O taxista pôs “as malas” de Valéria no bagageiro. Ingrid também entrou no táxi e se sentou do outro lado. Valéria ficou entre as duas, que olharam o rosto da moça, que deixa lágrimas cair. Antônio se sentou no banco da frente. Ao se ajeitar, virou para trás, e, ao perceber que está tudo pronto, ordenou ao taxista:
         – Podemos ir.

Ao ver que o táxi já estava em movimento, Valéria se sentiu como uma criminosa, responsável por destruir a vida de muita gente.
         – Como vocês têm coragem de fazer isso? Arrancar os órgãos das pessoas por dinheiro? – Perguntou a moça.
Ingrid respondeu rapidamente:
         – Não é uma questão de coragem. É uma questão de querer.
Ao ouvir isso, Valéria gritou:
– Eu vou contar tudo à polícia!
Estela a encarou e disse:
         – Olha bem, garota: experimenta fazer isso pra você ver. E outra, se alguém te flagrar e você nos entregar... É melhor que fique preparada, pois a desgraça estará à sua volta, pronta pra arrancar os seus fígados, e prepará-los com um molho saboroso, com sabor de sangue.
Valéria tossiu ao escutar essas palavras.
         – Pois eu não tenho medo. Sabe o que eu vou fazer depois que eu entregar esses órgãos no seu hospital? Correr pelas ruas a fora, gritando que vocês traficam órgãos, seus bandos de desgraçados.
Estela meteu uma bofetada na cara da baladeira, o que faz o taxista olhar no retrovisor. A dona do hospital Trindade viu que ficou com a mão molhada, pois se encostara às lágrimas de Valéria, que continuava chorando.
         – Se não nos obedecer, garota, além de você morrer, o Renato também morre!
Valéria levou um susto. Como ela sabe do Renato? Pensou a baladeira.
         – Você... Conhece-o?
Ingrid fez questão de responder a pergunta:
– Vimos na tela de seu celular vocês dois, abraçados, com a legenda no cantinho: “Renato e Valéria: eternos amigos.” Que lindo!
Valéria começou a respirar com dificuldade:
         – Não, vocês não vão fazer nada com ele. Ele...
         – Não, não vamos fazer nada com ele – Disse Estela, que continuou – se você ficar quieta e não abrir a boca. E agora? Quer morrer ou ser feliz com o amiguinho?
Valéria arregalou os olhos. E agora?



Aeroporto Internacional Ministro Pistarini.

         Ela andava apressadamente pelo saguão do aeroporto argentino. Não parava de se virar para os lados, para conferir se alguém olhava. Seu salto alto batia tão forte no chão que muitas pessoas chegavam a escutar. E ela continuou andando, vestida com a mesma roupa de quando ela foi pega. Em cada mão, uma mala, cheia de órgãos humanos. Ao sentir vontade de chorar, ela respirou fundo.
         – Ai meu Deus! – Exclamou a moça, morrendo de medo. E seu medo se tornou mais forte quando se dirigiu para o avião. Novamente sentiu-se como uma criminosa. Mas por fim, ela entrou na aeronave e voou para o Brasil.

      A dois mil metros de altura voava um jato, com destino ao Brasil. Mais quatro malas de órgãos estavam ali, apoiadas no chão. Ao lado delas, Estela e Antônio conversavam.
         – Será que a moça consegue? – Perguntou Antônio.
         – É provável que não. Mas ela não nos entregará. Fique sossegado. Ela não quer ver o amigo morto. – Disse Estela fazendo o maior esforço para não mostrar sua incerteza.
E Antônio apoiou sua cabeça na poltrona, para dormir.

Horas depois...
Aeroporto de Congonhas, São Paulo.



         Mais uma vez Valéria experimentava a sensação de fuga, enquanto andava pelo saguão do aeroporto, dessa vez: brasileiro, às oito horas da noite. Ela pensava: Vai dar tudo certo. É só entregar as malas no hospital e acabou. E ela estava enganada, pois a sua frente, dois policiais federais examinavam as bagagens. Ela parou de uma vez. Engoliu sua saliva. Sentiu seu coração palpitar aceleradamente. Ao voltar a andar, sentiu suas pernas bambas. Ela tinha que passar ali, por aquela porta, sem que os policiais vissem. Ela confiou em si mesma. Seguiu em frente, respirando desesperadamente. Aproximou-se da porta, e é aí que ela escutou um PM gritando:
         – Polícia Federal! Precisamos ver suas bagagens.
E Valéria sentiu-se acabada.

“Um tiro no escuro. Um passado perdido no espaço. Estou me despedaçando, despedaçando”.


 COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO 
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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