segunda-feira, 14 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 23



TERCEIRO TESTAMENTO
VIGÉSIMO TERCEIRO CAPÍTULO
Fortaleza, Ceará. Outubro de 2012.

MÚSICA: Isabella Taviani – A Canção que Faltava.

      Ingrid Ferreira assumiu totalmente a identidade de Maria Aparecida dos Santos. Agora ela era outra mulher, mas tinha os mesmos sentimentos. Aquela mansão era grande demais para ela, então ela convidou D. Inês, sua segunda mãe, para que fosse morar com ela.
     Convidou também o casal Alex e Analú, para que lá morassem. E que ficassem lá até depois do casamento dos dois.
     Fidel continuava trabalhando na mansão. Alessandra e Gianpaolo firmaram-se em Fortaleza, assim como Adriano, que resolveu começar uma nova vida na cidade.
     Bruno e Vanessa estavam morando juntos no apartamento dele e de seu amigo Calebe, mas o paparazzo soube que, naquele dia, Ingrid, a mulher que ele considerava a mulher de sua vida, estaria partindo em seu jatinho, para uma temporada em Paris. Talvez ela gostasse de lá e jamais a veria novamente, pensava ele.
        
     Você me trouxe o porquê
     Me fez sorrir por merecer
     Me deu seu horizonte,
     A ponte pra cessar...

     Ingrid observava Fidel arrumar suas malas.

     — É tão estranho ter empregados para fazer as coisas pra gente. — comenta Ingrid.
     — Então vai se acostumando, bi. Terá uma vida de rainha agora. — Fidel guarda alguns vestidos novos de Ingrid na mala. — Espero que se divirta em Paris, Dona Cida... e pegue aquele bofe!
     — Quem?
     — O Victorio, filho da Dona Albaniza. O advogado gatão. Pensa que eu não vi vocês trocando olhares hein?
     — Que ideia, Fidel! Dr. Victorio só me acompanhará por ordens da Dra. Albaniza.

     Minha boca não consegue mais
     Desgrudar da tua pele, da tua saliência,
     Dos seus sais.
     De tudo que emana que
     Quando o amor a gente faz
     E nunca é demais...

Uma mensagem de Bruno chega ao celular de Ingrid.
“NÃO ACHA QUE DEVEMOS UMA CONVERSA UM AO OUTRO? ENCONTRE-SE COMIGO NAQUELA SORVETERIA. QUE TAL?”
Ingrid responde:
     “E SE SUA ‘NAMORADA’ SOUBER? FIQUE COM ELA. ENGANE A ELA.”
E logo chega outra mensagem de Bruno:
“ESTAREI TE ESPERANDO”
***
     Ingrid sai da mansão e pede para que o novo motorista a leve até o local que Bruni marcou. A moça gostaria de não dar o braço a torcer, mas o desejo de encontrar com Bruno, pelo menos ouvir sua voz, ter seu olhar direcionado a ela, aquilo o excitava. Ele a conhecia muito bem. Ele sabia que ela viria.
     Ah se eu pudesse descobrir
     De onde vem o seu poder
     Onde mora o seu mistério, o seu remédio...
     Prescrito pra me absorver
     Do mundo que ficou pra trás.

     Ele estava mais lindo do que nunca. Talvez pela saudade, pela vontade que eu tinha de vê-lo eu percebia aquelas qualidades se aflorando. Tentei não demonstrar excitação ao vê-lo, mas percebo também que Bruno não deixou de ser aquele sedutor que sempre foi. Mas não o perdoo. Não o perdoo por não ter me defendido quando Ugo me agrediu. Não o perdoo por ter se juntado com Vanessa, neta do meu pai, por puro interesse.”

     — Sabia que você viria! — diz Bruno, colocando a mão em cima da mão de Ingrid, que se está sentada em uma das mesas da sorveteria.
     — Me solta e fala logo o que você quer.
     — Ingrid... Cida, como você quer que todos lhe chamem... Eu te amo!
     — Não é isso o que você diz à Vanessa?
     — Ficar com a Vanessa foi o único jeito que arrumei para entrar na mansão aquele dia. Eu tenho todas as fotos e filmagens de tudo o que aconteceu. Eu preciso comer. Eu preciso fazer dinheiro!
     — Você... Você vai dizer a verdade a todos? Vai dizer que eu não sou Cida? Que eu sou a verdadeira filha do Dr. Wagner?
     — Fica comigo... Não viaje. Não vá embora para Paris. Eu te amo, Ingrid.
     — Eu também te amo, Bruno. Mas eu preciso desse tempo. E também preciso ir. Estou atrasada e o meu jatinho sai hoje.

     O jatinho particular de Ingrid estava no aeroporto internacional. Acompanhada de Victorio, seu advogado, ela caminhava em direção ao veículo.
     — Eu nunca andei de avião, Dr. Victorio. — diz Ingrid, com medo.
     — Fique tranquila, Srta. Cida. O voo vai durar poucas horas e logo estaremos em terras francesas.
     — Espero que sim.

     O advogado é o primeiro a entrar no jatinho. Ingrid, antes de entrar, dá uma última olhada para o lugar a sua volta. O vento forte bate em seus poucos cabelos, mas os pequenos fios estão voando. A moça observa um carro vindo de longe. Ele para, e dele, sai Bruno, que fica parado também a observando.
     — Vamos, Srta. Ingrid. Está ficando tarde. — diz Victorio.
     — Claro, Dr. Victorio. Vamos.

     Ingrid entra no jatinho e a porta é fechada. Bruno entra no carro e esmurra a buzina.
     — Droga! Eu a perdi...

***
     Alguns dias se passam. Fidel fica triste por ter perdido as eleições, as quais ele havia se candidatado a vereador. Só obteve dois votos: o dele e o de sua filha.
     Na mansão Peregrini, Analú prova o vestido de noiva. Dona Inês dá os retoques finais. Fidel se emociona.
     — Ai, filhinha, como eu sonhei te ver vestida como uma noivinha linda! Ai, acho que vou desmaiar de tanta emoção!
     — Nada de chororô, Fidel. Só na hora do casamento. Já arrumou o seu terno? — pergunta Dona Inês.
     — Ah, sim. Eu vou causar com aquele terno. Quer dizer, filha, nós vamos. Por que seu vestido está esplêndido.
     — E o que tem no seu terno de tão especial, papai? — pergunta Analú.
     — Espere e verá.
***
     Os irmãos Adriano, Alessandra e Alex marcam um almoço. Eles estão no apartamento comprado por Adriano, que ficará morando em Fortaleza.

     — Não acredito que vai se casar amanhã, meu irmão! Quem diria que aquele bebezinho que vivia no nosso colo se tornaria um homem, pai de família. — diz Adriano.
     — Eu amo muito a Analú. Nós fomos criados juntos, mas Wagner não permitia que nós ficássemos perto um do outro.
     — Aquele imbecil teve o que mereceu no final... — diz Alessandra, tomando uma taça de vinho.
     — Por que diz isso, irmã? — pergunta Alex.
     — Óbvio, Alex. O Wagner maltratou nossa mãe, a nossa babá, torturou a gente. No final não deixa nada pra gente e ainda nos chama de ingratos?
     — Quem é aquela secretária afinal? — diz Adriano.
     — Pelo que eu sei, ela e o Wagner eram muito ligados. Ela é super legal. Disse que financiaria minha carreira de cantor. E ainda deixou que Analú e eu morássemos na mansão.
     — Tudo do Wagner é nosso por direito, Alex. Eu só não recorri por que não estou passando fome. Talvez aquela ex-catadora de lixo estivesse. — diz Alessandra.
     — Ela deve estar como um pinto no lixo. É muito dinheiro! — conclui Adriano.
     — E o Ugo hein?
     — A viuvinha deve estar bem longe. Aquele miserável! — diz Adriano. — Aquilo é o capeta desde pequeno. Traidor... Via-nos sofrer e nada fazia. Sofria nas mãos do Wagner e nada fazia...
***
Música: Madonna – Spanish Eyes.

     Ugo recebe resultado do teste de HIV. Seu coração palpita. Sente um frio na barriga antes de abrir o envelope. O bar onde ele se encontra está lotado. Situa-se em um bairro da periferia.
     — Se Dio tem um pingo de piedade de mim, o teste haverá de ser negativo. — Ugo respira e abre o envelope — Positivo. Estou morto. MALDITO WAGNER! STRONZO!!!


(ESPAÇO PARA A ABERTURA)

Música: Florence + The Machine – Spectrum.

Ingrid vivia um sonho em sua vida. A temporada em Paris estava lhe fazendo bem. Visitou os diversos pontos turísticos daquela linda cidade, assim como passou nas melhores lojas para comprar os mais belos e caros vestidos. E sempre acompanhada de Victorio, que estava cada vez mais próximo dela.

     — Essa cidade é muito bonita mesmo, Dr. Victorio. Pena eu não saber falar francês. — diz Ingrid, tentando tirar a carne da concha do escargot.
     Aprenderá francês, Srta. Cida. É só uma questão de você querer. Permita-me ajudá-la.
    
     Victorio ensina Ingrid a comer escargot. Ela aprende rápido, e logo come com perfeição.

     — Obrigada, Dr. Victorio. O senhor é muito educado.
     — Isso não foi nada, Srta. Cida. O mínimo que se deve oferecer a uma dama é educação.
     Ingrid sorri, e, em seguida, levanta-se da mesa, ficando de costas para Victorio e de frente para a enorme Torre Eiffel. Ela observa a torre, e diz:
     — Dr. Victorio, pode anotar uma coisa: Eu vou aprender a comer essas comidas cheias de frescuras. Vou aprender a andar de salto alto, usar esses vestidos de gente chique. Ingrid fica de frente para Victorio novamente. — O senhor vai me ajudar, não vai?
     — Claro que sim, Srta. Cida! — Victorio sorri.

***

Fidel ficou triste por não ter ganhado as eleições, as quais ele estava concorrendo ao cargo de vereador. Contudo, os preparativos para o casamento de sua filha Analú amenizavam sua tristeza.
     Dona Inês, (a senhora que criou Ingrid no lixão) está morando na mansão. Ela neste momento está cuidando do vestido de Analú, dando os últimos retoques. Há um sorriso estampado no rosto da moça, que se olha no espelho, emocionada por estar provando o vestido. Fidel está sentado na cama, de boca aberta.
     — Minha santa Amy Winehouse, como você está divando com esse vestido, filhota! — exclama Fidel.
     — Obrigada pai. Realmente o vestido está muito lindo.
     — Vai causar. E o Alex vai amar... E finalmente, filhinha, você será uma Peregrini. Que emoção!
     — Sr. Fidel... — Inês se introduz, concentrada, alfinetando o vestido de Analú — O senhor já arrumou seu terno? Afinal, vai entrar com a sua filha na igreja!
     — E, por favor, papai, Não vá entrar de Stefanie Raio Laser na igreja. Ou o padre expulsa o senhor de lá.
     — Sim, Dona Inês, eu já tenho o meu terno, e não filhota, no dia do seu casamento a Setefanie Raio Laser não aparecerá. Não se preocupe. Só garanto uma coisa: eu vou divar. Não roubando o seu brilho, claro.

***

Música: Amy Winehouse – Back to Black.

Uma garrafa de champanhe é estourada na sala da presidência da Flash Magazine. Gisela e Vanessa comemoram, brindam por estar no lugar que era de Wagner quando ele era vivo.
     — Parabéns, bisa... Agora a Flash é toda sua!
     Gisela joga o champanhe da sua taça no rosto de Vanessa.
     — Quantas vezes eu tenho que dizer que eu não sou sua bisavó! Será que sempre eu vou ter que apelar pra deselegância, sua anta?
     Vanessa pega alguns lenços de papel e tenta se recompor.
     — Tá, foi mal...
Gisela se levanta e vai até onde está uma foto de Wagner, emoldurada numa parede, com destaque. Ela pega uma caneta e começa a riscar a foto.
     — O que está fazendo... Tia Gisela?
     A senhora desenha chifrinhos, bigodes e cílios avantajados na foto do ex-genro.
     — Que este infeliz esteja queimando no inferno. Por todo mal que fez aos meus netos... e à minha filha.

***
Dias depois...

     Ele olha para baixo. Do alto daquele prédio, as coisas parecem bem menores. Contudo, ele sabe que ficarão maiores a medida que ele for caindo. Ugo apenas abre os braços. Sente o vento bater em suas costas. Dá um passo, e sente que um fio de poeira que estava na sola dos seus sapatos foi abandonado e deixado cair. Ele era o próximo.

     Adio vida miserável! — brada Ugo.

     E antes que o italiano dê qualquer impulso, alguém o segura, dando-lhe uma chave de pescoço.

     — Quem... Quem é você?

     Trata-se de um outro capanga de “Cérebro”. Ele faz Ugo dormir com um produto químico que o obriga a inalar, levando-o dali em seguida.