TERCEIRO TESTAMENTO
VIGÉSIMO TERCEIRO CAPÍTULO
Fortaleza,
Ceará. Outubro de 2012.
MÚSICA: Isabella Taviani – A Canção
que Faltava.
Ingrid Ferreira assumiu totalmente a identidade de
Maria Aparecida dos Santos. Agora ela era outra mulher, mas tinha os mesmos
sentimentos. Aquela mansão era grande demais para ela, então ela convidou D.
Inês, sua segunda mãe, para que fosse morar com ela.
Convidou também o casal Alex e Analú, para que lá morassem. E
que ficassem lá até depois do casamento dos dois.
Fidel continuava trabalhando na mansão. Alessandra e Gianpaolo
firmaram-se em Fortaleza, assim como Adriano, que resolveu começar uma nova
vida na cidade.
Bruno e Vanessa estavam morando juntos no apartamento dele e de
seu amigo Calebe, mas o paparazzo soube que, naquele dia, Ingrid, a mulher que
ele considerava a mulher de sua vida, estaria partindo em seu jatinho, para uma
temporada em Paris. Talvez ela gostasse de lá e jamais a veria novamente,
pensava ele.
Você me trouxe o porquê
Me fez sorrir por merecer
Me deu seu horizonte,
A ponte pra cessar...
Ingrid observava Fidel arrumar suas malas.
— É tão estranho ter empregados para fazer as coisas pra gente.
— comenta Ingrid.
— Então vai se acostumando, bi. Terá uma vida de rainha agora. —
Fidel guarda alguns vestidos novos de Ingrid na mala. — Espero que se divirta
em Paris, Dona Cida... e pegue aquele bofe!
— Quem?
— O Victorio, filho da Dona Albaniza. O advogado gatão. Pensa
que eu não vi vocês trocando olhares hein?
— Que ideia, Fidel! Dr. Victorio só me acompanhará por ordens da
Dra. Albaniza.
Minha boca não
consegue mais
Desgrudar da tua pele,
da tua saliência,
Dos seus sais.
De tudo que emana que
Quando o amor a gente
faz
E nunca é demais...
Uma
mensagem de Bruno chega ao celular de Ingrid.
“NÃO ACHA QUE DEVEMOS UMA CONVERSA UM AO OUTRO?
ENCONTRE-SE COMIGO NAQUELA SORVETERIA. QUE TAL?”
Ingrid responde:
“E SE SUA ‘NAMORADA’ SOUBER?
FIQUE COM ELA. ENGANE A ELA.”
E logo
chega outra mensagem de Bruno:
“ESTAREI TE ESPERANDO”
***
Ingrid
sai da mansão e pede para que o novo motorista a leve até o local que Bruni
marcou. A moça gostaria de não dar o braço a torcer, mas o desejo de encontrar
com Bruno, pelo menos ouvir sua voz, ter seu olhar direcionado a ela, aquilo o
excitava. Ele a conhecia muito bem. Ele sabia que ela viria.
Ah se eu pudesse descobrir
De onde vem o seu poder
Onde mora o seu mistério, o seu remédio...
Prescrito pra me absorver
Do mundo que ficou pra trás.
“Ele
estava mais lindo do que nunca. Talvez pela saudade, pela vontade que eu tinha
de vê-lo eu percebia aquelas qualidades se aflorando. Tentei não demonstrar
excitação ao vê-lo, mas percebo também que Bruno não deixou de ser aquele
sedutor que sempre foi. Mas não o perdoo. Não o perdoo por não ter me defendido
quando Ugo me agrediu. Não o perdoo por ter se juntado com Vanessa, neta do meu
pai, por puro interesse.”
—
Sabia que você viria! — diz Bruno, colocando a mão em cima da mão de Ingrid,
que se está sentada em uma das mesas da sorveteria.
— Me
solta e fala logo o que você quer.
—
Ingrid... Cida, como você quer que todos lhe chamem... Eu te amo!
— Não
é isso o que você diz à Vanessa?
—
Ficar com a Vanessa foi o único jeito que arrumei para entrar na mansão aquele
dia. Eu tenho todas as fotos e filmagens de tudo o que aconteceu. Eu preciso
comer. Eu preciso fazer dinheiro!
—
Você... Você vai dizer a verdade a todos? Vai dizer que eu não sou Cida? Que eu
sou a verdadeira filha do Dr. Wagner?
—
Fica comigo... Não viaje. Não vá embora para Paris. Eu te amo, Ingrid.
— Eu
também te amo, Bruno. Mas eu preciso desse tempo. E também preciso ir. Estou
atrasada e o meu jatinho sai hoje.
O jatinho
particular de Ingrid estava no aeroporto internacional. Acompanhada de
Victorio, seu advogado, ela caminhava em direção ao veículo.
— Eu
nunca andei de avião, Dr. Victorio. — diz Ingrid, com medo.
—
Fique tranquila, Srta. Cida. O voo vai durar poucas horas e logo estaremos em
terras francesas.
—
Espero que sim.
O
advogado é o primeiro a entrar no jatinho. Ingrid, antes de entrar, dá uma
última olhada para o lugar a sua volta. O vento forte bate em seus poucos
cabelos, mas os pequenos fios estão voando. A moça observa um carro vindo de
longe. Ele para, e dele, sai Bruno, que fica parado também a observando.
—
Vamos, Srta. Ingrid. Está ficando tarde. — diz Victorio.
—
Claro, Dr. Victorio. Vamos.
Ingrid
entra no jatinho e a porta é fechada. Bruno entra no carro e esmurra a buzina.
—
Droga! Eu a perdi...
***
Alguns
dias se passam. Fidel fica triste por ter perdido as eleições, as quais ele
havia se candidatado a vereador. Só obteve dois votos: o dele e o de sua filha.
Na
mansão Peregrini, Analú prova o vestido de noiva. Dona Inês dá os retoques
finais. Fidel se emociona.
— Ai,
filhinha, como eu sonhei te ver vestida como uma noivinha linda! Ai, acho que
vou desmaiar de tanta emoção!
—
Nada de chororô, Fidel. Só na hora do casamento. Já arrumou o seu terno? —
pergunta Dona Inês.
— Ah,
sim. Eu vou causar com aquele terno. Quer dizer, filha, nós vamos. Por que seu vestido está esplêndido.
— E o
que tem no seu terno de tão especial, papai? — pergunta Analú.
—
Espere e verá.
***
Os
irmãos Adriano, Alessandra e Alex marcam um almoço. Eles estão no apartamento
comprado por Adriano, que ficará morando em Fortaleza.
— Não
acredito que vai se casar amanhã, meu irmão! Quem diria que aquele bebezinho
que vivia no nosso colo se tornaria um homem, pai de família. — diz Adriano.
— Eu
amo muito a Analú. Nós fomos criados juntos, mas Wagner não permitia que nós
ficássemos perto um do outro.
—
Aquele imbecil teve o que mereceu no final... — diz Alessandra, tomando uma
taça de vinho.
— Por
que diz isso, irmã? — pergunta Alex.
—
Óbvio, Alex. O Wagner maltratou nossa mãe, a nossa babá, torturou a gente. No
final não deixa nada pra gente e ainda nos chama de ingratos?
—
Quem é aquela secretária afinal? — diz Adriano.
—
Pelo que eu sei, ela e o Wagner eram muito ligados. Ela é super legal. Disse
que financiaria minha carreira de cantor. E ainda deixou que Analú e eu
morássemos na mansão.
—
Tudo do Wagner é nosso por direito, Alex. Eu só não recorri por que não estou
passando fome. Talvez aquela ex-catadora de lixo estivesse. — diz Alessandra.
— Ela
deve estar como um pinto no lixo. É muito dinheiro! — conclui Adriano.
— E o
Ugo hein?
— A
viuvinha deve estar bem longe. Aquele miserável! — diz Adriano. — Aquilo é o
capeta desde pequeno. Traidor... Via-nos sofrer e nada fazia. Sofria nas mãos
do Wagner e nada fazia...
***
Música: Madonna – Spanish Eyes.
Ugo
recebe resultado do teste de HIV. Seu coração palpita. Sente um frio na barriga
antes de abrir o envelope. O bar onde ele se encontra está lotado. Situa-se em
um bairro da periferia.
— Se
Dio tem um pingo de piedade de mim, o teste haverá de ser negativo. — Ugo
respira e abre o envelope — Positivo. Estou morto. MALDITO WAGNER! STRONZO!!!
(ESPAÇO PARA A ABERTURA)
Música:
Florence + The Machine – Spectrum.
Ingrid vivia um sonho em sua vida. A temporada
em Paris estava lhe fazendo bem. Visitou os diversos pontos turísticos daquela
linda cidade, assim como passou nas melhores lojas para comprar os mais belos e
caros vestidos. E sempre acompanhada de Victorio, que estava cada vez mais
próximo dela.
—
Essa cidade é muito bonita mesmo, Dr. Victorio. Pena eu não saber falar
francês. — diz Ingrid, tentando tirar a carne da concha do escargot.
— Aprenderá
francês, Srta. Cida. É só uma questão de você querer. Permita-me ajudá-la.
Victorio
ensina Ingrid a comer escargot. Ela
aprende rápido, e logo come com perfeição.
—
Obrigada, Dr. Victorio. O senhor é muito educado.
—
Isso não foi nada, Srta. Cida. O mínimo que se deve oferecer a uma dama é
educação.
Ingrid
sorri, e, em seguida, levanta-se da mesa, ficando de costas para Victorio e de
frente para a enorme Torre Eiffel. Ela
observa a torre, e diz:
— Dr.
Victorio, pode anotar uma coisa: Eu vou aprender a comer essas comidas cheias
de frescuras. Vou aprender a andar de salto alto, usar esses vestidos de gente
chique. — Ingrid fica de frente para
Victorio novamente. — O senhor vai me ajudar, não vai?
—
Claro que sim, Srta. Cida! — Victorio sorri.
***
Fidel ficou triste por não ter ganhado as
eleições, as quais ele estava concorrendo ao cargo de vereador. Contudo, os
preparativos para o casamento de sua filha Analú amenizavam sua tristeza.
Dona
Inês, (a senhora que criou Ingrid no lixão) está morando na mansão. Ela neste
momento está cuidando do vestido de Analú, dando os últimos retoques. Há um
sorriso estampado no rosto da moça, que se olha no espelho, emocionada por
estar provando o vestido. Fidel está sentado na cama, de boca aberta.
—
Minha santa Amy Winehouse, como você está divando com esse vestido, filhota! —
exclama Fidel.
—
Obrigada pai. Realmente o vestido está muito lindo.
— Vai
causar. E o Alex vai amar... E finalmente, filhinha, você será uma Peregrini.
Que emoção!
— Sr.
Fidel... — Inês se introduz, concentrada, alfinetando o vestido de Analú — O
senhor já arrumou seu terno? Afinal, vai entrar com a sua filha na igreja!
— E,
por favor, papai, Não vá entrar de Stefanie Raio Laser na igreja. Ou o padre
expulsa o senhor de lá.
—
Sim, Dona Inês, eu já tenho o meu terno, e não filhota, no dia do seu casamento
a Setefanie Raio Laser não aparecerá. Não se preocupe. Só garanto uma coisa: eu
vou divar. Não roubando o seu brilho, claro.
***
Música: Amy Winehouse – Back to Black.
Uma garrafa de champanhe é estourada na sala da
presidência da Flash Magazine. Gisela e Vanessa comemoram, brindam por estar no
lugar que era de Wagner quando ele era vivo.
—
Parabéns, bisa... Agora a Flash é toda sua!
Gisela
joga o champanhe da sua taça no rosto de Vanessa.
—
Quantas vezes eu tenho que dizer que eu não sou sua bisavó! Será que sempre eu
vou ter que apelar pra deselegância, sua anta?
Vanessa
pega alguns lenços de papel e tenta se recompor.
— Tá,
foi mal...
Gisela se levanta e vai até onde está uma foto
de Wagner, emoldurada numa parede, com destaque. Ela pega uma caneta e começa a
riscar a foto.
— O
que está fazendo... Tia Gisela?
A
senhora desenha chifrinhos, bigodes e cílios avantajados na foto do ex-genro.
— Que
este infeliz esteja queimando no inferno. Por todo mal que fez aos meus
netos... e à minha filha.
***
Dias depois...
Ele
olha para baixo. Do alto daquele prédio, as coisas parecem bem menores.
Contudo, ele sabe que ficarão maiores a medida que ele for caindo. Ugo apenas
abre os braços. Sente o vento bater em suas costas. Dá um passo, e sente que um
fio de poeira que estava na sola dos seus sapatos foi abandonado e deixado
cair. Ele era o próximo.
— Adio vida miserável! — brada Ugo.
E
antes que o italiano dê qualquer impulso, alguém o segura, dando-lhe uma chave
de pescoço.
—
Quem... Quem é você?
Trata-se
de um outro capanga de “Cérebro”. Ele faz Ugo dormir com um produto químico que
o obriga a inalar, levando-o dali em seguida.