quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ULTRAVIOLÊNCIA - Episódio 1x4: Você não vai a lugar nenhum sem mim




Os sinais vitais de Carlos estavam paralisados, uma das enfermeiras que passava no corredor naquele momento, notou a parada respiratória do paciente. O chefe da emergência foi acionado. Carlos foi colocado em uma maca e em seguida foi levado rapidamente para a sala de desfibrilação. Os choques dados no peitoral definido do chefe do narcotráfico eram aleatórios. Foram no total três, em um espaço exato de cinco segundos cada. No último choque, ele acordou em um impulso impressionante, como se tivesse saído de uma piscina cheia de água da qual estava se afogando.

–Enfermeira Cida, traga a seringa com os calmantes! –Ordenou o médico. –O paciente está muito assustado. O processo de desfibrilação foi um sucesso.

“Naquela noite eu saí do hospital meio desorientado, aquele havia sido o meu primeiro crime, e foi impressionante. Tenho que admitir que eu me saí muito bem, até aquele momento. Por que depois eu notei que estava sendo perseguido. Quando olhei para trás, enxerguei Josh acompanhado de três caras enormes vindo na minha direção. A porra havia ficado séria. Logo pensei que eles já deveriam saber da morte do Carlos e vieram me dar uma lição. Entrei em pânico por completo. Não consegui conter o medo e saí correndo em direção ao fluxo de carros. Atravessei avenidas, tentei entrar em um táxi, mas o taxista achou que era um assalto e não me deixou entrar. Continuei correndo. Porém logo a frente, quando faltavam duas quadras para o próximo bairro, Josh e os caras me pegaram.”.

Josh agarrou Patrick pelo pescoço, enforcando-o. Ele imprensou o rapaz contra um muro. Ambos estavam em uma rua sem saída. Os outros caras estavam vigiando a área para garantir que policiais não os pegariam. Patrick tentou se defender dos socos na barriga, mas seu rival tinha o dobro de sua altura e seus ataques eram muito rápidos, dificultando qualquer meio de fuga. Josh começou com leves socos na barriga, seguidos de socos nos olhos e chutes nas costelas. Patrick se encontrava todo ensanguentado no chão. Quando a surra chegou ao fim, Josh chamou os outros caras para o ajudarem à por o rapaz dentro de um enorme saco preto de lixo.

–Você achou mesmo que iria tentar matar o Carlos e tudo ficaria barato? –Indagou Josh, caindo na gargalhada. –Havia homens de sua confiança nos corredores do hospital disfarçados de enfermeiros. E só pra você saber, ele não morreu.

“A última coisa que eu ouvi antes de apagar foi “ele não morreu”, aquilo realmente era um grande problema. Como alguém comete um homicídio e fracassa? Acho que descobri que não podia matar a sangue frio como a minha mãe. No dia seguinte, era o primeiro dia da nova era, anos 2000, eu acordei no quarto do Carlos, sobre sua cama, completamente nu. Olhei para o lado e não encontrei nada além de um prato de comida. Tentei abrir a porta, mas eu realmente estava preso ali, como havia imaginado. Procurei por roupas, mas não tinha. Então eu sentei na beirada da cama e comi aquela gororoba, que por sinal estava muito gostosa, afinal eu estava morto de fome.”.

O médico-chefe do hospital entrou no quarto particular de Carlos, trazendo consigo um documento de alta assinado. Liberando o paciente, garantindo que seus sistemas imunológico e cardíaco estavam em perfeitas condições. Carlos vestiu uma de suas roupas usuais e saiu do centro médico acompanhado de Josh. Ambos seguiram para a casa do chefe do tráfico. Carlos cedeu seu carro a Josh, mas antes tirou sua pistola do porta-luvas.

–Trouxe o garoto para cá? –Indagou Carlos.
–Sim senhor. –Respondeu Josh. –O deixei nu como mandou.
–Ótimo...
–Se precisar de ajuda com o corpo, é só chamar senhor.
–Apenas tome cuidado com o meu carro.
–Ok senhor.

Carlos desceu do carro, pegou as chaves de sua casa no bolso esquerdo da calça jeans que cobria a parte inferior de seu corpo e entrou na residência. Tudo estava perfeito como ele havia deixado. Os móveis estavam arrumados e a T.V nova de última geração ainda se encontrava lacrada na caixa. Ele subiu as escadas vagarosamente até chegar ao corredor de entrada a sua suíte. Carlos abriu a porta e se deparou com Patrick nu sobre sua cama.

–Achou mesmo que eu tinha morrido viado? –Indagou Carlos, apontando a arma para o meio das pernas de Patrick. –Vamos ver quem vai morrer...

“O Carlos me surpreendeu com aquela arma. Ele estava mais lindo do que nunca. O rosto viril e a pele sadia. Admito que aquela arma apontada para o meio das minhas pernas me deixou excitado. Ele logo notou a minha ereção. Segundos depois, ele se aproximou, tocou o meu rosto e pôs a arma na minha cabeça. Eu fechei os olhos e comecei a chorar. Afinal eu estava prestes a morrer pelado e excitado pelo traficante mais gostoso do mundo. Mas não foi assim que aconteceu.”.

O gatilho foi pressionado, mas o revólver estava descarregado. Carlos jogou a arma no chão e abraçou Patrick brutamente. Apesar de tudo, ele acreditava no potencial daquele rapaz e em sua inteligência. E também já estava envolvido demais para mata-lo. Após o abraço, Patrick se ajoelhou aos pés de Carlos, implorando por perdão e agradecendo por deixa-lo viver.

–Eu sei o que eu fiz! E eu admito que eu não pensei duas vezes, por que eu queria te matar e ficar com o seu dinheiro. Por que eu precisava ir atrás da Rebecca e me vingar, mas quando eu saí daquele hospital, eu senti algo que só havia sentido uma vez. Medo. Foi assim que eu me senti quando soube da morte da minha mãe. –Os olhos de Patrick estavam consumidos pelas mais sinceras lágrimas que ele pudera derramar. –Eu juro que nunca mais vou tentar te matar. Foi por impulso! Aquele não era eu. Me perdoa Carlos.
–Pare de se lamentar, o que você fez está feito. Se fosse o Josh ou outro cara, estaria morto agora. Mas é você, o Patrick. –Carlos jogou Patrick sobre a cama e sussurrou em seu ouvido: –Você pode não sentir o mesmo por mim, mas quero que saiba que eu não te matei, por que te amo. E saiba, você não vai a lugar nenhum sem mim.

“Fizemos sexo selvagem aquele dia. Batizamos literalmente o primeiro dia do ano. Ele me amava e eu também, apesar de ter camuflado o sentimento antes. Todos ficaram surpresos quando me viram novamente junto de Carlos. Acho que aquilo foi preciso pra eu aprender alguma coisa. Fiquei maduro ao longo dos meses seguintes. Viajamos para Paris, onde eu aprendi francês, depois fomos a Espanha e Coréia. Em menos de um ano, eu já falava francês, espanhol e mandarim fluentemente. O Carlos fez questão de me colocar em um curso de defesa pessoal. Fiz academia pra ganhar peso, raspei a cabeça. Ele disse que fiquei mais sexy careca. Em 2001, horas antes dos ataques terroristas ao World Trade Center, visitamos o lugar. Foi chocante depois. Os meses continuaram passando e eu me tornei outra pessoa, graças ao Carlos. Também aprendi a língua brasileira. E em fevereiro de 2002 ganhei dele de presente de aniversário, passagens para o Brasil e uma conta no banco recheada. Embarquei no mês seguinte, a despedida foi chorosa.”.