quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Me... I Am... Dudu Jean - Episódio 6



EPISÓDIO 1.06
"DESLIZE FATAL"

FADE IN.

CENA 01/AVENIDA DESERTA/ CARRO ROSA/ INTERIOR/ MANHÃ.

Uma mão masculina toca o retrovisor interno de um carro e vira para si: trata-se de Eduardo, visto do espelho. Com um batom em mãos, retoca os lábios; pisca os olhos para o espelho e liga o rádio do carro.



Eduardo, com uma expressão de preocupação no rosto, coloca a cabeça para fora do veículo e encara uma estrada de terra e algumas árvores.

Eduardo (incomodado): Tô mais perdido que o sucesso de Psicose!


Coloca as mãos na volante e acelera o veiculo, percorrendo a estrada, precária. Eduardo avista dois homens, caminhando logo à frente. 

Eduardo (aliviado): Minha nossa senhora das bigodudas desesperadas, estou a salvo e ainda tenho dois bofes aos meus pés. 

Eduardo acelera o carro e para ao lado de dois indivíduos, morenos, altos e carecas, vestindo camisas pretas pouco rasgadas e calça jeans. Ambos se inclinam e olham para Eduardo através da janela direita.

Eduardo (dentro do carro): Querido, estou atrasado para entrevistar o meu chefe, Félix Crítica. Conhece? Não, né? A primeira entrevista em holograma do Brasil... Então, pode me dizer onde estou? (pausa) É que, normalmente, peço para o Idalécio me buscar no meu belíssimo palacete, mas aquele lá pediu demissão para ajudar o Gustavo Xavier Negreiros, na segunda temporada de Psicose, vê se pode? 

Eduardo leva as mãos na janela, fazendo movimentos com os dedos, em direção a calça de um dos homens. 

Sonoplastia se encerra.

Eduardo (malicioso): Podemos brincar um pouquinho, quando você me leva para o prédio da TVV. 

Um dos homens ri, saca um calibre 38, aponta para a cabeça de Eduardo. Ambos dão a volta no carro e param frente a porta de Eduardo.

Homem #1 (berra): Vaza do carro bichinha! Anda! 

O outro homem abre a porta e puxa o entrevistador, jogando-o no chão. 

Homem #2: Sou seu fã cara, mas temos que sair desse lugar, ou iremos morrer!

Os dois homens entram no veículo rosa e o aceleram. Em poucos segundos, o automóvel some pela estrada deserta.

Eduardo: Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida! 

Os olhos do entrevistador ficam vermelhos. Eduardo começa a caminhar pela estrada, olhando para os lados, perdido. Até que ele põe as mãos sobre o bolso da calça.

Eduardo: Já tinha me esquecido... (Retira o aparelho celular do bolso; encara) A TIM ta sem sinal, meu senhor Jesus! Yuri bem que avisou para não mudar de operadora. E agora? O que será de mim? (T; encara a CAM) Pelo menos, logo, logo, o Luiz Gustavo irá mandar toda a alta cúpula atrás de mim!

CENA 02/MANSÃO AMARAL/ SALA PRINCIPAL/ INTERIOR/ MANHÃ.

Yuri coloca, sobre a mesa de centro, uma vasilha cheia de pipoca, acomodando-se no estofado. Pega o controle rosado do chão e liga o aparelho de televisão, de 42 polegadas. 

Yuri (descansado): Já fiz de tudo nessa casa. Limpei o chão, fiz a feijoada, arrumei a cozinha, agora vou me acomodar e ver Faça suas apostas. Amando de paixão a Sheila. 

O telefone toca diversas vezes. 

Yuri: Povo chato, só pensa em telefonar quando o divo soberano não está, mas vou fazer a rainha...

Yuri aponta o controle para a televisão, acionando o botão de pause, que congela a programação.

Yuri: Minha linda está entrevistando o Félix, então, não vejo nada demais em tirar o telefone do gancho, pra ver minha novelinha.

Yuri puxa os fios do aparelho e retorna ao estofado, colocando algumas almofadas sobre o colo.

Yuri: Surpreenda-me, Gabriel! 

Yuri aponta, novamente, o controle para a TV e a cena descongela. 

CENA 03/AVENIDA DESERTA/ MANHÃ.

A CAM foca no salto alto brilhante em meio a uma estrada deserta. Eduardo continua com o celular próximo ao ouvido. 

Eduardo (irritado): Yuri, seu desgraçado! Cadê você, que não atende meus telefonemas? 

Eduardo joga o aparelho celular no chão e pisa em cima. 

Eduardo (grita): Desgraçado!

CENA 04/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/ RECEPÇÃO/ TARDE.

Rosinha, atrás do balcão, desliga o telefone com uma expressão de felicidade e avista o relógio, que marca o horário exato, 14h35min.

Rosinha: É hoje que vamos fazer uma festa! 

O elevador é aberto. Dele saem Walter Hugo, William Araújo e Emerson Faria.

Walter Hugo: O que está havendo? 

Rosinha (em off – ligando o som): O Eduardo não apareceu até agora, vamos sambar, queridinhos. 

William olha para Emerson. 

Emerson: E o Félix? Luiz?


William: Não podemos farrear assim!

Rosinha liga o aparelho sonoro, colocando um funk pesado. 

Rosinha (comemora): Ninguém está na emissora, amados, vamos até o chão livres, leves e soltos!


LEGENDA: MINUTOS DEPOIS...

Uma grande quantidade de pessoas: assistentes, atores, autores, dançam ao som de diversas músicas.


Rosinha (levanta a taça): Um dia sem o Eduardo!

Todos erguem as mãos e brindam com as taças de cristal, um ao outro. 

O toque do elevador é escutado. Rosinha desliga o aparelho e todos olham para a porta, que se abre. O robô Félix entra no cômodo ao lado de Marcelina e param, adiante da multidão. 

Félix: O que está acontecendo aqui? 

Rosinha se aproxima do patrão.

Rosinha: É que a TVV, é uma emissora unida, patrãozinho. Estávamos, apenas, celebrando (levanta o tom de voz) a não vinda do Eduardo Amaral para cá!


Todos atrás gritam em tom de comemoração. 

Félix: E porque parou a música? Vamos descer o morro e mostrar ao Eduardo, como se faz uma festa de verdade!


Rosinha liga o som e todos voltam a dançar. 

CENA 05/ AVENIDA DESERTA/ TARDE. 

Um ônibus passa em meio à avenida deserta, levantando a poeira. Logo atrás, Eduardo, gritando, sai correndo em direção ao veículo. Sobe os degraus e se mostra irreconhecível: suado, molhado, sujo pela poeira.

Eduardo: Calma querido, ta dirigindo para algum filme dos velozes e furiosos? Já não tá vendo meu estado?


Motorista: Entra logo, bichinha! 

Eduardo: Você sabe com quem está falando? 

Motorista: Com um viado que está atrapalhando meu serviço. Agora vá para o fundo!

Eduardo passa pela a catraca e caminha pelo o ônibus, completamente lotado, quando esbarra em um homem loiro, sem camisa, sarado. 

Eduardo: Oi, gato. (fingi mastigar chiclete) Tudo bem contigo? Podemos ir, juntos, para a academia em?! Você me joga naquela bicicletinha e eu saio lizinha.


Homem sarado: Se olhe no espelho, travesti. 

O homem vai para frente do veículo. Minutos depois, desce. Eduardo encara seus movimentos.

Eduardo: Grosso. 

Eduardo acomoda-se num banco, ao lado de uma mulher, negra, de cabelos compridos e um pouco acima do peso.

Eduardo: Oh, gorila mutante... A senhora tem quantas bundas? Chega pra lá. Tá ocupando dois bancos. (pausa) Cuidado, que com um rabo grande desses, macho nenhum vai querer.


Eduardo encara a mulher. 

Gorila Mutante: Vários homens estão me querendo. Sou linda, gostosa, maravilhosa, beijinho no ombro, para a poeira do seu corpo passar longe. Todos estão caindo aos pés de Joaninha Unha de Cana, meu bem!

Eduardo: Caindo de medo, né? (ri; berra). Motorista, vai mais rápido, parece que ta dirigindo uma tartaruga.

Motorista (em off – dirigindo): Eu estou no limite máximo, se eu passar disso, levo uma multa.


Eduardo: Povo tudo fedido. (abana o corpo com as mãos) Essa gente, parece que nunca ouviu falar em desodorante. E você, gorila mutante? (volta a encarar a mulher) Nunca pensou em usar um papel higiênico depois que faz as necessidades? 

Joaninha se levanta, nervosa, coloca as mãos na cintura. 

Joaninha: Escuta aqui, querido, tenho cara de trocha? Acha que eu vou ouvir você me ofender e vou ficar quieta! (T) Vai apanhar, viadinho playboy!


Joaninha empurra Eduardo no chão, fazendo uma multidão gritar, comemorando. A mulher se senta em cima da barriga do apresentador e deferi vários tapas e murros. 

CENA 06/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/ RECEPÇÃO/ TARDE.

Todos se divertem ao som da música. Quando o elevador é acionado. Luiz Gustavo, usando terno caminha sobre a multidão e joga o aparelho sonoro no chão, fazendo com que todos o olhem. Luiz permanece enfurecido. 

Luiz: Posso saber o que está acontecendo por aqui?

O robô desliza sobre o chão e encara o rapaz. 

Luiz: Você está louco, Félix? Transforma a emissora em um piscinão de ramos?


Félix: Todos estão comemorando a ausência do Eduardo...

Luiz encara cada um, trêmulos, Ele estala os dedos, fazendo com que todos voltassem ao trabalho.

Luiz (preocupado): Ele não veio por qual motivo? Tiramos o Eduardo da calçada, fazemos um rombo nos cofres da TVV a cada mês e ele não vem? Alguma coisa está errada. 

Luiz caminha até Rosinha, que ajeita os objetos da recepção, ignorados durante a comemoração. 

Luiz: Trate de descobrir, onde está o Eduardo Amaral, Rosinha.


Rosinha: Sim, senhor. 

CENA 06/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/ CORREDORES/ TARDE.

Luiz caminha pelos os corredores, seguido por Félix.

Félix: Está preocupado com este garoto de programa?


Luiz: Claro, Félix! É nosso funcionário, como qualquer outro. 

CENA 07/ ÔNIBUS/ INTERIOR/ TARDE.

Uma multidão grita “EDUARDO, EDUARDO, EDUARDO”, diversas vezes seguidas. O entrevistador mantém o controle da briga e começa a esmurrar Joaninha Unha de Cana.

Eduardo (ofegante): O Brasil me ama, queridinha! Ta pensando o quê? 

Eduardo se levanta, deixando a mulher no chão exausta.

Eduardo (grita): Eu venci!

As pessoas vão para cima, abraça-lo, mas o mesmo recua. 

Eduardo: Sai, que eu ainda odeio pobre.


Motorista (em off – dirigindo): Meu Deus. Oh, não! 

PLANO GERAL DA AVENIDA: o ônibus, em uma ultrapassagem, perde o controle em meio da pista, indo contra um caminhão.

A imagem escurece num baque.


PRÓXIMA QUINTA:
"O DIA EM QUE A TVV PAROU"
SEASON FINALE - VAI PERDER?