EPISÓDIO 1x03
“RETALIATION”
PARTE 2
CENA 1 – MANSÃO AMARAL/ INTERIOR/ QUARTO/ DIA.
Fade in em uma xícara de capucino, bem quente, sobre uma bandeja preta. Yuri, segurando a bandeja, bate na porta e, em seguida, entra no quarto de Eduardo. Este, sentado na beirada da sua grande cama de casal, terminando de abotoar o blazer e falando ao celular.
Fade in em uma xícara de capucino, bem quente, sobre uma bandeja preta. Yuri, segurando a bandeja, bate na porta e, em seguida, entra no quarto de Eduardo. Este, sentado na beirada da sua grande cama de casal, terminando de abotoar o blazer e falando ao celular.
Eduardo: Pois é, Zih, amiga, querida! Eu bem que queria alguém pra dividir essa cama comigo.
Yuri se aproxima e oferece a bandeja.
Yuri: Soberano?
Eduardo: (ao telefone) Só um instante, querida. (olha, com ira, para Yuri) Fale.
Eduardo olha para a bandeja e pega a xícara.
Yuri: É que o motorista está reclamando da demora. E ele disse que não pode demorar muito, pois precisa levar o autor Márcio Gabriel e os atores para as gravações da novela dele.
Eduardo: É muita petulância! Por que não enfiam essa reca dentro de uma van, hein? Aff, não se faz mais serviçais como antigamente. Diga ao Idalécio, que espere mais um pouco. Ele bem que deveria saber que damas como eu demoram a se produzir. (se levanta da cama) E como você pode ver, Yuri, eu estou quase pronto. Vou terminar de contar os babados à minha amiga Zih e daqui a pouco eu desço o morro. Quer dizer, saio da mansão.
Yuri: Como quiser. (faz reverência)
Yuri sai. Eduardo volta ao celular, enquanto saboreia o café.
Eduardo: Então, amiga, como vão as coisas na WebTV? Pagam bem lá? Por que na TVV eu estou quase pedindo arrego...
CENA 2 – MANSÃO AMARAL/ EXTERIOR/ CALÇADA/ DIA.
A rua em frente à mansão de Eduardo Amaral está completamente deserta. Uma limusine preta está estacionada na calçada e um homem negro, careca e alto, vestindo um terno de motorista, está sentado no capô do veículo, falando ao telefone. Nota-se um forte sotaque em sua fala.
Motorista: Alô! Aqui é o Idalécio. Tô ligando pra avisar que eu vou me atrasar, pois a criatura que faz as entrevistas na emissora de vocês está (tom irônico) demorando para se produzir.
CAM alterna com a sombra de uma pessoa, que se aproxima de Idalécio lentamente, por trás.
CORTE DESCONTÍNUO. Um barulho de algo pesado se chocando pode ser escutado. Em seguida, uma barra de ferro cai ao lado do pneu do carro. Mais a frente, vê-se Idalécio, no chão, desacordado. A pessoa misteriosa surge no canto do vídeo e puxa Idalécio pelas pernas, distanciando seu corpo do carro.
CENA 3 – MANSÃO AMARAL / EXTERIOR/ JARDIM/ DIA.
Eduardo, já arrumado, caminha em direção ao portão de saída da mansão. Destaque para a grande piscina que há em seu jardim, assim como as diversas roseiras. Ele continua a falar ao telefone com Zih. Yuri vem logo atrás do patrão. Nota-se que suas pernas curtas não dão conta de acompanhar o DJ, que o faz apertar os passos.
Eduardo: Então, querida, aparece aqui em casa. Peço pro Yuri fazer um macarrão com salsichas para você. (ri; pausa) Tá ok, como você é minha amiga, eu vou abrir um Whiskas saché e colocar no pratinho. (pausa) Não se atrasa para a entrevista, em? Beijos! (desliga) Falsa...
Eles chegam ao portão.
Yuri: Tenha um bom trabalho, magnífico.
Eduardo: Naquela emissora? Ganhando a mixaria que eu ganho? Duvido muito. Mas obrigado mesmo assim, filhotinho. (aperta as bochechas do empregado)
CENA 4 – MANSÃO AMARAL/ EXTERIOR/ CALÇADA/ DIA.
A limusine continua estacionada na calçada da mansão, com a porta traseira aberta. O rádio do automóvel está ligado, tocando a mesma música da sonoplastia, num volume muito alto, o que impede Eduardo, que se aproxima, de se comunicar.
Do vidro escuro, mostra-se apenas uma sombra. Há alguém no banco do motorista. Eduardo bate no vidro e berra:
Eduardo: IDALÉCIO! DESLIGA ESSE RÁDIO!
Não há reação. Eduardo desiste e acaba por entrar na limusine. Fecha a porta. O motor é ligado e o veículo parte. Encerra-se, então, a sonoplastia.
Logo após a partida da limusine, um homem aparece, com uma cueca tipo samba-canção e uma regata branca. Na testa, um ferimento. Trata-se de Idalécio, que corre em direção ao veículo, tentando alcançá-lo.
Idalécio: (grita) Parem este carro! Socorro! Polícia! Socorro!
CENA 5 – RUAS DO RIO DE JANEIRO/ LIMUSINE/ INTERIOR/ DIA.
O barulho do rádio do carro continua. O interior da limusine é bem espaçoso, com poltronas acolchoadas. Há um frigobar, aberto, lotado de garrafas de champanhe, as quais Eduardo Amaral revira.
Eduardo: (olha o rótulo de uma das garrafas e a devolve ao frigobar) Eu pedi champanhe francês e eles me trazem essa porcaria espanhola.
Eduardo ouve a música que toca e faz careta. Ele bate no painel que separa a parte traseira da parte do motorista.
Eduardo: Alô, “Idaléciô”! Dá pra desligar a porcaria desse rádio? (bate novamente no painel). Idalécio! (escandaliza) IDALÉCIO!
Finalmente, a música para.
Eduardo: Agora dá pra abaixar esse painel? (suaviza a voz) Estava com saudades de você, Idalécio, meu garanhão... Se quiser passar mais tarde lá em casa... Agora abaixa o painel, vai?
Sem respostas. Edu fica irritado.
Eduardo: Hello! Dá pra me obedecer?
O painel começa a ser abaixado. Eduardo avista, sobre o volante, um homem de aproximadamente trinta anos, gordo, cabelos pretos, longos, amarrados, formando um rabo de cavalo. O homem vira o rosto para Eduardo e sorri. Falta-lhe um dos dentes.
Homem: Saudades de mim?
Edu observa o rosto do homem, mas balança a cabeça, alegando que não.
Homem: Sou eu, Cristiano, sua paixão de infância. Como vai, Eduardo?
Suspense.
Suspense.
CENA 6 – TV VIRTUAL/ PRESIDÊNCIA/ INTERIOR/ DIA.
Um rapaz moreno, de terno, cabelos escuros, estatura média, de aproximadamente vinte anos, entra na sala. Ela é bastante espaçosa, com vários painéis metalizados com diversos botões piscando em cores variadas. Há um grande telão em uma das paredes, enquanto nas outras paredes, diversos monitores.
O rapaz chega ao centro da sala e cruza os braços. De repente, outra porta, que mais parece uma passagem secreta, é aberta e dela surge um robô, que desliza pelo tapete da sala. O rapaz ruma até a poltrona e se senta. O robô fica parado.
Rapaz: (autoritário) Félix, posso saber o que você estava fazendo no esconderijo?
Félix: (voz robótica) Meu caro Luiz Gustavo, não te devo satisfações. Porém, como não sou de guardar segredos com os meus sócios, eu respondo: estava conferindo nossas barras de ouro. Este novo contratado que vocês tiraram do calçadão está praticamente desfalcando a nossa emissora. Quero retorno!
Luiz Gustavo: Eu entendo que a primeira temporada do programa do Eduardo Amaral flopou, mas não é pra tanto desespero. Veja a concorrência, tentando inovar com escritores analfabetos e novelas psicografadas! Félix, meu caro, continuamos na liderança!
Félix: Oitocentos mil está muito caro. Acho que deveríamos cortar o salário da criatura. Estamos tirando dos investimentos em efeitos especiais e investindo num entrevistador flopado! A crítica caiu em cima da explosão da Sheila em Faça Suas Apostas, você não viu? O autor veio reclamar ontem!
Luiz Gustavo: E sem razão, né, Félix? Quem mandou plagiar a novela da Globo? Saramandaia mandou lembranças. Não sei como deixaram passar um texto daqueles, mas, enfim, voltando ao assunto Eduardo Amaral: peço que aguarde a estreia da temporada nova do programa dele.
De repente, a cabeça do robô abaixa e ele para de funcionar. Uma fumaça sai de suas costas. Desesperado, Luiz Gustavo se levanta da poltrona e cutuca a máquina.
Luiz Gustavo: Félix... (cutuca) Félix... (desiste) pifou. De novo!
Luiz Gustavo dá um forte murro na lataria de Félix e ele volta a funcionar.
Félix: O que houve?
Luiz Gustavo: Te ressuscitei de novo!
Félix: Acho que estou ficando velho...
CENA 7 – TV VIRTUAL/ CORREDORES/ INTERIOR/ DIA.
Luiz Gustavo sai da sala da presidência e dá de cara com um garoto de aproximadamente dezenove anos de idade. Uma camiseta branca, escrito: “PRODUÇÃO” e um fone no ouvido.
Luiz Gustavo: O que houve?
Funcionário: Eduardo Amaral está atrasado de novo, pra variar!
Luiz Gustavo: (incrédulo) O QUÊ? COMO ASSIM?! Já são quase onze da manhã!
Funcionário: Pois é, eu já pedi pra Rosinha, a secretária, ligar pro celular dele, mas só dá desligado. No telefone da mansão, ninguém tá atendendo. Eu to achando que ele não vem hoje, hein... A gente precisa dele pra gravar, Sr. Luiz! A convidada já chegou e está esperando no camarim.
Luiz deixa o produtor sozinho e anda em passos rápidos até o camarim.
CENA 8 – TV VIRTUAL/ CAMARIM/ INTERIOR/ DIA.
O camarim, luxuoso, está lotado com itens do desjejum, como frutas, sucos, pães finos e croissants. Zih, loira e magra, vestida em um vestido preto chique, se maquia na frente do espelho e tecla ao celular ao mesmo tempo. Alguém bate na porta.
Zih: (guardando o celular) Entre!
Luiz Gustavo: Oi, Zih! Vim avisar que o Edu vai se atrasar.
Zih: Aff, pra variar, né? Olha, eu não tenho o dia todo livre hoje, viu?
O celular de Zih vibra e ela o pega. Ao ler a mensagem, exibe uma cara de espanto.
Luiz Gustavo: Que foi?
Zih: O Idalécio, motorista de vocês, acabou de me mandar uma mensagem.
Luiz Gustavo: Que mensagem? (p) Pera aí, por que você tem o contato do motorista?
Zih: (nervosa) Vai querer saber qual é a mensagem ou não?
Luiz Gustavo: Desembucha logo, ué!
Zih: (histérica) O EDU FOI SEQUESTRADO!
CENA 9 – GALPÃO ABANDONADO/ INTERIOR/ DIA.
O ambiente é escuro, mas é possível notar Eduardo Amaral amarrado numa cadeira de madeira, enquanto Cristiano o observa.
Eduardo: (histérico) Me solta!!! ME SOLTA!!!
Cristiano: (se aproxima de Edu e segura seu queixo) Não era isso o que você queria? Eu estou aqui, Dudu, em carne e osso, apenas pra você.
Eduardo: (cara de nojo) Em carne e osso? Só se for em carne e banha! Menino... Academia não tá caro não.
Cristiano: Então quer dizer que você só gostava de mim porque eu era bonitão, não é? (autoritário) Pois saiba que você me terá assim, gordo e feio, querendo ou não!
Eduardo: Vai me estuprar? (começa a rir)
Cristiano solta Eduardo e o olha com interrogação.
Cristiano: Que foi?
Eduardo: Menino, minha gruta tá mais aberta que a da Gretchen fazendo baliza em fanfarra. E olha, você nunca terá o meu corpinho sedutor. Sabe por quê? Por que você, querido, é um fracassado. Se naquele tempo eu era um excluído e deixei você me humilhar, hoje as coisas se inverteram.
Cristiano: Só que debaixo da terra, infelizmente, as pessoas ficam do mesmo jeito.
Cristiano saca seu revólver e aponta para a testa de Edu.
Eduardo: (disfarçando o medo) Queri/ querido... Ninguém... Ninguém é mais poderoso do que Deus e eu! Não sou covarde, já to pronta pro combate!
Cristiano puxa o gatilho.
Cristiano: Dudu, se você não for meu, não vai ser demais ninguém. (ri; psicótico) Vai ter que cantar beijinho no ombro lá no inferno.
Eduardo engole a seco enquanto Cristiano pressiona a arma sobre a sua testa.
CENA 10 – GALPÃO ABANDONADO/ EXTERIOR/ DIA.
Um carro da polícia, em alta velocidade, é estacionado em frente ao galpão. Dele, saem três policiais loiros e fardados de azul. Logo atrás, outro carro também é estacionado. Dele, saem Luiz Gustavo, Zih e Idalécio.
Idalécio: Pelo que foi passado no rastreamento da limusine, é pro Edu estar aqui.
Zih: Espero que o meu amigo esteja bem. Mas eu não vou entrar no galpão... Vai que foi um maníaco que levou o Edu só para esquarteja-lo?
Luiz Gustavo: Menina, vira essa boca pra lá! Se o Edu morrer, a TVV vai precisar pagar uma indenização milionária pra família dele lá na Bahia. Aí a gente fecha as portas mesmo...
Idalécio: Vocês preocupados com o dinheiro e eu preocupado com o Edu. Como será que ele está?
Os três observam os policias arrombarem a porta de madeira do galpão.
CENA 11 – GALPÃO ABANDONADO/ INTERIOR/ DIA.
Os policias derrubam a porta do galpão com chutes e finalmente entram. Cristiano, surpreendido, agarra Eduardo pelo pescoço. Os policias, armados, apontam suas armas para Cristiano, que mantém Edu como refém.
Eduardo: Que policias gatos! Vieram me salvar? Viu, Cristiano, como não existe ninguém mais poderoso no mundo do que Deus e eu? (gargalha)
Policial #1: Largue a arma e poderemos negociar!
Cristiano: Eduardo Amaral só sai daqui morto!
Eduardo: Pode sair do seu esconderijo, Sílvio Santos! Eu sei que é uma câmera escondida... E me solta Cristiano, tá doendo o meu pescoço!
Cristiano pressiona seu pescoço com mais força.
Cristiano: Te solto uma ova!
Eduardo: Ovo?
Eduardo, com sua mão direita, agarra a genitália de Cristiano e puxa para baixo, o que deixa o bandido urrando de dor. Caído no chão, Cristiano se retorce e deixa Eduardo livre para correr para os outros dois policias, enquanto o primeiro algema o sequestrador.
Eduardo: Era isso o que eu fazia lá no Portal Cuequinha quando não pagavam meu salário em dia. E eu vou aproveitar e fazer isso no Luiz Gustavo também. Mas agora... (Eduardo observa os dois policiais e passa a mão nos peitorais dos dois) Eu estou meio tonto e não consigo andar.
Edu finge um desmaio e antes de cair no chão, os policiais o apartam.
CENA 12 – GALPÃO ABANDONADO/ EXTERIOR/ DIA.
Um dos policiais sai do galpão com Cristiano, algemado. O bandido é colocado dentro da viatura. Segundos depois, Eduardo sai, sendo carregado pelos outros dois policiais. O entrevistador solta beijinhos para Luiz Gustavo, Idalécio e Zih, que observam tudo perto dali.
Eduardo: Eu acho que estou no paraíso! Não me coloquem no chão, meninos! Não sinto minhas pernas. Socorroney! Acho que estou me sentindo a Britney em “Criminal”.
Eduardo começa a cantarolar a música de Britney Spears.
LEGENDA: FIM DO EPISÓDIO.
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Uma série de Eduardo Amaral Luiz Gustavo Márcio Gabriel Episódio escrito por Luiz Gustavo Márcio Gabriel Revisão de texto Félix Crítica COPYRIGHT © TVV VIRTUAL 2014 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. |