EPISÓDIO 1x04
"O Contrato"
FADE IN.
O relógio na parede apresenta o horário exato, 03h35min da manhã. Uma pessoa
entra, quase caindo, no hall de entrada da mansão, escura. Bate a porta, não a
tranca, e, segurando uma garrafa de pinga baiana, continua a perambular. Eis
que o homem aperta o interruptor e as luzes de todo o hall se acendem: trata-se
de Eduardo.
Eduardo
se levanta rapidamente e se põe frente a Yuri.
Yuri: Minha diva batedora de cabelos
pensei que estava em coma, ou algo parecido, assim como as princesinhas da
Disney...
Eduardo:
Meu príncipe tem nome, codinome e camisinha tamanho 30 centímetros, lá no
quarto.
Yuri: Peço perdão, majestade!
Eduardo: Perdoado. Agora, me traga um
bom café preto.
Yuri faz que sim com a cabeça, no entanto, permanece parado.
Yuri: Mas antes, deusa do amor! Precisamos
conversar a respeito de uma carta, do RH da emissora.
Eduardo se dirige a SALA, subdivisão do hall de entrada, e se senta na primeira
poltrona que vê. Se acomoda e, estalando os dedos, encara Yuri.
Eduardo: Desengata, carretel.
Yuri: Segundo o envelope, o salário
está marcando míseros 800 mil dólares.
Eduardo: (Pasmo) Como assim?
Eduardo levanta, furioso, e lança uma escultura caríssima, próximo a poltrona, na
parede.
Yuri: Cleópatra brasileira, a senhora não deve fazer isso, mas conversar
com os administradores da TVV.
Eduardo encara o garoto.
Eduardo: É hoje que faço o Luiz
Gustavo, engolir cada perfume vagabundo que forma a audiência daquela série
pornográfica.
Yuri: Que sinal, eu adoro. Disseram
que vai ter uma continuação!
Eduardo: Você vai virar um pano de
chão, se não calar essa boca.
Yuri: Estou de saída divindade, fazer
o café da manhã.
Eduardo: Não precisa, avise ao
Idalécio que prepare a limusine.
Eduardo encara a CAM, furioso.
Eduardo encara a CAM, furioso.
CENA 03/ MANSÃO AMARAL/ INTERIOR/
COZINHA/ MANHÃ.
Idalécio
entra na cozinha, trajando apenas um short e um chinelinho havaianas vermelho. Yuri
entra no cômodo.
Yuri: Idalécio, a rainha do amor,
mandou você preparar o carro.
Idalécio: E para onde o Sr. Eduardo
irá?
Yuri: Para a TV Virtual, resolver
alguns probleminhas contratuais, então, se arrume e coloque uma roupa decente. Aliás,
você é apenas um porteiro.
Idalécio: Porteiro não, motorista!
Yuri: Pau para toda a obra, ou pensa
que não sei?
Idalécio: Do que está falando?
Yuri: Divina Isis te tirou da Angola
apenas para se aproveitar da sua anaconda por todas as noites. (P; Sorri) Eu
sei de tudo, querido.
Idalécio não dá muita bola para as palavras do garoto e caminha em direção à
saída da cozinha.
Yuri: (Alto) Nesse mato tem coelho
misturado com linguiça. Haja psicose, pra tanta surra de vara!
CENA 04/ MANSÃO AMARAL/ EXTERIOR/
MANHÃ.
CAM na bolsa transversal de Eduardo, que segura uma taça de ouro, a qual
contém espumante.
Idalécio: Vestida para matar, em, Sr. Eduardo?!
O homem negro abre a porta do automóvel, mas o proprietário o encara.
Eduardo: Agora, assassino o Luiz
Gustavo na TVV, mas depois, no motel, te mato de prazer.
Idalécio bate na bunda de Eduardo.
Idalécio: A criancinha não irá junto
para a reunião?
Eduardo: O Yuri tem que cuidar da
faxina. Por isso é taxado de diarista, né?
Eduardo entra na limusine, com dificuldade por causa do vestido longo.
Eduardo: Hoje é o dia do seu
sepultamento Luiz Gustavo feat Glades Félix.
CENA 05/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/
CORREDORES/ TARDE.
A secretária mexe no computador com uma caneta próxima a boca, quando o
elevador é aberto. Ela se levanta, para cumprimentar o homem à frente, Eduardo
Amaral, que se recusa a tocar em suas mãos.
Eduardo: Passou álcool em gel e tomou banho de cândida hoje, Rosinha
Manfrine?
A secretaria se acomoda novamente, na poltrona de couro. Atrás, na parede, a
logomarca da empresa.
Rosinha: O que o senhor deseja?
Eduardo: Conversar com o Luiz
Gustavo, baby.
Rosinha: O vice-presidente está
ocupado neste momento.
Eduardo: Aquele miserável irá de me
receber, por bem ou por mal.
CENA 06/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/
CORREDORES/ TARDE.
Eduardo caminha pelos os longos corredores, faz algumas curvas e chega à porta,
contendo um nome: Luiz Gustavo. Eduardo entra na SALA, de tamanho considerável
e objetos decorativos para todos os lados. Luiz Gustavo, acomodado na poltrona,
mexendo no computador, se levanta para recebê-lo.
Eduardo: Onde está os meus três milhões de dólares?
Luiz: Em primeiro lugar, muito boa
tarde Senhor Eduardo. Em segundo, você recebe em reais. E, em terceiro, comprem
Applause no Itunes.
Luiz dá uma risada sarcástica.
Eduardo: Acha mesmo que irei de
continuar aqui, nessa emissora?
Luiz: Acho sim, afinal, temos um
contrato assinado.
Eduardo: (Esbraveja) De três milhões
de reais mensais!
Luiz: 3 milhões foram apenas para
construir aquele estúdio ridículo... Incluindo o preço daquela água importada.
Eduardo: A água mais pura do mundo, dos vulcões.
Luiz: Um cavalo de guerra, para ficar ao seu lado no camarim, incluindo uma banda de rock inglesa, para alegrar a plateia.
Eduardo: A água mais pura do mundo, dos vulcões.
Luiz: Um cavalo de guerra, para ficar ao seu lado no camarim, incluindo uma banda de rock inglesa, para alegrar a plateia.
Eduardo: Entretenimento em primeiro
lugar.
Luiz: 800 mil foram o que sobrou de
tudo. É pegar ou largar. Como diria o Luciano Hulk: é agora ou nunca.
Eduardo, enfurecido, encara o empresário. Caminhando em passos firmes, como se
quisesse quebrar o chão, se dirige até a porta e a tranca por dentro. Em Eduardo.
CENA 07/ EMISSORA TVV/ INTERIOR/
PRESIDÊNCIA/ TARDE.
Uma grande cortina é aberta, dando vista a uma bela paisagem do Rio de Janeiro.
Uma mulher branca, baixinha e de cabelos escuros, limpa todo o cômodo
grandioso, coloca cada objeto em devido lugar, mesas, cadeiras e liga um
pequeno robô, em cima da mesa.
Mulher: Está tudo limpo, Félix.
O robô, com uma voz rouca, responde.:
Félix: Agradecido, Marcelina.
Marcelina (pretensiosa): Ainda sonho
em conhecer o homem por trás dessa maquina. O senhor deve ser tão lindo quanto
o raio de sol, que ilumina o amanhã.
A porta é batida diversas vezes, de forma bruta.
Eduardo: (em off – fora da sala) Abre essa porta, Félix, antes que eu te transforme em campainha de centro de
idosos.
Félix: Não abra essa porta nem se
passarmos pela a era dos mortos.
A porta cai no chão e Eduardo surge do outro lado, elevando as mãos na cintura.
Eduardo: Faço a Beyoncé em Crazy In
Love, meu bem.
Eduardo entra na sala, desfilando e encara a mulher, assustada, ao lado do
robô.
Eduardo: Sai daqui, projeto desfeito
de Sheila, volta para o seu chiqueiro.
Marcelina se retira correndo e assustada.
Félix: O que aconteceu contigo?
Eduardo: Pergunta isso? Viu a cor de
meu salário?
Eduardo segura o robô nas mãos.
Eduardo: Sei muito bem onde você
mora, Glades Félix! Te destruo apenas com o soar de meu silicone.
Félix: Caso não deseja, encontre
outra emissora para pegar a recisão!
Marcelina reaparece, com quatro seguranças fortões.
Marcelina: (Ordena) Tirem-no daqui!
Eduardo
reage, olha para os seguranças e se joga no colo deles.
Eduardo: Me levem pelo o colo, me
segurem, me amarrem e me taquem na parede!
Os seguranças puxam o entrevistador.
Eduardo: Podem abusar à vontade.
CENA 08/ EMISSORA TVV/ EXTERIOR/
TARDE.
Eduardo desce as longas escadarias da saída da emissora segurando a bolsa em
mãos. Uma pessoa o incomoda no meio do caminho.
Eduardo: Ah... William Araujo. Já
amanheceu ou ainda está no ainda? Vaza William, corre de volta para o Acre, que
estou sem paciência para gente estrangeira.
William: Quero dizer que sou muito
fã do senhor, minha família toda gosta dos seus programas de entrevistas, minha
avó, meu pai, meus irmãos, as capivaras...
Eduardo: A boiada, periquito,
papagaio, os cardumes de peixe. Alias, você mora interligado com a África, né? (Ri)
Manda um beijo para os figurantes de Psicose.
Eduardo se retira, entrando na limusine, estacionada ao fim das escadas, com o
auxilio de Idalécio. William permanece parado e olha para a câmera.
William: (Lamenta) Só queria um
autografo.
CENA 09/ BELAS HISTÓRIAS/ INTERIOR/ PRESIDÊNCIA/
TARDE.
Uma mulher loira de olhos azuis, vestindo uma roupa casual preta, coloca as
mãos sobre o mouse, olha para Eduardo Amaral, a sua frente, sentado numa
cadeira, atrás da mesa da mulher, que porta uma expressão duvidosa. A sala está
completamente arrumada. Quadros na parede, algumas fotos espalhadas na mesa e
prêmios na instante.
Mulher: Seria um bom negócio para o
BH, Eduardo?
Eduardo: Claro, Barbara, só gastaria
10 milhões de indenização pra TV Virtual, mas o restante é bobagem.
Barbara tosse algumas vezes, pega um copo de cristal e o enche de água da
jarra.
Barbara: (abismada) 10 milhões?
Bebe
a água.
Eduardo: Nada para uma emissora de
alto porte como o Belas Histórias, não é lindinha?
Barbara: Infelizmente, temos que
conter algumas despesas, por causa de alguns problemas com a publicidade.
Eduardo: Já devia saber.
Eduardo levanta da cadeira.
Eduardo: Tá assim por causa do flop
de Taylor? Então, querida, beijinhos, beijinhos e tchau, tchau.
CENA 10/BELAS HISTÓRIAS/ INTERIOR/ CORREDORES/
TARDE.
O celular de Eduardo toca na bolsa, o entrevistador retira e atende.
Eduardo: Fale Yuri, a casa está pegando
fogo?
Yuri (em off): Minha linda santa,
pense bem nas suas atitudes, por favor! Os jornais de fofocas, só falam a seu
respeito.
Eduardo: Falam mentiras, não vou
sair da TVV.
Yuri: Irá aceitar os 800 mil?
Eduardo: Só pelo o primeiro mês,
baby, depois retorna aos 3 milhões de dólares.
Yuri: Reais.
Eduardo:
Tanto faz, queridinho, o que importa é que eu continuo sendo a Oprah Winfrey
brasileira.
Eduardo desliga o aparelho e continua a andar, em direção à saída.
CENA 11/BELAS HISTÓRIAS/ EXTERIOR/ TARDE.
Eduardo entra na limusine, segura a taça e, em seguida, o enche com o espumante
da marca cidra. O automóvel começa a andar, mas para, antes mesmo de sair da fachada
emissora, estressando o entrevistador, que desce do veículo. Logo à frente, um
fusca azul bebê, está enguiçado.
Eduardo: Quem será, nesse
fusquinha de merda?
Um homem loiro desce do fusca e grita, se aproximando de Eduardo:
Homem: Eduardo! Meu Deus! Sou seu
fã! Meu nome é Leonardo de Castro, quero ser entrevistado.
Eduardo: Você é mais de 130 milhões
de brasileiros, né?
Ele
acaricia as mãos do entrevistador, que se afasta, com nojo.
Leonardo: Te amo, diva!
Eduardo regressa para o carro, abre a janela e grita:
Eduardo: Acelera Idalécio, passa por cima se possível, mas não quero me
misturar com essa (Tom) gentinha.
Eduardo olha para a câmera e levanta a taça.
Eduardo: Faço a Avril e fico longe dos
fãs, afinal, não quero me contaminar com o ar de pobre.
FADE TO BLACK.
Uma série de
Eduardo Amaral
Luiz Gustavo
Márcio Gabriel
Episódio escrito por
Luiz Gustavo
Márcio Gabriel
Revisão de texto
Félix Crítica
COPYRIGHT 2014
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS