PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO
O
fato de Valeska ter nos abandonado por causa de um cara me estressava um pouco
ainda. Pensando por outro lado, ela fez quase do mesmo jeitinho que Lara fizera
com o nojentão do Douglas.
Pensei
em não estar levando aquele pacto que as meninas e eu fizemos na infância muito
a sério. E já que ninguém mais se importava com isso, eu decidi, naquele dia,
acabar com ele.
Márcio
QI me falou sobre um muro, segundo ele maldito, que permitia que pulássemos
para dentro do quintal da casa da Lara. Era lá onde estava enterrada a caixinha
de fósforos onde colocamos o papel com as gotinhas do nosso sangue.
O
pacto seria desfeito naquele dia.
—
Márcio, fica de quatro. — ordenei. Ele se espantou. Estávamos frente ao tal
muro do quintal da casa dos Pacheco.
—
Oi? Peraí, Gabi. Você maltrata muito os seus amigos, sabia?
—
E você anda com a mente muito suja pro meu gosto, QI. — retruquei. — Quero que
você fique de quatro para que eu possa subir no muro, entendeu?
Ainda
pestanejando, Márcio QI ficou de quatro e eu subi nas costas dele. Comecei a
analisar por onde eu subiria.
—
Se quiser, Gabi, já pode começar a escalar o muro.
Percebi
que o meu querido amigo estava sofrendo e reclamando, então decidi ficar mais
um tempinho em cima dele só de mau. Depois comecei a subir. Quando cheguei no
topo do muro, percebi que os meus joelhos estavam em carne viva, ralados por
causa da aspereza da parede.
—
Agora sobe, QI! — gritei.
—
Sem ninguém pra me dar “pezinho” vai ser difícil.
—
Você é um cavalheiro. Tem que ajudar as damas. — brinquei, enquanto eu
gargalhava com o coitado tentando subir — Faz o seguinte: finge que a Lara tá
aqui no quintal. Te vejo já, já!
Após
dizer isso, pulei para dentro da casa e caí na areia fofa do quintal.
***
Aquele quintal me trazia algumas
lembranças boas da minha infância. Normalmente, aos fins de semana, Lara,
Valeska e eu nos reuníamos ali para brincar de bonecas e trocar confidências
até anoitecer. O tempo parecia passar tão rápido!
Eu suei pelos olhos. Chorar não era
uma coisa típica minha, mas aquela árvore do quintal, a qual sempre brincávamos
embaixo dela, me causava uma sensação estranha. Parecia que meu peito encolhia
e apertava meu coração.
Observei o local onde enterramos a
caixinha com o nosso sangue. Com as mãos mesmo, comecei a retirar a areia do
chão e cavar. Não era um buraco muito profundo. Tão logo vi que a caixinha de
fósforos ainda estava lá, quase dez anos depois, um pouco destruída talvez por
causa de chuvas, que deixavam a terra molhada, e obviamente por causa do tempo.
Retirei um isqueiro de dentro do meu
bolso e acendi uma fagulha na caixinha de fósforos. A chama a consumiu, assim
como consumiu o papel com as nossas gotinhas de sangue.
O pacto havia acabado.
Ouvi um baque muito forte e muito
alto, vindo atrás de mim. Olhei para trás: Márcio QI acabara de cair lá de cima
do muro. Levantou-se instintivamente e tirou a areia de suas roupas, espalmando
todo o corpo.
— A gente já pode ir. — falei.
Márcio ficou “P” da vida.
— Como assim?! — exclamou. — Eu
demoro um ano pra subir nessa porra de muro e quando eu finalmente pulo pra
dentro do quintal você diz que a gente já pode ir? Isso é uma falta de respeito!!!
— QI, querido. Calma, você está
muito estressado. Tive uma ideia: vamos entrar dentro da casa.
— Impossível. A gordona da Sheila
sempre deixa o cadeado do portão fechado.
— Tenho os meus truques. — retirei
um grampo do meu cabelo. Sim, eu uso.
Aproximei-me do portão da casa, cuja
dava acesso a cozinha e os outros aposentos e peguei o cadeado. Cinco minutos
depois nós estávamos dentro do casarão.
— Você sabe que o que a gente tá
fazendo é crime, né, Gabi?
— Márcio QI, seja homem! Tá se tremendo
todo. Não vai dar uma de Lucas de Um Conto Sobre
Estrume e se mijar aqui, né?
— Eu... eeu... ér...
Ouvimos um som. Parecia ser um móvel
rangendo. Que medo! Mas eu queria parecer superior ao QI, pelo menos no quesito
coragem. Então eu não demonstrei qualquer temor.
— Será que tem alguém morando aqui
ainda?
— Acho que sim, Gabi. — cochichou
Márcio QI.
— A gente pode procurar por alguma
coisa que possa inocentar a Valeska e colocar a Senhorita Rolha de Poço na
cadeia.
Nós não sabíamos o que procurar.
Além de estarmos correndo um grande perigo, já que sabíamos do que Sheila era
capaz.
— Gabriela, vamos voltar? — sugeriu
o nerd. — da última vez que estivemos aqui, nos deparamos com uma cena nada
agradável: furnicação com tentativa de assassinato.
Pelo ranger, acho que Sheila estava
fornicando mesmo com alguém. Mas se não era com o Sr. Giuseppe, que Deus o
tenha, quem era o louco de ir pra cama com aquela tonelada de mulher?
Ah, mas eu queria saber! Corri as
escadas e cheguei perto da porta do quarto. Márcio QI, sem escolhas, me seguiu.
Os rangidos vinham mesmo do quarto,
mas cessaram.
Olhei pela brecha da porta: Sheila
estava deitada na cama, com um cara. Jovem, moreno e alto. Um pouco familiar
até. Encolhi-me, certificando-me que eu não seria vista pelo casal.
— Gabi, eles estão fornicando. Se
você quiser ver pornô eu te indico um site, não precisa ficar aqui vendo esse
circo dos horrores.
— Cala a boca, QI, seu nojento! —
cochichei novamente e acertei um tabefe leve por trás do seu pescoço. — Acho
que é amante dela. E claro que esse cara está com ela por causa do dinheiro.
Qual é o tipo de cara que se atrai por uma pessoa como ela?
Eu estava com recalque porque até a
Sheila tinha namorado e eu não.
— Acho que o amor é mesmo cego. —
disse Márcio QI, quando viu a cena. Eles estavam cobertos com um lençol branco
encardido, deitados em cima da cama.
Sheila se levantou e vestiu um
roupão. Começou a conversar com o amante:
—
João Paixão, meu querido, está pronto para começar uma nova vida, ao lado da
mulher que você ama?
João Paixão? Será que era aquele que
nós estávamos pensando? O que interessava era que o cara olhou para Sheila e
ela o encarou, exigindo uma resposta.
—
Claro, meu amorzão! Uma mulher como você a gente não encontra em qualquer
esquina. — ele falou, obviamente mentindo, com asco na voz.
Puxei meu celular do bolso e comecei
a filmar. Também comecei a rezar para que ela confessasse os seus podres.
Sheila tirou o roupão, exibindo uma
vista horrenda do seu corpo borrachudo. Olhava-se no espelho e dava vários
beijinhos no ombro. Arrumava o cabelo e retocava o batom. O grande sutiã que
sustentava os seus seios parecia que iria arrebentar. A calcinha parecia uma
capa de cobrir sofá.
—
Tem razão, meu preto. Eu sou uma diva, viúva ... linda — soltou mais beijinhos
no ombro — e os homens caem aos meus pés. E o melhor de tudo, agora que eu
peguei a herança e vendi a casa, eu sou riquíssima. Poderosa!
—
Amor, você é a dona do mundo! — gargalhou João Paixão. — se eu fosse você, pediria escolta. Aliás, eu
mesmo serei sua escolta pra sempre.
Sheila se deitou ao lado do amante e
lhe cobriu de beijos. Babou o coitado.
— Que declaração de amor! Eu te devo muito, Joãozinho — afagou os
cabelos dele — se não fosse por você, eu
não teria matado aquele velho e ficado com todo o dinheiro dele. Eu comprei
nossas passagens e iremos para Paris hoje à noite. Eu sempre quis conhecer a
Inglaterra!
— Que burra. Isso é o que dá não
terminar o ensino fundamental. — Márcio QI não pôde deixar passar.
— Pobres que enricam da noite para o
dia... agora cala a boca. Ela já confessou muita coisa e tá tudo filmadinho
aqui. — voltei a atenção para a conversa dos pombinhos.
— Eu sempre me admiro com o nosso golpe de sorte. Não foi um golpe, foi
uma pancada, aliás. — João Paixão acendeu um cigarro e deu uma tragada — Aquela Valeska é muito burra hein?
— Uma imbecil. — concordou Sheila — ela estava no lugar certo e na hora certa. Queria salvar o Giuseppe,
aquela magrela... Acabou que o velho morreu de todo jeito e quem levou a culpa
foi ela.
A casa caiu para Sheila.
— Eu já deixei a Clarinha na
casa do meu irmão. Ele disse que ficaria com ela enquanto vamos para a nossa
lua-de-mel. Pelo menos eu me livro daquela peste de filha. Só que ele nem
imagina que eu nunca mais vou pegá-la. — gargalhou.
Puxei Márcio QI pela gola da camisa
avisando para sairmos dali e fiz com que ele me ajudasse a pular o muro de
volta. Pegamos um ônibus e partimos para a delegacia mais próxima.
☺
PALAVRAS DE VALESKA SOARES
Consegui
um celular para ligar para Gabi e Márcio e manter contato com eles, mas nenhum
dos dois atendia.
Bom,
depois do barraco em frente ao prédio e dos mimimis do técnico do Eriberto
sobre o fato de nós devermos nos comportar como homens, cada um foi para a sua
suíte. Piter saiu com o rabinho entre as pernas enquanto Isaac e eu sambamos na
cara dele.
A minha suíte era
ótima: geladeira cheia, TV a cabo, uma cama de casal gigante, um banheiro maior
ainda... Eu estava no paraíso! Ser Gustavo realmente estava me proporcionando
um mundo de oportunidades.
Recebi
um chamado da recepção do hotel: o técnico Eriberto queria falar comigo. Saí da
suíte e fui para o hall do elevador.
Estava demorando pra caramba.
Fui
para as escadas. Comecei a descer quando percebi que havia alguém me seguindo.
Seria
Piter em busca de uma retaliação?
Eu
estava com medo, descendo as escadas o mais depressa possível. Não havia mais
ninguém nos corredores do hotel àquela hora da noite Quanto mais rápido eu
corria mais os passos que vinham atrás de mim aumentavam.
Eu
estava perdida e não tinha Isaac para me defender naquele momento.
Acabei
tropeçando nos degraus da escada do quinto andar e saí rolando até chegar no
final. Eu sofro.
Levantei-me.
Olhei para trás. Piter estava lá. Ele me deu um empurrão e eu me choquei contra
a parede. Seus olhos estavam muito vermelhos. E os meus exalavam temor.
Pensei
que se contasse que eu sou mulher ele me deixaria viver.
—
Piter, não me bate! Por favor! Eu tenho uma coisa para te contar. — implorei.
NOVELA ESCRITA POR MÁRCIO GABRIEL
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
COPYRIGHT© TVV VIRTUAL 2014, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE
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