PALAVRAS DE VALESKA SOARES
Ficaram todos olhando para
mim, esperando que eu tirasse a camisa e mostrasse o “físico”.
— Vambora, rapaz, que eu não
tenho tempo pra ficar esperando não. — ordenou o técnico Eriberto, em um tom autoritário.
— Esse aí mal chegou e já tá
colocando banca! Haha! — debochou Piter, fazendo pouco da minha cara — Cara,
pra tu poder mandar aqui, vai ter que comer muito feijão.
— E você, manda em quê aqui?
Em final de campeonato, cai mais que a minha internet! — revidei. Os outros
jogadores foram ao delírio, vaiando Piter, que se achava o melhor jogador do
time.
— Qualé, mano? Quer pegar
moralzinho pra cima de mim, é? Olha que tu sai daqui todo roxo, ô, Gustavo! —
falou ele, estufando o peito e me encarando.
Estava amedrontada e esperando
que o técnico acabasse com a discussão. Porém, eu estava gostando de ser um
moleque brigão. Sempre adorei barracos, aliás.
— Vamos parar com isso já!
Gustavo, tira a camisa e pronto, pô. Para de ficar fazendo hora. — falou o
técnico.
— Er... Sr. Eriberto, sabe o
que é? É que eu tô meio gripado e eu sou meio sensível...
Todos os jogadores ficaram me
olhando com um olhar torto e dizendo “Huuummmmm, sensível...”, “Essa Coca é
Fanta” e outras coisas do tipo. Porém, alguém se meteu na conversa e reforçou
meu argumento (coloca um emoticon de apaixonado aqui, please).
— Sr. Eriberto, deixe que eu
jogue no time sem camisa então. — intrometeu-se Isaac, meu príncipe, sempre me
salvando.
— OK. — concordou, sem
pestanejar. Para Eriberto, tempo era dinheiro.
Isaac tirou a camisa e eu
fiquei sem ar. OK. Eu tinha que me controlar se quisesse continuar ali,
quietinha, naquele time, ao lado dele. Eriberto apitou e eu acordei do meu
transe. A bola começou a rolar no meio do campo, até chegar aos meus pés. Olhei
para os dois lados: vinham jogadores de todas as direções, provavelmente para
tomar a bola dos meus pés.
“Pra que lado eu faço gol?”,
pensei, quando instintivamente eu chutei a redonda e ela foi parar dentro da
trave, como se fosse uma macumba infeliz. Infeliz porque todos comemoraram e me
levantaram.
Isaac me abraçou, comemorando.
Aqueles abraços falsos de garotos eu nem são amigos direito. Confesso que
fiquei um pouco com nojo porque ele estava encharcado de suor. Bom, já Piter,
ficou com ódio, pois estava perdendo o pódio de melhor jogador do RFC para mim.
Queria só ver a cara dele
quando soubesse que era uma garota, o tempo todo.
Mas ninguém poderia saber, ou
eu estaria definitivamente lascada.
☺
PALAVRAS DE LARA PACHECO
Eu não sabia se ali era um
convento ou um quartel general. Tinha hora para tudo: dormir, comer, tomar
banho e principalmente orar.
Aquele não era um convento
muito comum. Parecia ter sido congelado no tempo, mais precisamente há uns cem
anos, no mínimo. Irmã Mariah, a madre superiora, era uma velha carrancuda e
muito antipática, parecia estar ali por obrigação, assim como eu estava e como
a maioria das moças também pareciam. Poucas queriam realmente ser freiras:
algumas por decepções amorosas, outras por acreditarem ser tão feias a ponto de
não quererem mais viver a vida como uma jovem normal. Essas últimas achavam que
a vida girava em torno de relacionamentos; já as primeiras, tinham bem a ver
comigo, pois eu também sofri uma decepção amorosa muito grande.
Dentro do convento havia uma
escola de ensino médio, para as moças que ainda não haviam terminado os
estudos. Eu me perguntava: “pra quê estudar, se o meu destino é ficar
trancafiada aqui para sempre?” Mas enfim. As aulas eram sempre pela manhã, após
a missa das seis e meia. Era uma rotina muito repetitiva, o que me cansava.
Eu conheci a Irmã Carolina nos
corredores da escola. Ela trabalhava na secretaria, organizando papéis, essas
coisas. Era uma das que mais tinham acesso e liberdade dentro daquele convento.
Irmã Carolina tinha por volta
de 27 anos, olhos bem azuis, e acho que cabelos bem pretos (não dava pra ver
por causa da roupa). Tinha um olhar triste, como muitas ali. Eu fiquei amiga
dela quando desmaiei em plena sala de aula e ela concordou que me levassem a
enfermaria.
— Você faz uso de algum
remédio e não tem acesso a ele aqui? — perguntou a enfermeira, enquanto Irmã
Carolina observava da porta.
— Não. — respondi.
— Diabetes?
— Não.
— Problemas cardíacos?
— Não... Que eu saiba.
A enfermeira notou que eu
estava muito pálida e suspeitou que fosse anemia ou algo do tipo. Retirou um
pouco de sangue e pediu que eu ficasse em repouso na própria enfermaria por
algumas horas. Graças a Deus eu não vou precisar voltar para aquele quartel,
pensei.
Ouvi algumas crianças
chorarem, fiquei um pouco acuada com aquele chororô todo. Irmã Carolina
percebeu.
— Esses choros vêm do berçário
— disse a freira.
— Ah... São órfãos?
— Sim. Muitas mães abandonam
seus filhos recém-nascidos aqui na porta do convento. Porém, outras mães, que
por um motivo ou outro, não conseguem engravidar ou querem ter mais um filho,
visitam nossa casa e acabam adotando-os. É um gesto lindo. Creio que pra cada
pessoa ruim no mundo, existe um anjo. — sorriu.
OK. Aquele convento ficou
congelado no tempo mesmo. Todo mundo sabe que existe um monte de burocracias e
coisas judiciais na hora de adotar uma criança, ainda mais abandonada. Eu não
manjo muito de direito, mas pelo que eu sabia, não era daquele jeito que
funcionava.
Decidi ficar quieta na minha.
Horas depois, a enfermeira me
liberou. Perguntei pelo exame de sangue e ela só me disse para que não fizesse
muito esforço e que tentasse manter uma alimentação saudável. A sopa do
convento mais parecia água coada na meia calça da Sheila.
— Dentro de 24 horas sai o
resultado do exame. — concluiu.
Caminhei pelo berçário,
juntamente com Irmã Carolina. Havia muitos bebês, todos lindos, mas já com
expressões de sofrimento. Ser abandonado... Até que eu entendia um pouco
daquilo. Porém, acreditava que eles sofreram bem mais. Fiquei com pena.
— Eu sempre quis ser
pediatra... — confessou Irmã Carolina para mim — Sempre que eu posso eu venho
aqui ajudar com os bebês.
— É uma profissão linda. —
respondi, passando a mão na cabeça de uma garotinha linda — Desculpe-me a
pergunta, mas o que a fez se internar aqui no convento?
— Lara... Eu amei um rapaz. —
sorriu, ao lembrar dele — mas ele me humilhou. Eu era uma moça muito idiota,
acreditei no primeiro homem que dizia me amar, mas era um mentiroso. Várias
moças daqui sofreram algum tipo de decepção. — ela se virou para mim e tocou
meus ombros — aposto que você também.
Senti que ela era uma pessoa
com quem eu poderia confiar ali dentro. E tinha muito a ver comigo. Comecei a
contar sobre Douglas, sobre Sheila, sobre Márcio, Gabi e Valeska, as aventuras
no Rio de Janeiro, e ela ficou quase que pasma.
Durante a oração da tarde,
quando eu, de joelhos, pedia a Deus que tudo ficasse bem principalmente comigo,
senti várias pontadas no estômago e acabei tirando a concentração das Irmãs com
os meus gemidos.
Fui levada para a enfermaria
novamente, e também daquela vez só estavam Irmã Carolina e a enfermeira. Eu
estava apreensiva, com medo do que poderia acontecer comigo, mas ao mesmo tempo
pedindo que fosse alguma coisa tão séria a ponto de me fazer sair dali e ser
internada em um hospital.
— Lara... — disse a enfermeira
olhando para mim, juntamente com Irmã Carolina — o nível de HCG no seu sangue
está bastante alto.
— HCG é um hormônio —
continuou Irmã Carolina.
— Bom... o que isso quer
dizer? É algo sério?
— Lara, você está grávida.
NOVELA ESCRITA POR MÁRCIO GABRIEL
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
COPYRIGHT© TVV VIRTUAL 2014, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE
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