PALAVRAS DE LARA PACHECO
Levei alguns segundos para me recompor daquele baita
susto. João Paixão se soltou da Sheila e correu até a mim. Eu comecei a subir
os degraus, em direção ao meu quarto, mas antes que eu trancasse a porta ele me
alcançou.
— Sai daqui! Sai! — ordenei — eu sei quem você é! João
Paixão!
Ele parecia assustado. Apenas parecia...
— Quanto tempo! — ele sorriu, pressionando o seu corpo
contra a porta. Eu estava dentro do quarto, tentando fechá-la, mas ele era
muito forte e eu estava quase cedendo.
— Vá embora agarrar sua gorda! Eu não vou contar nada pra
ninguém.
— Tá me zoando, é? — sua voz saiu com dificuldades, pois
ele fazia força para abrir a porta e estava quase conseguindo — Você não sabe
quais são as minhas intenções... eu vou contar...porque... você é minha
amiguinha de infância.
Ele finalmente abriu a porta. A pressão foi tão grande
que eu me desequilibrei e caí no chão. Ele olhava pra mim e sorria
maleficamente.
— O que você vai me falar? Eu não quero saber de nada...
João, me deixa em paz, por favor.
— Se tem uma coisa que você não vai ter é paz, Lara,
minha linda. — ele se ajoelhou, me deixou de bruços e começou a amarrar meus
braços. Eu me debatia enquanto ele falava comigo — eu conheço a bruaca da sua
madrasta há um tempinho. Ela arrastava “mó” asa pra mim e claro que eu não dava
bola pra ela. Mas aí, quando eu soube que ela era casada com um velho com um pé
na cova e montado na grana... haha — gargalhou — achei a Sheila “mó” gostosa.
— Seus imundos, doentes! Vocês estão falando do meu pai.
Conspiraram contra ele... e ele está morto! Respeite-o!
— Isso mesmo, ele está morto! — fez força para dar um nó
justo na corda — E você nem imagina que quem deu uma forcinha pra aquele velho
encontrar com o ‘demo’ mais rápido foi eu e sua amada madrasta!
Eu sempre achei que papai havia morrido de morte natural.
Claro que eu desconfiava que Sheila poderia ter algo a ver, por isso todo
aquele medo dela. E com razão.
— Vocês vão pagar caro por isso. — falei.
— Não, gatinha. — ele me forçou a ficar de pé — Já tem
uma pessoa pagando por isso. Sua amiga Valeska Soares. A burrinha. Sabia que
ela foi presa? Isso acontece com quem cruza o caminho de pessoas espertas.
Não acreditei muito naquele papo. Se fosse verdade,
Márcio teria me dito. E ali não era hora de se preocupar com a Valeska, e sim
com a minha própria pele.
João Paixão foi me arrastando delicadamente, só que não,
pelo corredor, pela escada e finalmente chegamos a sala, onde Sheila del
Vecchio nos aguardava. João me jogou e eu cai sentada no sofá. Foi para perto
da gorda e lhe deu um selinho.
— O que a gente faz com ela? — ele perguntou para a
amante.
Encolhi-me no sofá e olhei para Sheila, esperando sua
resposta.
— Deixa ela aí. Eu já sei o que vou fazer com ela. Amanhã
a gente se livra dessa putinha chata.
— Sua vaca gorda! Free
Willy de shortinho! Você vai pagar tão caro! O inferno te espera, sua
imunda! Aliás, espera por vocês dois! Eu vou colocar a boca no trombone, ouviu,
João Paixão?! Todos vão saber que vocês assassinaram o meu pai!
Sheila se aproximou de mim.
— Queridinha...você não vai colocar a boca no trombone,
sabe por quê? Mortos não falam. —
sussurrou, em tom de novela mexicana. — Paixão, querido — disse para o amante —
amordaça essa menina. Te espero lá no quarto, garanhão.
Ela saiu, subindo as escadas e balançando sua bunda
gorda. João Paixão me amordaçou e saiu, atrás dela.
☺
PALAVRAS
DE VALESKA SOARES
Dormi na casa do
Márcio, no quarto dele. Ele fez uma caminha improvisada pra mim, no chão, mas
quem acabou dormindo lá foi ele. Eu, fiquei perturbando o coitado a noite toda,
perguntando como os meninos se comportavam e tal. Depois comecei a me lamentar
com ele, falando que estava com saudades da minha mãe, do miojo que ela fazia
pra mim, e que queria sair pra dar uma volta no outro dia porque queria ver uma
pessoa, nem que fosse de longe (meu príncipe Isaac Sanchez).
— Pra onde você quer ir, Valeska? E quem você quer ver?
Eu te levo até pra lua, pra ver São Jorge lutando contra um dragão, mas me
deixa dormir, por obséquio!
— Quero ir ver os jogadores de futebol amanhã. Aquelas
pernas grossas, aqueles peitos definidos, desfilando no meio do campo...
— Só se você prometer se comportar como um rapaz direito.
Lembre-se de que você se chama Gustavo agora. Agora vai dormir, priminho. —
respondeu.
***
Música:
O Teatro Mágico – Nosso Pequeno Castelo
Como Márcio QI me prometera, ele me levou para ver o
treinamento dos jogadores do time da 5ª divisão do campeonato brasileiro, porém
bastante popular por suas derrotas épicas e jogadores gostosos, Regatas Futebol
Clube.
O artilheiro do time era Piter Pimentel, um jogador já
experiente, que não jogava nada, mas fazia sucesso com as meninas porque usava
um cabelo moicano (estilo Neymar) e gostava de jogar beijinhos para elas durante
os jogos.
Eu já tive minha paixonite por ele, confesso. Mas estava
de olho no jogador novo.
Eu sei, gente, que não posso, que agora eu era um menino
e tal, mas como resistir ao Isaac?
Márcio e eu nos sentamos discretamente na arquibancada.
Escolhi um lugar bom para ver as coxas dos jogadores o treinamento e
quase tive um piripaque quando vi ele ali, moreno, alto, bonito e sensual, com
suas pernas grossas correndo no meio do campo. Quase que instintivamente
gritei, com a voz fina:
— ISAAAC!!!
Silêncio absoluto. Todos olharam para mim. Fiquei sem
jeito e tentei consertar a situação.
— Acho que tem cocô de cachorro aí! Você ia pisando! —
falei, com a voz um pouco mais grossa.
— Fica calada, é melhor. — recomendou QI.
Isaac ficou rodando no campo, feito besta, procurando o
tal cocô. Claro, não tinha nenhum. Daí, o treinador apitou e todos os jogadores
ficaram lado a lado.
— Atenção,
criaturas! Estamos a poucos dias do jogo que decidirá nossa permanência na
quinta divisão do campeonato. Eu quero foco, foco, ou a gente cai pra sexta
divisão, ouviram?
— Sim senhor
Eriberto!!! — eles responderam para o treinador, um gordinho baixinho e de
bigode engraçado.
— Agora eu quero
dois times: os com camisa e os sem camisa. — o treinador Eriberto entregou
camisa para os jogadores que ficariam no time com camisa, claro. Fiquei
torcendo para que Isaac ficasse sem camisa. Minha macumba deu certo.
Fiquei de boca aberta olhando os jogadores se trocarem
ali mesmo, Márcio QI me cutucou, resmungou alguma coisa, se levantou da
arquibancada e foi embora. Nem virei meu rosto e nem mexi a boca pra dizer
tchau. Só sei que eu era uma garota, vestida de rapaz, livre e sozinha no
mundo.
Então Eriberto apitou e eles começaram a jogar. O
artilheiro, Piter Pimentel, caía mais do que a minha internet e ficava pedindo
falta. O único que se destacava ali era Isaac, que chegou perto de fazer um
gol.
Ele dominou a bola, correndo com ela a medida que
driblava os companheiros, indo em direção ao goleiro. Ele chutou muito forte e a
bola bateu na trave. Ela quicou, voou, voou e foi em direção a arquibancada que
era, por acaso, o lugar onde eu estava. Mais precisamente na minha cabeça.
Não me lembro de mais nada depois daí. Apaguei.
☺
PALAVRAS
DE MÁRCIO FERRARI
Avisei a Valeska
que precisava sair e cuidar de alguns assuntos, pois ela já era um rapaz crescido. Na verdade, meu assunto
se chamava Lara e eu estava preocupado com ela. Bastante preocupado.
***
Pelo que eu sabia, pela hora e pela lógica, Sheila estava
trabalhando e Lara provavelmente estava sozinha em casa.
Naquele
momento eu estava frente aquele muro dos horrores, pronto para escalá-lo
novamente. Eu o escalaria, pela Lara. Levava em minha mochila algumas coisas
que talvez ela estivesse precisando ou que pudesse deixa-la mais feliz. Como
barras de chocolate.
Escalei o muro, sem problemas, milagrosamente. Quando
cheguei ao topo, pulei para dentro do quintal. Fui até o portão e chamei por
Lara. Chamei por uns quinze minutos, mas ela não me respondeu. Lembrei-me das
suas últimas palavras ditas a mim: “Márcio,
eu vou ficar bem. Eu só te peço que, caso eu suma... — ela falou com um pouco
de amargura na voz — fique atento porque ela (Sheila) vai estar envolvida.”
Será que o pior
havia acontecido?
NOVELA ESCRITA POR MÁRCIO GABRIEL
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
COPYRIGHT© TVV VIRTUAL 2014, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
COPYRIGHT© TVV VIRTUAL 2014, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE