DÉCIMO SÉTIMO EPISÓDIO
BROKEN FEATHER
"PENA QUEBRADA"
Algo está muito
errado aqui. Algumas semanas atrás, vários de nós foram sequestrados por Ariel
e eu estava incluído no pacote. Eu acabei dormindo com ela e, depois de tudo o
que aconteceu, eu decepei a sua cabeça com a minha foice.
O Olimpo está em
alerta. Ganhamos novas habilidades, mas ainda não temos controle sobre elas.
Nossas armas estão à nossa frente, mas não podemos alcança-las. Estamos
indefesos.
— Fico
envergonhada por vocês não terem percebido antes. – Ariel fala, e sacode a
cabeça, desprendendo o seu cabelo e o deixando à mostra.
— Pobre Íris.
Nem viu a morte chegando. Bom, O Morte
chegando. Contarei a história inteira para vocês assim que sairmos do Olimpo.
Podemos, senhor Zeus? – Ariel pergunta.
— E à moça cujo
nome eu não sei, lhe será concedida uma habilidade no futuro, quando sentirmos
que mereça tal. Podem pegar seus armamentos e voltarem ao lugar de onde vieram.
O portal está logo ali. – Zeus aponta para um espelho enorme.
Pegamos nossos
armamentos e fazemos uma reverência a eles. Andamos em direção ao portal. Uma
tempestade começa dentro do Olimpo. Granizos começam a cair do teto, como se o
lugar inteiro estivesse vindo abaixo, mas os Deuses estão extremamente
tranquilos. De repente, um raio acerta todos nós e caímos dentro do portal.
[...]
Abro os olhos.
Todos estão caídos no chão desacordados, exceto por Ariel. O céu está vermelho
e algumas partes do local estão em chamas. Estamos de volta ao labirinto de
Asteroth.
A quantidade de
corpos que habita o lugar é surpreendente. Almas que lutaram contra Morte e
almas que lutaram a favor; pégasus e dragões, bestas e demônios. Deve haver ao
menos vinte mil corpos perto de onde estamos. É impossível saber a quantidade
exata de mortos, mas arrisco dizer que há ao menos uns cem mil.
Ando até Ariel,
e ela encosta sua espada no meu pescoço. Ela me olha nos olhos por alguns
segundos e depois guarda sua espada sob o seu cinto. Ariel dá as costas para
mim e torna a olhar para o céu.
— Como você
sobreviveu? – Pergunto.
— A história é
complicada. Nem eu sei ao certo se faz sentido, mas eis o que aconteceu:
Eu estava no meu quarto, oferecendo refúgio a vocês e seus
amigos, dando-lhes a chance de lutar ao meu favor, quando você me atacou com
sua foice. Fiquei magoada por você pensar que musais morrem assim tão
facilmente. Quando o chão começou a tremer, eu tinha certeza que algo de errado
estava acontecendo.
Mas eu não conseguia me mover. Apenas fiquei ali. Caída.
Sangrando. Sentindo dores inimagináveis. Depois de um bom tempo de sofrimento,
vi o teto desabar e estava pronta para aceitar a morte, mas foi aí que ela apareceu.
Quando me dei por mim, eu estava numa cabana de veraneio ou
algo assim. Só consigo lembrar que era na praia. Levantei da cama e percorri a
casa inteira em busca de alguém para perguntar o que estava acontecendo, mas
tudo o que eu encontrei foi uma pena grande. Guardei-a no meu bolso e saí da
casa.
Olhei em volta, gritei por ajuda, mas ninguém me ouvia.
Aliás, não havia ninguém para me ouvir. Andei em direção ao mar com a intenção
de me suicidar, mas senti uma parede invisível. Eu não podia sair dali. Tentei
de tudo para entrar no mar, mas eu não conseguia de maneira nenhuma. Então eu
voltei para a casa.
Ela estava lá. Ela se apresentou como Katherine Davenport,
sua irmã, a criadora do Limbo. Katherine me explicou que eu fui salva para
passar a eternidade no meu limbo – um lugar agradável, porém não tenho com quem
compartilhar – e por isso é impossível que eu tire a minha vida. Ela ainda
disse que às vezes, as pessoas podem ser tiradas do Limbo por um alquimista ou
por um ritual, ou ainda, quando ela sente que há uma chance de nós,
prisioneiros, fazermos um bem maior.
Passei um bom tempo lá sem ver ninguém, sem falar com
ninguém, quando a pena começou a me machucar. Eu já tinha a examinado várias
vezes, mas nunca soube qual sua função. Então eu desenhei uma porta no ar, e
para a minha surpresa, uma porta apareceu diante de mim. Quando eu a abri, eu
pude ver o interior de um elevador e todos vocês, incluindo Kratos, Lilith e
Íris. Atravessei a porta com o intuito de ajuda-los, mas Lilith olhou direto para
mim e eu senti uma energia dentro do meu corpo.
Depois disso, Katherine encontrou comigo no seu próprio
Limbo. O dia em que toda a guerra começou. O dia em que você a viu, Chase.
Katherine me contou que vocês tinham planos de ir à Asteroth para se transportarem
ao Olimpo, e que eu precisava ir junto. Ela me empurrou no chão para que você
não me visse conversando com ela, e foi aí que os capangas de Morte a
capturaram. Quando você finalmente havia sumido, eu desenhei uma porta
exatamente onde você estava e fui transportada para muito perto de seu grupo.
Uma noite, Íris me viu. Ela iria gritar e acordar todos
vocês, então eu criei uma ilusão que a deixou confusa. Admito que eu iria
mata-la, mas no minuto em que minha mão encostou em sua pele, nossos corpos se
fundiram. Eu tinha todos os sentidos, mas o corpo que eu habitava não era o
meu, e sim o dela. Então eu continuei com o plano, utilizando das memórias de
Íris para entrar no Olimpo. Ela ainda está aqui, eu posso sentir, mas sinto
tudo isso foi obra de Lilith e que só ela poderá desfazer tal coisa.
Katherine que armou isso tudo, Chase. Quando você entrou na
guerra, ela já havia prendido Aaron, mas sabia que tinha que fazer algo mais
para te deixar mais próximo da verdade. Então ela capturou Kratos e deixou um
bilhete com Davenport escrito, para
que Milena pudesse rastreá-lo mais tarde. Quando Zoe foi atacada por Lilith,
Katherine sentiu a necessidade de intervir e a enviou ao Limbo, mas ela
conseguiu escapar quando vocês decidiram salvar Aaron.
— E essa é a
história completa. – Ariel termina de falar.
Não consigo
assimilar tudo de uma vez, mas sei que, se Ariel estivesse mentindo, ela já
teria tentado matar todos nós enquanto estávamos desacordados. Os outros agora
começam a se levantar e ficam tão impressionados quanto eu com a quantidade de
corpos.
— O que vamos
fazer agora? – Pergunto.
— Agora nós
sairemos do inferno. – Ariel responde.
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL, FÉLIX E WALTER HUGO
ESCRITO POR - WALTER HUGO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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