PALAVRAS
DE GABRIELA CARVALHO
Ficamos em frente a fábrica, como combinado. Estávamos os
três escondidos atrás de um carro. Valeska mexia no celular e Márcio QI
queixava-se por estar “tarde”. Eu era a única do trio que estava concentrada no
plano.
— Gabriela Carvalho, se a minha mãe me fizer tomar outro
banho de álcool você vai se ver comigo.
— Cala a boca aí Márcio. São só 6:30, ela não vai morrer
por que você chegou em casa de noite. Falando nisso, já era para a Sheila ter
saído da fábrica, vocês não acham?
Silêncio. Olhei para trás e Márcio e Valeska estavam
escutando música no fone de ouvido.
— Porra, gente, dá pra focar?! — peguei o fone deles dois
e joguei no meio da avenida.— F-O-C-O, ou a gente perde a Sheila de vista.
Ficamos alguns minutos em silêncio, com os olhos fixos na
fábrica. Até que...
— Alguém vai ter que me dar um fone novo.
— Cala... a ... boca!
Eu puxei a orelha de Valeska e retorci tão fortemente que
ouvi o estralo da cartilagem. Fez um barulho, tipo “croc”. Mas valeu a pena.
— AAAAI, sua imunda! Doeu! — bradou Valeska, tentando dar
tapas na minha cara.
— Gente, a Sheila!
Recompusemo-nos e nos preparamos para correr atrás dela.
A gorda, como sempre, ia se rebolando pela calçada enquanto ouvia música no mp3
do celular. Seguimos Sheila por mais algum tempo até ela entrar numa academia.
— Cá, cá, cá, cá... Faz me rir! A Sheila numa academia? —
falei — Viram como essa história está sem sentido? A Lara sempre dizia que a
Sheila passava o dia todo sentada no sofá assistindo as maratonas da
Nickelodeon enquanto comia todo o estoque de comida da despensa da casa.
— Ai, Gabi, ela pode estar querendo entrar em forma!
—
Só se for em forma de barril, Valeska. Deixa de ser burra e entra logo na
academia. Vamos, gente!
Valeska começou a rir do nada.
— O que foi, Valeska?
— É que agora que eu fui entender por que a Gabi chamou a
Sheila de Raspútia! — a garota dava gargalhadas atrás de gargalhadas. Ela não
conseguia se controlar.
— Meu Deus do céu, que menina besta! Valeska, fica aqui
sentada na calçada que eu e o Márcio entraremos na academia pra espiar a
Sheila. Por favor, se controle.
Finalmente entramos. Valeska continuou rindo.
***
Não era o meu ambiente preferido. Aquelas pessoas
viciadas em ficar saradas me davam náuseas. Certo que eu prestei mais atenção
nas pernas trabalhadas de alguns jogadores de futebol que lá estavam, mas...
— Gabi, olha aquilo ali! — Márcio me cutucou e apontou
para uma das esteiras.
A visão era simplesmente horrenda. Vamos por partes:
Parte 1, trajes:
Sheila
estava vestida com uma roupa super florida, daquelas de academia. A calça
elástica estava apertada e eu estava vendo a hora ela explodir. A blusa era tão
apertada quanto a calça e mal estava segurando os seus seios enormes.
Parte 2, comportamento:
Inicialmente a esteira estava numa velocidade um tanto
lenta e Sheila mal conseguia se manter de pé. Perna esquerda, perna direita,
perna esquerda, perna direita... o ritmo ia aumentando, pois ela mesma ou
alguém havia programado a máquina para subir a velocidade automaticamente.
— Socorro! — gritou ela — socorro! Tem uma senhorita
indefesa sendo atacada por uma máquina aqui.
À medida que o tempo passava, a velocidade da esteira
aumentava e, claro, a cena ficava mais engraçada.
— Se a Valeska já estava rindo do apelido que você deu
pra ela, imagina se visse essa cena. Ela iria se urinar toda, coitada. Hilário!
— ria Márcio.
— EU TÔ NO CHÃO! ACHO QUE EU VOU MORRER DE RIR! — eu não
resisti e comecei a gargalhar. Felizmente a música estava alta e quase ninguém
notou.
Sheila se desequilibrou e, antes que caísse no chão, um
dos instrutores da academia a segurou (caraca, o bicho era forte mesmo). Ele
disse para ela tomar cuidado e ajustou a esteira para uma velocidade que Sheila
poderia correr sem problemas.
Márcio foi comprar água na cantina da academia. De repente,
vi que Sheila estava acenando para mim, super sorridente.
Ela
percebera que eu estava lá.
Fodeu.
☺
PALAVRAS
DE VALESKA SOARES
Depois de morrer
de rir por causa do apelido que Gabriela dera para Sheila, fiquei sentada na
calçada observando o movimento da rua enquanto os meus amigos não saíam da
academia.
Daí, um tipo estranho, usava um gorro do Corinthians e
uma camisa de mangas longas (naquele calor) se aproximou de mim e encostou uma
faca na minha barriga.
— Passa o celular, caladinha.
Fiquei sem reação: por ter de me desfazer do meu xodó,
que era meu celular, e ainda porque eu estava prestes a gritar.
— SOCORRO! SOCORRO! LADRÃO!
O ladrão encostou a faca mais fortemente na minha cintura
e, me xingando de todos os nomes feios do mundo, me mandava calar a boca. Até
que outro tipo, moreno, corpo atlético, que havia acabado de sair da academia,
percebeu meu desespero e aproximou-se de nós.
— Ei, deixa ela em paz! — disse o moreno atlético.
— Vai fazer o quê?! — o ladrão descolou a faca da minha cintura
e a apontou para o cara que estava na nossa frente.
Num piscar de olhos, o tipão atlético desferiu um chute
que, ao pegar no braço do bandido, o fez soltar a faca. O bandido olhou para mim e eu pude perceber
que eu o conhecia de algum lugar: era o João Paixão, aquele garoto que um dia
estudou com a gente e uma vez foi acusado pela Lara por um roubo.
João
Paixão saiu correndo.
—
Você está bem? — perguntou o rapaz justiceiro que acabara de me salvar.
—
Sim, obrigada! — sorri. Ele era uma espécie de herói e eu não sabia se estava
encantada com a beleza dele ou com o estado que o João Paixão se tornara.
Sem
dizer mais nada, o atleta rodou sobre os calcanhares e saiu.
☺
PALAVRAS
DE GABRIELA CARVALHO
—
Oi, Gabi! — disse Sheila, que percebera que eu estava na academia. Ela estava
acenando para mim. Seu braço balançava e a pele que havia embaixo deste me
hipnotizava, indo para lá e para cá...
Abri
um sorriso falso e, para disfarçar, aproximei-me dela, que continuava correndo
na esteira ergométrica.
—
Sheila, amiga! Como vai?! Nossa, bem que eu estava percebendo que você deu uma
emagrecida! — menti (sim, eu sou falsa com as inimigas).
—
Você está sendo modesta. — respondeu, ofegante. O suor escorria da sua testa e
pingava pelo corpo. — E você, resolveu malhar? Bem que está precisando mesmo,
Gabi, querida.
Depois
que aquela vaca me chamou de gorda, a vontade que eu tive foi de empurrar ela
de cima da esteira, mas fiquei com medo de provocar um terremoto e uma série de
tsunamis. Então me segurei.
—
Pois acho que eu estou bem em forma, diferente de algumas pessoas que fazem
academia, mas assim que saem vão direto comer lasanha e comem mais do que
rapariga. — joguei a indireta — Enfim... Márcio e eu estávamos voltando da
escola e resolvemos passar aqui para comprar uns sanduíches naturais. Quando a
fome bate é fogo né?
Ela
apenas concordou, balançando a cabeça.
Sheila estava vidrada na esteira, e cada vez mais ofegante.
—
Tchau, amiga! Se Lara mandar notícias não se esqueça de me dizer.
Após
me despedir, saí com Márcio QI de dentro da academia e com a sensação de que o
nosso dever não havia sido cumprido.
NOVELA ESCRITA POR MÁRCIO GABRIEL
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
COPYRIGHT© TVV VIRTUAL 2014, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE
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