Capítulo 31: Destruição
Nos capítulos anteriores...
Pedro estava em baixo
do chuveiro já fazia sete minutos. O barulho da água caindo sobre o corpo do
amigo atiçava sentimentos em Wagner, que ele não sentia fazia tempo. Algo
libertador parecia ter tomado conta de Wagner. O menino tirou a roupa toda,
ficando completamente nu, e em seguida subiu as escadas da casa, indo até o
banheiro em que Pedro tomava banho. Vagarosamente, Wagner viu o amigo de olhos
fechados lavando o cabelo com o shampoo, foi a oportunidade certa para ele
entrar no box sem que Pedro notasse. Até que o mesmo abriu os olhos e se
deparou com Wagner nu, dentro do box.
–Eu sempre tive curiosidade em te beijar, e já
que seus pais não estão em casa, acho que é a oportunidade certa. –Disse
Wagner, fitando Pedro nos olhos.
As mãos de Wagner tocaram a cintura de Pedro,
impulsionando-o contra seu corpo. Ambos trocaram um beijo gay literalmente
molhado em baixo do chuveiro.
Nas ruas de Beverly Hills, Denise estava
participando das primeiras filmagens da série americana na qual ela
protagonizaria com data marcada de estreia para março, quando o diretor
interrompeu as filmagens, pois alguém gostaria de lhe entregar um pacote.
–Sem
remetente? –Indagou Denise, curiosa para saber quem havia lhe enviado.
–Só
pediram para lhe entregar senhora. –Respondeu um menino negro, que aparentava
ter uns doze anos. –O homem disse para a senhora não demorar a abrir, pois o
tempo é curto.
–Você
está me deixando nervosa, o que tem aqui dentro?
–Confira
você mesma dona Denise.
No envelope continha fotos de Pedro e Wagner se
beijando. [...]
No Rio de Janeiro,
enquanto adaptava Fantástica para a T.V, Giorgio notou que havia um novo e-mail
em sua caixa de entrada. O assunto do mesmo era “Aviso, as cenas são fortes.”. E continha anexos. Giorgio baixou os
anexos, e não esperou muito para abri-los. O remetente estava oculto por alguma
razão e as fotos eram as mesmas que Denise tentou escondê-las do mundo. As
lágrimas escorriam pelos olhos dele, seu filho estava beijando outro homem, seu
filho era gay e agora ele podia entender o porquê de nunca haver namoradas ou
conversas sobre sexo. A raiva tomou o lugar da tristeza, fazendo com que
Giorgio quebrasse o computador. Destruindo aquelas fotos e qualquer outro tipo
de sentimento que ele pudesse nutrir por Pedro.
–Criei uma aberração? Criei uma bicha? –Giorgio
não cansava de se culpar. Seus olhos estavam inundados de lágrimas repletas por
culpa. –Deus por que logo com o meu menino? Por que não poderia ter sido com o
filho do vizinho? Eu aceitaria melhor. Juro que aceitaria melhor.
Pedro que havia acabado de chegar de viagem
junto com Denise, ouvia as palavras desesperadas do pai. Seus olhos ficaram
inundados. Seus lábios e suas mãos tremiam de medo e assim como seu pai, seu
coração batia forte por uma culpa que não deveria existir. Assim como os outros
homossexuais, ele sabia que não escolheu gostar de meninos, mas seus pais
infelizmente não sabiam ou talvez fingiam não saber e preferiam descontar toda
a raiva em seus filhos. Giorgio percebeu a presença de mais alguém na casa e
então indagou:
–Quem
está aí?
–Eu... –Respondeu
Pedro. –Eu... Pai.
Naquele instante o silêncio tomou conta de toda
a casa. E as lágrimas que habitavam os olhos de Giorgio começaram a escorrer
rapidamente. Ele estava entrando em pânico. Seu sangue estava correndo por suas
veias mais rápido que o normal. Era difícil para ele entender toda aquela
situação.
–Por que
você não me disse? –Indagou Giorgio, enxugando as lágrimas. –Eu sou o seu pai!
–Você
iria me odiar como agora. –Respondeu Pedro. –Entenda, eu não escolhi isso. Eu
juro que não escolhi. Pai eu te amo, me perdoa, por favor.
–Como
você consegue tocar outro homem? Como Pedro? Isso é pecado! Isso é nojento!
Você não enxerga isso?
–Eu amo o
Wagner pai! E não escolhi amá-lo. Não sinto atração por meninas, entenda isso
de uma vez por todas.
–Entender
que você é uma aberração? Como entender que eu criei um monstro? Sinceramente,
preferia você em uma cadeira de rodas...
–Desculpe
por não ser o que o senhor queria que eu fosse. Sou melhor.
–Melhor?!
–Melhor
sim... Beijo a boca de outro homem... Faço amor com outro homem... Digo “eu te
amo” a outro homem... E nunca trairia esse homem, por que sou melhor que o
senhor e a sua masculinidade idiota. Quando eu tinha seis anos de idade, tive
de ser o apoio da minha mãe, por que ela havia sido traída pelo homem que
amava. Por isso eu digo, pai eu tenho orgulho de ser quem eu sou, por que sou
melhor que o senhor.
–Como
você ousa dizer uma coisa dessas?
–Pode me
expulsar de casa. Pode me deserdar. Pode me chamar de aberração. Mas não pode
mudar o que eu sou.
Aos prantos, Pedro passou por Denise que acabava
de chegar ao apartamento. Ele pegou um táxi para o aeroporto e decidiu voltar
para São Paulo. Naquele momento, ele precisava mais do que nunca do amor de
Wagner, que também estava passando por momentos difíceis. Silvana havia
recebido o mesmo e-mail que Giorgio recebera. A perua realmente havia perdido a
cabeça.
–Como
assim gay? –Indagou Silvana, desesperada. –Você é homem! Você tinha até uma
namorada.
–Mãe, por
favor, tente entender... –Wagner havia sido interrompido por sua mãe.
–Não
tenho nada o que entender Wagner! Eu não quero um filho gay. Não posso ter um
filho gay. Por favor, diga que essas fotos são montagens. Diga que você é
hétero.
–Desculpe
decepcioná-la.
Wagner virou-se de costas e se deparou com seu
pai, que havia ouvido toda a discussão.
–Você é
gay? –Indagou João Pedro.
–Oh, por
favor, não tente dar uma de pai presente agora, por que isso você nunca foi e
nunca será.
Completamente desesperado, Wagner desceu as
escadas do palacete correndo. Silvana estava sentada no primeiro degrau da
escada, chorando, enquanto João Pedro a acolhia em seus braços. O mundo daquela
mulher e de seu filho haviam caído literalmente. Ela não podia lidar com a
possibilidade de um filho gay e ele não podia ser renegado pela mãe.
–O que
vamos fazer João Pedro? –Indagou Silvana, chorando. –Nosso menino é gay... Gay!
–Calma. –Foi
só o que João Pedro conseguiu dizer naquele instante.
–Como?
Nosso filho é gay.
–Eu sei
que é um choque para todos nós, mas... Ele ainda é nosso filho, independente de
sua sexualidade.
–Você
está querendo dizer que aceita?
–Se a
gente não aceitar, o que iremos fazer? Ele é nosso filho Silvana!
Silvana levantou, secou as lágrimas com as mãos
e disse:
–Não
posso ter um filho gay...
Completamente desorientado, Wagner atravessou a
avenida paulista sem olhar para os lados. Um carro em alta velocidade estava
percorrendo a avenida no momento. As câmeras do radar registraram um grave
acidente.