segunda-feira, 7 de julho de 2014

Império Feminino: Capítulo 31

Capítulo 31: Destruição 


Nos capítulos anteriores...

Pedro estava em baixo do chuveiro já fazia sete minutos. O barulho da água caindo sobre o corpo do amigo atiçava sentimentos em Wagner, que ele não sentia fazia tempo. Algo libertador parecia ter tomado conta de Wagner. O menino tirou a roupa toda, ficando completamente nu, e em seguida subiu as escadas da casa, indo até o banheiro em que Pedro tomava banho. Vagarosamente, Wagner viu o amigo de olhos fechados lavando o cabelo com o shampoo, foi a oportunidade certa para ele entrar no box sem que Pedro notasse. Até que o mesmo abriu os olhos e se deparou com Wagner nu, dentro do box.

 –Eu sempre tive curiosidade em te beijar, e já que seus pais não estão em casa, acho que é a oportunidade certa. –Disse Wagner, fitando Pedro nos olhos.

As mãos de Wagner tocaram a cintura de Pedro, impulsionando-o contra seu corpo. Ambos trocaram um beijo gay literalmente molhado em baixo do chuveiro.

Nas ruas de Beverly Hills, Denise estava participando das primeiras filmagens da série americana na qual ela protagonizaria com data marcada de estreia para março, quando o diretor interrompeu as filmagens, pois alguém gostaria de lhe entregar um pacote.

 –Sem remetente? –Indagou Denise, curiosa para saber quem havia lhe enviado.
 –Só pediram para lhe entregar senhora. –Respondeu um menino negro, que aparentava ter uns doze anos. –O homem disse para a senhora não demorar a abrir, pois o tempo é curto.
 –Você está me deixando nervosa, o que tem aqui dentro?
 –Confira você mesma dona Denise.

No envelope continha fotos de Pedro e Wagner se beijando. [...]


No Rio de Janeiro, enquanto adaptava Fantástica para a T.V, Giorgio notou que havia um novo e-mail em sua caixa de entrada. O assunto do mesmo era “Aviso, as cenas são fortes.”. E continha anexos. Giorgio baixou os anexos, e não esperou muito para abri-los. O remetente estava oculto por alguma razão e as fotos eram as mesmas que Denise tentou escondê-las do mundo. As lágrimas escorriam pelos olhos dele, seu filho estava beijando outro homem, seu filho era gay e agora ele podia entender o porquê de nunca haver namoradas ou conversas sobre sexo. A raiva tomou o lugar da tristeza, fazendo com que Giorgio quebrasse o computador. Destruindo aquelas fotos e qualquer outro tipo de sentimento que ele pudesse nutrir por Pedro.

 –Criei uma aberração? Criei uma bicha? –Giorgio não cansava de se culpar. Seus olhos estavam inundados de lágrimas repletas por culpa. –Deus por que logo com o meu menino? Por que não poderia ter sido com o filho do vizinho? Eu aceitaria melhor. Juro que aceitaria melhor.

Pedro que havia acabado de chegar de viagem junto com Denise, ouvia as palavras desesperadas do pai. Seus olhos ficaram inundados. Seus lábios e suas mãos tremiam de medo e assim como seu pai, seu coração batia forte por uma culpa que não deveria existir. Assim como os outros homossexuais, ele sabia que não escolheu gostar de meninos, mas seus pais infelizmente não sabiam ou talvez fingiam não saber e preferiam descontar toda a raiva em seus filhos. Giorgio percebeu a presença de mais alguém na casa e então indagou:

 –Quem está aí?
 –Eu... –Respondeu Pedro. –Eu... Pai.

Naquele instante o silêncio tomou conta de toda a casa. E as lágrimas que habitavam os olhos de Giorgio começaram a escorrer rapidamente. Ele estava entrando em pânico. Seu sangue estava correndo por suas veias mais rápido que o normal. Era difícil para ele entender toda aquela situação.

 –Por que você não me disse? –Indagou Giorgio, enxugando as lágrimas. –Eu sou o seu pai!
 –Você iria me odiar como agora. –Respondeu Pedro. –Entenda, eu não escolhi isso. Eu juro que não escolhi. Pai eu te amo, me perdoa, por favor.
 –Como você consegue tocar outro homem? Como Pedro? Isso é pecado! Isso é nojento! Você não enxerga isso?
 –Eu amo o Wagner pai! E não escolhi amá-lo. Não sinto atração por meninas, entenda isso de uma vez por todas.
 –Entender que você é uma aberração? Como entender que eu criei um monstro? Sinceramente, preferia você em uma cadeira de rodas...
 –Desculpe por não ser o que o senhor queria que eu fosse. Sou melhor.
 –Melhor?!
 –Melhor sim... Beijo a boca de outro homem... Faço amor com outro homem... Digo “eu te amo” a outro homem... E nunca trairia esse homem, por que sou melhor que o senhor e a sua masculinidade idiota. Quando eu tinha seis anos de idade, tive de ser o apoio da minha mãe, por que ela havia sido traída pelo homem que amava. Por isso eu digo, pai eu tenho orgulho de ser quem eu sou, por que sou melhor que o senhor.
 –Como você ousa dizer uma coisa dessas?
 –Pode me expulsar de casa. Pode me deserdar. Pode me chamar de aberração. Mas não pode mudar o que eu sou.

Aos prantos, Pedro passou por Denise que acabava de chegar ao apartamento. Ele pegou um táxi para o aeroporto e decidiu voltar para São Paulo. Naquele momento, ele precisava mais do que nunca do amor de Wagner, que também estava passando por momentos difíceis. Silvana havia recebido o mesmo e-mail que Giorgio recebera. A perua realmente havia perdido a cabeça.

 –Como assim gay? –Indagou Silvana, desesperada. –Você é homem! Você tinha até uma namorada.
 –Mãe, por favor, tente entender... –Wagner havia sido interrompido por sua mãe.
 –Não tenho nada o que entender Wagner! Eu não quero um filho gay. Não posso ter um filho gay. Por favor, diga que essas fotos são montagens. Diga que você é hétero.
 –Desculpe decepcioná-la.

Wagner virou-se de costas e se deparou com seu pai, que havia ouvido toda a discussão.

 –Você é gay? –Indagou João Pedro.
 –Oh, por favor, não tente dar uma de pai presente agora, por que isso você nunca foi e nunca será.

Completamente desesperado, Wagner desceu as escadas do palacete correndo. Silvana estava sentada no primeiro degrau da escada, chorando, enquanto João Pedro a acolhia em seus braços. O mundo daquela mulher e de seu filho haviam caído literalmente. Ela não podia lidar com a possibilidade de um filho gay e ele não podia ser renegado pela mãe.

 –O que vamos fazer João Pedro? –Indagou Silvana, chorando. –Nosso menino é gay... Gay!
 –Calma. –Foi só o que João Pedro conseguiu dizer naquele instante.
 –Como? Nosso filho é gay.
 –Eu sei que é um choque para todos nós, mas... Ele ainda é nosso filho, independente de sua sexualidade.
 –Você está querendo dizer que aceita?
 –Se a gente não aceitar, o que iremos fazer? Ele é nosso filho Silvana!

Silvana levantou, secou as lágrimas com as mãos e disse:

 –Não posso ter um filho gay...

Completamente desorientado, Wagner atravessou a avenida paulista sem olhar para os lados. Um carro em alta velocidade estava percorrendo a avenida no momento. As câmeras do radar registraram um grave acidente.