CAPÍTULO 06
Já era noite quando os últimos convidados foram embora e Alis e Lucas
finalmente entraram na mansão. No Hall principal, Dunga estava aterrado no
sofá, com uma garrafa de uísque na mão, visivelmente bêbado e sua mãe estava no
outro sofá e parecia aborrecida.
- Tudo o que eu pedi foi educação na homenagem do seu pai e nem isso você pode fazer, Dunga, pelo amor de Deus, Alastor era seu pai. E era um grande homem.
- É... rico, mas gastou toda a fortuna em projetos sociais ou no jogo e nos colocou na lama, mamãe. Se temos um teto sobre as nossas cabeças é por caridade de Lucas.
- Ei, por favor, não me incluam nessa discussão. – Falou Lucas olhando de soslaio para Alis, como se esperasse que ela falasse algo. Entretanto, algo chamou a atenção.
Vanessa descia as escadas ligeiramente com o bebê Lucas, bastante agitado, no colo.
- Oh, graças a Deus. Já não sabia mais o que fazer e a festa parecia não terminar mais. O bebê está com febre e não sei o que ele tem.
- Vou ligar agora para Dante... – falou Lucas, tirando do paletó o celular.
Alis olhou para o bebê. Ele chorava muito, parecia incomodado, arranhando a orelhinha esquerda com a ponta dos dedos. A essa hora, Dunga e Amélia havia levantado e agora cercavam Vanessa.
- Talvez seja melhor levar o menino ao hospital – sugeriu Amélia,
preocupada.
Alis não resistiu e aproximou-se, indicando a Vanessa que iria pegar o bebê. Vanessa olhou para Lucas que terminava de falar com Dante no celular e como esse fez um sinal positivo, deixou que Alis segurasse o bebê. Ela colocou o ouvido direito do bebê contra seu peito e com a mão em forma de concha, protegeu o outro ouvido.
- Nessa idade, é normal as crianças terem dores de ouvido. O calor na
região faz a dor melhorar. Vanessa, por favor, passe no ferro uma fralda e
traga para mim.
Alis ninou Lucas Jr. que ainda chorava muito cantarolando uma canção qualquer.
Dunga, Lucas e Amélia olhavam a cena completamente aturdidos.
- Dante deve chegar em breve... – falou Lucas, mais interessado em observar Alis.
Quando Vanessa chegou com a fralda aquecida, Alis colocou contra o outro ouvido do bebê e continuou a niná-lo. Em poucos minutos, o bebê se calou. Alis sorriu e levantou o olhar para Lucas, quando percebeu que o que fizera ia muito além de qualquer comportamento de Liz.
- Você também andou fazendo curso de maternidade às escondidas, mana? – falou Dunga, debochado, mas estava sério. – É meio difícil acreditar nessa cena. É algum problema hormonal...? Deve ser, você não acha, mãe?
Amélia olhava sério para Liz, mas permaneceu em silêncio.
- Acho que o problema é outro... – falou Lucas, num tom feroz que afligiu Alis. Antes que pudesse falar ou fazer qualquer coisa, escutou Dante entrando no Hall.
- Nem havia chegado em casa quando recebi a sua ligação, Lucas – falou Dante, num tom divertido. – O que há com o bebê?
- Bem, ao que parece o bebê está com dores no ouvido, mas Liz já cuidou disso. – declarou Lucas, sem tirar os olhos de Alis.
Até Dante olhou para Alis com ar descrente.
- Bem, deixe-me examiná-lo, agora... – falou Dante e tirou do colo de Alis o bebê que já começava a dormir.
- Pode ir para seu quarto agora, Liz... – falou Lucas, novamente, naquele tom feroz, como se ela tivesse feito algo muito errado.
Visivelmente aborrecida, Alis, não teve outra alternativa, a não ser subir as escadas e entrar no seu quarto.
Sentou-se sobre a cama, com raiva de si mesma, mas em seguida,
arrependeu-se. Pensou em levantar-se e descer novamente. Afinal, aquele era seu
sobrinho, filho de sua irmã e ela tinha o direito de saber o que estava
acontecendo com o bebê. Mas depois de alguns minutos tranquilizou-se.
Vivera tantos anos no orfanato, ajudando Ir. Agatha a cuidar das
crianças que aprendera a diagnosticar os problemas de saúde nos pequeninos e a
tratar essas enfermidades de forma bem caseira, com compressas, chás e
descanso. Eram raras as vezes que uma criança ia mesmo para o hospital e isso
só acontecia quando era muito grave. Ir. Agatha tinha o dom para essas coisas e
Alis observara-a muito então sabia que não era nada grave. Um resfriadinho que
afetou os ouvidos. Mais tarde, quando todos estivessem dormindo, Alis faria um
chazinho de erva doce com hortelã e levaria para o bebê. Tinha a certeza de que
ele dormiria bem melhor.
Quando enfim, já havia resolvido que não sairia mais do quarto por hora, percebeu o trinco da sua porta girar e Lucas entrou, como um gigante enfurecido.
- Acho que precisamos ter uma conversa... – falou ele, num tom que fez Alis empalidecer.
- C-como está o bebe? – Alis perguntou sinceramente preocupada e ao mesmo tempo amedrontada.
- Como você disse... é o ouvido... uma afecção interna... mas você já sabia disso... eu me pergunto como... ?
- Como assim? – perguntou Alis, sem entender.
- Eu é que pergunto, Alis... como? Você nunca se interessou por esse bebê, nunca se aproximou dele, e de repente o conhece suficiente para diagnosticar acertadamente que o bebê tinha dores no ouvido? Eu acho isso meio difícil de acreditar... mas também não posso acreditar que você seria capaz de acometer seu próprio filho de uma doença para mostrar pra mim que sabe como cuidar dele.
- Meu Deus, Lucas... eu jamais faria isso... nunca... como pode dizer uma coisa dessas? – falou Alis, aturdida e profundamente magoada. – Como pode pensar uma coisa assim?
- Eu posso pensar qualquer coisa de você, Liz. É o que você deseja, não é mesmo...
Alis balançou a cabeça sem entender direito.
- Eu estava lá, Liz, no momento do nascimento no bebê. Você nem quis tocá-lo e disse para mim que o odiava e odiava a mim por ter feito você engravidar e disse que desejava que o bebê morresse... não foi isso que você me disse?
Alis deu dois passos para trás e assustada levou a mão a boca. Sua irmã teria falado uma coisa daquelas?
- Por que parece tão surpresa? Vai fingir que não lembra do que você disse? – falou Lucas, irônico.
- Er... Eu... eu deveria estar fora de mim. Com depressão pós-parto ou algo parecido, Lucas. Meu Deus, eu nunca diria isso... é só um bebezinho... um bebezinho lindo...
Alis parou de falar ao perceber que aquilo só enfurecia Lucas mais do que o necessário. Ele fuzilava-a com o olhar e parecia cada vez mais amedrontador.
- Pare com esses joguinhos imbecis... se está tentando me conquistar novamente... saiba que é tarde demais... e não quero que use meu filho desse jeito... deixe-o fora das suas tramóias, Liz... deixe-o ou eu juro por Deus que...
Lucas aproximou-se e a agarrou pelos ombros. Aquilo a apavorou. No mesmo instante parecia que estava vendo Brade no lugar de Lucas e que a qualquer momento ele a machucaria.