PRIMEIRO EPISÓDIO
WE'RE GOING TO HELL
"NÓS ESTAMOS INDO AO INFERNO"
Quase não
consigo sentir o meu corpo por conta da leveza da água. Não consigo me mexer,
mas sinto que eu estou bem. Ouço alguns sons enquanto olho fixamente para o céu
alaranjado que este local tem. Não há nuvens. Não há sol. Não há nada que
ilumine este lugar, pelo menos é o que eu acho.
Identifico um
dos sons que escuto como braços se debatendo. Uma espécie de luta contra algo.
O outro barulho é de queda d’água. E está ficando cada vez mais forte.
— CHASE! – Ouço
a voz de Luna.
Caio.
Percebo agora
que eu estava numa correnteza que dava numa cachoeira. Meu corpo está em queda
livre. Ainda não posso me mover, tudo que eu vejo agora é o céu ficando cada
vez mais longe e preparo-me para cair em pedras, porém, acabo caindo em mais
água. Agora consigo me mover. Esta água está quente. Quente até demais.
Começo a nadar
para fora dali, mas o rio parecer não ter fim. Está queimando. Atinjo a margem
com um pouco de esforço e me deito na areia. Ao meu redor, vejo plantas de tons
negros espalhadas por todos os cantos. Algumas delas parecem ter vida. Vejo uma
criatura gigante voando. A criatura é cinza, com presas enormes, escamas
espalhadas pelo corpo inteiro e um par de asas parecidas com as de um morcego.
A criatura faz algumas voltas, como se estivesse procurando a sua presa; então,
olho à frente e vejo duas pessoas na água. Íris e Silas.
Imediatamente
mergulho na água escaldante de coloração vermelha enquanto vejo a criatura
aproximar-se dos dois. Ponho a mão nas costas e sinto a minha foice. Fico de
pé, com a água agora mais ou menos na altura do meu abdômen.
— Afastem-se! –
Grito.
Silas põe Íris
apoiada nas suas costas e começa a correr para sair da água. Tiro a minha foice
das costas e decepo a cabeça da criatura, que ao cair n’água, pega fogo
instantaneamente. Minhas pernas estão em carne viva e a água está começando a
emitir pequenas ondas de vapor. Preciso sair daqui rapidamente.
Não tenho mais
forças para andar. Meu corpo tomba na água e sinto cada centímetro da minha
pele esquentar a um nível tão crítico que torna a dor intolerável. Apenas
aceito o fato que desintegrarei nesta água extremamente quente.
[...]
Acordo de
impulso. Todos os meus sentidos voltam à tona de uma vez. Estou meio tonto, mas
estou consciente. Íris está sentada ao meu lado, me encarando.
— O que houve? –
Pergunto. – Cadê o Silas?
— Ele te deu
sangue de vampiro e pediu para eu ficar te vigiando. – Ela responde.
— Vigiando? Pra
onde ele foi?
— Procurar
comida, ora. Você estava inconsciente e eu não tenho a mínima noção de caça,
então tem que ser ele.
Levanto e bato
as mãos na perna para tirar areia dos dedos.
— Para onde você
vai?
— Procurar uma
saída daqui.
— Não! Nós vamos
esperar o Silas. – Diz Íris, me segurando pela mão.
— Eu sou um
ceifeiro. Você não tem mais força que eu.
— Talvez não
fisicamente, mas eu tenho mais poder que você.
De repente, uma
ventania começa a tomar conta do local. As árvores começam a se sacudir, começa
a cair uma chuva muito forte e é possível ouvir um estrondoso barulho de
trovões, além disso, há raios caindo por todos os cantos e, por conta da
ventania, uma espécie de redemoinho começa a se formar no lago quente.
— Você está
criando um desastre natural!
— O que está
acontecendo aqui?! – Ouço o grito de Silas em meio à toda confusão.
— Não sou eu!
— Então quem é?!
– Pergunto.
— Não temos
tempo para isso. Vamos! – Diz Silas, fazendo sinal para nós seguirmos ele.
Silas sai
correndo por entre as árvores da floresta negra. Íris e eu estamos no seu
encalço, correndo que nem desesperados. Vários raios atingem as árvores
próximas à nós. Algumas pegam fogo, outras desabam no meio do nosso caminho, é
aí que perdemos Silas de vista. Íris e eu paramos de correr.
— Para onde ele
foi? – Diz Íris.
— Eu não sei. –
Respondo.
Andamos mais
alguns metros e o chão desaba. Nós dois caímos em algum tipo de armadilha para
pegar animais grandes. O ambiente aqui é estranho. São vários túneis metálicos
postos debaixo do solo, uma espécie de tubulação de ar subterrânea.
— Eu vou na
frente, fique no meu encalço, ok? – Digo.
— Certo. – Íris
responde.
Começamos
andando normalmente pelos túneis, sem encontrar qualquer sinal de vida. Íris
fica olhando de um lado para o outro, como se tivesse perdido alguma coisa.
Chegamos ao fim da linha. Só há dois túneis restantes. Um requer que
escorreguemos e o outro requer andar de joelhos para conseguir passar.
— Vamos pelo
outro. Não temos como saber onde esse “escorregador” vai dar.
— Certo. –
Respondo.
Íris entra no
túnel primeiro. Assim que o pé dela alcança uma certa distância, eu me abaixo
para entrar no túnel também. É aí que uma espécie de portão desce, impedindo a
minha passagem e impedindo também a saída de Íris.
Ouço um barulho
horrível se aproximando e vejo uma coisa rosada gelatinosa envolvendo o corpo
de Íris e puxando-a mais para dentro do túnel, onde não há como eu buscá-la.
— Íris! – Grito.
— CHASE! – Ouço
uma voz familiar. Viro para trás e dou de cara com E.D.
— E.D.? Como
você veio parar aqui?!
— Eu te faço a
mesma pergunta. Você não pertence a este lugar.
— E o que é este
lugar?
Ouvimos o
barulho da criatura. E.D. aponta para o túnel para baixo e pede para eu pular,
que ele estará logo atrás. Não tenho muito tempo para pensar. Pulo e escorrego
metros e metros para baixo, até que caio numa pilha de ossos.
— Que lugar é
esse? A câmara secreta?! – Pergunto.
E.D. cai na
pilha de ossos também. Estamos diante de um salão enorme, onde, ao fundo, há um
trono gigante com um homem velho sentado.
— Aproxime-se,
Davenport.
— Como você sabe
o meu nome? Quem é você?
— Eu sou o
imperador deste lugar onde você está.
— E que lugar é
esse?
— Senhor, eu
acredito que houve um engano. Chase não pertence aqui. – Diz E.D.
— Eu sei que ele
não pertence, mas há uma guerra se aproximando e eu preciso dele do meu lado.
— Eu tenho que
saber a quem eu estou me aliando, não? – Indago.
— Não seja por
isso. Permita que eu me apresente. Eu sou Hades.
Engulo em seco.
Agora sei o porquê de a floresta ser negra, porque o lago tinha água
incrivelmente quente. Estou no inferno.
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL, FÉLIX E WALTER HUGO
ESCRITO POR - WALTER HUGO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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