Capítulo 20: O começo
Nos capítulos anteriores...
“Mais uma vez, a brasileira Helena Gouveia, surpreendeu o mundo com sua
ousadia e petulância. Para a divulgação da nova marca de sua empresa, a mulher
lançou um novo slogan acompanhado de um ensaio fotográfico do qual ela aparece
no meio de homens, que aparentemente são subordinados a mesma. A luxúria
acompanhada das lingeries não ficou de fora, trazendo modelos femininas com os
seios amostra, vestindo apenas a peça de baixo das roupas íntimas.
Sensualidade, ousadia e sexo definem o poder que a empresária deseja mostrar.
27 de abril de 1990”
Dezembro de 2008
O tempo passou, as rugas apareceram e a idade
chegou, mas nada que plásticas e maquiagem não resolvessem. Ainda no poder e
sendo servida por Dupré, Helena adotou duas meninas e um menino, do qual lhe
deram netas. Duas primas completamente diferentes uma da outra, na pronúncia do
nome e na personalidade. Silvana e Rachel, uma foi criada com a avó, teve tudo
do bom e do melhor e se casou cinco vezes, a outra resolveu seguir a própria
vida, cursando faculdade de moda, se tornando estilista internacional. A única
coisa que ambas têm em comum, é a ausência dos pais, que morreram em um
acidente de avião há muitos anos atrás. Prestes a completar sessenta e três
anos, Helena foi convidada a comparecer há uma festa feita especialmente para
ela, organizada por seus amigos influentes ao redor do mundo. O objetivo do
evento é mostrar a nova geração de mulheres os feitos de Helena durante seus
quase cinquenta anos de carreira.
De repente, todos foram interrompidos pela
beleza de Sônia, que havia clareado o cabelo e usava o tom louro claro natural.
A herdeira dos Gouveia vestia um belíssimo Armani exclusivo todo trabalhado com
pedras de diamantes nas laterais, para combinar com o colar que ela usava em
seu pescoço. Aquela mulher que descia as escadas possuía um glamour e uma
elegância incrivelmente fantásticos. Sônia não parecia mais a mesma pessoa.
2009 finalmente acabava de começar. [...]
Dois meses já haviam se passado após a virada do
ano e Sônia mudou muita coisa no império dos Gouveia. Em homenagem a Helena,
uma estátua inspirada na mesma foi feita e introduzida na frente da Fábrica de
Lingeries que agora se chamava “Império Feminino”. Dupré ocupava o carga do
diretor no Império, enquanto Silvana cuidava dos lucros. Rachel ainda não
exercia nenhum cargo, de acordo com ela, “ainda não era a hora”. E quem ocupava
a cadeira de presidente, era Sônia.
“Com
certeza, ela é a nova Helena Gouveia.”
“Novamente
Sônia surpreende, a fábrica já possui as lingeries mais vendidas do mercado
internacional.”
“Ricaça
foi vista com novo affair, será?”
Rachel lia revistas, jornais e não gostava nada
de ver sua prima como uma das “famosas” mais influentes no mundo. A megera mal
esperava o dia para retornar ao palacete e ter o que era seu por direito, mas
tudo isso só depois de Joaquim enfartar. Rachel desviou o olhar para o lado,
onde o marido se encontrava, cego e imóvel, devido aos remédios fortes.
–Você
pode me ouvir querido? –Indagou Rachel, sorrindo.
–Sim... –Respondeu
Joaquim, que aparentava um estado crítico. –Rachel eu quero ver a minha mãe.
–Era
sobre sua mãe que eu queria falar. Mas acho que você não deve saber.
–Do que
você está falando?
–Querido
eu...
–Por
favor, fale Rachel.
O sorriso de Rachel aumentava cada vez mais, ela
se continha para não dar uma gargalhada. A megera acariciou os cabelos de
Joaquim e lembrou-se de quando, Vera, a mãe dele, havia ido visita-lo. Rachel
inventou uma desculpa esfarrapada para a mulher, dizendo que o marido estava
passando férias no sul do país.
–Ontem à
tarde eu liguei para a sua mãe, contei que você tinha se aposentado do trabalho
por estar doente e que você precisa de pessoas que te amam ao seu redor. –Ela
mentia tão bem, quanto uma atriz. –Querido eu prefiro não falar sobre isso.
–Continue
Rachel! –Exclamou Joaquim, que já se sentia mal. –Eu quero saber o que a minha
mãe disse.
–Ela
disse que não ia vir, por que você sempre foi um estorvo na vida dela e que não
faria diferença se suas condições de saúde atuais são graves.
–Eu...
Isso é mentira! Você está mentindo! É mentira!
–Calma
Joaquim, calma querido!
Rachel chamou a enfermeira particular que ela
havia contratado para cuidar de Joaquim.
–Rosa,
tente acalmá-lo. –Pediu Rachel chorando dissimuladamente. –Eu não sei o que
fazer.
–O que
aconteceu dona Rachel? –Indagou Rosa.
–Ele
começou a delirar loucamente... Oh Deus, faça meu marido melhorar, por favor.
–Vou
tentar acalmá-lo, mas a senhora também precisa se acalmar, saia um pouco. Você
está dentro desse quarto com ele há dias.
–Você é
um doce Rosa.
–A
senhora é que é tão dedicada ao marido.
–Eu o
amo...
Satisfeita com a encenação, Rachel pegou o
celular e ligou para Magno e ordenou que ele a encontrasse no Motel Las Flores,
próximo a Marginal Tietê. Para despistar o motorista, ela pediu que ele o
levasse até o shopping e de lá, ela o dispensou. Após a dispensá-lo, Rachel
pegou um táxi com destino ao motel. Magno já a esperava.
–Desculpe
a demora Magno, é que eu tive que dar um jeito no meu motorista. –Disse Rachel,
acariciando o rosto do farmacêutico. –Você trouxe o que eu pedi?
–Trouxe
sim... Mas por que aumentar a dosagem? Isso vai mata-lo mais rápido, e você
disse que quer uma morte lenta. –Indagou Magno.
–Mudei
meus planos, amanhã eu e o Joaquim nos mudaremos para o palacete dos Gouveia.
Vou ser a viúva solitária lá.
–Os seus
planos me assustam, sabia?
–Não tenha
medo.
Em um puxão forte, Rachel rasgou a camisa social
azul de Magno, deixando à mostra o corpo malhado de seu amante. Ela ficou de
joelhos, tirou o cinto dele e em seguida a calça, deixando-o apenas de cueca.
Rachel algemou o amante na cama e amarrou um lenço bem apertado em seu pescoço,
para deixa-lo com dificuldade de respirar. De acordo com ela, o sadomasoquismo
é essencial.
Sônia e Wagner haviam criado uma amizade
incrivelmente bonita. Ambos eram como mãe e filho, só que de uma maneira muito
mais divertida. Sônia estava saindo de uma coletiva de imprensa, e seu destino
seguinte seria uma lanchonete, onde ela abandonaria as regalias, para apreciar
um delicioso hambúrguer com Wagner e Pedro.
–Para
onde dona Sônia? –Indagou o motorista.
–Vá para casa,
eu vou pegar um táxi. –Respondeu Sônia, sorrindo. –Hoje eu deixo de ser essa
durona Sônia Gouveia, para me tornar Soninha Berenice.
–Como a
senhora quiser.
Durante o percurso até a lanchonete, Sônia
olhava através do vidro da janela casais apaixonados andando de mãos dadas
pelas ruas de São Paulo. Ver aqueles casais a fez lembrar de João Pedro, mas
uma lembrança recente com Lúcio, seu atual namorado, invadiu sua mente,
espantando os fantasmas do passado.
–Chegamos
senhora. –Disse o taxista.
Sônia pagou a corrida e desceu do táxi. A
lanchonete possuía muitos vidros, então era possível ver quem estava lá dentro.
Wagner e Pedro já haviam chegado. Sônia fitou ambos por alguns instantes antes
de entrar e percebeu que algo mais que “amizade” os unia. Mas ela resolveu
deixar aquela dúvida para outro dia e finalmente entrou, esbanjando simpatia.
–Estou
muito atrasada meus queridos? –Indagou Sônia, sorrindo como de praxe.
–Só vinte
minutos tia. –Respondeu Wagner, gargalhando. –Mas nem precisa se explicar, nós
sabemos da sua vida corrida.
–O que
importa é a sua presença dona Sônia, nem ligamos muito para os atrasos. –Completou
Pedro.
–Tenho
que agradecer aos céus por ter dois sobrinhos que entendem a minha vida
corrida. Mas vocês já pediram?
–Não,
esperávamos por você. –Respondeu Pedro.
–Pois
então vamos pedir, aquela coletiva de imprensa esgotou o meu estômago.
–Soninha
você está ficando igual à mãe do Pedro, vive em coletivas de imprensa.
–Pois é
Wagner, estou idêntica a Denise.
Após lanchar com Pedro e Wagner, Sônia pegou um
táxi com destino ao Museu do Ipiranga, aonde marcou de se encontrar com Lúcio.
Novamente ao olhar através da janela do táxi, Sônia se deparou com casais
apaixonados, que lhe trouxe João Pedro a sua mente. Mas chegar ao museu, a fez
ocupar a mente em procurar Lúcio.
–Aonde
você está? –Indagou Sônia, falando no celular com o namorado.
–Bem
atrás de você. –Respondeu Lúcio.
Lúcio agarrou Sônia por trás e a roubou um beijo
apaixonante. O casal foi clicado por paparazzis que estavam escondidos no
museu, mas nem isso fez estragar aquele momento perfeito que os dois estavam
vivendo.
–Eu te
adoro Sônia, você não imagina o quanto. –Disse Lúcio, caminhando de mãos dadas
com a amada.
–Também
te adoro. –Respondeu Sônia, sorrindo.
Após andar mais uns passos à frente, Sônia olhou
para sua esquerda e se surpreendeu completamente, João Pedro e Silvana também
estavam no museu do Ipiranga, e aparentemente namorando, já que andavam de mãos
dadas.
–Eu não
acredito. –Disse Sônia a si mesma, incrédula.