sexta-feira, 27 de junho de 2014

Império Feminino: Capítulo 27

Capítulo 27: "Por que no fim das contas nada é indestrutível."


Nos capítulos anteriores...

Denise deitou em sua cama passando mal, as lágrimas escorriam pelo seu rosto descontroladamente... Seu cérebro buscava memórias de Pedro quando ainda tinha um aninho de idade. O menino era lindo, estampou diversas capas de revistas, ele era o orgulho dos pais e a inveja das colegas de Denise. Aos sete anos, Pedro havia ganhado uma medalha de ouro em natação. Aos quatorze, Denise percebeu que ele notava muito o corpo dos homens, mas sempre pensara que aquilo fosse uma fase da adolescência. Sem poder suportar a dor, ela tomou dois comprimidos sedativos, que congelaram sua alma e a fizeram dormir. Mas o dia seguinte ainda estava por vir.
Rachel lia revistas, jornais e não gostava nada de ver sua prima como uma das “famosas” mais influentes no mundo. A megera mal esperava o dia para retornar ao palacete e ter o que era seu por direito, mas tudo isso só depois de Joaquim enfartar. Rachel desviou o olhar para o lado, onde o marido se encontrava, cego e imóvel, devido aos remédios fortes.

 –Você pode me ouvir querido? –Indagou Rachel, sorrindo.
 –Sim... –Respondeu Joaquim, que aparentava um estado crítico. –Rachel eu quero ver a minha mãe.
 –Era sobre sua mãe que eu queria falar. Mas acho que você não deve saber.
 –Do que você está falando?
 –Ela disse que não ia vir, por que você sempre foi um estorvo na vida dela e que não faria diferença se suas condições de saúde atuais são graves.

Dois meses já haviam se passado após a virada do ano e Sônia mudou muita coisa no império dos Gouveia. Em homenagem a Helena, uma estátua inspirada na mesma foi feita e introduzida na frente da Fábrica de Lingeries que agora se chamava “Império Feminino”. Dupré ocupava o carga do diretor no Império, enquanto Silvana cuidava dos lucros. Rachel ainda não exercia nenhum cargo, de acordo com ela, “ainda não era a hora”. E quem ocupava a cadeira de presidente, era Sônia. [...]

 O avião em que Denise estava embarcada havia acabado de aterrissar. Ela se despediu de Flávio, que seguiu seu caminho, mas antes dele ir, ela disse a ele que nunca desistisse de seu sonho de um dia poder ser estilista. E ele disse a ela para não ser tão dura com seu filho. Denise pegou um táxi e durante o percurso para sua casa, ela ficou refletindo sobre o que Flávio havia lhe dito.

 –Chegamos senhora. –Disse o taxista.
 –Obrigada. –Respondeu Denise, sorrindo.

Denise não estava preparada para o que iria enfrentar, mas algo dentro dela gritava: “Eu preciso ver para crer.”. E foram esses gritos sufocados que a fizeram abrir a porta da sala com a chave extra, sem tocar a campainha. Ela entrou vagarosamente, passou de cômodo por cômodo, até que as roupas de Wagner e Pedro estavam no corredor que dava para o banheiro de cima, onde ambos estavam tomando banho juntos.

 –Dona Denise?! –Indagou Wagner apavorado, que estava encostado na parede de frente para Pedro, que estava de costas para a sua mãe.

Denise fitou Wagner nos olhos e desviou o olhar para seu filho que estava completamente nu de costas para ela. Ambos três estavam com medo daquela embaraçosa situação momentânea. Uma mãe que acabava de descobrir com seus próprios olhos a homossexualidade do filho e um casal adolescente gay sendo intimidado por aquela que gerou um deles. Denise se aproximou dos dois, com os olhos cheios de lágrimas. Ela pegou a toalha que estava pendurada no pegador do box, cobriu os dois e em seguida os abraçou. Wagner e Pedro ficaram incrédulos com a reação de Denise, eles imaginaram uma surra, um sermão ou uma repreensão, mas em vez disso receberam um abraço envolvido por lágrimas descontroladas de uma mãe aflita.

 –Me perdoa mãe! –Exclamou Pedro desesperado. –Me perdoa! Eu não podia magoar a senhora e o papai, mas também não podia deixar o Wagner, eu o amo.
 –Não diga nada querido. –Disse Denise, beijando o rosto do filho. –Eu te amo, independente de tudo.
 –Eu também te amo mãe. Por favor, me perdoa.

Eles ficaram lá de pé parados sentindo o calor dos corpos se unirem. Denise podia dizer que estava tudo bem, mas Wagner enxergava no fundo de seus olhos o seu sentimento de decepção com Pedro. O seu filho que foi criado para ser heterossexual e lhe dar netos, mas em vez disso ele havia se tornado gay e não podia mudar. Enquanto Pedro se vestia no banheiro, Denise foi até Wagner, para ambos terem uma breve conversa.

 –Posso entrar?

Ela bateu na porta do quarto de hóspedes onde Wagner se encontrava.

 –Claro dona Denise. –Respondeu Wagner. –Sinta-se a vontade.
 –Eu quero conversar um pouco as sós com você enquanto meu filho se veste, pode ser? –Indagou Denise, sorrindo.
 –Sim.

Denise tirou de sua bolsa tiracolo uma fotografia tirada dentro do avião em que ela estava embarcada da câmera polaroide de Flávio. Na foto, ela e o rapaz estavam abraçados usando pulseiras com as cores gays. Ela entregou a foto nas mãos de Wagner e disse:

 –Não tenha medo. Eu não vou destruir o que você e meu filho têm. Vocês são homens lindos, que se amam e daqui para frente irão se amar muito mais. –Ela estendeu os braços para Wagner. –Me abraça?
 –Mais é claro! –Respondeu Wagner, com os olhos cheios de lágrimas. –Muito obrigado dona Denise, a senhora não imagina o quanto a aceitação da senhora é importante para mim.
 –Não chora meu amor, seus olhos são bonitos demais para armazenarem lágrimas. Assim como amo meu filho, amo você também!
 –Posso fazer uma pergunta a senhora?
 –Claro que pode.
 –Quem é o rapaz da foto?
 –O nome dele é Flávio, nos conhecemos no avião que embarquei para vir a São Paulo. Ele é gay e me contou a história dele, mas acima de tudo, esse rapaz me deixou orgulhosa e foi por causa desse orgulho todo que eu disse a ele sobre a homossexualidade do Pedro e do relacionamento de vocês dois. O Flávio me fez entender que acima de qualquer decepção, o laço que nos une é o amor. E eu não quero de jeito nenhum perder esse amor que você e meu filho sentem por mim, por que no fim das contas nada é indestrutível.

Com um sorriso de orelha a orelha, Pedro observava sua mãe e Wagner abraçados. Algo sincero naquele momento fazia tudo se tornar especial. E nada do que ele imaginou aconteceu. Sua mãe havia aceitado sua opção sexual. Coisa que Pedro pensava ser impossível ela aceitar.

 –Atrapalho? –Indagou Pedro, entrando no quarto de hóspedes.
 –Claro que não querido. Venha cá, quero contar para você sobre o Flávio. –Respondeu Denise, sorrindo.
 –Mãe, antes de a senhora contar sobre esse Flávio, me responda uma coisa.
 –O que?
 –O meu pai também aceitou?
 –Seu pai são outros quinhentos e acho melhor mantermos isso em segredo por mais algum tempo. Por que além do mais tem a família do Wagner e a Silvana não é nada fácil.
 –Sua mãe tem razão Pedro, é melhor esperarmos mais um pouco. A reação da minha mãe com certeza não será nada agradável. –Disse Wagner.
 –Se vocês dizem, vamos fazer assim então. Agora me contem sobre esse Flávio, já estou super curioso!

De volta ao palacete dos Gouveia, após passar um dia inteiro com seu amado Lúcio, Soninha se deparou apenas com João Pedro e os empregados da casa. Não havia mais ninguém. Dupré estava organizando algumas papeladas da fábrica, Rachel aparentemente havia saído com Joaquim e Silvana havia ido ao shopping. Soninha ainda sentia uma insegurança mútua de ficar a sós com aquele homem que ainda vivia dentro de seu coração.

 –Olá... –Disse Soninha a João Pedro. –Se não se importa eu vou subir, preciso de um banho.
 –Espera. –João Pedro segurou os braços de Sônia. –A Silvana me viu olhando uma fotografia sua.
 –E por que você está me contando isso?
 –É que talvez eu tenha cometido o pior erro da minha vida em ter te deixado e...
 –Você cometeu sim, mas não pense em repará-lo, por que já é tarde demais. Eu vou me casar e estou grávida.
 –Como?
 –É isso mesmo que você ouviu... Sinta-se honrado de ser o primeiro, a saber. Eu e o Lúcio iremos ter um filho e eu anunciarei isso amanhã à noite em um pequeno jantar.
 –Então... Seja feliz. Você merece.

Sônia subiu as escadas e pode sentir que João Pedro a fitou desde o primeiro ao último degrau que dava ao segundo andar do palacete. Ela se sentiu aliviada por ter resistido aos encantos daquele homem. As coisas estavam diferentes agora, já que seus sentimentos por João Pedro não estavam tão fortes como antes. Talvez a única coisa que ligasse ambos, fosse essa criança que habitava seu útero.

 –Você terá um pai muito melhor que aquele que te gerou e será muito amado meu filho. –Pensou Sônia, tocando sua barriga.

Rachel estacionou seu carro conversível em um estacionamento privado. Ela vestia um vestido azul colado no corpo, que possuía um enorme decote, deixando a metade dos seios à mostra. A peruca loura que cobria suas madeixas castanhas enganava até os especialistas em cabelo. Era impossível dizer que não era natural. Rachel havia encarnado Judith, para dar uma boa lição em Rafael Azevedo, que de acordo com ela era um jornalista mais do que incompetente. Ela caminhou algumas ruas até chegar ao prédio onde se localizava o apartamento do jornalista. De elevador, “Judith”, chegou ao seu destino. Iniciando seu plano com apenas um toque na campainha.

 –Você? –Indagou Rafael, surpreso.
 –Eu disse que voltaria, querido. –Respondeu Rachel, sorrindo.