PALAVRAS
DE LARA PACHECO
Douglas estacionou em frente a um cemitério. O sol já
estava se pondo e o portão do local já estava fechado. Ele saiu do Chevette e, como um cavalheiro, abriu a
porta do passageiro para que eu pudesse sair.
— Muita gentileza sua, sir. Está ganhando pontos comigo. — eu sorri e ele correspondeu.
Um frio tomou conta do meu corpo e eu abracei a mim
mesma. Anjo, num impulso, retirou sua jaqueta e a vestiu em mim.
— Por favor, Lara, vem comigo. Quero te mostrar uma
coisa.
O muro do cemitério era baixo o suficiente para que eu
pudesse alcança-lo, subindo as costas de Douglas. Ele subiu o muro logo após a
mim.
O alaranjado do céu era divino e Anjo surpreendentemente
estava fazendo com que o cemitério fosse um lugar romântico.
— Lara, tem um lugar aqui em que a gente pode ver o pôr
do sol melhor.
— Você costuma frequentar cemitérios regularmente?
— Só quando eu estou com pessoas especiais; Tão quanto
você.
Anjo me puxou pela mão e me levou até um pequeno morro. Não
havia túmulos, apenas algumas árvores e muitas flores. Havia também alguns
gatos, que dormiam entre os arbustos.
— Aqui realmente é lindo!
Douglas se sentou no chão, de frente para o sol, e fez um
gesto para que eu me sentasse também. Meu coração pulava à medida que ele
colocava a sua mão em cima da minha. A paisagem era uma motivação para fazer
com que, quando eu menos visse, meus lábios ficassem colados aos seus. Não
havia mais bafo de álcool, nem hesitação da minha parte, apenas um ímã que
fazia com que nós ficássemos cada vez mais próximos.
Anjo pôs a mão dentro da minha blusa e tentou desabotoar
meu sutiã, mas ele preferiu não fazer aquilo. Poderia ser vulgaridade da minha
parte, mas pus a mão entre as pernas dele e sorri. Eu estava pronta. Eu esperei
dez anos por aquele homem. Eu acreditava nele.
— Eu acredito em você... meu anjo.
— Eu esperei por você, meu amor. — disse ele e, em
seguida, me beijou e fez o que estava pensando em fazer.
O sol deu lugar à lua, brilhante, resplandecente. Eu estava
em outro lugar, e tinha certeza que Douglas também. Ele era meu anjo, meu
homem, meu protetor. Eu senti que poderia confiar minha vida a ele. Pensei que
logo eu teria de voltar à Fortaleza e ter de deixa-lo novamente. Aquela ideia
fez com que eu o abraçasse forte enquanto nos amávamos e eu, sentindo o seu
cheiro de rock’nroll e nicotina, me senti melhor.
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PALAVRAS
DE GABI CARVALHO
Confesso que
fiquei triste por ter de voltar pra casa depois que o festival Rock in Rio
chegou ao fim, apesar de estar morrendo de saudades da minha cidade, da minha
cama e da minha família.
Não tão diferente era Lara que, ao contrário de como
quando ela chegou, também não queria sair do Rio de Janeiro. Havia um sorriso
muito bobo no seu rosto, o que eu, Márcio QI e Valeska também puderam notar.
— Nossa, foi tão rápido. Bem que o festival poderia ter
alguns dias extras. — disse Lara, arrumando o cabelo em frente ao espelho,
fazendo um coque. Ela virou-se para mim e desfez o sorriso — Gabi, meu cabelo
tá legal?
— Tá ótimo, Lara. Eu só tô um pouco passada com você.
Justo quando acaba o Rock in Rio você se anima desse jeito. — falei.
— A Gabriela tem razão. Desde o primeiro dia você queria
ir embora!
— Gente, para de dar pitaco na minha vida! Olha, eu
preciso sair... resolver umas coisas. Que horas a gente vai pegar o busão de
volta pra Fortaleza? — questionou Lara.
— Às seis e meia da noite. E já que a Lara tocou no
assunto, eu não quero que nenhuma das três moçoilas faça seus showzinhos de stand up no ônibus, ouviram bem? Se
estiverem com vontade de defecar, trocar o absorvente, ou sei lá o quê, façam
isso como damas! — disse Márcio QI. Quando olhamos para trás, Lara Pacheco já
havia saído.
— Ih...só eu que acho que a Lara ta escondendo alguma
coisa? — declarou Valeska Soares, sentando-se em uma das camas.
— Valeska, tu é lenta hein? Agora que tu foi perceber?!
Eu já tô sacando qual é a dela faz tempo...
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PALAVRAS
DE LARA PACHECO
Os dias passaram muito rápido, principalmente quando eu
me resolvi com o meu Anjo! Eu realmente acreditei que por baixo de toda aquela
barba de Douglas Loreto ainda havia um menino tão inteligente e educado quanto
ele era no jardim de infância.
Bom, talvez eu estivesse errada, mas eu queria acreditar
que aqueles poucos dias que eu passei ao lado dele foram os mais felizes da
minha vida. Douglas tinha o poder de tornar um fúnebre cemitério em um local
romântico, aquilo pra mim era a prova viva de que ele pouco havia mudado desde
aquela época.
Eu
estava entregue aos braços de Anjo e não queria acreditar, mas nós teríamos de
nos separar de novo.
Marquei
de encontrar Douglas em um local deserto da Cidade do Rock. Como de costume,
ele estava escorado no seu Chevette
preto fumando um cigarro. Cumprimentamo-nos com um abraço e um beijo caloroso.
—
Parece que...
—
Shhhhh.... — Douglas pôs o dedo indicador nos meus lábios. — eu tenho uma
proposta pra te fazer, Lara.
—
Proposta? Que proposta? — eu estava com medo.
Anjo aproximou-se de mim e segurou minhas duas mãos.
Sorriu, abaixou a cabeça. Era incrível a maneira que o sorriso dele conseguia
me cativar.
— Fica aqui comigo, no Rio de Janeiro. — olhou nos meus
olhos — nós não precisamos de mais nada porque temos um ao outro. — Douglas me
abraçou — eu não quero ter de ficar longe de você de novo! Por favor, não faça
isso comigo, Lara. Eu imploro!
Eu
já esperava uma proposta como aquela. Durante aqueles poucos dias, nos amamos
tão intensamente que uma separação seria radical demais. Contudo, abandonar
toda a vida que eu tinha em Fortaleza para ficar com Douglas no Rio de Janeiro
também seria radical. Eu estava perdida, desolada, sem chão. O que me restava
era o silêncio, a contemplação de ver o rosto do meu Anjo esperando uma
resposta minha e que fosse, de preferência, positiva.
—
Eu aceito ficar com você aqui, Douglas. — respondi, finalmente, sem pensar.
Esperava
então não me arrepender daquela decisão.
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PALAVRAS
DE GABI CARVALHO
Chegada a hora marcada para nos encontrarmos e então
pegar o ônibus para voltar à Fortaleza, Lara não havia aparecido. Estávamos
Valeska, Márcio e eu parados frente ao hotel, segurando nossas malas, inclusive
as dela.
— Por onde será que anda a Lara? — questionei. — Eu a
avisei direitinho sobre a hora que partiríamos.
— Eu tô com medo, é lua cheia e estou sinceramente achando
que um lobisomem pegou ela. — disse Valeska, roendo as unhas.
— Criatura, para de falar besteira e tenta ligar pro
celular dela!
Márcio
QI arrumou os óculos, pôs a mochila nas costas e deu alguns passos a frente,
olhando para os lados da rua do hotel em busca de algum sinal de Lara.
—
Meninas, eu acho melhor vocês duas irem na frente pra rodoviária. Daqui a pouco
o nosso ônibus parte e eu sei que você, Gabi, vai fazer o maior barraco se
precisar pagar outra passagem.
Eu
entendi. Márcio decidira deixar que Valeska e eu fossemos sozinhas para que ele
pudesse achar Lara a qualquer custo. Ele sabia sim que a garota era uma
sonhadora e que, provavelmente, havia achado alguém, dentre tantos, que
roubaria seu coração.
—
A gente vai sozinha, então? — perguntei.
—
Gabi, eu prometi aos pais das três que tomaria de conta de vocês. Confesso que
exagerei um pouco, bebi, me diverti muito, mas seja onde quer que a Lara esteja
eu vou acha-la.
—
Você sabe que não tem nenhuma obrigação em desfazer as merdas que a Lara faz. —
falei seriamente para Márcio. Puxei Valeska pelos ombros — Boa sorte, então.
Tchau.
—
Tchau. — respondeu ele, friamente.
Enquanto
Valeska e eu íamos para a rodoviária, pude concluir apenas uma coisa: Márcio
tinha uma quedinha pela Lara. Certo que nossa amizade era firme, mas Lara nunca
foi daquelas que se importasse com a gente. Eu rezaria pelos dois.
NOVELA ESCRITA POR MÁRCIO GABRIEL
COLABORAÇÃO DE ANA GABRIELA E LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE FÉLIX CRÍTICA
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ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO E NÃO TEM NENHUM COMPROMISSO COM A REALIDADE