Capítulo 25- Eu não posso mudar
Nos capítulos anteriores...
Com uma peruca loura, lentes de contato verdes,
unhas postiças e um vestido que pudesse marcar todo o seu corpo, Rachel passou
por um enorme corredor e no final entrou no elevador, do qual a deixou de
frente para a porta do quarto 330. Ela bateu na porta e Magno abriu.
–Trouxe o
que eu pedi?
–Sim.
Usando um disfarce para não ser reconhecida,
Rachel pegou um táxi até o apartamento de um de seus amigos jornalistas. Ela
pagou a corrida, entrou no prédio e subiu de elevador até o último andar.
Rachel tocou a campainha e minutos depois foi atendida por Rafael Azevedo, um
dos jornalistas mais comprados no mercado da fama.
–Por qual
motivo você quer que isso caia na mídia?
–O filho
é do João Pedro. –Respondeu Rachel, sem hesitar.
–Como?
–Acho que
isso acaba com a sua curiosidade em saber o motivo... Bem espero que daqui há
alguns minutos todos saibam que Sônia Gouveia está grávida de João Pedro. Vou
indo.
Lúcio chamou o garçom, que trouxe em sua bandeja
uma aliança de ouro. Assim como todos pararam de comer para ver aquele lindo
momento, Sônia sentiu seus sentidos paralisarem. Ela não podia acreditar. Lúcio
estava fazendo tudo o que João Pedro não teve coragem de fazer. O rapaz
levantou de sua cadeira, pegou a aliança da bandeja, se ajoelhou aos pés de sua
amada e sorriu dizendo:
–Sônia,
minha linda. Você é a Deusa que trouxe sentido a minha vida. Você me tirou de
um estado preto e branco e me colocou em um mundo inundado pelas cores do amor.
Eu te amo e acho que você também sente algo por mim... Então eu pensei, por que
perder tempo? A vida é curta e devemos aproveitá-la ao máximo. Casa comigo?
[...]
Os noticiários só falavam do pedido de casamento
de Lúcio à Sônia. O assunto fora comentado até em redes sociais. Virou assunto
de tabloides americanos. Rachel estava possessa com toda aquela situação, o
jornalista havia dado para trás. Sua chance de destruir Soninha de uma vez por
todas havia ido por água abaixo.
–Maldito
seja! –Exclamou a megera, revoltada. –Mas ele vai pagar, bem caro! Eu vou
mata-lo.
Rachel jogou sua escova de cabelo no espelho
horizontal de seu quarto, quebrando-o. Os olhos dela estavam cobertos por ódio.
O plano que ela havia arquitetado há dias havia sido destruído por um qualquer.
Deitada sobre a cama, ela olhou para o lado esquerdo de seu quarto e fitou o
composto de cianureto em um vidro transparente, sobre sua mesinha de cabeceira.
–Talvez
não tenha acabado, não agora... –Pensou Rachel, sorrindo.
A caminho de São Paulo dentro do avião, Denise
fitava aquele jovem gay sentado ao seu lado, ele parecia estar desenhando algo
muito bonito. Um croqui talvez... Ela não tinha certeza se era de fato um
croqui. Sem conseguir manter a curiosidade, Denise indagou:
–O que
você tanto desenha?
–Um
croqui... –Respondeu Flávio.
–Você é
estilista?
–Não. Eu
cursei engenharia mecânica na faculdade.
–Mas você
desenha muito bem, deveria ter feito moda. Garanto que você se sairia muito
bem.
–É que
meus pais não sabem que eu sou gay e eu não pretendo contar até estiver bem
financeiramente.
Denise fitou aquele belo rapaz e pensou em Pedro,
no medo dele de revelar a ela a verdade. Denise não pôde conter as lágrimas,
seu filho era tudo o que ela tinha. Sua carreira de atriz não era nada na
frente dele e agora Denise descobrira que ele é gay, mas continuava sendo seu
filho. Flávio notou as lágrimas nos olhos da mulher.
–Aconteceu
alguma coisa senhora? –Indagou Flávio.
–É que eu
olho pra você e lembro do meu filho... –Respondeu Denise, chorando. –Fiquei
sabendo pelos outros que ele é gay. Recebi fotos dele beijando o rapaz que ele
dizia ser seu melhor amigo.
–Então é
por isso que você está indo para São Paulo?
–É sim.
Eu preciso entender o porquê.
–Qual o
seu nome?
–Denise...
–Prazer
dona Denise, me chamo Flávio. E quanto a “entender”, não há nada para entender.
Nós gays não escolhemos isso, sofremos por sermos diferentes, por sermos
aberrações... Só queríamos ser normais como os outros meninos, mas não tem como
mudar, por que não é uma doença então, por favor, não crucifique seu filho.
–Flávio,
me abrace, por favor.
“Em abril
de 1990, Daniel, um rapaz de dezessete anos contou para seus pais sobre sua
homossexualidade. Seus pais enlouqueceram com a notícia, eles não estavam
preparados para tal fato. O rapaz não aguentava mais esconder tudo aquilo que
lhe fazia chorar todas as noites. A reação dos pais de Daniel foi violenta, o
pai dele surtou e a mãe lhe esbofeteou. Na época, o assunto “homossexualidade”
era pior do que é hoje, por isso tornava-se mais difícil um homossexual revelar
a verdade para os pais, as reações de cada família eram diferentes. Uns reagiam
com choro, abraços, medo... Enquanto outros violentamente. Daniel foi expulso
de casa pelo pai. Ele foi morar na casa de um amigo, que era maior de idade,
independente e também gay. Durante o tempo em que Daniel passou morando com o
amigo, ele se libertou de um martilho que habitava seu coração desde a
infância. Na escola ele sofreu bullying dos colegas de classe. Na adolescência,
ele era o único do grupinho de meninos héteros que não tinha namorada. Cansado
de ser diferente, o rapaz visitou uma boate gay, conheceu outros rapazes,
beijou caras. Naquele lugar todos eram como ele, talvez aquele lugar fosse o
seu refúgio. Daniel morou com seu amigo durante um ano e meio. Depois ele
conheceu um rapaz, com quem se uniu, ambos saíram do Brasil e contrataram uma
barriga de aluguel. Se tornaram pais e depois retornaram ao país. Quando os
pais de Daniel souberam que ele estava de volta ao Brasil, eles foram
visita-lo. Daniel recebeu os dois de braços abertos. Naquele dia houve perdão,
de todas as partes.”.
Flávio acolheu Denise em seus braços quentes,
ver aquela mãe chorando por causa da homossexualidade de seu filho, o fez
chorar também. Ele pensou em sua mãe, em seu pai... Pensou no namorado que o
amava. Eles haviam feito tantos planos. O medo habitava o coração de Denise e
de Flávio, o medo...
–Vai ser
difícil, por que você aceita um homossexual quando é o filho da vizinha, mas
quando é o seu filho, a situação se torna totalmente diferente. –Denise já
conseguia conter as lágrimas. –Eu sempre apoiei os gays, meu marido também,
mas...
–Mas
agora é com o seu filho. –Flávio acariciou o rosto daquela mãe que estava aos
prantos. –E é por ser com o seu filho que você deve se dedicar cada vez mais.
Dona Denise ele precisa de você mais do que nunca. Mais do que a senhora
imagina.
–E você
Flávio, precisa de seus pais?
–Preciso...
Mas contar não é o que eu vou fazer, até eu estar estabilizado no mercado de
trabalho. Meus pais são preconceituosos, sempre falam mal dos gays, então não
vou correr o risco.
–O
preconceito muda, quando eles descobrem que é seu filho e não o filho dos
outros. Muitos pais se desesperam por causa da sociedade preconceituosa, sempre
passa na T.V um noticiário de algum gay que foi vitima de agressão por
homofóbicos. Eles têm medo de seus filhos sofrerem agressões também. Nós pais,
amamos vocês, nossos filhos, acima de tudo.
–Obrigado
dona Denise.