segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Pior Fic que já Existiu - Capítulo 2


II

Passaram algumas aulas, muitos deveres de casa, etc, etc... Mas eu prometi que não teria mais blá, blá , blá. Não prometi? E eu não sou mentirosa não. Lá vamos nós ao bendito dia do ensaio. O que eu gostaria de dizer é que em algum lugar tocava uma música qualquer da Celine Dion, como música de fundo sabe? Mas não teve nada disso.
O pessoal já estava ensaiando e eu estava sentada brincando em mexer os pés. Foi aí que ele chegou. Cabelos muito pretos, alto, nem forte demais nem magro demais, absolutamente na medida. Não dava para dizer a cor dos olhos ao certo, mas o efeito que a luz do sol produzia ao encontrá-los, ah...isso era mais indescritível ainda. Sabe, eu acredito que as pessoas já nascem com algum talento natural. Uns são incrivelmente aptos para aprender, inteligentes, outros têm aquele poder de liderança como se cada palavra dita soasse como um convincente siga-me e ainda tinham os como aquele ali. Tudo, eu disse T U D O que ele fazia parecia charmoso e incrivelmente bonito. Fiquei imaginando ele acordando com o cabelo sujo e bagunçado com um bafo de boca de defunto, e um cheiro azedo de suor...Incrível! Seria lindo e sexy do mesmo jeito!
Ele cumprimentou uns e outros que encontrou no trajeto, com um simples e completamente encantador: E aí?. E veio em sua direção.O que eu estava fazendo de errado para ele me notar? Peraí... Para... Para... Para. Ele era seu par? Ele era seu par! É isso aí meu tio, a sorte está sorrindo para mim.
[Dancinha mental da vitória...]
Pronto, você já está contente? É porque depois ele deu um abraço e um aperto na bunda da outra menina que estava sem par, aquela com muito no peito e... Você sabe, ele era namorado dela.
Ibope divulga pesquisas: Chances de ele largar a namorada e ficar comigo apaixonadamente à menos 5% (podendo variar para mais ou para menos).
OK, eles ficaram lá se beijando e tals. Eu sorri e tratei de olhar para qualquer outro lugar. Depois de um cinco minutos o meu par chegou...Eu não poderia ser muito exigente mesmo...
Pedro Rômulo era um menino que crescera mais que a média, seu jeito totalmente atrapalhado e seus óculos com durex no apoio da orelha não contribuíam para opor a ideia de que ele tinha algum distúrbio mental.
Oi...Você que vai dançar comigo? Ele se aproximou de mim e sentou ao meu lado, ainda ficando numa posição bem mais alta que a minha.
Eu mesma, em carne, muita carne, alguns ossos e pés desastrosos Tentei ser amigável,como você pode ver.
Ah... Meu nome é Pedro - Ele disse, rindo.
Helena e eu nos cumprimentamos.
Tâmara e Jorge discutiam num canto, ele já tinha dado sete pisadas no pé dela... e a música nem tinha tocado ainda.
(...)

Depois que eu conheci o tal Pedro Rômulo comecei a notá-lo na aula. Ele sentava bem curvado na última cadeira da fila do canto, como se tentasse ficar camuflado. Achei isso meio que parecido com minha própria situação. Eu, Tâmara e Jorge debatíamos a respeito de um professor asqueroso de geografia. É engraçado, prazer de aluno é falar mal de professor e a verdade é recíproca. Eu li uma vez, em algum lugar, que geografia é a matéria mais estranha que existe. Parece ser a mesma desde a quinta série e você ainda não aprendeu. Eu concordo. Droga, já estou enrolando de novo, desculpe. Não é de propósito é que eu sou meio tagarela. Sim, sim, você já percebeu. Claro! Vamos aos fatos:
Fato 1) Percebi que se eu estava desconfortável com isso de dançar o Pedro estava angustiado, irrequieto, preocupado elevado a quarta potência.
Fato 2) Além de muito estranho, e com cheiro de queijo provolone, ele era estranhamente gentil.
Fato 3) Eu preciso estudar matemática, sério. Tipo urgente.
Eu ainda não o descrevi muito bem fisicamente. Vamos nessa: Como eu já disse mais alto que o normal isso seria de 1,9 alguma coisa ou 2 m . Tinha um cabelo avermelhado, não era bem ruivo, era uma mistura. Usava por cima da farda um casaco azul largo demais para sua magreza.
Esse momento é fundamental. Permita-me.

[risos] – respiração corrida – [risos] – respirando fundo.

Pronto.

O que é tão engraçado? É que eu sei exatamente o que você está pensando. Eu vou explicar, mas antes vou resumir tudo numa onomatopeia e numa descrição curta, veja : “huumm...” sorrisinho de canto de boca. Ah, querida e pacata pessoa, você está aí com seus miolos imaginando uma cena de romance, não está? Farejando com os olhos um entendimento entre mim e Pedro, uns beijinhos... Eu sabia...

Mas não vai acontecer. Provavelmente estou arruinando a história – que já não é grande coisa – contudo, eu tenho que fazer o papel daquela pessoa detestável que com um riso enfiado numa cara de desdém fala “eu avisei”. E fiz mesmo, eu disse inúmeras vezes que o que eu estou contando não é o que você costuma ler. Ou vai ver não é o que você quer ler. Sinto muito. Quer saber o que eu penso? Acho que quando lemos uma história nós nos “escrevemos” também, é como se nos colocássemos no lugar das personagens, e queremos que aconteça com elas o que queríamos que acontecesse conosco. Porém, quantas vezes – principalmente nós, garotas – imaginamos cenas, ações, situações... Fala sério, você nunca ensaiou aquele diálogo – ou melhor, monólogo- no espelho do banheiro? E ouvindo aquela música antes de dormir? E quantas vezes o que você imaginou realmente aconteceu? Pois é, raramente. Infelizmente. Não vou iludir você, e não estou dizendo que isso seja bom. Apenas conto os fatos... Os fatos! Enrolando de novo.