sexta-feira, 9 de maio de 2014

Reaper: Origens - Episode Two

EPISÓDIO DOIS
"ÍRIS MONTGOMERY"

É meu primeiro dia no colégio novo. Ouvi muitos dizerem que o Ensino Médio seria excruciante para mim, que seria a pior experiência da minha vida, mas eu não me importo, pois sei que há planos maiores para mim.
Passei quinze anos sendo educada em casa pela minha mãe e meu pai, sendo que este último constantemente desaparecia de nossas vidas. É difícil ser uma criança normal quando todas as outras crianças tiram sarro de você. Quando cada um de seus “amigos” fazem de você um brinquedo. Algo que eles podem manipular. Alguém inútil, sem importância nenhuma no mundinho deles.
Então, eu e minha mãe nos mudamos. Meu antigo colégio era grande o suficiente para eu me esconder das top models que vinham atrás de mim com a intenção de me espancar. Todos os dias, eu chegava mais cedo no colégio, deixava a minha mochila na sala de aula e me escondia na sala dos professores. Sempre tive medo de algo de ruim acontecer comigo.
Aqui, neste novo colégio, eu mal consigo encontrar minha sala de aula sozinha. Andei por mais ou menos meia hora até perceber que estava no lado errado do colégio, e foi aí que um professor me socorreu. Ele era alto, moreno e de olhos azuis e sotaque sulista. É engraçado ouvi-lo falando.
— Então você vem da Califórnia? – Ele pergunta.
— Para falar a verdade, eu venho de todos os lugares. – Respondo e ele dá um sorriso.
Depois de andarmos por alguns minutos, ele para e me empurra contra uma parede, põe a mão em minha boca e pede para que eu fique quieta. O medo toma conta de mim. É isso. Minha vida acabou por aqui.
De repente, ouço um baque estrondoso. A iluminação do colégio começa a ficar cada vez mais precária e vários alunos saem de suas salas a fim de descobrir o que está acontecendo. Olho para o lado por um segundo e vejo um homem segurando uma foice.
— Vamos! – O professor grita, e me puxa pela mão.
Nós corremos por todo o colégio, o homem com a foice nos perseguindo como se não houvesse amanhã. Por todos os lugares que ele passa, alunos são estraçalhados violentamente e os gritos de desespero ecoam cada vez mais alto em minha mente.
Encontramos uma espécie de porão e entramos. Eu estou morta de medo, mas tenho ainda mais medo de perguntar o que está acontecendo. Nós descemos as escadas e ele me coloca encolhida numa parede, com uma manta velha e empoeirada sobre meu corpo.
— Fique aqui custe o que custar. – Ele diz.
— Eu quero ir para casa! Minha mãe está lá!
— SUA MÃE ESTÁ MORTA! – Ele grita. – Aquela criatura o matou.
Absorvo o choque por um momento. Não consigo expressar com palavras a dor que eu estou sentido, mas o mais próximo que eu conseguirei chegar é que alguém arrancou o meu coração e o espremeu diante dos meus olhos.
— Qual é o seu nome? – Pergunto.
— O quê? – Ele pergunta de volta.
— Você está me protegendo e eu nem ao menos sei quem é você ou porque você está fazendo isso.
— Eu estou fazendo porque o seu pai me pediu para fazer. – Ele responde. – Meu nome é Hércules*. Eu sou seu irmão.
— O quê?!
Ele não tem tempo de responder. Alguém está tentando arrombar a porta, mas não consegue, então, começa a chutá-la desesperadamente.
— Socorro, por favor, alguém me ajude! – É um pedido de ajuda, não a criatura.
Hércules anda até a porta e a abre. Um garoto e uma garota descem as escadas com seus rostos repletos pelo pavor. Não posso imaginar o que eles passaram, mas sinto que é minha obrigação abraça-los.
Eles retribuem o gesto, mortos de medo.
— Obrigada. – A garota diz.
— Você os conhece? – Hércules pergunta.
— Não, nós não nos conhecemos. Como vocês chamam-se? – Pergunto.
— Eu sou Martha e ele é Kyle. Nós somos namorados.
— Prazer em conhecê-los. – Comento.
Um outro baque me assusta de vez. Aquele barulho é dez vezes mais forte do que Kyle estava fazendo tentando abrir a porta. Corro para meu canto e me cubro com a manta. Kyle e Martha me seguem.
— O que é isso? – Martha pergunta e aponta para algo embaixo da escada.
Olho para a direção em que ela apontou. Há uma porta. Deixo eles se esconderem no armário e escolho permanecer debaixo da manta. A porta é arrombada. Hércules tira uma espada de baixo do cinto – ou Deus sabe lá de onde – e aguarda. A criatura com a foice está cara a cara com ele.
— Eu vou leva-la. Ela é um risco para humanidade.
— Você não vai leva-la a lugar nenhum, Morte.
Hércules e Morte começam a brigar e o barulho de aço com aço é agonizante. Não consigo ver quase nenhum dos movimentos, mas suponho que Morte esteja com vantagem por conta dos gritos que Hércules solta de vez em quando. Minhas mãos começam a brilhar do nada.
Não sei o que está acontecendo, mas sinto que tenho alguma espécie de habilidade sobrenatural. A luz incandescente que meu corpo produz enfraquece Morte o suficiente para que ele fique cego temporariamente e desaparecer por completo.
Minha luz se apaga.
— O que foi isso? – Pergunto.
— Seus poderes desenvolveram-se, Íris. Você é filha de Zeus.
— O quê?! Isso é impossível. Meu pai me abandonou!
— Ele te abandonou para impedir que Morte te capturasse e agora eu tenho certeza que Morte ficará no pé dele. Vamos, nós temos que ir.
Hércules pega uma lata de tinta e um pincel que estavam no canto do porão e faz um círculo malfeito no chão. Ele passa a sua espada no centro do círculo e uma imagem estranha aparece. É uma espécie de caverna. É magnífica.
— Você tem que pular. – Ele diz. – Vai ser uma queda e tanto. Chame seus dois amigos com você.
— Você não vem? – Pergunto.
— Alguém tem que fechar o portal. Eu encontrarei com você em breve.
Abraço Hércules e abro o armário. Kyle e Martha estão de olhos fechados, paralisados de medo. Eu abraço-os e eles retribuem.
— Está tudo bem. – Digo.
— O que vai acontecer agora? – Kyle pergunta.
— O FBI e a CIA devem aparecer aqui a qualquer minuto, então vocês tem que decidir rápido. Uma vez que haja alguém aqui neste local, imediatamente este alguém será declarado culpado e preso. Se vocês três saírem agora, vai parecer que foram sequestrados e/ou morreram durante o ataque.
— Mas... E nossa família?
— Você nunca poderá vê-los novamente, Martha. Eu sinto muito.
— Vamos. – Kyle diz, enxugando as lágrimas de Martha do rosto dela.
Kyle e Martha pulam no círculo. Hércules segura a minha mão e olha em meus olhos.
— Eles vão morrer, Íris. Morte irá cuidar disso.
— Então, deixe-o vir. – Respondo e Hércules esboça um sorriso.
Ele me abraça como se aquele fosse seu último dia comigo, e realmente foi. Nunca mais o vi em minha vida, mas sei que ele está por aí. O que ele me disse, de fato aconteceu. Meses depois de nos adaptarmos com a vida naquela caverna, com todo um castelo escondido, ele nos encontrou e tirou a vida dos dois. Venho jurando vingança desde então.
E é por isso que eu estou com o Chase.
É por isso que Morte cairá.
Eu não permitirei que suas atrocidades fiquem impunes.

*Hércules é o nome romano dado ao heroi grego, Héracles.