quarta-feira, 21 de maio de 2014

Que se Acendam as Luzes - Capítulo 20 (ÚLTIMO CAPÍTULO)



         Carla encarava Valéria enquanto levantava. Então a policial começou a soltar gargalhadas e disse, batendo palmas:
         – Parabéns, Carla! Você é um monstro nota dez. – Valéria começou a chorar – Primeiro, eu sou sequestrada, depois, descubro que posso morrer. Eu tinha vindo pra São Paulo em busca de um futuro melhor, e não de um pesadelo. Um pesadelo real, que eu vivi a cada segundo, a cada suspiro que sofri não só na Argentina, mas também na Bolívia.
         – Quem é você? Do que tá falando? – perguntou Carla balançando a cabeça.
         – Não se faça de burra, desgraçada. Como você é sínica! Sua maldade me encanta, sabia? Ah, mas como eu queria que esse momento acontecesse. Como eu queria!
Valéria se aproximou da cantora, que se afastava para trás, dizendo:
         – Sai! Não se encoste a mim!
Valéria deu um chute com seu salto alto na barriga de Carla, a qual caiu do chão novamente. A ira tomou conta de Valéria, e a mesma começou a chutar o rosto da vilã, de um lado, e de outro.
         – Para! Sai! – gritava Carla enquanto tentava se levantar e parar de ser chutada. Finalmente a cantora conseguiu se levantar.
         – Tá com medo? – disse Valéria – Você tem medo agora, né Carla? Só tem medo quando não tem saída. É uma vagabunda mesmo, né?
Carla correu apressadamente para seu quarto, enquanto Valéria a seguia. A cantora entrou no quarto e agarrou a mala. Valéria segurou seu braço, mas Carla lhe golpeou na barriga com uma joelhada. A PM caiu no chão. Carla saiu e trancou-a. Antes de sair, a traficante passou na cozinha e pegou uma faca, colocando dentro de sua mala. Ao verificar seus documentos e tudo mais, ela saiu do apartamento, correndo para o elevador.

         Dentro do quarto, Valéria tentava arrombar a porta. Então ela decidiu acabar logo com aquilo. Contou até cinco e meteu um enorme chute na porta, que se abriu. Ela voltou a correr do percurso do corredor até o elevador.
         – Droga! – gritou ela ao ver que o mesmo estava sendo usado.
Quando Carla saiu do elevador, para correr até o estacionamento, para pegar seu carro, foi que Valéria tinha conseguido entrar no primeiro. Esperou um minuto e por fim desceu. Quando as portas se abriram ela correu até o estacionamento. Ao chegar lá, Carla estava dentro de seu automóvel, que saiu segundo depois em disparada. Valéria não perdeu tempo e fez o mesmo.

         A perseguição continuou. Carla desviava bruscamente dos outros veículos enquanto Valéria também fazia o mesmo. As rodas do automóvel da policial pareciam uma visão de ótica, pois a velocidade era inacreditável: ultrapassava os cento e vinte quilômetros por hora.

         Era a vez das duas passarem em uma rua cujo estava praticamente abandonada. Estava mais para um beco. Carla sentia que a velocidade de seu Kia Soul diminuía. Foi então que o veículo parou do nada. Ela tentou dar partida, mas não conseguiu. Desesperou-se e decidiu descer, pois viu que Valéria “tinha se perdido” na perseguição.
         Ela deu a volta no automóvel, olhando para trás e levou um “baque”. Uma mulher ruiva a encarava com uma arma na mão, apontando para seu rosto.
         – Tentando fugir, Carla?
A cantora não mediu as consequências e correu pelos becos da rua paulistana, enquanto Valéria a perseguia dando tiros com o revólver. Carla começou a ficar desesperada. Então ela percebeu que estava num beco sem saída, e era muito escuro, pois já passavam das dez da noite.
         – Não, por favor! – disse Carla mostrando a palma de uma mão para Valéria, que se aproximava, enquanto a outra abria a mala e pegava um objeto.
        
         A policial se distraiu e abaixou a arma. Foi aí que sentiu uma forte dor na barriga. Carla tinha enfiado uma faca na mesma. Valéria caiu no chão, sangrando, enquanto Carla olhava a cena sem dó nem piedade:
         – Praticamente eu venci – Disse Carla – Só vou te falar uma coisa antes de fugir e deixar você morrer: não se meta com Carla Chrustins.
E se virou, voltando para as avenidas centrais de São Paulo com o carro de Valéria, a qual soluçava naquela rua fria, enquanto o sangue escorria por seu corpo.


         A grande vilã dessa história tão dramática seguia com passos apressados o saguão do aeroporto de Congonhas. De repente ela percebeu que alguma coisa estava errada. As pessoas ali começaram a gritar e correr. Ela se viu sozinha no meio daquele lugar. Sentiu que o mundo girava em torno de si. Os gritos continuaram e ela pôde ouvir alguns barulhos, ou melhor: tiros. E um deles, atravessou fortemente seu peito. Ela olhou para o local, e ao ver o sangue, desmaiou. Mas não era a única. Cerca de vinte pessoas foram assassinadas naquele “massacre”, que acontecera no aeroporto, e que com certeza ficaria na história.




        – Valéria? – disse uma voz masculina.
Valéria abriu os olhos e percebeu que estava deitada numa cama. Num hospital. Mas não era o hospital Trindade. Ao seu lado, Renato segurava sua mão.
         – Onde estou? Aquela vagabunda fugiu. – disse ela.
         – Não, ela morreu num massacre no aeroporto de Congonhas. Foi uma das vítimas. E você, sua teimosa, perdeu muito sangue com o ferimento. Mas não se preocupe, pois o hospital já possuía seu tipo sangue.
         – Como me encontraram? Eu estava numa rua quase que deserta.
         – Seu GPS estava em seu bolso, esqueceu?
         – Ah sim, agora me lembrei. – ela fitou Renato – Sabia que te amo?
         – Sim. E eu também. – Disse ele antes de tacar um beijo na boca da PM.

        
         Aquele mês, não só para a cidade de São Paulo, mas para todo o Brasil, foi um mês de tragédias. Cento e trinta e dois mortos durante o incêndio no hospital Trindade e vinte assassinados no massacre no aeroporto de Congonhas.
         A notícia de que Carla chefiava uma quadrilha se espalhou no mundo como nunca. E ninguém lamentou sua morte, sabendo do que ela era capaz. Para Estela, Antônio e Ingrid que foram presos, a sensação de solidão os vencia. Na verdade, Ingrid estava feliz, pois mesmo estando presa, sabia que ajudou a salvar a vida de algumas pessoas. E ficou ainda mais feliz quando ouviu de Robson a seguinte frase “Quando você sair da cadeia topa sair comigo e comer uma pizza?”.
         Renato também teve sorte. Mesmo Ingrid sendo uma ex-bandida, ele decidiu ouvi-la e publicou seus livros. Meses se passaram e foi um sucesso. Eram raras as pessoas que não leram os livros de Renato, o orgulho de sua amada: Valéria, a nossa guerreira. Quem realmente estava feliz. Pois ela tinha conseguido tudo o que queria: fazer justiça, ou simplesmente colocar os responsáveis por destruírem sua vida atrás das grades. Depois de tanto sofrimento, finalmente ela estava segura, além de ter recebido uma carta dos pais, que estavam orgulhosos com a luta que a mulher travou durante esses anos.

      E naquele momento, andava pelas ruas de São Paulo, com o uniforme de Polícia Federal: bota de couro, macacão e boné, enquanto seus cabelos ruivos estavam amarrados a um lindo rabo de cavalo.
“Agora eu tenho certeza de verdade que essa é minha missão: ajudar as pessoas, e fazer justiça” – pensou ela, que seguiu em frente cumprindo exatamente isso.

FIM


COLABORADOR- LUIZ GUSTAVO 
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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