Capítulo 14: O dia depois de ontem
Nos capítulos anteriores...
Entrelaçada nos braços do desconhecido, Soninha
descobriu em meio a tanta confusão que aquele homem era o pai de seu sobrinho,
desesperada e sem saber o que fazer ela pegou o celular e ligou rapidamente
para Dupré que conseguiu fazer com que todas as revistas de fofocas desistissem
da publicação do escândalo na boate Dance Dance Dance!
–Fique
tranquila, eu consegui contornar a situação. –Disse Dupré, a Soninha. –Amanhã ninguém
saberá o que aconteceu, a não serem as pessoas que viram.
O barulho da limusine entrando no palacete, fez
com que Dupré esperasse uma de suas protegidas na porta de entrada. Ao passar
pela porta, Silvana tirou os óculos escuros e abraçou Dupré, sem derramar uma
lágrima, mas gritando por dentro. Ambos subiram as escadas e foram para o
quarto dela.
–Não sei
mais o que fazer Dupré... Os acontecimentos nesses últimos meses andam sendo
muito difíceis de aceitar.
–Você irá
superar.
–Com o
meu filho longe de mim durante o Natal e réveillon?
Deitado sobre sua
cama, Pedro sentiu seu celular vibrar no bolso, ao pegá-lo havia uma nova
mensagem de Wagner que dizia: “Me
encontre na frente de sua casa, estou lhe esperando.” O rapaz trocou de
roupa, penteou os cabelos, escovou os dentes, espirrou perfume na nuca e foi
encontrar Wagner.
–Por que demorou tanto? –Indagou Wagner,
sorrindo.
–Eu estava trocando de roupa. –Respondeu
Pedro, correspondendo o sorriso. –Mas a que lhe devo a honra loirinho?
–Vou com você, cara. [...]
O sol da manhã
refletia através do vidro da janela do quarto de Soninha, despertando-a para um
novo amanhã. Faltavam apenas alguns dias para todos saberem sua verdadeira
identidade, e isso a deixava incrivelmente tensa. Porém o que a estava
perturbando naquele momento não era seu novo sobrenome de peso, mas sim João Pedro,
o ex-marido de sua prima, o homem que havia lhe encantado profundamente. Sem
perder tempo, a herdeira desaparecida dos Gouveia levantou da cama, tomou um
demorado banho quente, escovou os cabelos e tomou um táxi com destino ao grande
palacete da influente dinastia paulistana.
–Obrigada. –Disse Soninha, ao taxista. –Quanto
custou à corrida?
–Cinquenta pratas senhora. –Respondeu o homem
baixo, de olhos castanhos e cabelo desarrumado. –Mas posso deixar por quarenta
e cinco pra senhora.
–Vai ajudar muito.
Dupré que orientava o
jardineiro a podar as árvores do jardim do palacete, levou um susto quando se
deparou com Soninha do lado de fora do enorme portão da casa. Ele rapidamente
largou a tesoura, tirou o avental e foi saber o que aquela “louca” estava
fazendo ali.
–Você enlouqueceu Soninha? –Indagou Dupré. –Se
a Silvana te ver aqui, ela enlouquece.
–Eu precisava falar com você. –Respondeu
Soninha, sorrindo alegremente. –Por favor, antes de negar meu pedido pense em
tudo o que eu passei afastada da minha verdadeira família.
–O que você quer? Fale de uma vez, antes que
sua prima acorde.
–Preciso que você descubra onde o João Pedro
está hospedado, e tem que ser agora... Sei da sua influência, e também sei que
isso não será problema pra você.
–Você realmente enlouqueceu... Já não bastou o
beijo da noite anterior?
–Sinceramente não... Aquele homem é magnífico
e eu vou reencontrá-lo, custe o que custar!
–O João Pedro não presta, ele traiu a Silvana,
Meu Deus será que você não vê isso?
–A Silvana é uma pedra de gelo, ninguém merece
conviver em baixo do mesmo teto que ela.
–Na época em que houve o divórcio, o Wagner
era pequeno, ele devia ter pensado pelo menos no filho...
–Dupré eu lhe imploro! Descubra aonde mora
esse homem, por favor? Eu preciso vê-lo.
–Vou fazer, mas ele não pode saber quem você é
até o dia do evento beneficente.
–Sim, sim.
“Espero que você faça uma boa viagem querido...” Isabella ouviu a
tal frase dita por Silvana, que descia as escadas do palacete de mãos dadas com
Wagner, que partiria hoje à noite. Sem pensar duas vezes, a menina saiu de
dentro do quarto de hóspedes correndo em direção as escadas, mas quando chegara
era tarde demais, seu amado estava na porta da sala principal junto de Pedro.
Porém uma força e um medo incrivelmente desconhecidos surgiram dentro do
coração de Bella, que a fez gritar o nome do namorado, implorando-o que
ficasse.
–Wagner, por favor, não vá! –Gritou Isabella,
com lágrimas nos olhos.
Wagner olhou para
trás e se deparou com a namorada no topo da escada, com a mão esquerda no
corrimão, carregando lágrimas consigo nos olhos. Em seguida, o rapaz olhou para
Pedro e de repente um campo minado havia se formado ao seu redor, aquilo era
uma escolha entre seu melhor amigo e sua namorada.
–É apenas uma viagem Isabella... –Respondeu
Wagner. –Depois do réveillon eu estarei de volta.
–Passe o período de festas comigo, por favor,
eu só voltei de Curitiba por sua causa. –Implorou Isabella, ao amado. –Você
terá muitas oportunidades para viajar com o Pedro.
–Sinto muito, mas as passagens já foram
compradas.
Ele virou de costas e
saiu pela porta junto do amigo e de sua mãe, enquanto Isabella sentiu as
lágrimas escorrerem por seu rosto. A garota sentou na escada, abaixou a cabeça
e esperou toda a dor passar.
–Quando você voltar será tarde. –Pensou
Isabella, em voz baixa.
Toda a nuvem negra
que cercava os arredores do grande palacete sucumbiu junto com Isabella, que
mais tarde naquela noite voltou para seu lar. Silvana acompanhou o filho até o
apartamento de Pedro, aonde se despediram... O anoitecer chegou rápido, Wagner
e o amigo seguiram até o aeroporto de Congonhas, o vôo para o Rio de Janeiro
foi chamado. Ambos embarcaram.
–Está pronto para ter as melhores férias de
fim de ano da sua vida? –Indagou Pedro. –Na verdade, acho que será a melhor,
por que você estará comigo.
–Pedro já te disseram o quanto você é
convencido? –Respondeu Wagner, com outra pergunta.
–E já te disseram que você é uma graça?
O vôo noturno com
destino ao Rio de Janeiro durou o suficiente para Wagner acabar caindo no sono,
e por sinal ele dormiu com a cabeça no ombro de Pedro. O momento não durou
muito, pois a aeromoça estava passando acordando os passageiros, para que
colocassem os cintos, logo o avião aterrissaria. Wagner acordou assustado e se
deu conta de que havia cochilado no ombro do amigo.
–Me desculpa, é que eu sempre durmo em aviões.
–Disse Wagner, embaraçado.
–Não se preocupe, você dorme como um bebê, nem
incomodou.
Esperando o filho no
aeroporto ao lado do marido, Denise Lemos estava arrancando olhares de todos ao
seu redor. Conhecida internacionalmente por ter atuado como protagonista na superprodução
hollywoodiana “Empire Female”, que traduzido para o português significa Império
Feminino, nos anos noventa, dirigido e produzido por Steven Spielberg, o longa
tem a maior bilheteria do mundo. Denise é casada com Giorgio Lemos, o autor da
série de livros “Fantástica” que é considerada um de seus best-sellers mais
conhecidos.
–Olhe querido, lá vem nosso filho e seu amigo.
–Disse Denise a Giorgio, sorrindo. –Tão bonito, ele é a minha cara!
–Você ainda me assusta Denise. –Sorriu
Giorgio.
–Guarde seu medo todo para mais tarde, na
nossa cama.
Wagner levou um susto
quando soube que Pedro era filho de Denise e Giorgio Lemos, um dos casais de
celebridades mais influentes no universo. O nome Gouveia se iguala ao sobrenome
Lemos. Mais uma vez, o neto de Helena ficou embaraçado.
–Então esse é Wagner Gouveia? –Indagou Denise.
–Finalmente conheço este herdeiro, parece uma réplica da mulher que
revolucionou o mundo com sua ousadia.
–Você conheceu a minha avó? –Perguntou Wagner.
–E existe alguém que não conheceu Helena? Pois
bem, nem precisa responder.
–Agora que vocês já se conhecem, eu não mereço
um abraço dos meus pais? –Indagou Pedro.
–Mais é claro que merece querido! –Responderam
Giorgio e Denise.
–Não sabe o quanto esperamos por esse dia.
–Disse Denise, sorrindo. –Agora vamos sair desse lugar, tenho que estudar
alguns textos para uma peça teatral. O motorista do porsche nos espera.
Dupré havia
conseguido localizar o hotel em que João Pedro estava hospedado. Ele passou
todas as informações do lugar para Soninha, assim como a agenda de eventos do
ex-marido de Silvana, que estava vazia, portanto ele passaria a noite toda
dentro do quarto ou no salão do hotel.
–Não sei nem como te agradecer. –Disse
Soninha.
–Agradeça vestindo isso. –Dupré entregou a uma
de suas protegidas um uniforme de camareira. –Vai te ajudar a entrar no quarto
do João Pedro.
–Você realmente pensa mesmo em tudo!
–É por isso e outras coisas que sua avó deixava
tudo por minha conta... Agora vá em busca da sua paixão platônica.
Com um sorriso de
orelha a orelha na boca, Soninha foi para a casa, vestiu o uniforme e pegou um
ônibus, para parecer mais humilde, com destino ao Hotel De La Mar. Ao descer do
ônibus, ela pensou consigo mesma se aquilo era mesma o certo ao se fazer.
Pedindo a Deus para que tudo desse certo, Soninha entrou e passou pela
segurança tranquilamente, mostrando seu crachá falso e vestindo o uniforme. O
destino realmente parecia estar conspirando ao seu favor, pois logo após
chegar, a supervisora a mandou entregar o jantar no quarto de número oitenta, o
quarto de João Pedro.
–Serviço de quarto!
Ao abrir a porta,
João Pedro se deparou com a mulher que ele beijara na noite passada.
–Você? –Indagou João Pedro. –Mais o que
você...
–Eu trabalho aqui. –Respondeu Soninha, com o
rosto corado de vergonha.
–Os anjos parecem ter ouvido meus pedidos.
A bandeja caiu da mão
de Soninha, quando João Pedro a puxou para dentro do quarto, roubando dela um
beijo.