Capítulo 15: Família Gouveia (2006)
Nos capítulos anteriores...
Com um sorriso de
orelha a orelha na boca, Soninha foi para a casa, vestiu o uniforme e pegou um
ônibus, para parecer mais humilde, com destino ao Hotel De La Mar. Ao descer do
ônibus, ela pensou consigo mesma se aquilo era mesma o certo ao se fazer.
Pedindo a Deus para que tudo desse certo, Soninha entrou e passou pela
segurança tranquilamente, mostrando seu crachá falso e vestindo o uniforme. O
destino realmente parecia estar conspirando ao seu favor, pois logo após
chegar, a supervisora a mandou entregar o jantar no quarto de número oitenta, o
quarto de João Pedro.
–Serviço de quarto!
Ao abrir a porta,
João Pedro se deparou com a mulher que ele beijara na noite passada. A bandeja
caiu da mão de Soninha, quando João Pedro a puxou para dentro do quarto,
roubando dela um beijo.
O barulho da limusine entrando no palacete, fez
com que Dupré esperasse uma de suas protegidas na porta de entrada. Ao passar
pela porta, Silvana tirou os óculos escuros e abraçou Dupré, sem derramar uma
lágrima, mas gritando por dentro. Ambos subiram as escadas e foram para o
quarto dela.
–Não sei
mais o que fazer Dupré... Os acontecimentos nesses últimos meses andam sendo
muito difíceis de aceitar.
Após sair do brechó das irmãs Silva, Silvana
entrou no carro onde deixou suas bolsas plásticas com roupas e se dirigiu até a
loja da Louis Vuitton. Ao entrar no ambiente, ela se deparou com Clarinha
Amaral levando a bolsa de couro mais cara da loja. Clarinha Amaral, alta,
loira, olhos azuis, aparentando ter no máximo uns vinte e cinco anos, com um
corpo escultural de dar inveja em diversas adolescentes de dezesseis anos.
Aquela mulher foi “amiga” de Silvana, uma traidora que roubou seu primeiro
marido. Se Clarinha havia retornado depois de anos a sua vida, era bem provável
que seu primeiro marido João Pedro, retornasse das cinzas para lhe atazanar.
[...]
Dois anos antes
(Julho de 2006)
Acompanhada de sua
avó, Silvana caminhava em passos pesados pelos arredores do hotel La Isla Club, a procura de seu marido.
Escândalos e mais escândalos envolviam seu casamento com João Pedro. Certa de
que o marido estava com alguém em algum quarto no Club, ela se dirigiu a
recepção e usou toda a influência de Helena, para conseguir a cópia da chave do
quarto em que o marido se hospedava.
–Quarto número quinhentos e oito, corredor
seis, quinto andar. –Disse o gerente. –Aqui está a cópia da chave dona Helena.
–Obrigada, meu querido. –Respondeu Helena, com
os nervos à flor da pele.
Após conseguirem a
chave, ambas se dirigiram até o corredor dois, no primeiro andar, onde tomaram
o elevador que as deixou no corredor seis, quinto andar. Silvana caminhou com as
mãos trêmulas e com uma dor forte no peito, mas nada e nem sua avó poderia lhe
impedir naquele momento. Um tanto bruta, a perua tomou das mãos de Helena, a
chave, da qual abrira a porta do quarto.
–Silvana? –Indagou João Pedro, vestindo um
calção e aparentando estar sozinho no ambiente. –Dona Helena? Mas o que vocês
fazem...
–Cala a boca! –Exclamou Silvana, que
interrompeu o marido e entrou no quarto, procurando outra mulher. –Cadê a
vagabunda?
–Não tem ninguém aqui além de nós três.
Ela olhou em baixo da
cama, na suíte, dentro do armário e nada. Procurou na sacada com vista para o
mar e nada. Silvana procurou nos lugares mais improváveis de alguém se
esconder, mas nada encontrou e depois de terminar sua busca paranoica pela
amante de seu marido, ela sentou na cama e declarou perder a guerra.
–Você venceu João Pedro. –Disse Silvana, ainda
incrédula da fidelidade do marido.
–Eu sempre disse que foi perda de tempo você
me expulsar de casa, aquela mulher com quem você me viu jantando há três
semanas no nosso restaurante favorito era uma cliente prestes a se divorciar.
–João Pedro não conseguiu conter o sorriso acompanhado de um doce sarcasmo.
–Acho que você procurou por um fantasma minha querida, por que desde que nós
nos casamos eu só tomei uma mulher em meus braços e essa mulher é você.
–Podemos ir Silvana? –Indagou Helena. –Não
acho necessário mais continuarmos aqui já que você não encontrou o que tanto
procurava.
–Você pode ir vovó, eu vou ficar, preciso
conversar com o João Pedro.
–Como quiser...
Com ódio de Silvana,
Helena foi de elevador para o térreo, onde tirou de dentro de sua bolsa as
chaves de sua BMW. Na volta para casa, a magnata pôs os fones de ouvido e ligou
para Dupré, a fim de saber como as coisas andavam na mansão.
–Por aqui tudo está ótimo, mas e a dona
Silvana, conseguiu o que queria? –Indagou Dupré.
–Aquela ali só quebra a cara e ainda me leva
junto, maldita! –Exclamou Helena. –Me fez ir aquele Club atoa.
–Então não tinha mulher nenhuma?
–Lógico que tem, ela só não encontrou lá, mas
não ter encontrado já serviu de consolação para aquela idiota. Você acha mesmo
que o João Pedro levaria a amante para dentro do quarto de hotel? Ele não é
burro como a esposa.
–Ela ficou lá?
–Ficou, deve estar tirando o atraso da noite
passada com ele.
Em uma freada brusca,
Helena tirou os fones do ouvido e ao parar no semáforo que estava vermelho, ela
olhou para o lado direito da rua e se deparou com Wagner abraçado a outro
garoto, que tocava sua cintura. O impacto foi tão grande, que quando o semáforo
ficou verde, Helena não percebeu e as buzinas começaram a soar. Sem saber o que
fazer, a ricaça acelerou o carro antes que seu neto a visse. Dupré, que ainda
se encontrava na linha, chamava o nome da patroa.
–Dona Helena? –Indagou Dupré preocupado. –Dona
Helena?
–Desculpe Dupré, os fones haviam caído...
–Respondeu Helena, ainda sem ação.
–Aconteceu alguma coisa?
–Não... Em casa conversamos, vou desligar.
No La Isla Club, dentro do quarto de hotel
onde João Pedro estava hospedado, Silvana resolveu reatar seu casamento corpo a
corpo com o marido. Ela tirou o salto quinze, ordenou que ele abrisse o
fechecler de seu vestido Armani amarelo ouro, a fim de deixa-la apenas com as
roupas íntimas.
–E agora? –Indagou João Pedro, mordendo os
lábios. –O que você quer que eu faça?
–Tire a calça, a cueca e deite na cama que o
resto eu faço. –Respondeu Silvana, tirando o sutiã.
–Como quiser senhorita.
Helena chegou ao
palacete, ainda um pouco sem ação em relação ao que havia visto durante a volta
para casa e subiu a escada em espiral para ir até sua suíte. Aonde tomou um
banho bem relaxante e refletiu sobre todo o acontecido. Depois de tal feito,
ela foi para o quarto de Wagner, deitou em sua cama e ficou esperando ele
chegar, a fim de terem uma conversa. Uns trinta minutos depois, Helena havia
adormecido, devido à exaustão que seu dia tinha sido.
–Vó? –Indagou Wagner, que chegou duas horas
após Helena adormecer. –Vó, acorda.
O garoto sacodiu os
braços de Helena fazendo-a despertar. Um cheiro de perfume forte habitava o
pescoço de Wagner, a fragrância era tão forte, que fez Helena perceber que não
era dele e sim daquele rapaz que o abraçou.
–Agente precisa conversar querido. –Disse
Helena. –Eu não estou aqui para te julgar, muito menos para te crucificar, eu
quero é te ajudar.
–Do que a senhora está falando? –Indagou
Wagner, nervoso.
–Não fique com medo... –Ela levantou da cama e
trancou a porta do quarto. –Quero garantir que ninguém entre aqui.
–Ainda não estou entendendo aonde a senhora
quer chegar.
–Vou perguntar uma vez, portanto não negue,
por que eu vi com os meus próprios olhos. Eu vi, ninguém me contou... Wagner
você é gay?
A tal pergunta entrou
pelos ouvidos de Wagner destruindo tudo, deixando-o sem ação. As lágrimas
começaram a escorrer por seu rosto, primeiro devagar, até começar a ganhar
força, trazendo soluços e desespero. Ocasionando um choro emocionalmente
triste. Nada saía da boca do rapaz, apenas sua cabeça balançava consentindo,
querendo dizer... Sim. Rapidamente, Helena o acolheu nos braços, dizendo o
quanto o amava e que aquilo de nada mudaria. O abraço de ambos parecia forte e
inquebrável. Algo como uma barreira poderosa os unia.
–Eu juro, eu tentei de tudo, já saí com
garotas, mas de nada adiantou. Me perdoa vó! Por favor, me perdoa! –Exclamou
Wagner, chorando de soluçar. –Desde pequeno eu me sentia diferente, eu nunca
fui como os outros meninos. Mas eu juro que se pudesse escolher, não pensaria
duas vezes.
–Calma Wagner, calma. –Disse Helena, beijando
o rosto do neto. –Eu te amo de todas as formas cores e jeitos, independente da
sua sexualidade. Você é mais do que meu bisneto, você é como um diamante que
significa demais para mim.
–Me perdoa vovó, me perdoa!
A triste noite foi
selada, Helena foi para seu quarto e Wagner deitou em sua cama, onde adormeceu
por noites seguintes. O diálogo de ambos tornou-se obscuro, mal tocavam no
assunto, na verdade nem assunto tinham mais. Dias passaram e Helena prometeu ao
bisneto guardar segredo. Silvana e João Pedro reataram o casamento e nada
perceberam. Com o intuito de tentar mudar sua vida e resgatar a confiança da
avó, Wagner começou a procurar uma namorada, a fim de ocupar a mente e tentar
mudar sua sexualidade. Foi no evento beneficente no final de 2006, que o rapaz
conheceu Isabella. Depois da união de ambos, tudo parecia ter voltado a ter cor
em sua vida, até que seus pais se divorciaram definitivamente, após Silvana ter
descoberto o caso de João Pedro e Clarinha, sua melhor amiga. Nada naquela
família era mais a mesma coisa, Helena estava ficando doente e Dupré escondia
de todos a doença da patroa a pedido da mesma, para seu status não ser abalado.
Silvana encontrava consolo com outros homens na rua, deixando de lado sua vida
maternal para com seu filho. Rachel havia finalmente saído da mansão, para
viver uma vida ao lado do marido. E Wagner mantinha um relacionamento obscuro
com Isabella, escondendo sua homossexualidade.