sexta-feira, 23 de maio de 2014

Império Feminino: Capítulo 15

Capítulo 15: Família Gouveia (2006)

Nos capítulos anteriores...

Com um sorriso de orelha a orelha na boca, Soninha foi para a casa, vestiu o uniforme e pegou um ônibus, para parecer mais humilde, com destino ao Hotel De La Mar. Ao descer do ônibus, ela pensou consigo mesma se aquilo era mesma o certo ao se fazer. Pedindo a Deus para que tudo desse certo, Soninha entrou e passou pela segurança tranquilamente, mostrando seu crachá falso e vestindo o uniforme. O destino realmente parecia estar conspirando ao seu favor, pois logo após chegar, a supervisora a mandou entregar o jantar no quarto de número oitenta, o quarto de João Pedro.

 –Serviço de quarto!

Ao abrir a porta, João Pedro se deparou com a mulher que ele beijara na noite passada. A bandeja caiu da mão de Soninha, quando João Pedro a puxou para dentro do quarto, roubando dela um beijo.

O barulho da limusine entrando no palacete, fez com que Dupré esperasse uma de suas protegidas na porta de entrada. Ao passar pela porta, Silvana tirou os óculos escuros e abraçou Dupré, sem derramar uma lágrima, mas gritando por dentro. Ambos subiram as escadas e foram para o quarto dela.

 –Não sei mais o que fazer Dupré... Os acontecimentos nesses últimos meses andam sendo muito difíceis de aceitar.

Após sair do brechó das irmãs Silva, Silvana entrou no carro onde deixou suas bolsas plásticas com roupas e se dirigiu até a loja da Louis Vuitton. Ao entrar no ambiente, ela se deparou com Clarinha Amaral levando a bolsa de couro mais cara da loja. Clarinha Amaral, alta, loira, olhos azuis, aparentando ter no máximo uns vinte e cinco anos, com um corpo escultural de dar inveja em diversas adolescentes de dezesseis anos. Aquela mulher foi “amiga” de Silvana, uma traidora que roubou seu primeiro marido. Se Clarinha havia retornado depois de anos a sua vida, era bem provável que seu primeiro marido João Pedro, retornasse das cinzas para lhe atazanar. [...]

Dois anos antes (Julho de 2006)

Acompanhada de sua avó, Silvana caminhava em passos pesados pelos arredores do hotel La Isla Club, a procura de seu marido. Escândalos e mais escândalos envolviam seu casamento com João Pedro. Certa de que o marido estava com alguém em algum quarto no Club, ela se dirigiu a recepção e usou toda a influência de Helena, para conseguir a cópia da chave do quarto em que o marido se hospedava.

 –Quarto número quinhentos e oito, corredor seis, quinto andar. –Disse o gerente. –Aqui está a cópia da chave dona Helena.
 –Obrigada, meu querido. –Respondeu Helena, com os nervos à flor da pele.

Após conseguirem a chave, ambas se dirigiram até o corredor dois, no primeiro andar, onde tomaram o elevador que as deixou no corredor seis, quinto andar. Silvana caminhou com as mãos trêmulas e com uma dor forte no peito, mas nada e nem sua avó poderia lhe impedir naquele momento. Um tanto bruta, a perua tomou das mãos de Helena, a chave, da qual abrira a porta do quarto.

 –Silvana? –Indagou João Pedro, vestindo um calção e aparentando estar sozinho no ambiente. –Dona Helena? Mas o que vocês fazem...
 –Cala a boca! –Exclamou Silvana, que interrompeu o marido e entrou no quarto, procurando outra mulher. –Cadê a vagabunda?
 –Não tem ninguém aqui além de nós três.

Ela olhou em baixo da cama, na suíte, dentro do armário e nada. Procurou na sacada com vista para o mar e nada. Silvana procurou nos lugares mais improváveis de alguém se esconder, mas nada encontrou e depois de terminar sua busca paranoica pela amante de seu marido, ela sentou na cama e declarou perder a guerra.

 –Você venceu João Pedro. –Disse Silvana, ainda incrédula da fidelidade do marido.
 –Eu sempre disse que foi perda de tempo você me expulsar de casa, aquela mulher com quem você me viu jantando há três semanas no nosso restaurante favorito era uma cliente prestes a se divorciar. –João Pedro não conseguiu conter o sorriso acompanhado de um doce sarcasmo. –Acho que você procurou por um fantasma minha querida, por que desde que nós nos casamos eu só tomei uma mulher em meus braços e essa mulher é você.
 –Podemos ir Silvana? –Indagou Helena. –Não acho necessário mais continuarmos aqui já que você não encontrou o que tanto procurava.
 –Você pode ir vovó, eu vou ficar, preciso conversar com o João Pedro.
 –Como quiser...

Com ódio de Silvana, Helena foi de elevador para o térreo, onde tirou de dentro de sua bolsa as chaves de sua BMW. Na volta para casa, a magnata pôs os fones de ouvido e ligou para Dupré, a fim de saber como as coisas andavam na mansão.

 –Por aqui tudo está ótimo, mas e a dona Silvana, conseguiu o que queria? –Indagou Dupré.
 –Aquela ali só quebra a cara e ainda me leva junto, maldita! –Exclamou Helena. –Me fez ir aquele Club atoa.
 –Então não tinha mulher nenhuma?
 –Lógico que tem, ela só não encontrou lá, mas não ter encontrado já serviu de consolação para aquela idiota. Você acha mesmo que o João Pedro levaria a amante para dentro do quarto de hotel? Ele não é burro como a esposa.
 –Ela ficou lá?
 –Ficou, deve estar tirando o atraso da noite passada com ele.

Em uma freada brusca, Helena tirou os fones do ouvido e ao parar no semáforo que estava vermelho, ela olhou para o lado direito da rua e se deparou com Wagner abraçado a outro garoto, que tocava sua cintura. O impacto foi tão grande, que quando o semáforo ficou verde, Helena não percebeu e as buzinas começaram a soar. Sem saber o que fazer, a ricaça acelerou o carro antes que seu neto a visse. Dupré, que ainda se encontrava na linha, chamava o nome da patroa.

 –Dona Helena? –Indagou Dupré preocupado. –Dona Helena?
 –Desculpe Dupré, os fones haviam caído... –Respondeu Helena, ainda sem ação.
 –Aconteceu alguma coisa?
 –Não... Em casa conversamos, vou desligar.

No La Isla Club, dentro do quarto de hotel onde João Pedro estava hospedado, Silvana resolveu reatar seu casamento corpo a corpo com o marido. Ela tirou o salto quinze, ordenou que ele abrisse o fechecler de seu vestido Armani amarelo ouro, a fim de deixa-la apenas com as roupas íntimas.

 –E agora? –Indagou João Pedro, mordendo os lábios. –O que você quer que eu faça?
 –Tire a calça, a cueca e deite na cama que o resto eu faço. –Respondeu Silvana, tirando o sutiã.
 –Como quiser senhorita.

Helena chegou ao palacete, ainda um pouco sem ação em relação ao que havia visto durante a volta para casa e subiu a escada em espiral para ir até sua suíte. Aonde tomou um banho bem relaxante e refletiu sobre todo o acontecido. Depois de tal feito, ela foi para o quarto de Wagner, deitou em sua cama e ficou esperando ele chegar, a fim de terem uma conversa. Uns trinta minutos depois, Helena havia adormecido, devido à exaustão que seu dia tinha sido.

 –Vó? –Indagou Wagner, que chegou duas horas após Helena adormecer. –Vó, acorda.

O garoto sacodiu os braços de Helena fazendo-a despertar. Um cheiro de perfume forte habitava o pescoço de Wagner, a fragrância era tão forte, que fez Helena perceber que não era dele e sim daquele rapaz que o abraçou.

 –Agente precisa conversar querido. –Disse Helena. –Eu não estou aqui para te julgar, muito menos para te crucificar, eu quero é te ajudar.
 –Do que a senhora está falando? –Indagou Wagner, nervoso.
 –Não fique com medo... –Ela levantou da cama e trancou a porta do quarto. –Quero garantir que ninguém entre aqui.
 –Ainda não estou entendendo aonde a senhora quer chegar.
 –Vou perguntar uma vez, portanto não negue, por que eu vi com os meus próprios olhos. Eu vi, ninguém me contou... Wagner você é gay?

A tal pergunta entrou pelos ouvidos de Wagner destruindo tudo, deixando-o sem ação. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, primeiro devagar, até começar a ganhar força, trazendo soluços e desespero. Ocasionando um choro emocionalmente triste. Nada saía da boca do rapaz, apenas sua cabeça balançava consentindo, querendo dizer... Sim. Rapidamente, Helena o acolheu nos braços, dizendo o quanto o amava e que aquilo de nada mudaria. O abraço de ambos parecia forte e inquebrável. Algo como uma barreira poderosa os unia.

 –Eu juro, eu tentei de tudo, já saí com garotas, mas de nada adiantou. Me perdoa vó! Por favor, me perdoa! –Exclamou Wagner, chorando de soluçar. –Desde pequeno eu me sentia diferente, eu nunca fui como os outros meninos. Mas eu juro que se pudesse escolher, não pensaria duas vezes.
 –Calma Wagner, calma. –Disse Helena, beijando o rosto do neto. –Eu te amo de todas as formas cores e jeitos, independente da sua sexualidade. Você é mais do que meu bisneto, você é como um diamante que significa demais para mim.
 –Me perdoa vovó, me perdoa!

A triste noite foi selada, Helena foi para seu quarto e Wagner deitou em sua cama, onde adormeceu por noites seguintes. O diálogo de ambos tornou-se obscuro, mal tocavam no assunto, na verdade nem assunto tinham mais. Dias passaram e Helena prometeu ao bisneto guardar segredo. Silvana e João Pedro reataram o casamento e nada perceberam. Com o intuito de tentar mudar sua vida e resgatar a confiança da avó, Wagner começou a procurar uma namorada, a fim de ocupar a mente e tentar mudar sua sexualidade. Foi no evento beneficente no final de 2006, que o rapaz conheceu Isabella. Depois da união de ambos, tudo parecia ter voltado a ter cor em sua vida, até que seus pais se divorciaram definitivamente, após Silvana ter descoberto o caso de João Pedro e Clarinha, sua melhor amiga. Nada naquela família era mais a mesma coisa, Helena estava ficando doente e Dupré escondia de todos a doença da patroa a pedido da mesma, para seu status não ser abalado. Silvana encontrava consolo com outros homens na rua, deixando de lado sua vida maternal para com seu filho. Rachel havia finalmente saído da mansão, para viver uma vida ao lado do marido. E Wagner mantinha um relacionamento obscuro com Isabella, escondendo sua homossexualidade.