sexta-feira, 16 de maio de 2014

Império Feminino: Capítulo 12

Capítulo 12: Conspirações contra François Dupré

Nos capítulos anteriores...

Sentada em sua poltrona de couro irlandês, e tomando chá inglês, Sueli estava certa de que havia uma parte do quebra-cabeça que estava faltando. Na noite passada, a delegada havia ordenado aos seus investigadores que lhe trouxessem uma papelada com todos os registros dos integrantes da família Gouveia. Ela passou a madrugada lendo a papelada trazida pelos investigadores. No amanhecer de hoje, Sueli escreveu um relatório e pediu um mandado de busca a juíza Luciana que lhe concedeu, ao paradeiro de Esther Gouveia, a neta desaparecida de Helena.

 –Como eu não pensei nisso antes Moreira? –Indagou Sueli, tomando o chá. –Essa mulher pode ter sido a mandante do crime.
 –Ou pode estar morta... –Respondeu Moreira. –Nessa papelada que a senhora leu, também diz que a dona Helena e o senhor Dupré buscaram por anos a herdeira desaparecida dos Gouveia.
 –Independente de tudo eu encontrarei essa mulher e a investigarei. Você não acha estranho a dona Helena e o Dupré não terem pedido ajuda à polícia para encontrar a menina na época?

Novamente os pombos foram expulsos da rua, pelo carro top de linha da delegada esforçada. Sueli desceu do veículo, se identificou com os seguranças na entrada da mansão e foi levada até a sala de visitas, onde Dupré a esperava ansiosamente.

 –O que é que você quer desgraçada? –Indagou Dupré, com ódio da delegada. –Você deveria ir para o quinto dos infernos!
 –Olha como você fala, eu posso te prender por desacato a autoridade ou gritar aos quatro ventos onde está a herdeira perdida. –Disse Sueli, sorrindo. –Você decide... Ou eu te prendo por desacato a autoridade e faço um escândalo, ou conversamos em particular, então Dupré, qual vai ser? [...]

Um clima nada agradável cercava o palacete dos Gouveia e seus arredores. Caminhando de um lado para o outro, Silvana estava louca para saber qual assunto tão importante Dupré e Sueli tratavam no escritório. O silêncio foi quebrado pelo toque do telefone convencional da casa, que se encontrava na sala de estar. Em passos lentos, Silvana se dirigiu até lá e atendeu, era Rachel querendo saber como andavam as coisas dentro da mansão.

 –Alguma coisa muito grave está acontecendo. –Disse Silvana. –Dupré está trancado no escritório com aquela delegada do terninho faz meia-hora.
 –Será um assunto de família? –Indagou Rachel, curiosa.
 –Sinceramente eu não sei... Vou esperar para saber o que é.
 –Me mantenha informada.
 –Não entendo o seu interesse, você sumiu desde a morte da vovó e agora está dando as caras, o que é que você quer Rachel?
 –A mesma coisa que você, participar da leitura do testamento.
 –Ninguém visita a fábrica faz tempo... Receio que a vovó deixou tudo para o mordomo maldito.
 –Concordo com você. Na verdade sempre desconfiei que os dois mantiveram um caso.
 –Acho que não... Esses dois têm algo em comum que vai além de qualquer caso extraconjugal.
 –O que, por exemplo?
 –Não sei, mas tenho certeza que Dupré esconde um segredo há sete chaves que envolvia a vovó.
 –Melhor esperarmos. Tenho que desligar, Joaquim quer falar comigo. Até mais querida.
 –Até Rachel...

Dentro do escritório que se encontrava no primeiro andar da mansão, Dupré e Sueli discutiam o caso “Esther Gouveia”. Após muita pressão e provas concretas de que a herdeira estava viva e não muito longe da família, o mordomo francês se rendeu e admitiu que ele e Helena já haviam encontrado Esther há muito tempo. Sueli ficou de pé e agradeceu aos céus por estar certa em relação ao desaparecimento da menina.

 –Eu sempre soube que você e a dona Helena escondiam um segredo muito grande. –Sueli fitou Dupré fixamente e em seguida indagou: – Por que tanto sigilo?
 –O sequestro de Esther é muito mais pessoal do que a senhora imagina. Essa família foi construída em cima de um baú de tesouros perdidos, tesouros valiosos que custarão vidas se forem revelados.
 –Não é hora para metáforas, François.
 –Vou lhe contar tudo, mas antes preciso ter certeza de que você não estragará nada do que vai acontecer daqui para frente.
 –Eu prometo que não irei interferir. Meu dever é descobrir o mandante do crime que matou Helena Gouveia, só quis saber o paradeiro da herdeira desaparecida para intimidá-lo.
 –Palavras apenas não bastam.

Dupré levantou da cadeira, andou dois passos à frente e pegou um documento registrado em cartório, do qual dizia que Sueli não poderia se meter mais no sequestro de Soninha Berenice da Silva (Esther Gouveia), significava que nem Leda poderia ser presa. Ele pegou uma caneta e entregou o papel a delegada, que assinou sem ler.

 –Agora sim, poderei te contar todo o segredo que gira em torno do desaparecimento de Esther. –Disse Dupré, sorrindo.
 –Estou preparada para ouvir.

O mordomo revelou tudo o que girava em torno do sequestro de Esther a delegada. Inclusive o assassinato de Jardel do Prado, o caso que ele e Helena mantinham, a troca de identidade de Berenice, a explosão do avião e a nova vida da herdeira. Dupré deixou Sueli de boca aberta literalmente. Toda aquela história parecia ter saído de um livro criminalista envolvendo pessoas importantes, só que era mais do que isso, era real, tornando tudo mais excitante.

 –Não posso acreditar... Em todos os meus anos de carreira eu nunca imaginei que Helena Gouveia quase foi à falência. Essa mulher viveu a vida literalmente. –A empolgação de Sueli era visível em seus olhos.
 –Na época foi muito doloroso para todos os envolvidos, ela perdeu os filhos, uma das netas, estava a beira da falência, ficou sem o homem que amava, respondeu em julgamento por um crime que não cometeu e mesmo assim conseguiu se reerguer. –Disse Dupré, relembrando o passado. –Saiba que esse assunto não poderá sair deste escritório e se sair você pagará muito caro.
 –Mesmo?!
 –Você assinou um documento registrado em cartório minha querida, eu matei sua curiosidade, porém antes me certifiquei de que você não traria problemas futuros.
 –Pode ficar tranquilo, mesmo que eu não tivesse assinado o documento, eu não diria nada a ninguém.
 –O evento natalino anual beneficente realizado pela família Gouveia será um tanto turbulento esse ano, espero você lá, para assistir de camarote o show.
 –Você vai fazer mesmo o que eu estou pensando?
 –Se você estiver pensando na volta da herdeira perdida como a ressureição de Atlântida, sim.
 –Não perco isso por nada!
 –Soninha Berenice da Silva irá gerar toda a polêmica que sua avó sonhava que ela gerasse. Será um espetáculo digno de primeiro lugar na lista da Forbes.

Sueli e Dupré saíram do escritório de braços dados e com um leve sorriso adocicado no rosto, deixando Silvana extremamente curiosa para saber o que ambos tanto haviam conversando durante aquelas duas horas em que se mantiveram trancados.

 –Pensei que não fossem mais sair do escritório. –Disse Silvana, sorrindo. –Aceita um chá delegada?
 –Não querida, estou de saída. –Respondeu Sueli. –Mas agradeço a sua gentileza.
 –Vou acompanhar a delegada até o carro. Com licença.

Depois de tanto especular e não conseguir descobrir nada, Silvana resolveu experimentar as roupas que havia comprado no dia anterior. Como ela não tinha um fiel escudeiro para ajuda-la, Silvana chamou Bella para lhe dar algumas dicas. A perua estava usando salto agulha, uma blusa branca transparente e um shorts preto cheio de paetês. A boca havia sido desenhada por um leve batom vermelho e o blush cobria seu rosto.

 –E então? –Indagou Silvana.
 –A senhora está linda! –Respondeu Isabella. –Se arrumou toda para ficar em casa?
 –De jeito nenhum, hoje os paparazzis irão ver que eu saí do luto. Estou indo para a balada.
 –Faz muito bem dona Silvana, uma mulher linda como à senhora não deve esconder sua beleza aqui dentro.
 –Por que você não vem comigo?
 –Ultimamente eu ando desanimada...
 –É por causa do meu filho?
 –Prefiro não falar sobre. As coisas irão se acertar, tenho certeza.
 –Você vai passar o natal conosco?
 –Acho que não... Meus planos eram passar com o Wagner, mas agora que ele vai viajar, pretendo festejar com a minha família.
 –Se mudar da ideia, as portas estão abertas para você.

No subúrbio paulista, cansada de ficar em casa largada as traças, Soninha também tinha planos para a noite. Ela havia posto seu melhor vestido e se maquiado da melhor maneira possível, para dançar até o amanhecer na boate Dance Dance Dance!. Só os melhores frequentavam a tal boate. Os paulistanos preferiam a mesma por ter os melhores DJs e por pessoas bonitas frequentarem a casa.

 –Como estou mamãe? –Indagou Soninha.
 –Linda como sempre filha. –Respondeu Leda.

Uma fila enorme se estendia na entrada da boate, do lado de fora era possível ouvir a música tocando. Silvana entrou surpreendendo a todos, a perua havia saído do luto e estava pronta para arrasar na pista de dança. Por não ter influência, Soninha teve de ficar na fila, que durou mais ou menos quinze minutos... Logo ao entrar, a música Hung Up, da cantora Madonna começou a ser executada. De repente todos faziam a coreografia como no clipe, sem perder tempo, Soninha entrou no meio e desbancou Silvana com seus passos de dança. Em mais ou menos quatro minutos de música quando a introdução começou a tocar, um homem moreno, alto, de olhos verdes e um corpo extremamente lindo, caminhou em direção a Soninha. Ele agarrou-a, roubando-lhe um beijo, fazendo com que as outras pessoas se afastassem e ambos ficassem no meio da pista como o centro das atenções. O tal homem era João Pedro, o primeiro marido de Silvana.