Capítulo 12: Conspirações contra François Dupré
Nos capítulos anteriores...
Sentada em sua
poltrona de couro irlandês, e tomando chá inglês, Sueli estava certa de que
havia uma parte do quebra-cabeça que estava faltando. Na noite passada, a
delegada havia ordenado aos seus investigadores que lhe trouxessem uma papelada
com todos os registros dos integrantes da família Gouveia. Ela passou a
madrugada lendo a papelada trazida pelos investigadores. No amanhecer de hoje,
Sueli escreveu um relatório e pediu um mandado de busca a juíza Luciana que lhe
concedeu, ao paradeiro de Esther Gouveia, a neta desaparecida de Helena.
–Como eu não pensei nisso antes Moreira?
–Indagou Sueli, tomando o chá. –Essa mulher pode ter sido a mandante do crime.
–Ou pode estar morta... –Respondeu Moreira.
–Nessa papelada que a senhora leu, também diz que a dona Helena e o senhor
Dupré buscaram por anos a herdeira desaparecida dos Gouveia.
–Independente de tudo eu encontrarei essa
mulher e a investigarei. Você não acha estranho a dona Helena e o Dupré não
terem pedido ajuda à polícia para encontrar a menina na época?
Novamente os pombos
foram expulsos da rua, pelo carro top de linha da delegada esforçada. Sueli
desceu do veículo, se identificou com os seguranças na entrada da mansão e foi
levada até a sala de visitas, onde Dupré a esperava ansiosamente.
–O que é que você quer desgraçada? –Indagou
Dupré, com ódio da delegada. –Você deveria ir para o quinto dos infernos!
–Olha
como você fala, eu posso te prender por desacato a autoridade ou gritar aos
quatro ventos onde está a herdeira perdida. –Disse Sueli, sorrindo. –Você
decide... Ou eu te prendo por desacato a autoridade e faço um escândalo, ou
conversamos em particular, então Dupré, qual vai ser? [...]
Um clima nada agradável cercava o palacete dos
Gouveia e seus arredores. Caminhando de um lado para o outro, Silvana estava
louca para saber qual assunto tão importante Dupré e Sueli tratavam no
escritório. O silêncio foi quebrado pelo toque do telefone convencional da
casa, que se encontrava na sala de estar. Em passos lentos, Silvana se dirigiu
até lá e atendeu, era Rachel querendo saber como andavam as coisas dentro da
mansão.
–Alguma
coisa muito grave está acontecendo. –Disse Silvana. –Dupré está trancado no
escritório com aquela delegada do terninho faz meia-hora.
–Será um
assunto de família? –Indagou Rachel, curiosa.
–Sinceramente
eu não sei... Vou esperar para saber o que é.
–Me
mantenha informada.
–Não
entendo o seu interesse, você sumiu desde a morte da vovó e agora está dando as
caras, o que é que você quer Rachel?
–A mesma
coisa que você, participar da leitura do testamento.
–Ninguém
visita a fábrica faz tempo... Receio que a vovó deixou tudo para o mordomo
maldito.
–Concordo
com você. Na verdade sempre desconfiei que os dois mantiveram um caso.
–Acho que
não... Esses dois têm algo em comum que vai além de qualquer caso
extraconjugal.
–O que,
por exemplo?
–Não sei,
mas tenho certeza que Dupré esconde um segredo há sete chaves que envolvia a
vovó.
–Melhor
esperarmos. Tenho que desligar, Joaquim quer falar comigo. Até mais querida.
–Até
Rachel...
Dentro do escritório que se encontrava no
primeiro andar da mansão, Dupré e Sueli discutiam o caso “Esther Gouveia”. Após
muita pressão e provas concretas de que a herdeira estava viva e não muito
longe da família, o mordomo francês se rendeu e admitiu que ele e Helena já
haviam encontrado Esther há muito tempo. Sueli ficou de pé e agradeceu aos céus
por estar certa em relação ao desaparecimento da menina.
–Eu
sempre soube que você e a dona Helena escondiam um segredo muito grande. –Sueli
fitou Dupré fixamente e em seguida indagou: – Por que tanto sigilo?
–O
sequestro de Esther é muito mais pessoal do que a senhora imagina. Essa família
foi construída em cima de um baú de tesouros perdidos, tesouros valiosos que
custarão vidas se forem revelados.
–Não é
hora para metáforas, François.
–Vou lhe
contar tudo, mas antes preciso ter certeza de que você não estragará nada do
que vai acontecer daqui para frente.
–Eu
prometo que não irei interferir. Meu dever é descobrir o mandante do crime que
matou Helena Gouveia, só quis saber o paradeiro da herdeira desaparecida para
intimidá-lo.
–Palavras
apenas não bastam.
Dupré levantou da cadeira, andou dois passos à
frente e pegou um documento registrado em cartório, do qual dizia que Sueli não
poderia se meter mais no sequestro de Soninha Berenice da Silva (Esther
Gouveia), significava que nem Leda poderia ser presa. Ele pegou uma caneta e
entregou o papel a delegada, que assinou sem ler.
–Agora
sim, poderei te contar todo o segredo que gira em torno do desaparecimento de
Esther. –Disse Dupré, sorrindo.
–Estou
preparada para ouvir.
O mordomo revelou tudo o que girava em torno do
sequestro de Esther a delegada. Inclusive o assassinato de Jardel do Prado, o
caso que ele e Helena mantinham, a troca de identidade de Berenice, a explosão
do avião e a nova vida da herdeira. Dupré deixou Sueli de boca aberta
literalmente. Toda aquela história parecia ter saído de um livro criminalista
envolvendo pessoas importantes, só que era mais do que isso, era real, tornando
tudo mais excitante.
–Não
posso acreditar... Em todos os meus anos de carreira eu nunca imaginei que
Helena Gouveia quase foi à falência. Essa mulher viveu a vida literalmente. –A
empolgação de Sueli era visível em seus olhos.
–Na época
foi muito doloroso para todos os envolvidos, ela perdeu os filhos, uma das
netas, estava a beira da falência, ficou sem o homem que amava, respondeu em
julgamento por um crime que não cometeu e mesmo assim conseguiu se reerguer. –Disse
Dupré, relembrando o passado. –Saiba que esse assunto não poderá sair deste
escritório e se sair você pagará muito caro.
–Mesmo?!
–Você
assinou um documento registrado em cartório minha querida, eu matei sua
curiosidade, porém antes me certifiquei de que você não traria problemas
futuros.
–Pode
ficar tranquilo, mesmo que eu não tivesse assinado o documento, eu não diria
nada a ninguém.
–O evento
natalino anual beneficente realizado pela família Gouveia será um tanto
turbulento esse ano, espero você lá, para assistir de camarote o show.
–Você vai
fazer mesmo o que eu estou pensando?
–Se você
estiver pensando na volta da herdeira perdida como a ressureição de Atlântida,
sim.
–Não
perco isso por nada!
–Soninha
Berenice da Silva irá gerar toda a polêmica que sua avó sonhava que ela
gerasse. Será um espetáculo digno de primeiro lugar na lista da Forbes.
Sueli e Dupré saíram do escritório de braços
dados e com um leve sorriso adocicado no rosto, deixando Silvana extremamente
curiosa para saber o que ambos tanto haviam conversando durante aquelas duas
horas em que se mantiveram trancados.
–Pensei
que não fossem mais sair do escritório. –Disse Silvana, sorrindo. –Aceita um
chá delegada?
–Não
querida, estou de saída. –Respondeu Sueli. –Mas agradeço a sua gentileza.
–Vou
acompanhar a delegada até o carro. Com licença.
Depois de tanto especular e não conseguir
descobrir nada, Silvana resolveu experimentar as roupas que havia comprado no
dia anterior. Como ela não tinha um fiel escudeiro para ajuda-la, Silvana
chamou Bella para lhe dar algumas dicas. A perua estava usando salto agulha,
uma blusa branca transparente e um shorts preto cheio de paetês. A boca havia
sido desenhada por um leve batom vermelho e o blush cobria seu rosto.
–E então?
–Indagou Silvana.
–A
senhora está linda! –Respondeu Isabella. –Se arrumou toda para ficar em casa?
–De jeito
nenhum, hoje os paparazzis irão ver que eu saí do luto. Estou indo para a
balada.
–Faz
muito bem dona Silvana, uma mulher linda como à senhora não deve esconder sua
beleza aqui dentro.
–Por que
você não vem comigo?
–Ultimamente
eu ando desanimada...
–É por
causa do meu filho?
–Prefiro
não falar sobre. As coisas irão se acertar, tenho certeza.
–Você vai
passar o natal conosco?
–Acho que
não... Meus planos eram passar com o Wagner, mas agora que ele vai viajar,
pretendo festejar com a minha família.
–Se mudar
da ideia, as portas estão abertas para você.
No subúrbio paulista, cansada de ficar em casa
largada as traças, Soninha também tinha planos para a noite. Ela havia posto
seu melhor vestido e se maquiado da melhor maneira possível, para dançar até o
amanhecer na boate Dance Dance Dance!. Só os melhores frequentavam a tal boate. Os
paulistanos preferiam a mesma por ter os melhores DJs e por pessoas bonitas
frequentarem a casa.
–Como
estou mamãe? –Indagou Soninha.
–Linda
como sempre filha. –Respondeu Leda.
Uma fila enorme se estendia na entrada da boate,
do lado de fora era possível ouvir a música tocando. Silvana entrou
surpreendendo a todos, a perua havia saído do luto e estava pronta para arrasar
na pista de dança. Por não ter influência, Soninha teve de ficar na fila, que
durou mais ou menos quinze minutos... Logo ao entrar, a música Hung Up, da
cantora Madonna começou a ser executada. De repente todos faziam a coreografia
como no clipe, sem perder tempo, Soninha entrou no meio e desbancou Silvana com
seus passos de dança. Em mais ou menos quatro minutos de música quando a
introdução começou a tocar, um homem moreno, alto, de olhos verdes e um corpo
extremamente lindo, caminhou em direção a Soninha. Ele agarrou-a, roubando-lhe
um beijo, fazendo com que as outras pessoas se afastassem e ambos ficassem no
meio da pista como o centro das atenções. O tal homem era João Pedro, o
primeiro marido de Silvana.