Capítulo 7: A nova herdeira!
Nos capítulos anteriores...
Encostada na
limusine, usando um longo vestido Armani, calçando Prada e carregando nos olhos
óculos escuros. Helena espiou por alguns minutos uma mulher que jantava em um
restaurante classe baixa, localizado no subúrbio Paulista. Ao lado de Dupré, a
empresária estava certa de que aquela era uma de suas netas perdidas.
–Tem certeza senhora? –Indagou Dupré,
espantado.
–Absoluta, essa é a Esther, a filha roubada do
meu menino... Escreva no seu caderninho de anotações o slogan que você verá
frequentemente nos noticiários, “Do subúrbio ao paraíso, Esther Gouveia retorna
as origens!”.
Curiosa para saber o
que continha no envelope, Soninha Berenice não perdeu tempo, abriu o mesmo e se
surpreendeu, nele continha uma carta de Helena Gouveia, a ricaça que acabara de
falecer em um misterioso acidente, e um testamento.
–A senhora está bem? –Indagou Soninha.
–Como pode depois de tantos anos essa mulher
pode ter nos encontrado? Como ela teve coragem de mandar isso para você?
Maldita! –Exclamou Leda. –Nem depois de morta me deu sossego.
–Me dá um tempo... –Soninha saiu pela porta de
casa em direção ao ponto do ônibus.
–Aonde você vai?
–Eu vou descobrir quem eu sou realmente.
Durante a espera pelo
ônibus, a jovem discou em seu aparelho celular os números fornecidos no
testamento. Um homem com sotaque francês atendeu, era Dupré, o mordomo de
Helena.
–Soninha? –Indagou
Dupré, chegando por detrás da moça. –Sou François Dupré.
–Oi... –Respondeu Soninha, assustada. –O
sotaque francês é o mesmo do telefone...
–Sei que está assustada, mas vou responder
tudo o que você perguntar, prometi a minha patroa que iria ajudar você, caso
ela não estivesse mais entre nós. [...]
Sentada em sua
poltrona de couro irlandês, e tomando chá inglês, Sueli estava certa de que
havia uma parte do quebra-cabeça que estava faltando. Na noite passada, a
delegada havia ordenado aos seus investigadores que lhe trouxessem uma papelada
com todos os registros dos integrantes da família Gouveia. Ela passou a
madrugada lendo a papelada trazida pelos investigadores. No amanhecer de hoje,
Sueli escreveu um relatório e pediu um mandado de busca a juíza Luciana que lhe
concedeu, ao paradeiro de Esther Gouveia, a neta desaparecida de Helena.
–Como eu não pensei nisso antes Moreira?
–Indagou Sueli, tomando o chá. –Essa mulher pode ter sido a mandante do crime.
–Ou pode estar morta... –Respondeu Moreira.
–Nessa papelada que a senhora leu, também diz que a dona Helena e o senhor
Dupré buscaram por anos a herdeira desaparecida dos Gouveia.
–Independente de tudo eu encontrarei essa
mulher e a investigarei. Você não acha estranho a dona Helena e o Dupré não
terem pedido ajuda à polícia para encontrar a menina na época?
–Sim, mas não me surpreendo. A dona Helena
tinha uma personalidade forte e um autoconvencimento notável, talvez ela
quisesse encontrar a menina sem a ajuda da polícia para aumentar seu ego.
–Faz sentido.
Após diversas
especulações dentro da delegacia, Sueli saiu do ambiente, entrou em seu carro
vestindo um terninho azul marinho e dirigiu até a casa dos Gouveia, a fim de
interrogar Dupré sobre o desaparecimento de Esther Gouveia e a procura de seu
paradeiro realizada há anos atrás. Novamente os pombos foram expulsos da rua,
pelo carro top de linha da delegada esforçada. Sueli desceu do veículo, se
identificou com os seguranças na entrada da mansão e foi levada até a sala de
visitas, onde Dupré a esperava ansiosamente.
–Ah que lhe devo a honra minha querida?
–Indagou François Dupré encarando a delegada.
–Eu vim interroga-lo. –Respondeu Sueli.
–Imagino que seja a respeito da morte de minha
patroa... Eu acho que vocês deveriam deixar essas interrogações de lado,
lembrar de um ente querido que não está mais entre nós é um caso muito
delicado.
–Imaginou errado senhor Dupré, estou aqui para
interroga-lo a respeito do desaparecimento de Esther Gouveia.
Os olhos de Dupré
duplicaram no tamanho, enquanto a satisfação tomava forma no ego de Sueli.
–Esse processo já foi arquivado há anos.
–Disse Dupré, engolindo a seco o veneno de Sueli. –Pra que desenterrar o
passado?
–Acontece que o passado está ligado ao
presente e pela sua reação, está mais ligado do que eu pensava. –Respondeu
Sueli, franzindo a testa. –Onde está Esther Gouveia?
–Eu e a dona Helena a procuramos durante anos,
mas não tivemos sucesso nas buscas.
–E por que não pediram ajuda a polícia?
–Por que assim que ela desapareceu a polícia
não conseguiu encontra-la. Pra que pediríamos ajuda a incompetentes se podíamos
usar todos os recursos que o dinheiro nos oferecia? É questão de lógica, minha
cara.
–Tem algo que não bate nessa história e é
melhor você me contar.
–Suponho que seja imaginação e cisma sua,
minha querida. Não há mais nada a ser dito.
–Dupré isso não é um jogo! A sua patroa morreu
em uma explosão criminal do qual estamos tentando encontrar o mandante do
crime, se essa Esther estiver viva, ela pode ser uma suspeita bastante óbvia.
–Continue...
–Os seres humanos esquecidos e humilhados
fazem qualquer coisa por vingança. Talvez essa menina tenha se vingado da dona
Helena, implantando aquela bomba no palco.
–Eu duvido.
–Como você pode ter tanta certeza assim se nem
ao menos sabe se ela está viva?
–Não sei, só tenho.
–Espero que você não esteja brincando com a
polícia.
–E eu espero que a senhora saia pela porta
desta mansão e não retorne, ah não ser que tenha um mandato do juiz que permita
a sua entrada aqui.
–Do jeito que você fala, parece até que algum
segredo se mantém no alicerce dessa família.
–Agradeço a sua visita, e fique sabendo que
tomarei medidas drásticas para a senhora não voltar aqui.
Após a saída de
Sueli, Dupré limpou a testa suada com um lenço, pegou o celular no bolso
esquerdo e discou os números do celular de Soninha, com quem marcou um encontro
no Parque do Ibirapuera naquela mesma tarde. Ambos compareceram ao compromisso,
e Dupré foi breve no que quis dizer a respeito a Soninha e Sueli.
–Por que marcou esse encontro? –Indagou
Soninha.
–Por que eu quero que seja breve em sua
decisão. Preciso de uma posição logo. –Respondeu Dupré.
–Mas você me disse que eu tinha até depois do
Natal para decidir...
–Os tempos eram outros, Soninha. Hoje aquela
maldita delegada foi na mansão me interrogar a respeito do seu desaparecimento,
não posso correr o risco de ela encontrar você. Você é quem deve encontrar ela
e todo o mundo, com a sua chocante revelação.
–E se eu não quiser ser uma Gouveia?
–Sugiro que vá para o mais longe possível de
nós.
–Há alguns dias eu já tinha tomado a minha
decisão.
–E o que foi que decidiu?
–Eu vou assumir a minha identidade de herdeira
dos Gouveia.
–Garanto que não se arrependerá.
–Mas tem uma condição...
–Qual?
–Não posso deixar a minha mãe sozinha, por
mais que ela tenha me tirado de vocês, eu a amo.
–Já imaginei que pediria isso... Posso dar um
apartamento a ela e uma mesada todo o mês para que sobreviva bem.
–Na verdade eu queria que ela morasse conosco
na mansão.
–Isso já é pedir demais. Essa mulher era a
melhor amiga da minha patroa e a traiu, de jeito nenhum vou coloca-la em baixo
do mesmo teto que a dona Helena viveu.
–Tudo bem, eu entendo, mas e quanto o
apartamento?
–Farei.
–Quando eu vou me revelar uma das herdeiras da
dona Helena?
–No evento de caridade anual natalino da
fábrica. O mesmo é exibido mundialmente e a sua avó queria que a sua volta
fosse estrondosa e polêmica. Iremos fazer a vontade dela.
–E quanto a essa delegada?
–Você terá de poupar saídas por um tempo, pelo
menos até todos saberem quem você é. Não podemos correr o risco da Sueli
descobrir que você é a neta desaparecida de Helena.
–Obrigada por tudo Dupré.
–Agradeça não decepcionando a sua avó.
Deitado sobre sua
cama, Pedro sentiu seu celular vibrar no bolso, ao pegá-lo havia uma nova
mensagem de Wagner que dizia: “Me
encontre na frente de sua casa, estou lhe esperando.” O rapaz trocou de
roupa, penteou os cabelos, escovou os dentes, espirrou perfume na nuca e foi
encontrar Wagner.
–Por que demorou tanto? –Indagou Wagner,
sorrindo.
–Eu estava trocando de roupa. –Respondeu
Pedro, correspondendo o sorriso. –Mas a que lhe devo a honra loirinho?
–Falei com a minha mãe sobre a viagem ao Rio
no Natal.
–E ela?
–Disse que era pra você me dizer quando
viajaremos e se iremos precisar de alguma coisa.
–Então quer dizer que...
–Vou com você, cara.
–Sabia que não me diria não.
–Estou curioso para conhecer seus pais, eles
estão?
–Não. Pai e mãe estão em uma segunda lua de
mel, só voltam amanhã.
–Pedro?
–Diga.
–Você tem o hábito de convidar pessoas
desconhecidas para viajar com você?
–Sinta-se único, você é o primeiro Wagner.