Capítulo 6: "Estou ligado em você."
Nos capítulos anteriores...
Wagner não conseguiu
conter o choro e saiu do velório correndo. Sem olhar para o nada e sem enxergar
ninguém, o adolescente acabou esbarrando em um convidado, um adolescente como
ele, já na saída.
–Me desculpa. –Pediu Wagner, aos prantos.
–Preciso ir.
–Ei, calma aí cara. –Pedro estendeu seus braços
e acolheu o jovem assustado neles. –Vou te tirar daqui.
–Por que tudo tem que ser tão complicado e
injusto? Ela tinha tanto o que viver, eu a amava tanto...
–Infelizmente a vida não tem explicação.
Assim que Dupré
entrou na mansão, Bela se aproximava cada vez mais de Wagner, a garota estava
mais linda do que nunca. Suas longas madeixas loiras já batiam em sua cintura,
a maquiagem que cobria suas bochechas era de um tom rosado quase transparente.
Seus seios haviam se desenvolvido desde a última vez que vira Wagner, Isabella
fazia jus ao seu nome, ela realmente era bela, uma verdadeira obra de arte.
–Não acredito no que vejo, a minha garota está
de volta e veio me ver. –Wagner estendeu os braços e acolheu à amada neles.
–Senti sua falta Isabella, senti muito a sua falta.
Após encostar o
celular no ouvido esquerdo e ouvir a voz grossa de Pedro, Wagner se esqueceu de
toda a magia que Isabella havia lhe transmitido ao chegar à mansão.
–Faltam duas semanas para o Natal e você não
me ligou então resolvi ligar. –Disse Pedro, aparentando estar sorrindo do outro
lado da linha pelo tom de voz adocicado.
–É tão importante
para você que eu vá?
–Muito mais do que
você imagina.
–Nesse caso, prometo
pensar com carinho.
–Pense. E por favor,
não diga não.
–Não direi... [...]
Após desligar o
celular, Wagner sentiu em seu peito batimentos acelerados que seu coração
refletia. Havia algo em Pedro que lhe causava a perda do fôlego, seguido da
perda da voz e de mais sentidos... Para Wagner, sentir essas sensações era tão
estranho quanto ter perdido Helena. Pedro agora parecia seu escudo protetor
contra tudo e contra todos, mas em todo esse meio existia Isabella, sua
adorável e amada namorada, a quem jurou nunca trair e nem abandonar. A cabeça
do filho de Silvana entrou em conflito com seus sentimentos, que deram
resultados há uma fusão desastrosa de ódio e amor pelo desconhecido. Ele fechou
os olhos e lembrou do que a avó havia lhe dito há anos: “Se tudo parecer confuso, vire um personagem fictício de novela e encare
seus inimigos de cabeça erguida.”. Wagner fez como Helena lhe ensinou, ele
esqueceu por alguns instantes Pedro, e entrou na mansão para ver a namorada.
–Está procurando alguém, querido? –Indagou
Silvana.
–Sim, onde ela está? –Respondeu Wagner.
–Te esperando, no seu quarto.
O adolescente subiu a
escada em espiral do palacete toda revestida em carvalho, passou por um longo corredor
e chegou ao seu quarto. Ao abrir a porta ele se deparou com Isabella deitada
sobre sua cama, coberta pelo seu cobertor, aparentando não usar nada por baixo.
–Por que demorou tanto, meu amor? –Indagou
Bella, sorrindo para o amado. –Fiquei com saudades.
–Estava conversando com um amigo... –Respondeu
Wagner, correspondendo o sorriso. –E você o que fez na minha ausência?
–Conversei com a sua mãe e Dupré por alguns
minutos, depois vim para o seu quarto e resolvi ficar nua.
–Nua? –Indagou Wagner, nervoso.
–Acho que estou pronta para ser sua.
–Tem certeza?
–Nunca tive tanta certeza antes, querido.
Bella tirou o edredom
de cima seu corpo, revelando suas belas curvas ao amado. A jovem levantou da
cama e se dirigiu a ele, beijou seus lábios, acariciou seu pescoço com a
língua, desabotoou sua camisa encostando os joelhos no meio das pernas do
amado, sentindo ele entrar em ereção. Por fim, ela tirou a cueca de Wagner,
beijando sua virilha e todo o conteúdo que vinha a seguir.
–Pare, por favor. –Implorou Wagner, se
sentindo desconfortável com toda aquela situação.
–O que há de errado comigo? –Indagou Isabella
preocupada. –Não gostou do meu corpo?
–Não é nada disso, é que eu não estou pronto
para fazer sexo pela primeira vez agora.
–Mas Wagner... Outro menino em seu lugar já
teria me possuído.
–Não sou outro menino Isabella.
–Me desculpe, eu...
Wagner levantou da
cama, vestiu a cueca e desceu as escadas da mansão. Tudo aquilo ainda era
confuso demais para ele... Decidido a passar as festas de fim de ano longe de
todo aquele ninho de cobras, ele foi pedir permissão a mãe para viajar com o
amigo ao Rio de Janeiro. O adolescente teve de optar entre a namorada, a
família e a tradição ou o amigo, a família dele e um mundo novo.
–Quando decidiu que não iria passar o
Réveillon conosco? –Indagou Silvana, preocupada. –A Bella mal chegou de
Curitiba...
–Não pode me deixar viajar? Ainda estou
abalado com a morte da vovó... –Respondeu Wagner, dando uma desculpa.
–Tudo bem meu amor, entendo a sua situação...
Você sabe mais ou menos quando irão viajar?
–Ainda não, preciso confirmar tudo com o
Pedro.
–Quando tiver a confirmação, me avise.
–Ok mãe.
A lua e o céu escuro
já tomavam forma na Grande São Paulo... Cansada de manter o luto pela morte da
avó, Silvana pôs um deslumbrante vestido vermelho, calçou Prada, vestiu o
pescoço com pérolas e se perfumou com Dolce e Gabbana. A perua desceu as
escadas da mansão pronta para sair de casa, quando foi abordada por Dupré.
–Ainda nem se passou um mês. –Disse Dupré. –Se
eu fosse você eu não sairia de casa.
–Por que não? –Indagou Silvana, sem entender.
–Os paparazzis e as revistas de fofoca caem em
cima e toda a família ainda está de luto, nem o testamento ainda foi lido.
–Pouco me importa o que as revistas de fofocas
irão publicar, eu sou Silvana Gouveia, neta de Helena Gouveia.
–Uma das suspeitas do assassinato... Seja
inteligente, pelo menos uma vez na vida.
–Dupré você não tem o direito de falar assim
comigo!
–Então vá se divertir, saia e seja vista como
aquela sem coração que nem esperou o luto acabar para cair na night. Pessoas
frias são as que matam sem dó nem piedade.
–Você venceu.
–Não se chateie, verá que eu estou sendo bom
para você.
No dia seguinte, de
frente para o espelho trincado de seu quarto, Soninha Berenice escovou os
cabelos, vestiu sua melhor combinação de roupas e ensaiou um discurso do qual
ela se declarava a neta perdida de Helena Gouveia.
“Senhoras e senhores, assim como vocês eu também fui enganada,
imaginando ser alguém acabei me descobrindo outra pessoa completamente
diferente. Afinal não é todos os dias que ficamos ricos da noite para o dia. Só
tenho que dizer o quanto sinto não ter conhecido vovó... Ah como eu queria
correr para o colo dela e dizer “eu te amo”, mas infelizmente a vida não é
fácil para ninguém. Vou fazer o que ela queria que eu fizesse, assumir seu
lugar, me tornar a nova presidente da fábrica de lingeries.”
E ela rodopiou de um
lado para o outro segurando a escova de cabelo. Se imaginou sentada na cadeira
que pertenceu a Helena e que talvez pudesse lhe pertencer em breve. Mas como
felicidade de pobre dura pouco, ela foi interrompida pela mãe, que entrou em
seu quarto surpreendendo-a.
–Vai sair? –Indagou Leda.
–Não, por quê? –Respondeu Soninha, com outra
pergunta.
–Se arrumou toda, pensei que fosse sair...
–Não mamãe, eu estou apenas me preparando pra
quando me tornar uma Gouveia.
–E o que será de mim minha filha? Lutei tanto
para cria-la.
–Não se preocupe, apesar de eu ter ficado
chocada ao saber que eu fui sequestrada, eu sei o quanto a senhora me ama.
–E o que isso significa?
–Que quando eu for morar na mansão, a senhora
virá comigo.
–Então você aceitou?
–Ainda não, mas vou aceitar... Andei pensando
comigo mesma, por que não? Fui pobre a vida toda, está na hora de aproveitar a
oportunidade que estão me dando!