segunda-feira, 5 de maio de 2014

Alta Tensão - Penúltimo Capítulo




PENÚLTIMO CAPÍTULO



      Os olhares que Bruno Valente e Ingrid Ferreira Peregrini trocam demonstram que ainda existe um sopro de amor entre os dois. Há um silêncio no corredor que vai para o apartamento da moça. Um silêncio que fala mais do que as palavras, que pulsa mais do que o som daqueles dois corações apaixonados.
     - É melhor você mandar essa cara ir embora daqui, Ingrid. Temos coisas para resolver... – diz Vitório, puxando em seguida Ingrid para perto de si – Não se esqueça também que estamos noivos e nos casaremos em breve.
     Fidel, Inês e Alex observam tudo da porta. Bruno fica sem jeito e abandona as flores no chão, saindo sem dizer mais nada. Ingrid fica perplexa.
***
     De volta ao apartamento, Alex discute o plano para resgatar Analú com os outros. Os pensamentos de Ingrid estão longe.
     - Ingrid, acorda! – Fidel bate palmas – É a vida da minha querida filha que estamos falando. Ai, santa Amy Winehouse, não quero nem pensar no que aquele italiano e aquela magrela aguada podem fazer com a minha querida Analú... – o cinquentão começa uma crise de choro.
     - Calma! – diz Ingrid. – Eu sei o que fazer.
     A herdeira Peregrini se levanta do sofá, olha para os rostos dos amigos que naquela sala estão e em seguida sai rapidamente, pela porta.
***
     Estamos em uma das ruas movimentadas de Fortaleza. Bruno anda triste, de cabeça baixa pela calçada.
     - Bruno! – Ingrid grita, tentando alcançar o rapaz. Ele vira e para de andar.
     Mais uma troca de olhares. Ingrid o abraça.
     - Me desculpa... Me desculpa! - Diz Bruno, emocionado. Eu te juro que me arrependo amargamente por não ter te tratado como merece – pausa. Bruno se ajoelha aos pés de Ingrid. – Eu sempre vou te amar, Ingrid.
     Ingrid tenta não pensar em romance naquele momento. Bruno, então, percebe que a face de sua amada é de tristeza. Um pouco de desespero também é deixado transparecer pela jovem Ingrid. Bruno se levanta.
     — Ingrid, está acontecendo alguma coisa? Olha, eu posso te ajudar! O que houve?
     — A Analú, filha do Fidel, mordomo da mansão. Foi sequestrada pelo Ugo. Eu preciso saber para onde eles levaram... Bruno, eu não quero que essa inocente pague por mim. Ela não tem culpa! Eles querem a mim!
     Bruno abraça Ingrid.
     — Olha, Ingrid, calma. A gente vai dar um jeito! Pensa positivo. Eu tô com você. Eu sempre estive...
***
Seu apartamento nunca estivera tão vazio. Sua vida nunca estivera tão vazia. As paredes do seu domicílio eram a sua única companhia. Não havia outra escolha: Adriano Peregrini sempre teve uma vida infeliz. O garoto, que agora era um homem feito, teve de lidar com as perdas desde sempre. Primeiramente quando perdeu sua mãe, Norma. Depois, também por culpa do crápula de seu pai, teve de se separar dos irmãos. Sua esposa faleceu ao dar a luz aos gêmeos, seus filhos, que também morreram drasticamente.
O computador estava ligado em uma rede social. Adriano Peregrini via em sua página várias pessoas postando fotos, esbanjando sorrisos falsos, divulgando hipocrisia. Aquilo tudo era tão sujo que ele não pôde aguentar. A depressão era tamanha que ele desabou em choro. A felicidade alheia o atingiu em cheio. Adriano queria ser feliz como eles... mas nunca fora!
Fechou a página e logo na tela do seu notebook apareceu o papel de parede. Uma foto sua, abraçado com sua falecida esposa, Rafaela. Ao seu lado, Tiago e Vanessa, ainda garotos. Mal se podia notar diferenças nos gêmeos ainda.
A saudade atingiu seu peito. Já não lhe era mais possível continuar com tudo aquilo. Talvez sua glória fosse a morte, destino aquele que todos que ele amava tiveram tão cedo.
A janela de seu apartamento estava aberta. Do quinto andar, Adriano observava as pessoas passarem na calçada do prédio, os carros de luxo trafegando na avenida. Buzinas, sirenes, conversas ao longe. O cardiologista deu de encontro com o vento no seu rosto à medida que o colocava para fora da janela. Suas lágrimas voavam para o lado em vez de cair... estava mais próximo do que imaginava de reencontrar as pessoas que ele amava. Talvez. O que há após a morte?
O porteiro em frente ao prédio assusta-se quando, de repente, um corpo desaba-se no chão. É Adriano, que caiu da janela do seu apartamento no quinto andar.

***
O celular de Ingrid toca. A herdeira dos Peregrini está em uma praça conversando com Bruno, ainda apreensiva.
— É um número privado! — diz ela — talvez seja o Ugo e a Alessandra...
— Deixe-me atender, então?
— Não, Bruno. Eles querem a mim. — ela atende, tentando disfarçar o nervosismo da voz — Oi...
— (em off) Querida Ingrid! Sabia que atenderia questa ligação. Io tenho uma proposta a fazer.
— Ugo! Por favor, se você e a Alessandra querem se vingar o fato de Wagner ter uma filha fora do casamento, vinguem-se em mim! Eu sou a filha bastarda dele. É a mim que vocês querem! Soltem a Analú!
Do galpão onde Ugo e Alessandra estão mantendo Analú presa, Alessandra toma o telefone do amante e fala com Ingrid.
— Olá bastarda! — diz Alessandra. — Já que tocou no assunto, queremos você sim. E eu não sossegarei. Venha até aqui, SEM A POLÍCIA, e eu libertarei a filha do mordomo boiola. Em troca, quero sua cabeça aqui, na minha bandeja. Seu corpo de favelada dependente do Bolsa Família, servirei aos cães da minha mansão em Paris.
Ingrid engole a seco, contudo, disposta a salvar Analú, ela aceita.
— Me passe o endereço e a hora. Estarei aí. — diz Ingrid, mostrando-se forte.


     Estamos no apartamento de Ingird. Vitório enche a cara de uísque. Alex e Inês continuam orando por Analú e Fidel anda de um lado para o outro da sala.
     — Santa Amy Winehouse! Ajude minha filha! Não me diga “no, no, no” porque eu vou ficar muito triste. Se eu tivesse cabelo eu arrancaria todos! Minhas unhas já acabaram! E a Ingrid que não dá notícias! — diz Fidel.
     — Ela foi atrás daquele cara... Eu sei. — Vitório bebe outro gole de uísque e acende um charuto. Ele está sentado de costas para os outros, na mesa da cozinha do apartamento.
     — Seja mais humilde, Vitório. Ingrid está se sentindo mal por Analú ter sido sequestrada em vez dela. — diz Alex. — Se ela te deixou pra correr atrás de outro foi porque você não deu conta do recado.
     Vitório, furioso com o comentário de Alex, levanta-se da mesa e encara o jovem. Alex cerra os punhos.
     — Gente! Já chega! — Dona Inês interrompe a possível briga — Se vocês não quiserem ajudar na oração, vão embora! Eu vou continuar mandando energias positivas pra Analú.
     — Pode deixar. — Vitório pega o paletó em cima da mesinha da sala e se retira do apartamento.
     — Bofe revoltado! — diz Fidel, que se junta a Inês e Alex e continuam a rezar.
***
     Quando a hora marcada por Alessandra está prestes a chegar, Ingrid e Bruno alugam um pequeno automóvel e partem para o local combinado.
     — Você ainda não me disse qual foi a proposta de Alessandra e Ugo. — comenta Bruno, que dirige. Ingrid está pensativa, com os olhos fixos na estrada.
     — Eu... eu não sei muito bem o que vai acontecer, Bruno. Mas quero que saiba que pelo pouco tempo que estive com você, eu te amei. Eu te amei muito quando estávamos juntos, e mais ainda agora.
     — Eu não estou gostando dessa história. — Bruno fala, fixando os olhos na estrada, mas virando para falar com a moça de vez em quando.
     — O pior pode acontecer. Eu já enfrentei de tudo na minha vida. Vou vencer mais essa.
***
     Gisela Saboya supervisiona os estagiários da Flash Magazine, acompanhada de Calebe.
     — Confesso que sinto falta de Vanessa. Mesmo ela me chamando de vó, sempre.
     — Eu entendo... Ela e a senhor... senhorita eram muito próximas. — Calebe complementa.
     — Sim! Vanessa tinha uma personalidade forte como a de Adriano, seu pai, quando criança. Bons tempos aqueles da mansão, quando Wagner, mesmo traindo Norma com nossa empregada, fazia minha filha e meus netos felizes com suas mentiras. — recorda a septuagenária.
     A presidenta da revista e o paparazzo vão até a sala da presidência. A secretária espera Gisela com uma notícia.
     — Senhorita Gisela...
     — Diga, Magnólia. Estou apressada, tenho assuntos a tratar com Calebe.
     — Ligaram da polícia. Disseram que o neto da senhora, Adriano, se jogou da janela do seu apartamento. Eu sinto muito.
     Gisela fica sem chão.
***
     O local marcado por Cérebro e Ugo para a troca era em uma pista de decolagem particular, saindo da região metropolitana da capital.
     Um jatinho estava parado, pronto para decorar. Ugo segurava Analú, apontando a arma para a cabeça da moça, enquanto Alessandra tomava um champanhe.
     O carro de Bruno e Ingrid chegou. Eles saltaram do veículo e correram para próximo do jatinho.
     — Eu estou aqui, Ugo e Alessandra! Soltem a Analú! EU VOU COM VOCÊS! — gritou Ingrid.
     — Que história é essa, Ingrid? — Bruno se assusta.
     — Foi necessário. Eu te amo, Bruno. Diga a Inês, ao Fidel e ao Alex que eu vou sentir falta deles.
Com as mãos para cima, Ingrid tenta se aproximar mais ainda, lentamente. Quando está cara a cara com Ugo, o italiano solta Analú e aponta a arma para a cabeça de Ingrid e entra no jatinho.
Au revoir, otário! — diz Alessandra.
Analú corre para Bruno, que continua desolado com a atitude de Ingrid. A filha do mordomo chora, abraçando Bruno, que mal conhece.
Quando o jatinho decola, Bruno grita:
— INGRID!!!