PENÚLTIMO CAPÍTULO
Os olhares que Bruno Valente e Ingrid Ferreira Peregrini trocam demonstram que ainda existe um sopro de amor entre os dois. Há um silêncio no corredor que vai para o apartamento da moça. Um silêncio que fala mais do que as palavras, que pulsa mais do que o som daqueles dois corações apaixonados.
- É melhor você mandar essa cara ir embora
daqui, Ingrid. Temos coisas para resolver... – diz Vitório, puxando em seguida
Ingrid para perto de si – Não se esqueça também que estamos noivos e nos
casaremos em breve.
Fidel, Inês e Alex observam tudo da porta.
Bruno fica sem jeito e abandona as flores no chão, saindo sem dizer mais nada.
Ingrid fica perplexa.
***
De volta ao apartamento, Alex discute o
plano para resgatar Analú com os outros. Os pensamentos de Ingrid estão longe.
- Ingrid, acorda! – Fidel bate palmas – É a
vida da minha querida filha que estamos falando. Ai, santa Amy Winehouse, não
quero nem pensar no que aquele italiano e aquela magrela aguada podem fazer com
a minha querida Analú... – o cinquentão começa uma crise de choro.
- Calma! – diz Ingrid. – Eu sei o que
fazer.
A herdeira Peregrini se levanta do sofá,
olha para os rostos dos amigos que naquela sala estão e em seguida sai
rapidamente, pela porta.
***
Estamos em uma das ruas movimentadas de
Fortaleza. Bruno anda triste, de cabeça baixa pela calçada.
- Bruno! – Ingrid grita, tentando alcançar
o rapaz. Ele vira e para de andar.
Mais uma troca de olhares. Ingrid o abraça.
- Me desculpa... Me desculpa! - Diz Bruno,
emocionado. Eu te juro que me arrependo amargamente por não ter te tratado como
merece – pausa. Bruno se ajoelha aos pés de Ingrid. – Eu sempre vou te amar,
Ingrid.
Ingrid tenta não pensar em romance naquele
momento. Bruno, então, percebe que a face de sua amada é de tristeza. Um pouco
de desespero também é deixado transparecer pela jovem Ingrid. Bruno se levanta.
— Ingrid, está acontecendo alguma coisa?
Olha, eu posso te ajudar! O que houve?
— A Analú, filha do Fidel, mordomo da
mansão. Foi sequestrada pelo Ugo. Eu preciso saber para onde eles levaram...
Bruno, eu não quero que essa inocente pague por mim. Ela não tem culpa! Eles
querem a mim!
Bruno abraça Ingrid.
—
Olha, Ingrid, calma. A gente vai dar um jeito! Pensa positivo. Eu tô com você. Eu sempre estive...
***
Seu apartamento nunca estivera tão vazio. Sua vida nunca estivera tão vazia. As paredes do seu domicílio eram
a sua única companhia. Não havia outra escolha: Adriano Peregrini sempre teve
uma vida infeliz. O garoto, que agora era um homem feito, teve de lidar com as
perdas desde sempre. Primeiramente quando perdeu sua mãe, Norma. Depois, também
por culpa do crápula de seu pai, teve de se separar dos irmãos. Sua esposa
faleceu ao dar a luz aos gêmeos, seus filhos, que também morreram drasticamente.
O computador estava ligado em uma rede social. Adriano Peregrini
via em sua página várias pessoas postando fotos, esbanjando sorrisos falsos,
divulgando hipocrisia. Aquilo tudo era tão sujo que ele não pôde aguentar. A
depressão era tamanha que ele desabou em choro. A felicidade alheia o atingiu
em cheio. Adriano queria ser feliz como eles... mas nunca fora!
Fechou a página e logo na tela do seu notebook apareceu o papel
de parede. Uma foto sua, abraçado com sua falecida esposa, Rafaela. Ao seu
lado, Tiago e Vanessa, ainda garotos. Mal se podia notar diferenças nos gêmeos
ainda.
A saudade atingiu seu peito. Já não lhe era mais possível
continuar com tudo aquilo. Talvez sua glória fosse a morte, destino aquele que
todos que ele amava tiveram tão cedo.
A janela de seu apartamento estava aberta. Do quinto andar,
Adriano observava as pessoas passarem na calçada do prédio, os carros de luxo
trafegando na avenida. Buzinas, sirenes, conversas ao longe. O cardiologista
deu de encontro com o vento no seu rosto à medida que o colocava para fora da
janela. Suas lágrimas voavam para o lado em vez de cair... estava mais próximo
do que imaginava de reencontrar as pessoas que ele amava. Talvez. O que há após
a morte?
O porteiro em frente ao prédio assusta-se quando, de repente, um
corpo desaba-se no chão. É Adriano, que caiu da janela do seu apartamento no
quinto andar.
***
O celular de Ingrid toca. A herdeira dos Peregrini está em uma
praça conversando com Bruno, ainda apreensiva.
— É um número privado! — diz ela — talvez seja o Ugo e a
Alessandra...
— Deixe-me atender, então?
— Não, Bruno. Eles querem a mim. — ela atende, tentando
disfarçar o nervosismo da voz — Oi...
— (em off) Querida Ingrid!
Sabia que atenderia questa ligação. Io tenho uma proposta a fazer.
— Ugo! Por favor, se você e a Alessandra querem se vingar o fato
de Wagner ter uma filha fora do casamento, vinguem-se em mim! Eu sou a filha
bastarda dele. É a mim que vocês querem! Soltem a Analú!
Do galpão onde Ugo e Alessandra estão mantendo Analú presa,
Alessandra toma o telefone do amante e fala com Ingrid.
— Olá bastarda! — diz Alessandra. — Já que tocou no assunto,
queremos você sim. E eu não sossegarei. Venha até aqui, SEM A POLÍCIA, e eu
libertarei a filha do mordomo boiola. Em troca, quero sua cabeça aqui, na minha
bandeja. Seu corpo de favelada dependente do Bolsa Família, servirei aos cães
da minha mansão em Paris.
Ingrid engole a seco, contudo, disposta a salvar Analú, ela
aceita.
— Me passe o endereço e a hora. Estarei aí. — diz Ingrid,
mostrando-se forte.
Estamos no apartamento de Ingird. Vitório
enche a cara de uísque. Alex e Inês continuam orando por Analú e Fidel anda de
um lado para o outro da sala.
— Santa Amy Winehouse! Ajude minha filha!
Não me diga “no, no, no” porque eu vou ficar muito triste. Se eu tivesse cabelo
eu arrancaria todos! Minhas unhas já acabaram! E a Ingrid que não dá notícias!
— diz Fidel.
— Ela foi atrás daquele cara... Eu sei. —
Vitório bebe outro gole de uísque e acende um charuto. Ele está sentado de
costas para os outros, na mesa da cozinha do apartamento.
— Seja mais humilde, Vitório. Ingrid está
se sentindo mal por Analú ter sido sequestrada em vez dela. — diz Alex. — Se
ela te deixou pra correr atrás de outro foi porque você não deu conta do
recado.
Vitório, furioso com o comentário de Alex,
levanta-se da mesa e encara o jovem. Alex cerra os punhos.
— Gente! Já chega! — Dona Inês interrompe a
possível briga — Se vocês não quiserem ajudar na oração, vão embora! Eu vou
continuar mandando energias positivas pra Analú.
— Pode deixar. — Vitório pega o paletó em
cima da mesinha da sala e se retira do apartamento.
— Bofe revoltado! — diz Fidel, que se junta
a Inês e Alex e continuam a rezar.
***
Quando a hora marcada por Alessandra está
prestes a chegar, Ingrid e Bruno alugam um pequeno automóvel e partem para o
local combinado.
— Você ainda não me disse qual foi a
proposta de Alessandra e Ugo. — comenta Bruno, que dirige. Ingrid está
pensativa, com os olhos fixos na estrada.
— Eu... eu não sei muito bem o que vai
acontecer, Bruno. Mas quero que saiba que pelo pouco tempo que estive com você,
eu te amei. Eu te amei muito quando estávamos juntos, e mais ainda agora.
— Eu não estou gostando dessa história. —
Bruno fala, fixando os olhos na estrada, mas virando para falar com a moça de
vez em quando.
— O pior pode acontecer. Eu já enfrentei de
tudo na minha vida. Vou vencer mais essa.
***
Gisela Saboya supervisiona os estagiários
da Flash Magazine, acompanhada de Calebe.
— Confesso que sinto falta de Vanessa.
Mesmo ela me chamando de vó, sempre.
— Eu entendo... Ela e a senhor... senhorita
eram muito próximas. — Calebe complementa.
— Sim! Vanessa tinha uma personalidade forte
como a de Adriano, seu pai, quando criança. Bons tempos aqueles da mansão,
quando Wagner, mesmo traindo Norma com nossa empregada, fazia minha filha e
meus netos felizes com suas mentiras. — recorda a septuagenária.
A presidenta da revista e o paparazzo vão
até a sala da presidência. A secretária espera Gisela com uma notícia.
— Senhorita Gisela...
— Diga, Magnólia. Estou apressada, tenho
assuntos a tratar com Calebe.
— Ligaram da polícia. Disseram que o neto
da senhora, Adriano, se jogou da janela do seu apartamento. Eu sinto muito.
Gisela fica sem chão.
***
O local marcado por Cérebro e Ugo para a
troca era em uma pista de decolagem particular, saindo da região metropolitana
da capital.
Um jatinho estava parado, pronto para
decorar. Ugo segurava Analú, apontando a arma para a cabeça da moça, enquanto
Alessandra tomava um champanhe.
O carro de Bruno e Ingrid chegou. Eles
saltaram do veículo e correram para próximo do jatinho.
— Eu estou aqui, Ugo e Alessandra! Soltem a
Analú! EU VOU COM VOCÊS! — gritou Ingrid.
— Que história é essa, Ingrid? — Bruno se
assusta.
— Foi necessário. Eu te amo, Bruno. Diga a
Inês, ao Fidel e ao Alex que eu vou sentir falta deles.
Com as mãos para cima, Ingrid tenta se aproximar mais ainda,
lentamente. Quando está cara a cara com Ugo, o italiano solta Analú e aponta a
arma para a cabeça de Ingrid e entra no jatinho.
— Au revoir, otário! —
diz Alessandra.
Analú corre para Bruno, que continua desolado com a atitude de
Ingrid. A filha do mordomo chora, abraçando Bruno, que mal conhece.
Quando o jatinho decola, Bruno grita:
— INGRID!!!