ÚLTIMO CAPÍTULO
Bruno e
Analú chegam de surpresa no apartamento onde Ingrid estava morando com Alex,
Fidel e D. Inês.
— Analú!
— Alex corre para abraçar Analú. Eles se beijam. Fidel abraça a filha.
Cabisbaixo,
Bruno se aproxima de Inês.
—
Bruno... cadê a Ingrid? Não me diga que...
— A
Ingrid se entregou e foi no lugar da Analú. — diz Bruno, com a voz embargada.
—
Alessandra e Ugo foram de jatinho para a França — diz Analú — Eles vão fazer
uma maldade com ela, eu tenho certeza. — a moça chora.
***
Estamos no jatinho a caminho da França. Ingrid tenta não
demonstrar nenhuma fraqueza perante os vilões. Enquanto Ugo a mantém em seus
braços, apontando uma arma em sua cabeça, enquanto Alessandra continua
comemorando com seu champanhe.
— Acho que este piloto bosta que você contratou está indo muito
baixo. Olha, estou quase vendo os peixinhos dentro do oceano. — diz Alessandra,
olhando pela janela.
— Io vou parlar com ele.
Ugo vai até a cabine do piloto, sempre levando Ingrid consigo,
como refém.
— Ugo, não precisa disso. Eu não tenho para onde ir dentro desse
jatinho... pode me soltar!
Eles chegam à cabine. Ugo acaba soltando Ingrid. Ela respira
aliviada.
— Se tentar qualquer gracinha, Ingrid, io storo tu miolos! — ele
se vira para o piloto, um velho barbudo – Cérebro quer saber por que estamos
voando tão baixo.
— Estamos a vários pés de altura do nível do mar. Essa mulher
implica com tudo! — diz o piloto.
Ugo se distrai quando o velho piloto mostra no monitor do
jatinho as coordenadas do voo. Ingrid rapidamente toma o revólver das mãos do
italiano.
— Stronza! Schifosa!
Ingrid aponta a arma para Ugo e o piloto.
— Para de me xingar e fica calado aí, seu italiano de merda! E
você, piloto, continue a pilotar o avião! Quero ver quem vai ter que sambar
miudinho aqui se não quiser que os miolos voem.
Eles se encaram.
***
O jovem Vitório Machado Dias está pensativo
em seu escritório. Seu peito ainda amargura por ter sido deixado por Ingrid de
uma forma tão desumana. Contudo, ele sabia que seu romance com a moça não duraria
para sempre.
— Filho? — Albaniza Dias entra no escritório. Traz consigo uma
xícara de café. — tome. Se sentirá melhor. Você sempre relaxa quanto toma café.
— Café não vai apagar o que Ingrid fez comigo, mãe... — o
advogado mexe em alguns papeis e um lhe chama atenção.
— O que é isso? — Albaniza percebe a apreensão do filho com
aquele papel.
— Não... algo que eu deveria guardar e esqueci. — ele sorri,
colocando o papel dentro de um envelope de papel madeira. — Eu vou superar,
mamãe. Há tantas moças no mundo. Talvez eu não seja de se jogar fora.
Vitório se levanta e dá um beijo no rosto da mãe, pedindo
licença e saindo em seguida.
***
Ainda
sentada na poltrona do jatinho, Alessandra Saboya escuta alguns ruídos vindos
da cabine do piloto.
— A anta italiana deve estar de brincadeira
comigo. — Cérebro se levanta e vai até lá. Surpreende-se quando vê Ingrid
armada, levantando rapidamente as mãos.
Alessandra dá alguns lentos passos até
ficar de costas para a porta do jatinho. Ingrid ocupa-se agora apontando a arma
para ela e Ugo.
— Nem pensem em tentar alguma coisa!
— Abaixe essa arma, Ingrid... vamos
conversar como mulheres de classe. Hã?
— Agora você me chama pelo nome não é? VAI,
ME CHAMA DE BASTARDA! EU NÃO SOU A FAVELADA QUE TOMOU A SUA HERANÇA? HEIN?
Alessandra baixa as mãos. A direita, ela
coloca para trás, tentando achar a tranca que destrava a porta do jatinho. Com
a esquerda, ela faz um sinal para que Ingrid se acalme. Ela acha a tranca.
— Vamos conversar, querida!
Alessandra abre a porta do jatinho. O vento
forte impede que Ingrid visualize qualquer coisa, fazendo assim com que Ugo
avance para cima dela, tentando pegar a arma. Alessandra corre para dentro do
banheiro.
Ugo e Ingrid deitam-se no chão, brigando
pelo revólver. O piloto, nervoso, balança muito o jato, o que impede que
qualquer um ganhe vantagens nessa pequena disputa.
Ingrid joga o revólver para perto da porta,
que ainda está aberta. Ugo se levanta e, assim que se abaixa para pegar a arma,
Ingrid o empurra para fora do jatinho. O italiano é jogado bruscamente para
dentro do oceano.
— VAI PRO INFERNO, UGO! — brada a mocinha,
fechando a porta da aeronave.
Ela só não esperava que o piloto, aliado de
Alessandra, a segurasse pelo pescoço. Ingrid estava perdendo de novo.
Alguns dias depois...
PARIS – FRANÇA
Bruno Valente tinha apenas uma pista: sua
amada Ingrid estava na França. Não sabia se ela estava viva ou morta, não sabia
em que parte da cidade luz a jovem moça estava, porém, seguiria sua intuição e iria
de novo à mansão de Alessandra em Paris.
O paparazzo lembrava-se perfeitamente
quando apareceu naquele casarão pela primeira vez, em busca de fotos e uma
entrevista exclusiva com a própria estilista. Ela, porém, demonstrara um grande
rancor pelo pai, mas não havia pistas de que ela poderia ser uma pessoa tão
ruim quanto ela estava demostrando naquele momento.
— Fidel? Estou em Paris – dizia ele,
falando ao telefone. — Já acionei a polícia. Alessandra entrou ilegalmente com
Ingrid e o piloto em Paris. Pagará bem caro. Acharam o corpo do Ugo? Não? Ok.
Havia enigmas que deveriam ser desvendados,
contudo Bruno tinha receio de seguir adiante e descobrir o pior.
***
A mansão estava sendo habitada por Alex,
Analú, Inês e Fidel. Havia um clima de luto naquele casarão, não tão diferente
de como era no passado.
— Senhor... por onde anda a Ingrid?! – Inês
se pergunta.
***
PARIS - FRANÇA
— Odeio ser fugitiva da polícia. Se bem
que, da polícia francesa, tem lá seus charmes. — diz Alessandra, sorrindo par
Ingrid, que está amarrada sua frente. O
velho, que estava pilotando o jato, faz carícias pervertidas na mocinha.
— Me solta, seu sujo! Sai! Sai! — grita
ela.
— Ingrid, querida. Antes de você dar adeus
a este mundo, gostaria de agradecê-la por ter dado um fim naquele italiano.
Olha, me fez um farvorzão. Se a polícia brasileira te pegar, vai passar uns
bons tempos na prisão. Mas não vai ser o seu caso, não é, amada?
— Eu apenas sobrevivi. — diz Ingrid, quase
vomitando, pois o velhote agora está tentando beijar seu rosto.
Alessandra se levanta, dá alguns passos e
sai do galpão, deixando Ingrid e o pervertido a sós.
Do lado de fora do velho galpão, faz frio.
A noite está escura e nublada. Não há estrelas e a pouca luz que há no local é
a lua. De repente, ela acende um fósforo e joga no galpão. As paredes são de
madeira e já estão empapadas com muito combustível, jogado por ela mesma
naquele dia, mais cedo.
— É o seu fim, Ingrid Ferreira... Peregrini.
***
O velho pervertido beija Ingrid
forçadamente, ao mesmo tempo em que tira as amarras e as roupas da moça. Fraca,
a mocinha não consegue se soltar das garras daquele homem, que está cada vez
mais perto de estuprá-la.
O fogo, porém, consome as paredes da casa e
o velho, bêbado, não está prestando tanta atenção. Ingrid se debate em seus
braços, até que, quando o fogo está alimentado a casa quase por completo, o
teto desaba.
***
Do lado de fora, Alessandra comemorava,
contemplando o fogo tomando conta da velha casa de madeira e, provavelmente, de
Ingrid e do velho piloto de avião. Afastando-se mais um pouco, mal podia
perceber que estava em pé num lago congelado. O gelo rachava a medida que a
vilã sapateava de alegria em cima dele. Um grande trinco formou-se, dividindo a
superfície do lago em duas.
Alessandra Saboya tentou correr, mas a
pressão que seus pés exerciam sobre a superfície do lago apenas fazia com que o
gelo trincasse mais. A distância de onde Alessandra estava e a terra firme era
enorme; não deu tempo e tão logo o trincado do gelo atingiu seus pés, abrindo
um buraco e fazendo com que a vilã caísse dentro daquela água gelada. Não podia
gritar por socorro, não podia encontrar algum lugar com que pudesse fincar seus
dedos e subir de volta a superfície, pois não havia. A única alternativa era
esperar com que a hipotermia tomasse conta do seu corpo e fazer com que ele
afundasse para as profundezas daquele lago.
***
A notícia da suposta morte de Ingrid, do
piloto e de Alessandra foi capa da Flash Magazine naquele mês. A repercussão
foi tamanha que as vendas dos exemplares atingiram um recorde jamais
conquistado.
— É triste ganhar mérito sob as custas da
desgraça alheia, mas qual revista não faz isso?! — Gisela comemorava.
***
Uma audiência foi marcada para decidir com
quem ficaria todos os bens da amaldiçoada família Peregrini. Estavam todos
presentes e, durante a fala do juiz, Vitório aparece com um papel na mão.
— Há um documento que comprova a vontade de
Ingrid Peregrini. Ela me pediu para redigir este testamento — ele levanta o
papel — logo após ser solta da cadeia.
Vitório entrega o testamento ao juiz.
— “Eu, Ingrid Ferreira Peregrini, declaro
que meus bens, herdados a mim por direito, sejam repartidos igualmente entre
Alex Peregrini, meu irmão, entre Inês Maria Garcia dos Santos, minha mãe de
criação, e Carlos Fidel Santana, meu amigo querido.”
Todos ficam chocados.
***
UM ANO DEPOIS
Um carro
de luxo é estacionado em frente à antiga e com fama de amaldiçoada mansão
Peregrini. Dele saem um rapaz elegante, de terno, com um cabelo muito preto e
uma franja cobrindo parte do rosto e uma loira alta, com um vestido
deslumbrante e um salto quinze.
Fidel está sentado numa poltrona dentro da
mansão, frente à piscina.
— Ai, como é bom ser rico! Eu sempre quis
isso... Pena que a pobre Ingrid teve de morrer para que eu pudesse realizar
este sonho. — Fidel bebe um pouco de suco — Todos os dias eu rezo para que
minha Santa Amy cuide da alma dela.
A campainha toca. Logo após um homem muito
magro, franzino, vestido de mordomo, sai de dentro da casa e caminha com
dificuldades até o portão da mansão.
— Ugo, querido?
O mordomo com aparência doente é Ugo, que
se vira para Fidel e faz uma reverência.
— Sempre que passar por mim, faça a
reverência e peça aos céus por eu e minha santíssima Amy Winehouse tenhamos o
salvado da morte.
Ugo lembra perfeitamente. Fora achado na beira da praia por
pescadores. Logo após, quase sem vida, foi levado a um hospital, onde se
recuperou aos poucos. O único telefone que se recordou foi o dos Peregrini,
para o qual ligou e falou com Fidel, que o levou para a mansão e fez dele seu
mordomo.
— Sim, senhore. Io vou atender o portão.
O italiano autoriza que o rapaz de franja e
a moça elegante entrem na mansão. Fidel os espera na mesa de café da manhã em
frente à piscina.
— Eduardo Amaral e Ellie Goulding, astros
da TV Virtual, do meu querido Félix Crítica! Venham, juntem-se a mim!
Edu e Ellie sentam à mesa. A moça contempla
a grande mansão, enquanto Eduardo faz cara de asco.
— Ai, que brega! Essa decoração é típica de
pobre que enricou de uma hora pra outra. — Eduardo Amaral sorri maliciosamente.
Fidel reprova o comentário maldoso de Edu,
mudando de assunto.
— Oh, Ellie! Eu assisti àquela novela que
você fez. “Assim que Amanhecer” não lacraria tanto as inimigas se não tivesse
você interpretando a protagonista. Nunca chorei tanto desde “Preconceitos”.
— Obrigada! — a loira sorri. Nota-se um
forte sotaque americano.
— A minha diva lacradora Ellie está ainda
tentando se acostumar com o português. — Eduardo faz um prato enorme de
croissants e frutas e enche um copo de suco de goiaba até o topo — Mas não
estamos aqui para perder tempo. Como meus patrões Félix Crítica e Luiz Gustavo
estão viajando para preparar as gravações da nova série da emissora, eles me
deram um voto de confiança pra vir até aqui, a sua mansão, Fidel, para saber da
sua proposta.
Ellie Goulding apenas observa.
— Queridos, eu quero chutar a Ana Maria ‘Brega’
da TV brasileira e fazer um programa inovador. Se chamaria “Mais Fidel” e teria
como um mascote o Coelho Chico. O que me dizem?
— As ideias originais mandaram lembranças,
Darling. — diz Ellie.
— E eu só aceito a proposta se me trouxerem
mais desses croissants. Hoje eu vou comer mais que uma rapariga! Me chupem,
recalcadas!
— UGOOOOOOOO! — grita Fidel. Ugo sai de
dentro da casa.
— Pois não, senhore?
— ME SERVE, VADIA! NÃO TÁ VENDO QUE OS MEUS
CONVIDADOS ESTÃ FAMINTOS?! VÁ! TRAGA MAIS COMIDA!
Ugo bufa de ódio e sai, até a cozinha.
Aquele seria seu carma até o dia de sua morte.
***
PARIS – FRANÇA
“Eu estou esperando por você na boate em frente
ao museu do Louvre”, dizia a mensagem que Bruno
Valente recebera em seu celular. De quem, ele não sabia.
O paparazzo entrou na boate, tentando
encontrar alguém que ele conhecesse, mas não havia ninguém, apenas pessoas
desconhecidas dançando na pista. Sua única companheira era a câmera fotográfica
e o bloquinho de anotações. Bruno pensou que, talvez, estivesse entrando numa
emboscada.
Sentou-se à mesa do bar da boate e pediu
uma dose de uma bebida qualquer. Abaixou a cabeça, vazia, porém cheia de
pensamentos, lembranças de um futuro que nunca existiu.
Sentiu um par de mãos encontrarem seus
olhos e taparem. Quem seria? Uma brincadeira de mau gosto?
— Eu já disse hoje que te amo? — soou uma
voz feminina bem perto de seu ouvido.
Bruno se virou e viu o rosto de Ingrid.
Seria realmente ela? Ela não havia morrido no incêndio na casa de madeira? “Certo que não acharam seu corpo. Eu tinha
esperanças de reencontrá-la, sempre tive”, pensou. Perguntas sem respostas.
Ele apenas a rodopiou em seus braços e a beijou fortemente. Deixou que o tempo
revelasse os detalhes daquela história. Já não havia mais “eu”, e sim “nós”.
FIM