quarta-feira, 7 de maio de 2014

Alta Tensão - Último Capítulo



ÚLTIMO CAPÍTULO

Bruno e Analú chegam de surpresa no apartamento onde Ingrid estava morando com Alex, Fidel e D. Inês.
— Analú! — Alex corre para abraçar Analú. Eles se beijam. Fidel abraça a filha.
Cabisbaixo, Bruno se aproxima de Inês.
— Bruno... cadê a Ingrid? Não me diga que...
— A Ingrid se entregou e foi no lugar da Analú. — diz Bruno, com a voz embargada.
— Alessandra e Ugo foram de jatinho para a França — diz Analú — Eles vão fazer uma maldade com ela, eu tenho certeza. — a moça chora.

***

Estamos no jatinho a caminho da França. Ingrid tenta não demonstrar nenhuma fraqueza perante os vilões. Enquanto Ugo a mantém em seus braços, apontando uma arma em sua cabeça, enquanto Alessandra continua comemorando com seu champanhe.
— Acho que este piloto bosta que você contratou está indo muito baixo. Olha, estou quase vendo os peixinhos dentro do oceano. — diz Alessandra, olhando pela janela.
— Io vou parlar com ele.
Ugo vai até a cabine do piloto, sempre levando Ingrid consigo, como refém.
— Ugo, não precisa disso. Eu não tenho para onde ir dentro desse jatinho... pode me soltar!
Eles chegam à cabine. Ugo acaba soltando Ingrid. Ela respira aliviada.
— Se tentar qualquer gracinha, Ingrid, io storo tu miolos! — ele se vira para o piloto, um velho barbudo – Cérebro quer saber por que estamos voando tão baixo.
— Estamos a vários pés de altura do nível do mar. Essa mulher implica com tudo! — diz o piloto.
Ugo se distrai quando o velho piloto mostra no monitor do jatinho as coordenadas do voo. Ingrid rapidamente toma o revólver das mãos do italiano.
— Stronza! Schifosa!
Ingrid aponta a arma para Ugo e o piloto.
— Para de me xingar e fica calado aí, seu italiano de merda! E você, piloto, continue a pilotar o avião! Quero ver quem vai ter que sambar miudinho aqui se não quiser que os miolos voem.
Eles se encaram. 

***

     O jovem Vitório Machado Dias está pensativo em seu escritório. Seu peito ainda amargura por ter sido deixado por Ingrid de uma forma tão desumana. Contudo, ele sabia que seu romance com a moça não duraria para sempre.
— Filho? — Albaniza Dias entra no escritório. Traz consigo uma xícara de café. — tome. Se sentirá melhor. Você sempre relaxa quanto toma café.
— Café não vai apagar o que Ingrid fez comigo, mãe... — o advogado mexe em alguns papeis e um lhe chama atenção.
— O que é isso? — Albaniza percebe a apreensão do filho com aquele papel.
— Não... algo que eu deveria guardar e esqueci. — ele sorri, colocando o papel dentro de um envelope de papel madeira. — Eu vou superar, mamãe. Há tantas moças no mundo. Talvez eu não seja de se jogar fora.
Vitório se levanta e dá um beijo no rosto da mãe, pedindo licença e saindo em seguida.
***
Ainda sentada na poltrona do jatinho, Alessandra Saboya escuta alguns ruídos vindos da cabine do piloto.
     — A anta italiana deve estar de brincadeira comigo. — Cérebro se levanta e vai até lá. Surpreende-se quando vê Ingrid armada, levantando rapidamente as mãos.
     Alessandra dá alguns lentos passos até ficar de costas para a porta do jatinho. Ingrid ocupa-se agora apontando a arma para ela e Ugo.
     — Nem pensem em tentar alguma coisa!
     — Abaixe essa arma, Ingrid... vamos conversar como mulheres de classe. Hã?
     — Agora você me chama pelo nome não é? VAI, ME CHAMA DE BASTARDA! EU NÃO SOU A FAVELADA QUE TOMOU A SUA HERANÇA? HEIN?
     Alessandra baixa as mãos. A direita, ela coloca para trás, tentando achar a tranca que destrava a porta do jatinho. Com a esquerda, ela faz um sinal para que Ingrid se acalme. Ela acha a tranca.
     — Vamos conversar, querida!
     Alessandra abre a porta do jatinho. O vento forte impede que Ingrid visualize qualquer coisa, fazendo assim com que Ugo avance para cima dela, tentando pegar a arma. Alessandra corre para dentro do banheiro.
     Ugo e Ingrid deitam-se no chão, brigando pelo revólver. O piloto, nervoso, balança muito o jato, o que impede que qualquer um ganhe vantagens nessa pequena disputa.
     Ingrid joga o revólver para perto da porta, que ainda está aberta. Ugo se levanta e, assim que se abaixa para pegar a arma, Ingrid o empurra para fora do jatinho. O italiano é jogado bruscamente para dentro do oceano.
     — VAI PRO INFERNO, UGO! — brada a mocinha, fechando a porta da aeronave.
     Ela só não esperava que o piloto, aliado de Alessandra, a segurasse pelo pescoço. Ingrid estava perdendo de novo.


Alguns dias depois...
PARIS – FRANÇA

     Bruno Valente tinha apenas uma pista: sua amada Ingrid estava na França. Não sabia se ela estava viva ou morta, não sabia em que parte da cidade luz a jovem moça estava, porém, seguiria sua intuição e iria de novo à mansão de Alessandra em Paris.
     O paparazzo lembrava-se perfeitamente quando apareceu naquele casarão pela primeira vez, em busca de fotos e uma entrevista exclusiva com a própria estilista. Ela, porém, demonstrara um grande rancor pelo pai, mas não havia pistas de que ela poderia ser uma pessoa tão ruim quanto ela estava demostrando naquele momento.
     — Fidel? Estou em Paris – dizia ele, falando ao telefone. — Já acionei a polícia. Alessandra entrou ilegalmente com Ingrid e o piloto em Paris. Pagará bem caro. Acharam o corpo do Ugo? Não? Ok.
     Havia enigmas que deveriam ser desvendados, contudo Bruno tinha receio de seguir adiante e descobrir o pior.

***

     A mansão estava sendo habitada por Alex, Analú, Inês e Fidel. Havia um clima de luto naquele casarão, não tão diferente de como era no passado.
     — Senhor... por onde anda a Ingrid?! – Inês se pergunta.

***

PARIS - FRANÇA

     — Odeio ser fugitiva da polícia. Se bem que, da polícia francesa, tem lá seus charmes. — diz Alessandra, sorrindo par Ingrid, que está amarrada sua frente.  O velho, que estava pilotando o jato, faz carícias pervertidas na mocinha.
     — Me solta, seu sujo! Sai! Sai! — grita ela.
     — Ingrid, querida. Antes de você dar adeus a este mundo, gostaria de agradecê-la por ter dado um fim naquele italiano. Olha, me fez um farvorzão. Se a polícia brasileira te pegar, vai passar uns bons tempos na prisão. Mas não vai ser o seu caso, não é, amada?
     — Eu apenas sobrevivi. — diz Ingrid, quase vomitando, pois o velhote agora está tentando beijar seu rosto.
     Alessandra se levanta, dá alguns passos e sai do galpão, deixando Ingrid e o pervertido a sós.
     Do lado de fora do velho galpão, faz frio. A noite está escura e nublada. Não há estrelas e a pouca luz que há no local é a lua. De repente, ela acende um fósforo e joga no galpão. As paredes são de madeira e já estão empapadas com muito combustível, jogado por ela mesma naquele dia, mais cedo.
     — É o seu fim, Ingrid Ferreira... Peregrini.
***

     O velho pervertido beija Ingrid forçadamente, ao mesmo tempo em que tira as amarras e as roupas da moça. Fraca, a mocinha não consegue se soltar das garras daquele homem, que está cada vez mais perto de estuprá-la.
     O fogo, porém, consome as paredes da casa e o velho, bêbado, não está prestando tanta atenção. Ingrid se debate em seus braços, até que, quando o fogo está alimentado a casa quase por completo, o teto desaba.

***

     Do lado de fora, Alessandra comemorava, contemplando o fogo tomando conta da velha casa de madeira e, provavelmente, de Ingrid e do velho piloto de avião. Afastando-se mais um pouco, mal podia perceber que estava em pé num lago congelado. O gelo rachava a medida que a vilã sapateava de alegria em cima dele. Um grande trinco formou-se, dividindo a superfície do lago em duas.
     Alessandra Saboya tentou correr, mas a pressão que seus pés exerciam sobre a superfície do lago apenas fazia com que o gelo trincasse mais. A distância de onde Alessandra estava e a terra firme era enorme; não deu tempo e tão logo o trincado do gelo atingiu seus pés, abrindo um buraco e fazendo com que a vilã caísse dentro daquela água gelada. Não podia gritar por socorro, não podia encontrar algum lugar com que pudesse fincar seus dedos e subir de volta a superfície, pois não havia. A única alternativa era esperar com que a hipotermia tomasse conta do seu corpo e fazer com que ele afundasse para as profundezas daquele lago.

***

     A notícia da suposta morte de Ingrid, do piloto e de Alessandra foi capa da Flash Magazine naquele mês. A repercussão foi tamanha que as vendas dos exemplares atingiram um recorde jamais conquistado.
     — É triste ganhar mérito sob as custas da desgraça alheia, mas qual revista não faz isso?! — Gisela comemorava.

***

     Uma audiência foi marcada para decidir com quem ficaria todos os bens da amaldiçoada família Peregrini. Estavam todos presentes e, durante a fala do juiz, Vitório aparece com um papel na mão.
     — Há um documento que comprova a vontade de Ingrid Peregrini. Ela me pediu para redigir este testamento — ele levanta o papel — logo após ser solta da cadeia.
     Vitório entrega o testamento ao juiz.
    — “Eu, Ingrid Ferreira Peregrini, declaro que meus bens, herdados a mim por direito, sejam repartidos igualmente entre Alex Peregrini, meu irmão, entre Inês Maria Garcia dos Santos, minha mãe de criação, e Carlos Fidel Santana, meu amigo querido.”
     Todos ficam chocados.

***

UM ANO DEPOIS





     Um carro de luxo é estacionado em frente à antiga e com fama de amaldiçoada mansão Peregrini. Dele saem um rapaz elegante, de terno, com um cabelo muito preto e uma franja cobrindo parte do rosto e uma loira alta, com um vestido deslumbrante e um salto quinze.
     Fidel está sentado numa poltrona dentro da mansão, frente à piscina.
     — Ai, como é bom ser rico! Eu sempre quis isso... Pena que a pobre Ingrid teve de morrer para que eu pudesse realizar este sonho. — Fidel bebe um pouco de suco — Todos os dias eu rezo para que minha Santa Amy cuide da alma dela.
     A campainha toca. Logo após um homem muito magro, franzino, vestido de mordomo, sai de dentro da casa e caminha com dificuldades até o portão da mansão.
     — Ugo, querido?
     O mordomo com aparência doente é Ugo, que se vira para Fidel e faz uma reverência.
     — Sempre que passar por mim, faça a reverência e peça aos céus por eu e minha santíssima Amy Winehouse tenhamos o salvado da morte.
     Ugo lembra perfeitamente. Fora achado na beira da praia por pescadores. Logo após, quase sem vida, foi levado a um hospital, onde se recuperou aos poucos. O único telefone que se recordou foi o dos Peregrini, para o qual ligou e falou com Fidel, que o levou para a mansão e fez dele seu mordomo.
     — Sim, senhore. Io vou atender o portão.
     O italiano autoriza que o rapaz de franja e a moça elegante entrem na mansão. Fidel os espera na mesa de café da manhã em frente à piscina.
     — Eduardo Amaral e Ellie Goulding, astros da TV Virtual, do meu querido Félix Crítica! Venham, juntem-se a mim!
     Edu e Ellie sentam à mesa. A moça contempla a grande mansão, enquanto Eduardo faz cara de asco.
     — Ai, que brega! Essa decoração é típica de pobre que enricou de uma hora pra outra. — Eduardo Amaral sorri maliciosamente.
     Fidel reprova o comentário maldoso de Edu, mudando de assunto.
     — Oh, Ellie! Eu assisti àquela novela que você fez. “Assim que Amanhecer” não lacraria tanto as inimigas se não tivesse você interpretando a protagonista. Nunca chorei tanto desde “Preconceitos”.
     — Obrigada! — a loira sorri. Nota-se um forte sotaque americano.
     — A minha diva lacradora Ellie está ainda tentando se acostumar com o português. — Eduardo faz um prato enorme de croissants e frutas e enche um copo de suco de goiaba até o topo — Mas não estamos aqui para perder tempo. Como meus patrões Félix Crítica e Luiz Gustavo estão viajando para preparar as gravações da nova série da emissora, eles me deram um voto de confiança pra vir até aqui, a sua mansão, Fidel, para saber da sua proposta.
     Ellie Goulding apenas observa.
     — Queridos, eu quero chutar a Ana Maria ‘Brega’ da TV brasileira e fazer um programa inovador. Se chamaria “Mais Fidel” e teria como um mascote o Coelho Chico. O que me dizem?
     — As ideias originais mandaram lembranças, Darling. — diz Ellie.
     — E eu só aceito a proposta se me trouxerem mais desses croissants. Hoje eu vou comer mais que uma rapariga! Me chupem, recalcadas!
     — UGOOOOOOOO! — grita Fidel. Ugo sai de dentro da casa.
     — Pois não, senhore?
     — ME SERVE, VADIA! NÃO TÁ VENDO QUE OS MEUS CONVIDADOS ESTÃ FAMINTOS?! VÁ! TRAGA MAIS COMIDA!
     Ugo bufa de ódio e sai, até a cozinha. Aquele seria seu carma até o dia de sua morte.

***

PARIS – FRANÇA



“Eu estou esperando por você na boate em frente ao museu do Louvre”, dizia a mensagem que Bruno Valente recebera em seu celular. De quem, ele não sabia.
     O paparazzo entrou na boate, tentando encontrar alguém que ele conhecesse, mas não havia ninguém, apenas pessoas desconhecidas dançando na pista. Sua única companheira era a câmera fotográfica e o bloquinho de anotações. Bruno pensou que, talvez, estivesse entrando numa emboscada.
     Sentou-se à mesa do bar da boate e pediu uma dose de uma bebida qualquer. Abaixou a cabeça, vazia, porém cheia de pensamentos, lembranças de um futuro que nunca existiu.
     Sentiu um par de mãos encontrarem seus olhos e taparem. Quem seria? Uma brincadeira de mau gosto?
     — Eu já disse hoje que te amo? — soou uma voz feminina bem perto de seu ouvido.
     Bruno se virou e viu o rosto de Ingrid. Seria realmente ela? Ela não havia morrido no incêndio na casa de madeira? “Certo que não acharam seu corpo. Eu tinha esperanças de reencontrá-la, sempre tive”, pensou. Perguntas sem respostas. Ele apenas a rodopiou em seus braços e a beijou fortemente. Deixou que o tempo revelasse os detalhes daquela história. Já não havia mais “eu”, e sim “nós”.

FIM