Tristeza era o que resumia Valéria naquele momento. Ao ver o PM se aproximando ela fechou os olhos e deixou lágrimas caírem do mesmo. Enquanto um PM verificava as malas o outro observava atentamente o rosto triste da moça, que não ficou surpresa ao ouvir o outro PM dizer depois que abriu as malas e encontrou órgãos humanos dentro de sacolas de gelo:
– Então você é traficante, mocinha? Pois
está presa. Pra onde levaria esses órgãos?
– Não sei... – Respondeu a moça se sentindo “um
nada”.
– Como não sabe? Pois trate de se lembrar,
pois terá de se explicar na delegacia.
A delegacia de polícia federal é o que todos imaginam. Possui um delegado curioso, como sempre, ou uma delegada. E Valéria estava em uma, de cara com Robson.
– Valéria, pode me explicar exatamente como
é esse esquema?
– Não sei de nada. Eu...
– Você...?
– Eu não sou traficante, eu juro. Eu
apenas...
– Não adianta, você terá de revelar de uma
forma ou de outra.
Não
houve palavras da moça, que tirava a atenção do delegado com seu decote à mostra.
Então Robson parou de olhar para o corpo da jovem e falou:
– Então fique preparada para o
julgamento.
Depois de encarar o delegado Valéria
foi pra uma cela da delegacia. Ela se agachou no cantinho da mesma, colocando
seus braços apoiados aos joelhos. Então a moça começou a chorar. Sentiu uma
vontade profunda de rever Renato e de falar com seus pais.
Aqueles dias naquela cela foram uma
eternidade para Valéria. Durante esse tempo a notícia de que ela era uma
traficante de órgãos humanos se espalhou e chocou todos os brasileiros que
souberam. Principalmente seus pais, que estavam frente a frente com a filha na
sala de visitas da cela. E a filha não conseguia se explicar. A mãe, Marisa, em
nenhum momento a elogiou.
– Eu confiava em você, filha. Você
disse que estudaria direitinho, sem bagunça. Eu sabia que essas baladas só iam
te dar trabalho. Essas saídas à noite levam para a perdição.
O
pai, Ícaro, carinhoso, como sempre, tentava ao máximo consolar Valéria.
– Esse negócio de tráfico é de verdade,
filha? Você é mesmo parte desse grupo?
Mas
o que chocava mais o casal e fazia-os acreditar que a filha fazia parte desse
esquema era o porquê de Valéria ir à Argentina.
Os pais da moça decidiram ficar em São
Paulo mais alguns dias, para esperarem o julgamento, que acontecerá em seis
dias, os quais não demoraram pra chegar. Mais precisamente: chegou o dia do
julgamento de Valéria.
Marisa e
Ícaro estavam sentados no primeiro banco da sala de julgamento, que mudará o
destino da filha, sentada com a cabeça baixa. Não tinha vontade de sorrir.
Então o juiz deu a ordem para começar o julgamento. A primeira testemunha era
Renato. Ele se sentou na cadeira e começou a falar:
– O que
tenho a dizer é que Valéria me surpreendeu – Ele olhou para a mesma – Não
imaginava que sequestrada, sumida, Valéria seria capaz de se misturar com um
bando de delinquentes. Eu na verdade nem sabia o que é o tráfico de órgãos,
sendo que minha amiga, em quem eu mais confiava, é uma integrante da quadrilha.
Eu não tenho mais nada a dizer.
Valéria o olhou com um olhar
triste. Era a vez de um dos policiais que prenderam Valéria no aeroporto dar
sua testemunha:
– Já disse:
a moça estava sim com os órgãos. Nós a pegamos com as malas cheias. Não adianta
duvidarem.
O advogado
de Valéria, Thomas Chuller, um careca novo, perguntou ao policial, que se
chamava Élcio:
– Sr.
Élcio, já imaginou a hipótese de Valéria ter sido uma vítima? De terem colocado
os órgãos nas malas dela enquanto ela dormia?
– Ah é? –
Gritou o policial – E o que eles fizeram com as roupas da moça? Na mala não
tinha nenhuma. Será que eles trocaram as roupas pelos órgãos? Ah, que absurdo!
Após ouvirem a terceira e última
testemunha, era a vez de Valéria responder às perguntas do investigador:
– Srta.
Valéria, como explica o motivo dos órgãos pararem em suas malas?
– Não sei...
– Como não
sabe? É uma traficante!
– Ah, vai-te
catar seu investigador de bosta. A verdade eu quem sei. – Gritou antes de o
juiz gritar mais alto ainda:
– Silêncio no
tribunal! Acalme-se, Srta.
– Acalmar?
Como eu posso acalmar com tantas acusações? – Perguntou a moça – Como vocês
acham que eu to me sentindo aqui, hein? Como uma merda, né!
Ela colocou
os braços em cima da mesa, apoiou sua cabeça sobre eles e começou a chorar. Não
estava disposta a continuar respondendo às perguntas. Então, chegou a hora do
veredicto final. O juiz exclamou:
– Senhoras e
senhoras, eu, Antonie Buzzi, juiz formado em direito pela lei, condeno a ré
Valéria de Castro Melo, de vinte anos de prisão, por tráfico internacional de
órgãos humanos. Acabou – pensou Valéria.
Longe dos tribunais e com muita mordomia num condomínio de luxo, Carla tomava uma taça de vinho francês sentada em seu sofá. A cantora foi dar um gole e quase se engasgou, pois levou um susto com a campainha. Carla abriu a porta e vê que a visita é Estela, que como um avião entra na sala.
–
Que burrada, hein Carla?
– Como assim? Não estou entendendo.
Estela soltou uma gargalhada de
deboche e explicou:
– Carla, você praticamente mandou a gente obrigar a jovem transportar os órgãos
ao Brasil. Você estava louca? Saiu da linha? E se ela nos entregasse? Eu tive
que acalmar o Antônio inventando que ficaria tudo bem, mas com a incerteza de
que realmente daria certo.
– E? – Perguntou Carla com uma voz tranquila.
Estela balançou a cabeça e
decidiu ir embora:
– Já vi que hoje seu dia tá cheio de humor. Vou embora. Qualquer dia passa no
meu hospital pra gente acertar um novo negócio.
Estela se retirou, deixando Carla
com uma cara “maquiavélica”.
Valéria foi transferida para uma penitenciária, só para mulheres. Antes de ir,
ela se despediu dos pais, que voltaram para o Paraná. Ela também falou com
Renato, que mostrava não estar nenhum pouco feliz.
–
E eu Valéria, desesperado por pensar que você sumiu como a vítima de tudo.
– Mas Renato, eu juro pra você, sou vítima sim, uma vítima. Eu sofri tanto...
– Sofreu? E fez os outros sofrerem, não é? Traficando órgãos...
Quando Valéria tentou se explicar
novamente, já chorando, foi pega pelo braço esquerdo por um PM e levada para o
carro da polícia.
Dentro da cela da penitenciária,
ela estava junto de sua companheira de cela, que perguntou:
– Me conta como chegou aqui?
– Não quero contar nada – Respondeu Valéria muito triste – Mas eu juro, quando
eu sair daqui, esse mundo vai virar. Eu ainda não perdi. A justiça será feita.
Nem que isso custe minha própria vida.
COLABORADOR-
LUIZ GUSTAVO
DIREÇÃO DE
ARTE - MÁRCIO GABRIEL
ESCRITO
POR - WILLIAM ARAUJO
REALIZAÇÃO -
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