VIGÉSIMO QUARTO CAPÍTULO
Música: Florence + The Machine - Spectrum
—
Obrigado por estarem aqui comigo no momento mais importante da minha vida, meus
irmãos. — diz Alex para Adriano e Alessandra, que acabam de chegar à igreja.
— Eu
disse que mais cedo ou mais tarde nós nos encontraríamos e seríamos felizes
novamente. — afirma Adriano.
O
jovem Peregrini esbanja empolgação e ansiedade. Cada minuto para ele parece uma
eternidade. Seu desejo era de que Analú entrasse na igreja o mais rápido
possível, pelo simples gosto de estar perto dela, beijá-la e abraçá-la.
— Aí
vem a vovó. E a Vanessa. Essas duas se deram muito bem. — diz Adriano.
—
Desculpe, Adriano, mas sua filha está bregamente horrenda. — fala Alessandra
sobre os trajes da sobrinha.
Gisela
entra na igreja. Usa um vestido escandalosamente vermelho, que chama a atenção
de todos. Vanessa veste um vestido preto, tão curto e tão decotado que, de
fato, chega a ser ridículo. Elas se aproximam dos três irmãos.
—
Meus netos queridos! Vocês não sabem o quão emocionante é ver os três juntos
novamente. Que tal tirarmos uma foto?
Vanessa
se abraça ao pai, que se une aos outros dois irmãos. Gisela entrega a câmera
fotográfica a um convidado e pede para que ele tire a foto.
— Digam
“xis”! — brinca Vanessa.
***
Ugo
abre os olhos e estranha o lugar onde está. Vê o rosto de alguém, que está
sorrindo para ele. É o outro capanga de “Cérebro”. Um homem negro, careca e
alto, que tem uma cicatriz enorme no rosto.
—
Onde estou? — pergunta Ugo. — Quem é você?
— Mal
acordou e está fazendo perguntas demais. — diz o capanga. — Mas vou responder
todas elas. Me chame de Zíper. Eu sou o mais novo contratado de “Cérebro”. Já
que você o traiu...
— Io
não traí Cérebro. Io apenas perdi o
documento que Wagner assinou, e com medo tive que fugir. Onde ele está? Preciso
muito falar com ele...
—
Logo ele estará aqui. Fique calminho.
Zíper
se afasta. Ugo observa o revólver que está preso a sua calça. O italiano tenta
se levantar do lugar onde está, mas há amarras que prendem o seu corpo.
***
O
carro que traz Analú à igreja finalmente chega. Ela sai do veículo. Dona Inês
segura a cauda do vestido, para que não rasgue ou aconteça qualquer problema.
Fidel continua no carro.
—
Pai! Vamos logo! Estamos atrasados!
—
Ai,ai! Eu não sei... Não sei se quero que esse bando de recalcados sequem o meu
maravilhoso terno.
—
Mas, pai! Com quem eu vou entrar na igreja? Vamos logo, deixa de frescuras pelo
menos hoje? Vai, papai! Por mim...
Inês
e Analú tentam puxar Fidel do carro, mas ele faz força para não sair.
***
Bruno
finalmente chega à cerimônia. Vanessa, que conversava com os familiares se
dirige até ele.
—
Amorzinho, onde você se meteu? Estava preocupada!
—
Estava tentando conseguir alguns flashes por aí.
Olha,
já falei com o Alex e ele disse que você poderia tirar quantas fotos quiser do
casamento. E a vovó... Quer dizer, Tia Gisela, disse que te contrataria para
trabalhar na Revista Flash. Não é uma maravilha?
Gisela
se intromete na conversa do casal e diz:
—
Isso mesmo, Bruno. Seja bem vindo à Flash Magazine. A cobertura do casamento de
Alex Peregrini e Ana Luiza Santana é toda sua.
—
Muito, muitíssimo obrigado, senhorita Gisela. — Bruno beija a mão da senhora.
— Não
há de quê.
Bruno
tira sua câmera fotográfica de dentro da mochila e começa a tirar fotos dos
convidados.
***
Paris – França.
Ela
estava se esforçando muito para deixar o seu visual contemporâneo e adotar algo
mais clássico. Abandonar as jaquetas rasgadas e as calças jeans e colocar em
seu guarda-roupa vestidos classudos e de marca foi a primeira tarefa. Ingrid
agora estava fazendo aulas de etiqueta, e se saía uma ótima aluna.
— A
cada dia que passa você fica mais esplêndida, senhorita Cida.
Ingrid
sabia que aquelas dezenas de elogios provindos de Victorio não estavam saindo
de sua boca sem que ele esperasse algum retorno. Ela se deu conta de que
naquele dia no Brasil, Alex e Analú estariam se casando, e com certeza Bruno
estaria pagando de marido, beijando Vanessa para todas as câmeras de emissoras
de TV, revistas e jornais que estariam presentes na cerimônia. Percebeu que
estava vivendo em função de Bruno ainda, que estava mudando seu visual par
aprovar a ele que ela poderia ser uma mulher chique, de classe, assim como
Vanessa. Mas percebeu também que havia um homem aos seus pés, e bem debaixo do
seu nariz: Victorio.
Eles
estão sentados agora em um banco de uma praça.
—
Victorio... — diz Ingrid, pousando a mão na mão do advogado. — Você sente
alguma coisa por mim, não sente?
Ele
se assusta, mas responde.
—
Perdoe-me se deixei passar isso. Não era minha intenção.
— Eu
gosto de você, Victorio. Você é um homem de verdade. Atencioso, sabe tratar uma
mulher verdadeiramente bem...
—
Senhorita Cida, por favor... eu... — seu rosto fica corado.
Ingrid o beija.
***
Música:
Linkin Park – Burn it Down
Depois
de muito sacrifício, Inês e Analú conseguem arrancar Fidel de dentro do carro.
O mordomo entra com a filha na igreja. O vestido de Analú é longo, e brilha
assim como o sol daquele dia. Alex, do altar sorri para ela.
O
terno de Fidel chama a atenção de todos, mas do que o vestido da noiva: cor de
rosa, pink, com várias lantejoulas. Ele, com a mão livre, pois com a outra está
segurando o braço da filha, caminha pelo tapete da igreja acenando para todos
os convidados.
— Eu
sei que eu divo, por favor, não chorem.
Finalmente
pai e filha chegam ao altar. Fidel entrega Analú para Alex.
—
Cuide bem da minha filha. Ou senão... eu uso o meu lado masculino e você, olha
— gesticula passando a mão na garganta — já era.
—
Pode deixar, senhor Fidel.
Eles
se ajoelham e o padre prossegue com a cerimônia. Fidel, em um canto do altar,
chora, limpando as lágrimas com um lenço tão cor de rosa quando o seu terno.
Depois de trocarem as alianças, Analú e Alex se beijam.
—
Hora de jogar o buquê! — diz Dona Inês, começando a formar um tumultuado de
mulheres do lado de fora da igreja.
— É
um... É dois... É três... Já!
Analú
joga o buquê para cima, e quem o pega é nada mais, nada menos que Fidel.
—
Uhu! Agora só falta o Robervaldo, o galã da minha novela das oito, aparecer por
aqui em Fortaleza. E aí, ele não vai resistir ao meu corpinho sedutor. —
comenta ele.
***
Finalmente
chega a noite daquele longo dia. Alex e Analú estão no aeroporto e embarcarão
para Paris, onde encontrarão Cida (Ingrid) e Victorio, e lá passarão sua lua de
mel.
***
Ugo adormeceu mais uma vez e, logo quando ouviu
uma voz familiar, ele acordou. De longe, ele ouvia uma conversa entre “Cérebro”
e Zíper.
— Se você quiser, Cérebro, eu o mato. E pico
este desgraçado em pedacinhos.
— Não, Zíper. Não antes de ele encontrar o
documento que ele fez o Wagner assinar. Só com esse documento, eu posso tirar
toda aquela grana da catadora de lixo e me apossar de tudo.
— Eu vou soltá-lo e trazê-lo até aqui para
falar com você.
Zíper
chega até o quarto onde Ugo está amarrado. O italiano opta por fingir que está
dormindo, dando a entender que não ouviu a conversa entre Cérebro e o novo
capanga.
—
Hora de falar com o Cérebro, italianinho.
Ugo é
solto, e logo olha para as costas de Zíper, pegando sua arma que lá estava
escondida.
— É
melhor não se mexer, ou morrerá. — diz Ugo, apontando a arma para Zíper.
(ESPAÇO PARA A ABERTURA)
Música: Marilyn Manson – Tourniquet.
Zíper acaba reagindo, mas não
consegue tomar a arma de Ugo. O italiano não pensa duas vezes e atira contra a
cabeça de Zíper, que cai no chão. O sangue do capanga contrasta com o chão
branco, e aquilo faz com que Ugo fique um pouco tonto. Ele corre até a porta,
mas ela é fechada.
Ele
escuta uma voz no quarto onde está. Logo ele vê que o som está saindo por alto
falantes.
— Fez-me a gentileza de ter matado essa anta.
Zíper era um frouxo. — Ugo ouve a voz distorcida de Cérebro, que sai dos
altos falantes instalados no quarto.
—
Cérebro! Abra esta porta!
— Só sairá daqui morto, Ugo. A menos que...
— Se
você não houvesse me interrompido, a este momento eu estaria morto. De qualquer
jeito, mate-me. Não tenho nada a perder. — Ugo enfrenta Cérebro.
— Seu desejo é uma ordem, italiano filho de
uma cadela. Ficará aqui definhando até que me diga onde escondeu o documento
que fez Wagner assinar. Não terá água, nem comida. Assim, uma morte lenta e
dolorosa.
Ugo
tenta procurar o celular nos seus bolsos, assim como nos bolsos de Zíper, mas
nada acha.
— Nem tente procurar uma maneira de se comunicar
com alguém, Ugo. Confiscamos seu telefone e Zíper não andava com celulares.
Passarei aqui uma outra hora, pra saber se você mudou de ideia. “Ciao”,
Uguinho!
Ugo não
escuta mais nada. A voz de Cérebro vinda dos altos falantes se calou. Agora sua
única companhia era o corpo do capanga, que se esvaía em sangue no canto
daquele quarto.
— Io non posso ficar aqui. Sto doente. Muito doente... — Ugo se
encolhe na cama e abre o exame que diz que ele é soropositivo.
***
Paris – França.
Música: Miley Cyrus – Adore You.
Amanhece
o dia. Victorio acorda ao lado de Ingrid, e a cobre de beijos, fazendo com que
ela também acorde. Ela sorri para ele.
— Bom
dia, dorminhoca. — diz ele.
—
Como dormiu? — Ingrid pergunta.
—
Perfeitamente bem, Srta. Cida.
Ingrid
tenta se levantar da cama, mas o advogado a impede.
— E
trate de ficar aí. — diz ele — Trarei o seu café na cama.
Em
outro lado da cidade, Alex e Analú acabam de chegar à França. Ao saírem do
aeroporto, tomam um táxi e pedem para ir ao hotel onde Cida (Ingrid) e Victorio
estão hospedados.
—
Parece um sonho, meu amor! — diz Analú. — Eu sei que com você serei a mulher
mais feliz do mundo.
— Eu
tenho muita sorte em ter você aqui do meu lado. — responde Alex, beijando-a em
seguida.
***
Alessandra
acorda cedo, pois está organizando um desfile para apresentar sua nova coleção.
Gianpaolo já não está na cama.
— Gianpaolo?
O marido escuta, e logo trás o café da
esposa na cama.
— Estou aqui, meu amor. Trouxe o seu café.
— Desculpe, Gianpaolo, mas não tenho tempo.
Preciso correr até o escritório. Quero concluir os preparativos desse desfile o
mais rápido possível.
Alessandra sai da cama e vai ao banheiro.
***
Música:
Scorpions – Dust in The Wind.
Adriano
põe um ramalhete de flores brancas no túmulo da mãe, Norma Peregrini.
—
Desculpe ter demorado tanto mamãe. Desculpe por não ter cuidado da Alessandra e
do Alex como a senhora tanto pedia.
Ele
chora e se lembra do que fez no dia em que a mãe morreu:
Flashback
do capítulo 2
— Parem com essa palhaçada agora! — grita
Adriano, do alto da escada da mansão.
— Adriano! O que você pensa que está
fazendo?
— Para com essa novelinha, seu escroto. É
isso o que você é, Wagner. Um bruto, um escroto!
— Respeite a memória da sua mãe, pentelho.
Ela não está mais entre nós, mas eu sou o seu pai. EU SOU O SEU PAI!
— QUEM É VOCÊ PRA FALAR EM RESPEITO? VOCÊ
DEIXOU DE SER MEU PAI A PARTIR DO MOMENTO EM QUE VOCÊ TRAIU MINHA MÃE COM A
YOLANDA! ISSO MESMO PESSOAL, ESSES DOIS AÍ TEM UM CASO. WAGNER E A EMPREGADA DA
SUA MANSÃO ... FOI POR CAUSA DELES QUE MINHA MÃE, NORMA PEREGRINI SE SUICIDOU!
A
atenção dos paparazzi e de suas câmeras é totalmente desviada para Adriano.
Fim do
Flashback.
***
Paris – França.
— Que bom
que vocês estão aqui! — diz Ingrid, abraçando Alex e em seguida Analú.
—
Obrigado por nos proporcionar essa viagem, Srta. Cida. Não sei mesmo como lhe
agradecer. — diz Alex.
— Não
precisa me agradecer. Esse dinheiro também é seu, e dos seus irmãos. Aliás, eu
preciso conversar com os três. Eu quero dividir tudo igualmente.
—
Acho que essa não é uma boa hora para falar de negócios. — diz Victorio,
abraçando Ingrid.
—
Desculpem a pergunta, mas vocês estão... — Analú tenta perguntar.
—
Estamos, Cida?
—
Acho que sim, Victorio. — Ingrid e Victorio dão um selinho.
—
Hum... que romântico!
—
Então... sejam bem vindos à Paris!
***
Ugo
não aguentava mais o mau cheiro do corpo de Zíper, que continuava jogado no
chão. Além disso, a sede e a fome o impediam de pelo menos dormir.
—
Cérebro! Eu desisto! Por favor, por favor, me deixe sair daqui! — ele bate na
porta do quarto. Ninguém responde.
Ele
observa novamente o corpo do homem morto.
— Io... Io preciso me lembrar onde guardei este documento.
O
italiano tenta dormir, mas tudo aquilo o incomoda. Ele sonha com o lugar onde
ele guardou o documento: na gaveta da mesa do escritório de Wagner. Esta,
trancada a chave.
—
Lembrei-me! Lembrei-me! Cérebro, por favor, abra essa porta. Por favor, eu sei
onde está o documento.
A
porta abre. Ugo finalmente encontrará Cérebro.