quarta-feira, 16 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 24



VIGÉSIMO QUARTO CAPÍTULO

Música: Florence + The Machine - Spectrum

     — Obrigado por estarem aqui comigo no momento mais importante da minha vida, meus irmãos. — diz Alex para Adriano e Alessandra, que acabam de chegar à igreja.
     — Eu disse que mais cedo ou mais tarde nós nos encontraríamos e seríamos felizes novamente. — afirma Adriano.

     O jovem Peregrini esbanja empolgação e ansiedade. Cada minuto para ele parece uma eternidade. Seu desejo era de que Analú entrasse na igreja o mais rápido possível, pelo simples gosto de estar perto dela, beijá-la e abraçá-la.

     — Aí vem a vovó. E a Vanessa. Essas duas se deram muito bem. — diz Adriano.
     — Desculpe, Adriano, mas sua filha está bregamente horrenda. — fala Alessandra sobre os trajes da sobrinha.

     Gisela entra na igreja. Usa um vestido escandalosamente vermelho, que chama a atenção de todos. Vanessa veste um vestido preto, tão curto e tão decotado que, de fato, chega a ser ridículo. Elas se aproximam dos três irmãos.

     — Meus netos queridos! Vocês não sabem o quão emocionante é ver os três juntos novamente. Que tal tirarmos uma foto?

     Vanessa se abraça ao pai, que se une aos outros dois irmãos. Gisela entrega a câmera fotográfica a um convidado e pede para que ele tire a foto.

     — Digam “xis”! — brinca Vanessa.

***

     Ugo abre os olhos e estranha o lugar onde está. Vê o rosto de alguém, que está sorrindo para ele. É o outro capanga de “Cérebro”. Um homem negro, careca e alto, que tem uma cicatriz enorme no rosto.

     — Onde estou? — pergunta Ugo. — Quem é você?
     — Mal acordou e está fazendo perguntas demais. — diz o capanga. — Mas vou responder todas elas. Me chame de Zíper. Eu sou o mais novo contratado de “Cérebro”. Já que você o traiu...
     Io não traí Cérebro. Io apenas perdi o documento que Wagner assinou, e com medo tive que fugir. Onde ele está? Preciso muito falar com ele...
     — Logo ele estará aqui. Fique calminho.

     Zíper se afasta. Ugo observa o revólver que está preso a sua calça. O italiano tenta se levantar do lugar onde está, mas há amarras que prendem o seu corpo.

***

     O carro que traz Analú à igreja finalmente chega. Ela sai do veículo. Dona Inês segura a cauda do vestido, para que não rasgue ou aconteça qualquer problema. Fidel continua no carro.

     — Pai! Vamos logo! Estamos atrasados!
     — Ai,ai! Eu não sei... Não sei se quero que esse bando de recalcados sequem o meu maravilhoso terno.
     — Mas, pai! Com quem eu vou entrar na igreja? Vamos logo, deixa de frescuras pelo menos hoje? Vai, papai! Por mim...

     Inês e Analú tentam puxar Fidel do carro, mas ele faz força para não sair.
***

     Bruno finalmente chega à cerimônia. Vanessa, que conversava com os familiares se dirige até ele.
     — Amorzinho, onde você se meteu? Estava preocupada!
     — Estava tentando conseguir alguns flashes por aí.
     Olha, já falei com o Alex e ele disse que você poderia tirar quantas fotos quiser do casamento. E a vovó... Quer dizer, Tia Gisela, disse que te contrataria para trabalhar na Revista Flash. Não é uma maravilha?
     Gisela se intromete na conversa do casal e diz:
     — Isso mesmo, Bruno. Seja bem vindo à Flash Magazine. A cobertura do casamento de Alex Peregrini e Ana Luiza Santana é toda sua.
     — Muito, muitíssimo obrigado, senhorita Gisela. — Bruno beija a mão da senhora.
     — Não há de quê.
     Bruno tira sua câmera fotográfica de dentro da mochila e começa a tirar fotos dos convidados.

***

Paris – França.

     Ela estava se esforçando muito para deixar o seu visual contemporâneo e adotar algo mais clássico. Abandonar as jaquetas rasgadas e as calças jeans e colocar em seu guarda-roupa vestidos classudos e de marca foi a primeira tarefa. Ingrid agora estava fazendo aulas de etiqueta, e se saía uma ótima aluna.

     — A cada dia que passa você fica mais esplêndida, senhorita Cida.

     Ingrid sabia que aquelas dezenas de elogios provindos de Victorio não estavam saindo de sua boca sem que ele esperasse algum retorno. Ela se deu conta de que naquele dia no Brasil, Alex e Analú estariam se casando, e com certeza Bruno estaria pagando de marido, beijando Vanessa para todas as câmeras de emissoras de TV, revistas e jornais que estariam presentes na cerimônia. Percebeu que estava vivendo em função de Bruno ainda, que estava mudando seu visual par aprovar a ele que ela poderia ser uma mulher chique, de classe, assim como Vanessa. Mas percebeu também que havia um homem aos seus pés, e bem debaixo do seu nariz: Victorio.
         Eles estão sentados agora em um banco de uma praça. 

     — Victorio... — diz Ingrid, pousando a mão na mão do advogado. — Você sente alguma coisa por mim, não sente?

     Ele se assusta, mas responde.
     — Perdoe-me se deixei passar isso. Não era minha intenção.
     — Eu gosto de você, Victorio. Você é um homem de verdade. Atencioso, sabe tratar uma mulher verdadeiramente bem...
     — Senhorita Cida, por favor... eu... — seu rosto fica corado.
 Ingrid o beija.
***
Música: Linkin Park – Burn it Down

     Depois de muito sacrifício, Inês e Analú conseguem arrancar Fidel de dentro do carro. O mordomo entra com a filha na igreja. O vestido de Analú é longo, e brilha assim como o sol daquele dia. Alex, do altar sorri para ela.
     O terno de Fidel chama a atenção de todos, mas do que o vestido da noiva: cor de rosa, pink, com várias lantejoulas. Ele, com a mão livre, pois com a outra está segurando o braço da filha, caminha pelo tapete da igreja acenando para todos os convidados.
     — Eu sei que eu divo, por favor, não chorem.
     Finalmente pai e filha chegam ao altar. Fidel entrega Analú para Alex.
     — Cuide bem da minha filha. Ou senão... eu uso o meu lado masculino e você, olha — gesticula passando a mão na garganta — já era.
     — Pode deixar, senhor Fidel.

     Eles se ajoelham e o padre prossegue com a cerimônia. Fidel, em um canto do altar, chora, limpando as lágrimas com um lenço tão cor de rosa quando o seu terno. Depois de trocarem as alianças, Analú e Alex se beijam.

     — Hora de jogar o buquê! — diz Dona Inês, começando a formar um tumultuado de mulheres do lado de fora da igreja.
     — É um... É dois... É três... Já!
     Analú joga o buquê para cima, e quem o pega é nada mais, nada menos que Fidel.
     — Uhu! Agora só falta o Robervaldo, o galã da minha novela das oito, aparecer por aqui em Fortaleza. E aí, ele não vai resistir ao meu corpinho sedutor. — comenta ele.

***

     Finalmente chega a noite daquele longo dia. Alex e Analú estão no aeroporto e embarcarão para Paris, onde encontrarão Cida (Ingrid) e Victorio, e lá passarão sua lua de mel.
***

Ugo adormeceu mais uma vez e, logo quando ouviu uma voz familiar, ele acordou. De longe, ele ouvia uma conversa entre “Cérebro” e Zíper.
     Se você quiser, Cérebro, eu o mato. E pico este desgraçado em pedacinhos.
     — Não, Zíper. Não antes de ele encontrar o documento que ele fez o Wagner assinar. Só com esse documento, eu posso tirar toda aquela grana da catadora de lixo e me apossar de tudo.
     — Eu vou soltá-lo e trazê-lo até aqui para falar com você.
    
     Zíper chega até o quarto onde Ugo está amarrado. O italiano opta por fingir que está dormindo, dando a entender que não ouviu a conversa entre Cérebro e o novo capanga.
     — Hora de falar com o Cérebro, italianinho.
     Ugo é solto, e logo olha para as costas de Zíper, pegando sua arma que lá estava escondida.
     — É melhor não se mexer, ou morrerá. — diz Ugo, apontando a arma para Zíper.

(ESPAÇO PARA A ABERTURA)
Música: Marilyn Manson – Tourniquet.

     Zíper acaba reagindo, mas não consegue tomar a arma de Ugo. O italiano não pensa duas vezes e atira contra a cabeça de Zíper, que cai no chão. O sangue do capanga contrasta com o chão branco, e aquilo faz com que Ugo fique um pouco tonto. Ele corre até a porta, mas ela é fechada.
     Ele escuta uma voz no quarto onde está. Logo ele vê que o som está saindo por alto falantes.
     Fez-me a gentileza de ter matado essa anta. Zíper era um frouxo. — Ugo ouve a voz distorcida de Cérebro, que sai dos altos falantes instalados no quarto.
     — Cérebro! Abra esta porta!
     — Só sairá daqui morto, Ugo. A menos que...
     — Se você não houvesse me interrompido, a este momento eu estaria morto. De qualquer jeito, mate-me. Não tenho nada a perder. — Ugo enfrenta Cérebro.
     Seu desejo é uma ordem, italiano filho de uma cadela. Ficará aqui definhando até que me diga onde escondeu o documento que fez Wagner assinar. Não terá água, nem comida. Assim, uma morte lenta e dolorosa.
                                               
     Ugo tenta procurar o celular nos seus bolsos, assim como nos bolsos de Zíper, mas nada acha.

     Nem tente procurar uma maneira de se comunicar com alguém, Ugo. Confiscamos seu telefone e Zíper não andava com celulares. Passarei aqui uma outra hora, pra saber se você mudou de ideia. “Ciao”, Uguinho!

     Ugo não escuta mais nada. A voz de Cérebro vinda dos altos falantes se calou. Agora sua única companhia era o corpo do capanga, que se esvaía em sangue no canto daquele quarto.

     Io non posso ficar aqui. Sto doente. Muito doente... — Ugo se encolhe na cama e abre o exame que diz que ele é soropositivo.

***
Paris – França.
Música: Miley Cyrus – Adore You.

     Amanhece o dia. Victorio acorda ao lado de Ingrid, e a cobre de beijos, fazendo com que ela também acorde. Ela sorri para ele.
     — Bom dia, dorminhoca. — diz ele.
     — Como dormiu? — Ingrid pergunta.
     — Perfeitamente bem, Srta. Cida.
     Ingrid tenta se levantar da cama, mas o advogado a impede.
     — E trate de ficar aí. — diz ele — Trarei o seu café na cama.

     Em outro lado da cidade, Alex e Analú acabam de chegar à França. Ao saírem do aeroporto, tomam um táxi e pedem para ir ao hotel onde Cida (Ingrid) e Victorio estão hospedados.
     — Parece um sonho, meu amor! — diz Analú. — Eu sei que com você serei a mulher mais feliz do mundo.
     — Eu tenho muita sorte em ter você aqui do meu lado. — responde Alex, beijando-a em seguida.

***
     Alessandra acorda cedo, pois está organizando um desfile para apresentar sua nova coleção. Gianpaolo já não está na cama.
     — Gianpaolo?
     O marido escuta, e logo trás o café da esposa na cama.
     — Estou aqui, meu amor. Trouxe o seu café.
     — Desculpe, Gianpaolo, mas não tenho tempo. Preciso correr até o escritório. Quero concluir os preparativos desse desfile o mais rápido possível.
     Alessandra sai da cama e vai ao banheiro.
***
Música: Scorpions – Dust in The Wind.

     Adriano põe um ramalhete de flores brancas no túmulo da mãe, Norma Peregrini.
     — Desculpe ter demorado tanto mamãe. Desculpe por não ter cuidado da Alessandra e do Alex como a senhora tanto pedia.
    
     Ele chora e se lembra do que fez no dia em que a mãe morreu:

Flashback do capítulo 2

     — Parem com essa palhaçada agora! — grita Adriano, do alto da escada da mansão.
     — Adriano! O que você pensa que está fazendo?
     — Para com essa novelinha, seu escroto. É isso o que você é, Wagner. Um bruto, um escroto!
     — Respeite a memória da sua mãe, pentelho. Ela não está mais entre nós, mas eu sou o seu pai. EU SOU O SEU PAI!
     — QUEM É VOCÊ PRA FALAR EM RESPEITO? VOCÊ DEIXOU DE SER MEU PAI A PARTIR DO MOMENTO EM QUE VOCÊ TRAIU MINHA MÃE COM A YOLANDA! ISSO MESMO PESSOAL, ESSES DOIS AÍ TEM UM CASO. WAGNER E A EMPREGADA DA SUA MANSÃO ... FOI POR CAUSA DELES QUE MINHA MÃE, NORMA PEREGRINI SE SUICIDOU!
      A atenção dos paparazzi e de suas câmeras é totalmente desviada para Adriano.
Fim do Flashback.
***

Paris – França.

     — Que bom que vocês estão aqui! — diz Ingrid, abraçando Alex e em seguida Analú.
     — Obrigado por nos proporcionar essa viagem, Srta. Cida. Não sei mesmo como lhe agradecer. — diz Alex.
     — Não precisa me agradecer. Esse dinheiro também é seu, e dos seus irmãos. Aliás, eu preciso conversar com os três. Eu quero dividir tudo igualmente.
     — Acho que essa não é uma boa hora para falar de negócios. — diz Victorio, abraçando Ingrid.
     — Desculpem a pergunta, mas vocês estão... — Analú tenta perguntar.
     — Estamos, Cida?
     — Acho que sim, Victorio. — Ingrid e Victorio dão um selinho.
     — Hum... que romântico!
     — Então... sejam bem vindos à Paris!

***

     Ugo não aguentava mais o mau cheiro do corpo de Zíper, que continuava jogado no chão. Além disso, a sede e a fome o impediam de pelo menos dormir.
     — Cérebro! Eu desisto! Por favor, por favor, me deixe sair daqui! — ele bate na porta do quarto. Ninguém responde.

     Ele observa novamente o corpo do homem morto.
     Io... Io preciso me lembrar onde guardei este documento.

     O italiano tenta dormir, mas tudo aquilo o incomoda. Ele sonha com o lugar onde ele guardou o documento: na gaveta da mesa do escritório de Wagner. Esta, trancada a chave.
     — Lembrei-me! Lembrei-me! Cérebro, por favor, abra essa porta. Por favor, eu sei onde está o documento.

     A porta abre. Ugo finalmente encontrará Cérebro.