sexta-feira, 25 de abril de 2014

Império Feminino- Capítulo 3


Capítulo 3: Eu lutei para ser forte assim...

Nos capítulos anteriores...


O tempo passou, as rugas apareceram e a idade chegou, mas nada que plásticas e maquiagem não resolvessem. Ainda no poder e sendo servida por Dupré, Helena adotou dois filhos e uma filha, do qual lhe deram netas. Duas primas completamente diferentes uma da outra, na pronúncia do nome e na personalidade. Silvana e Rachel, uma foi criada com a avó, teve tudo do bom e do melhor e se casou cinco vezes, a outra resolveu seguir a própria vida, cursando faculdade de moda, se tornando estilista internacional. A única coisa que ambas têm em comum, é a ausência dos pais, que morreram em um acidente de avião há muitos anos atrás.

–A senhora já preparou o testamento vovó? –Indagou Silvana, sorrindo. –Não quero preocupa-la, mas é para não termos trabalho quando a herança for divida entre eu e a Rachel.
 –Não se preocupe minha querida, vocês terão o que merecem. –Respondeu Helena, procurando um de seus colares de pérola.

Os jornais já noticiavam a grande tragédia do ano, uma explosão destruíra o evento em homenagem a Helena Gouveia, que estava bem embaixo da bomba quando o desastre aconteceu. Os bombeiros não encontraram o corpo da empresária, que talvez possa ter virado cinzas junto com os escombros, mas ainda havia muito a se discutir. Os peritos trabalhavam para tentar encontrar vestígios de DNA de Helena nas cinzas, enquanto a polícia teria de começar as interrogações, já que foi constatado que a explosão foi criminal.

–Você vai se envolver com os Gouveia depois da morte da sua avó, querida? –Indagou Joaquim, acariciando o rosto de Rachel.
 –Não sei, temos nossa vida... Só quero responder essas malditas perguntas e me ver livre de uma vez por todas dessa família. –Respondeu Rachel. [...]

A sirene do carro da polícia espantou os pombos que estavam na rua. Usando terninho e pequenos brincos na orelha, a delegada Sueli desceu da viatura acompanhada de dois policiais, com um mandato para interrogar todos os integrantes da família Gouveia antes do velório em homenagem a Helena. Sueli subiu de elevador até o apartamento luxuoso de Rachel Araújo, a fim de interroga-la.

 –Entre, por favor. –Disse Rachel a delegada, sorrindo.
 –Suponho que a senhora saiba o porquê de eu estar aqui em sua casa, não sabe? –Indagou Sueli.
 –Veio me interrogar a respeito da morte da minha vó, não veio?
 –Isso.
 –Bom, então acho que pode começar...

Após a empregada de Rachel trazer uma bandeja com chá inglês, a delegada começou as interrogações.

 –Onde a senhora estava na hora da explosão? –Indagou Sueli.
 –Junto com os convidados do evento realizado em homenagem a vovó. –Respondeu Rachel.
 –E a dona Helena, onde estava?
 –Para ser sincera eu não sei... A última vez que eu vi a minha avó antes de subir no palco, foi quando ela saiu da limusine.
 –Vocês mantiveram contato durante o dia da explosão antes de irem ao evento?
 –Eu não lembro...
 –Como não lembra? Não se passou nem 127 horas que aconteceu o acidente.
 –Eu simplesmente não lembro, por favor, não me pressione!
 –Ok... E o seu marido, onde estava?
 –No banco. O Joaquim e a minha avó não se davam bem...
 –Suponho que ele seja um suspeito por manter antipatia com a magnata mais rica e famosa do Brasil.
 –Como assim mais rica? A minha avó só tinha legado depois que começou a envelhecer...
 –Engano seu, a dona Helena saiu como uma das empresárias mais ricas dos últimos tempos na lista da Forbes em Abril desse ano.
 –Mais como eu não sabia disso?
 –A sua avó manteve em segredo, pelo menos aqui no Brasil...
 –Eu não entendo.
 –Talvez ela estivesse prevendo a própria morte. Uma pena não ter conseguido se salvar.
 –Quanto deve estar estipulada a fortuna dela?
 –Eu não leio testamentos, Rachel.
 –E quanto ao interrogatório, acabou?
 –Por enquanto sim. Devo voltar em breve para interrogar seu marido... Agora o meu foco é dentro da mansão Gouveia.

Após a saída da delegada, Rachel abriu uma garrafa de vinho, devido estar incrédula a grande influência da avó no mundo até sua morte, ou talvez, até agora após a morte. Depois de encher a taça até a metade, Joaquim chegou do trabalho e Rachel aproveitou a oportunidade para contar ao marido sobre a fortuna da avó... Revista Forbes, influência, influenciados... Aquela velha maldita era mais esperta do que eu pensava.

 –E agora depois que ela morreu, você vai atrás da herança? –Indagou Joaquim, preocupado com o casamento.
 –Querido não faça perguntas, faça sexo comigo. Me tome em seus braços e me possua, eu realmente preciso relaxar.

Os dias seguintes estavam cada vez mais sombrios, enquanto Sueli fazia seu trabalho interrogando e investigando os Gouveia, toda a sociedade brasileira e internacional se reuniram no velório de Helena, que mais parecia uma festa de celebração. Amigos, familiares e parentes distantes prestaram homenagens, lágrimas de crocodilos e discursos gigantes à falecida. Por fim, Dupré subiu ao palco e comoveu todos com seu sentimentalismo verdadeiro e adoração sobre Helena.

Ela era mais do que uma mulher de fibra, ela era mais do que uma mulher polêmica, ela era apenas Helena, uma pequena garota escondida por detrás de um escudo construído durante anos para atrair curiosos de todas as dimensões para admirá-la. Ela também era Helena Gouveia, uma empresária mais do que dedicada a sua fábrica de lingeries, eu do que mais ninguém sabia o quanto a Helena amava aquilo tudo. Além de todas essas Helenas, também havia aquela que era mãe, por ser estéril ela adotou três crianças e a vida mais uma vez foi dura, tirando as crianças que haviam se transformado em adultos adoráveis dela. Helena criou as duas netas, enquanto lidava com aqueles que invejavam ocupar seu lugar. Onde quer que ela esteja, longe ou perto, todos lembrarão, todos se emocionarão, por que só existiu uma Helena capaz de mudar o universo. E quanto a quem implantou aquela bomba, ah pobre seja essa alma, destruiu a si mesmo. Para terminar, eu gostaria de pedir um minuto de silencio a nossa querida Helena, a mulher de várias faces.  

O discurso de Dupré terminou com lágrimas dele e de todos que estavam presentes. Wagner não conseguiu conter o choro e saiu do velório correndo. Sem olhar para o nada e sem enxergar ninguém, o adolescente acabou esbarrando em um convidado, um adolescente como ele, já na saída.

 –Me desculpa. –Pediu Wagner, aos prantos. –Preciso ir.
 –Ei, calma aí cara. –Pedro estendeu seus braços e acolheu o jovem assustado neles. –Vou te tirar daqui.
 –Por que tudo tem que ser tão complicado e injusto? Ela tinha tanto o que viver, eu a amava tanto...
 –Infelizmente a vida não tem explicação.


Meses antes da explosão...

Encostada na limusine, usando um longo vestido Armani, calçando Prada e carregando nos olhos óculos escuros. Helena espiou por alguns minutos uma mulher que jantava em um restaurante classe baixa, localizado no subúrbio Paulista. Ao lado de Dupré, a empresária estava certa de que aquela era uma de suas netas perdidas.

 –Tem certeza senhora? –Indagou Dupré, espantado.
 –Absoluta, essa é a Esther, a filha roubada do meu menino... Que agora se chama Soninha Berenice da Silva.
 –E o que a senhora fará a respeito disso?
 –Incluí-la no testamento e trazer a público essa bomba que surpreenderá o mundo. Escreva no seu caderninho de anotações o slogan que você verá frequentemente nos noticiários, “Do subúrbio ao paraíso, Esther Gouveia retorna as origens!”.