Capítulo 3: Eu lutei para ser forte assim...
Nos capítulos anteriores...
O tempo passou, as
rugas apareceram e a idade chegou, mas nada que plásticas e maquiagem não
resolvessem. Ainda no poder e sendo servida por Dupré, Helena adotou dois
filhos e uma filha, do qual lhe deram netas. Duas primas completamente diferentes
uma da outra, na pronúncia do nome e na personalidade. Silvana e Rachel, uma
foi criada com a avó, teve tudo do bom e do melhor e se casou cinco vezes, a
outra resolveu seguir a própria vida, cursando faculdade de moda, se tornando
estilista internacional. A única coisa que ambas têm em comum, é a ausência dos
pais, que morreram em um acidente de avião há muitos anos atrás.
–A senhora já
preparou o testamento vovó? –Indagou Silvana, sorrindo. –Não quero preocupa-la,
mas é para não termos trabalho quando a herança for divida entre eu e a Rachel.
–Não se preocupe minha querida, vocês terão o
que merecem. –Respondeu Helena, procurando um de seus colares de pérola.
Os jornais já
noticiavam a grande tragédia do ano, uma explosão destruíra o evento em homenagem
a Helena Gouveia, que estava bem embaixo da bomba quando o desastre aconteceu.
Os bombeiros não encontraram o corpo da empresária, que talvez possa ter virado
cinzas junto com os escombros, mas ainda havia muito a se discutir. Os peritos
trabalhavam para tentar encontrar vestígios de DNA de Helena nas cinzas,
enquanto a polícia teria de começar as interrogações, já que foi constatado que
a explosão foi criminal.
–Você vai se envolver
com os Gouveia depois da morte da sua avó, querida? –Indagou Joaquim,
acariciando o rosto de Rachel.
–Não sei, temos nossa vida... Só quero
responder essas malditas perguntas e me ver livre de uma vez por todas dessa
família. –Respondeu Rachel. [...]
A sirene do carro da
polícia espantou os pombos que estavam na rua. Usando terninho e pequenos
brincos na orelha, a delegada Sueli desceu da viatura acompanhada de dois
policiais, com um mandato para interrogar todos os integrantes da família
Gouveia antes do velório em homenagem a Helena. Sueli subiu de elevador até o
apartamento luxuoso de Rachel Araújo, a fim de interroga-la.
–Entre, por favor. –Disse Rachel a delegada,
sorrindo.
–Suponho que a senhora saiba o porquê de eu
estar aqui em sua casa, não sabe? –Indagou Sueli.
–Veio me interrogar a respeito da morte da
minha vó, não veio?
–Isso.
–Bom, então acho que pode começar...
Após a empregada de
Rachel trazer uma bandeja com chá inglês, a delegada começou as interrogações.
–Onde a senhora estava na hora da explosão? –Indagou
Sueli.
–Junto com os convidados do evento realizado
em homenagem a vovó. –Respondeu Rachel.
–E a dona Helena, onde estava?
–Para ser sincera eu não sei... A última vez
que eu vi a minha avó antes de subir no palco, foi quando ela saiu da limusine.
–Vocês mantiveram contato durante o dia da
explosão antes de irem ao evento?
–Eu não lembro...
–Como não lembra? Não se passou nem 127 horas
que aconteceu o acidente.
–Eu simplesmente não lembro, por favor, não me
pressione!
–Ok... E o seu marido, onde estava?
–No banco. O Joaquim e a minha avó não se
davam bem...
–Suponho que ele seja um suspeito por manter
antipatia com a magnata mais rica e famosa do Brasil.
–Como assim mais rica? A minha avó só tinha
legado depois que começou a envelhecer...
–Engano seu, a dona Helena saiu como uma das
empresárias mais ricas dos últimos tempos na lista da Forbes em Abril desse
ano.
–Mais como eu não sabia disso?
–A sua avó manteve em segredo, pelo menos aqui
no Brasil...
–Eu não entendo.
–Talvez ela estivesse prevendo a própria
morte. Uma pena não ter conseguido se salvar.
–Quanto deve estar estipulada a fortuna dela?
–Eu não leio testamentos, Rachel.
–E quanto ao interrogatório, acabou?
–Por enquanto sim. Devo voltar em breve para
interrogar seu marido... Agora o meu foco é dentro da mansão Gouveia.
Após a saída da
delegada, Rachel abriu uma garrafa de vinho, devido estar incrédula a grande
influência da avó no mundo até sua morte, ou talvez, até agora após a morte.
Depois de encher a taça até a metade, Joaquim chegou do trabalho e Rachel
aproveitou a oportunidade para contar ao marido sobre a fortuna da avó... Revista Forbes, influência, influenciados...
Aquela velha maldita era mais esperta do que eu pensava.
–E agora depois que ela morreu, você vai atrás
da herança? –Indagou Joaquim, preocupado com o casamento.
–Querido não faça perguntas, faça sexo comigo.
Me tome em seus braços e me possua, eu realmente preciso relaxar.
Os dias seguintes
estavam cada vez mais sombrios, enquanto Sueli fazia seu trabalho interrogando
e investigando os Gouveia, toda a sociedade brasileira e internacional se
reuniram no velório de Helena, que mais parecia uma festa de celebração.
Amigos, familiares e parentes distantes prestaram homenagens, lágrimas de
crocodilos e discursos gigantes à falecida. Por fim, Dupré subiu ao palco e
comoveu todos com seu sentimentalismo verdadeiro e adoração sobre Helena.
“Ela era mais do que uma mulher de fibra, ela era mais do que uma mulher
polêmica, ela era apenas Helena, uma pequena garota escondida por detrás de um
escudo construído durante anos para atrair curiosos de todas as dimensões para
admirá-la. Ela também era Helena Gouveia, uma empresária mais do que dedicada a
sua fábrica de lingeries, eu do que mais ninguém sabia o quanto a Helena amava
aquilo tudo. Além de todas essas Helenas, também havia aquela que era mãe, por
ser estéril ela adotou três crianças e a vida mais uma vez foi dura, tirando as
crianças que haviam se transformado em adultos adoráveis dela. Helena criou as
duas netas, enquanto lidava com aqueles que invejavam ocupar seu lugar. Onde
quer que ela esteja, longe ou perto, todos lembrarão, todos se emocionarão, por
que só existiu uma Helena capaz de mudar o universo. E quanto a quem implantou
aquela bomba, ah pobre seja essa alma, destruiu a si mesmo. Para terminar, eu
gostaria de pedir um minuto de silencio a nossa querida Helena, a mulher de
várias faces.”
O discurso de Dupré
terminou com lágrimas dele e de todos que estavam presentes. Wagner não
conseguiu conter o choro e saiu do velório correndo. Sem olhar para o nada e
sem enxergar ninguém, o adolescente acabou esbarrando em um convidado, um
adolescente como ele, já na saída.
–Me desculpa. –Pediu Wagner, aos prantos.
–Preciso ir.
–Ei, calma aí cara. –Pedro estendeu seus
braços e acolheu o jovem assustado neles. –Vou te tirar daqui.
–Por que tudo tem que ser tão complicado e
injusto? Ela tinha tanto o que viver, eu a amava tanto...
–Infelizmente a vida não tem explicação.
Meses antes da explosão...
Encostada na
limusine, usando um longo vestido Armani, calçando Prada e carregando nos olhos
óculos escuros. Helena espiou por alguns minutos uma mulher que jantava em um
restaurante classe baixa, localizado no subúrbio Paulista. Ao lado de Dupré, a
empresária estava certa de que aquela era uma de suas netas perdidas.
–Tem certeza senhora? –Indagou Dupré,
espantado.
–Absoluta, essa é a Esther, a filha roubada do
meu menino... Que agora se chama Soninha Berenice da Silva.
–E o que a senhora fará a respeito disso?