Capítulo 1: Helena
“Fale a verdade, o mundo é das mulheres!” O novo slogan da fábrica
de lingeries mais famosa do mundo, já circulava nos arredores do Oriente Médio,
causando uma enorme polêmica e despertando a fúria nos homens que sempre
mantiveram o poder absoluto sobre suas esposas. A causadora de tal feito era
Helena Gouveia, uma mulher fina, rica e arrogante, a maior acionista do Império
Feminino, quando se tratava em polêmica e revolução, o nome da mesma sempre
fora envolvido e dessa vez não foi diferente. Após lançar o novo slogan e uma
nova marca a sua fábrica, ela estampou desde as revistas de fofoca ao glamoroso
The New York Times.
“Mais uma vez, a brasileira Helena Gouveia, surpreendeu o mundo com sua
ousadia e petulância. Para a divulgação da nova marca de sua empresa, a mulher
lançou um novo slogan acompanhado de um ensaio fotográfico do qual ela aparece
no meio de homens, que aparentemente são subordinados a mesma. A luxúria
acompanhada das lingeries não ficou de fora, trazendo modelos femininas com os
seios amostra, vestindo apenas a peça de baixo das roupas íntimas. Sensualidade,
ousadia e sexo definem o poder que a empresária deseja mostrar.
27 de abril de 1990”
A limusine branca de
Helena Gouveia parou em frente ao décimo evento anual de Moda íntima de Rogério
Didier. O chofer abriu a porta para a patroa, e ela saiu acompanhada de seu
mordomo. No pescoço de Helena um colar de diamantes a destacava, a mulher
vestia um clássico vestido Chanel preto e seus pés estavam envolvidos pela
delicadeza de um calçado Prada. Ao entrar no local, ela se transformara no
centro das atenções, muitos não entendiam como uma mulher tão linda no auge de
seus quarenta e cinco anos, nunca fora vista com nenhum affair, em todos os
eventos comparecidos, o acompanhante de Helena sempre foi seu fiel mordomo,
Dupré.
–Estão olhando para mim? –Indagou Helena,
sorrindo.
–Mais do que nunca, senhora. –Respondeu Dupré.
–É tão difícil ser o centro das atenções...
Apresentações,
formalidades e cantadas transformaram a noite de Helena em tediosa. Ela não só
queria sair correndo daquele lugar, mas também daquele mundo que a cada dia
sugava mais ainda suas verdadeiras emoções. O papel de Rainha de Gelo, era o
fardo que ela tinha de carregar pela fundação de sua fábrica de lingeries.
Havia mais do que explicações para Helena não se envolver com ninguém há anos,
explicações ocultas que talvez pudessem esclarecer fatos obscuros de sua vida.
–Traga-me uma champanhe e sedativos Dupré, quero
terminar o que comecei há anos. –Ordenou, Helena. –Cansei de causar nos outros,
um certo medo.
–Acho que a senhora deveria pensar bem, antes
de qualquer coisa. –Disse Dupré, entregando um portfólio a sua patroa.
–O que é isso?
–Saiu o seu último ensaio fotográfico que
chocou o mundo, já é notícia internacional dona Helena.
–Traga-me uma champanhe, duas taças e se junte
ao brinde, esqueça os sedativos, querido.
Muitos anos depois...
Dezembro de 2008
O tempo passou, as
rugas apareceram e a idade chegou, mas nada que plásticas e maquiagem não
resolvessem. Ainda no poder e sendo servida por Dupré, Helena adotou duas
meninas e um menino, do qual lhe deram netas. Duas primas completamente
diferentes uma da outra, na pronúncia do nome e na personalidade. Silvana e
Rachel, uma foi criada com a avó, teve tudo do bom e do melhor e se casou cinco
vezes, a outra resolveu seguir a própria vida, cursando faculdade de moda, se
tornando estilista internacional. A única coisa que ambas têm em comum, é a
ausência dos pais, que morreram em um acidente de avião há muitos anos atrás.
Prestes a completar sessenta e três anos, Helena foi convidada a comparecer há
uma festa feita especialmente para ela, organizada por seus amigos influentes
ao redor do mundo. O objetivo do evento é mostrar a nova geração de mulheres os
feitos de Helena durante seus quase cinquenta anos de carreira.
–A senhora já preparou o testamento vovó?
–Indagou Silvana, sorrindo. –Não quero preocupa-la, mas é para não termos
trabalho quando a herança for divida entre eu e a Rachel.
–Não se preocupe minha querida, vocês terão o
que merecem. –Respondeu Helena, procurando um de seus colares de pérola.
–Falando desse jeito parece até que somos um
estorvo para a senhora...
–Não precisa se fingir de santa Silvana, todos
dentro e fora da empresa sabem o quanto você deseja a minha morte, inclusive
eu, para se apoderar da minha herança. Você é uma desnaturada, se casou cinco
vezes e está noiva pela sexta vez, pelo menos só teve um filho. Fique sabendo
que ele é o único com quem me importo.
–A senhora fala como se fosse a Rainha da
perfeição...
–Ao contrário de você eu assumo os meus atos,
e vê se quando sair bata a porta.
Dupré entrou na suíte
presidencial de sua patroa e ajudou-a a se vestir. Lá estava ela, de pé, com um
olhar literalmente assustador, aquela era Helena Gouveia, pronta para humilhar
todos que entrassem em seu caminho. Era impossível não se sentir humilhado ao
estar no mesmo ambiente que aquela mulher incrivelmente fria e assustadora.
–Aconteceu algo senhora? –Indagou Dupré. –Vejo
a fúria nos seus olhos...
–Ainda não aconteceu, mas acontecerá esta noite
naquele evento maldito. –Respondeu Helena.
–O que a senhora pretende?
–Viajar... Por muito tempo.
–E eu?
–Você fica para presenciar de perto o sufoco
das minhas netas, se possível fotografe, adoro fotonovela. –Helena olhou seu
reflexo no espelho, levou as mãos até o cabelo, sorriu e continuou: –Tenho
certeza de que elas aprenderão a viver.
Antes de sair da
mansão, Helena escreveu uma carta e mandou um dos empregados entregarem há uma
mulher e junto a esta carta continha outro documento. Após o feito, a Rainha de
gelo despediu-se de seu palacete e em seguida entrou na limusine, com destino
ao evento que prepararam em sua homenagem no centro de São Paulo.
–Será mesmo que mostrarão minhas melhores
polêmicas? –Indagou Helena, a Dupré.
–Creio que sim, senhora. –Respondeu o mordomo.
–Estou pronta para surpreender e ser
surpreendida.
Toda a sociedade
paulista compareceu ao evento, até os amigos americanos da socialite
homenageada estavam lá. No telão foram exibidas fotos da empresária anexadas a matérias
polêmicas da época. De repente, uma imagem se fundia na entrada, era Helena
ressurgindo das cinzas. A beleza da mulher era incomparável, mesmo com sessenta
e três anos, ela entrou na lista da Forbes das cinquenta mulheres mais bonitas
do mundo, ficando em quinto lugar. Vestindo um clássico vermelho da Chanel,
Helena cumprimentou e agradeceu todos que compareceram ao evento e por fim deu
um pequeno discurso.
“É inacreditável como os anos passam rápido, estou completando sessenta
e três anos e parece que foi ontem que os homens do Oriente Médio queriam me
ver morta. Sou conhecida pela minha personalidade forte e minha petulância,
acreditem, Helena Gouveia não irá parar nunca, há não ser que o tempo a pare.
Eu gostaria de agradecer à todos vocês que organizaram esse evento em minha
homenagem e também gostaria de agradecer as minhas netas Silvana e Rachel, que
se não fosse por elas eu não seria a pessoa que sou hoje. Acho que é a hora do
show começar!”
Todos aplaudiram de
pé o discurso de Helena. Após os aplausos um barulho ensurdecedor tomou conta
do ambiente, parecia ser desmoronamento, mas para a surpresa e desespero de
todos, uma bomba fora instalada no salão. Uma explosão destruiu tudo, causando
danos às pessoas que estavam no local. Os bombeiros chegaram, apagaram o fogo e
logo em seguida a ambulância, para levar os feridos ao hospital. Algo estava
errado, não houve mortos, mas Silvana deu falta da avó, que não fora encontrada
em lugar nenhum, e pelo que parecia, a bomba foi acionada com o fim dos
aplausos dos convidados e estava embaixo do palco onde Helena fez o discurso.