quarta-feira, 2 de abril de 2014

Assim que Amanhecer - Capítulo 20 (ÚLTIMO CAPÍTULO)





   Angélica começou a abrir os lábios, para soltar tudo para fora. Tudo o que ficara guardado e toda a verdade. Encarou o delegado, e se pôs a dizer o que ele esperava ouvir:
 – Seu delegado, eu tinha uma fã. E essa fã, me perseguia o tempo todo, sabe? – Não esperou ele responder, e seguiu em frente, apresentando detalhadamente os fatos dessa história.


11 de Julho de 2012


Angélica abriu a porta do apartamento, que fora tocada pela campainha, e a garota loira entrou correndo, e a surpreendendo com um forte abraço. Angélica sorriu feliz de ter alguém que realmente gostava dela.
– Simone! – Ela beijou seu rosto. – Você é a única que se importa comigo. O cachorro do meu marido fica lá se esfregando com minha irmã.
– É verdade, Angélica. Tanto que eu faria qualquer coisa por você... Qualquer coisa. Eu sempre te admirei, pela sua beleza, sua coragem... Por você ser o que é.

 A miss continuou a contar ao delegado o que essa moça, por nome de Simone, tinha haver com esse seu passado tão misterioso.
 – Ela disse que faria qualquer coisa por mim, entende? Eu não pensei duas vezes, delegado. Mas primeiro eu tinha que ter certeza se os meus inimigos, no caso, o meu marido e minha irmã, queriam fazer alguma coisa comigo.

28 de Agosto de 2012

A mulher abriu a porta do carro e entrou. Logo Angélica deu a partida, e começaram a circular pela grande São Paulo. Foi aí que a dona ao lado tirou da bolsa algo parecido com um gravador.
– Tá tudo aqui, senhora. Eles no restaurante conversando... Esse brinco até caiu no chão. Mas o importante é que tá tudo gravado. Eles querem te matar sim, senhora.
Angélica não ficara nem um tanto impressionada com o que acabara de ouvir. Pois já estava com o circo armado, e pronto para entrar em ação. Agora, precisa apenas... Viajar. Olhou no retrovisor e percebeu que a criança, o garotinho, tentava entender qual era o sentido da conversa.

      O delegado começava a entender o que havia acontecido. Fitou Angélica, boquiaberto. As seguintes palavras que ele dissera já apontavam que ele estava impressionado, e que já devia saber a continuidade da história.
– Então... Você usou essa moça, Angélica? Você a usou pra...
– Sim, delegado. Eu a coloquei em meu lugar. – Angélica confirmou, disposta a não guardar os segredos.
– Mas... Como? – Ele ainda não havia entendido tudo.
– Ela já se parecia um pouco comigo, sabe? O cabelo era loiro, a sobrancelha era quase do mesmo formato. Enfim, foi aí que...

01 de Agosto de 2012

Estava deitada numa mesa de cirurgia. Angélica apertou a sua mão, confiante na garota. Logo em seguida disse:
– Tem certeza que não irá se arrepender?
– Eu já te disse: faço tudo por você.
Então o médico se aproximou de Simone e começou a marcar os lugares a serem recortados para a plástica, que transformaria a fã fanática totalmente idêntica à diva. Ele aplicou a primeira anestesia quando Angélica se encontrava fora da sala do hospital.
               
As peças haviam se encaixado completamente. Estava tudo explicado. O homem se levantou da cadeira, começando a andar pela sala, e encarando a criminosa em sua frente:
    – E depois?
    – No dia do concurso, eu viajei pros Estados Unidos, Las Vegas, e a mandei em meu lugar.
    – Isso explica os comentários que “você” estava desajeitada na passarela. Tem ideia de quão grave é esse crime, senhora?
    – Tenho sim delegado. – Ela não quis mentir pra si mesma. – E quero pagar por ele.

    A notícia foi como uma bala. Na capa de todos os jornais ela aparecia, ou era o destaque de todas as emissoras, não só as brasileiras, mas também as internacionais. E os primeiros meses atrás das grades à espera de um julgamento foram terríveis para Eliana e principalmente pra Angélica, que via o filho apenas para amamentá-lo. O dia tão esperado chegou.
     – Eu, formado pela lei, condeno a réu Eliana Waltsalles de sete anos e dois meses de prisão, por... – O juiz disse alista de crimes que a mulher cometeu, olhando exatamente para ela,
      – Eu, formado pela lei, condeno a réu Angélica Waltsalles de dez anos e nove meses de prisão, por... – Dessa vez, a lista de crimes e o olhar sério e rígido foram para Angélica.

      Logo que saíram do local, as câmeras não paravam de fotografar cada gesto que Eliana e Angélica faziam. Entraram no carro da polícia, tampando os rostos, a fim de que ninguém pudesse ver a desgraça expressa. Mas sabiam que estavam certas. Iriam pagar pelo que fizeram. Nada mais justo. Ao sentarem, com as algemas segurando seus pulsos, elas se olharam, e não ocorreu nada. Apenas um olhar sério de cada uma foi o que aconteceu. O carro foi funcionado, e a viagem prosseguida.



Dez anos depois...


     Ela batia a mão na porta da mansão. Ninguém foi atender. Bateu mais uma vez. Foi aí que a imagem de uma bela morena surgiu em sua frente, que por sinal, foi quem abriu a porta. Ou simplesmente: era a sua irmã. Angélica a fitou dos pés à cabeça, não deixando de notar que Eliana não havia mudado absolutamente nada em seu corpo. Mas o olhar era feliz e calmo.
     – Você saiu da cadeia há três anos por bom comportamento e eu fiquei lá, porque não conseguia me controlar de tanta raiva. Eliana, você matou muita gente... É um grande crime. Mas o que eu cometi, foi bem mais grave. Eu manipulei uma pessoa inocente. Mesmo eu não me conformando, eu não quis aceitar a ajuda de advogado algum. Muitos se ofereceram. Mas não. Não quis. Quis pagar. Mas, já você... Tá na cara que você se arrependeu de ter feito aquilo tudo, ao contrário de mim, que não me conformei em ficar lá, mofando. E você me prometeu, Eliana. Agora eu quero saber: cadê meu filho que você garantiu que iria cuidar?
     – Gabriel? – Eliana gritou quando as duas já se encontravam no centro da sala. Em questão de segundos, um garoto moreno surgiu à esquerda, vindo de encontro até a mulher que o chamou.
     – O que foi, tia? – Ele perguntou, estranhando a “visita”.
Eliana se abaixou perto do garoto de dez anos. Colocou uma das mãos em seu ombro, e sorrindo e apontando para a loira em sua frente:
     – Essa é sua mãe.
     O pequeno Gabriel sorriu para Angélica, que não resistiu e correu de encontro até ele. Deu-lhe muitos beijos no rosto, alegre em poder tocar no garoto. Olhou fixamente para ele, com os olhos encharcados de lágrimas.
     – É a cara do pai. – Disse contente.
     – Minha mãe é bonita. – Gabriel falou, virando-se para trás e sorrindo para a tia. Depois voltou a olhar sua mãe, que deixava as lágrimas caírem de seus lindos olhos castanhos claros. Ela se limpou, levantou-se, pois estava agachada, e se aproximou da irmã. Pegou em suas mãos. E num gesto rápido a envolveu com um bom abraço, o qual deixou que as duas derramassem muitas lágrimas naquele momento. Dessa vez: sinceras. Eliana apertou as suas mãos na costa de Angélica, contente, e com os olhos fechados. Poderiam dizer muita coisa uma para a outra, mas o próprio gesto já significava como estavam e iriam ficar: mesmo depois de tudo, algo as tornou confiantes uma na outra, e dispostas a dar a mesma coisa ao pequeno garoto, que pegava de exemplo aquela cena tão bonita, e que deveria acontecer entre todos os seres humanos.

     “Assim que amanhecer tudo ficará claro e explicado. Assim que amanhecer eu voltarei a ser eu. E assim que amanhecer, o brilho do sol iluminará as nossas alegrias, transformando-as rapidamente em algo concreto e duradouro: o amor”. – Angélica.