Angélica começou a abrir os lábios, para
soltar tudo para fora. Tudo o que ficara guardado e toda a verdade. Encarou o
delegado, e se pôs a dizer o que ele esperava ouvir:
– Seu
delegado, eu tinha uma fã. E essa fã, me perseguia o tempo todo, sabe? – Não
esperou ele responder, e seguiu em frente, apresentando detalhadamente os fatos
dessa história.
11 de Julho de 2012
Angélica
abriu a porta do apartamento, que fora tocada pela campainha, e a garota loira
entrou correndo, e a surpreendendo com um forte abraço. Angélica sorriu feliz
de ter alguém que realmente gostava dela.
–
Simone! – Ela beijou seu rosto. – Você é a única que se importa comigo. O
cachorro do meu marido fica lá se esfregando com minha irmã.
– É
verdade, Angélica. Tanto que eu faria qualquer coisa por você... Qualquer
coisa. Eu sempre te admirei, pela sua beleza, sua coragem... Por você ser o que
é.
A miss continuou a contar ao delegado o que
essa moça, por nome de Simone, tinha haver com esse seu passado tão misterioso.
– Ela
disse que faria qualquer coisa por mim, entende? Eu não pensei duas vezes,
delegado. Mas primeiro eu tinha que ter certeza se os meus inimigos, no caso, o
meu marido e minha irmã, queriam fazer alguma coisa comigo.
28 de Agosto de 2012
A mulher
abriu a porta do carro e entrou. Logo Angélica deu a partida, e começaram a
circular pela grande São Paulo. Foi aí que a dona ao lado tirou da bolsa algo
parecido com um gravador.
– Tá
tudo aqui, senhora. Eles no restaurante conversando... Esse brinco até caiu no
chão. Mas o importante é que tá tudo gravado. Eles querem te matar sim,
senhora.
Angélica não ficara
nem um tanto impressionada com o que acabara de ouvir. Pois já estava com o
circo armado, e pronto para entrar em ação. Agora, precisa apenas... Viajar.
Olhou no retrovisor e percebeu que a criança, o garotinho, tentava entender
qual era o sentido da conversa.
O delegado começava a entender o que havia acontecido.
Fitou Angélica, boquiaberto. As seguintes palavras que ele dissera já apontavam
que ele estava impressionado, e que já devia saber a continuidade da história.
– Então... Você usou essa moça, Angélica? Você
a usou pra...
– Sim, delegado. Eu a coloquei em meu lugar. –
Angélica confirmou, disposta a não guardar os segredos.
– Mas... Como? – Ele ainda não havia entendido
tudo.
– Ela já se parecia um pouco comigo, sabe? O
cabelo era loiro, a sobrancelha era quase do mesmo formato. Enfim, foi aí que...
01 de Agosto de 2012
Estava
deitada numa mesa de cirurgia. Angélica apertou a sua mão, confiante na garota.
Logo em seguida disse:
– Tem
certeza que não irá se arrepender?
– Eu já
te disse: faço tudo por você.
Então o médico se
aproximou de Simone e começou a marcar os lugares a serem recortados para a
plástica, que transformaria a fã fanática totalmente idêntica à diva. Ele
aplicou a primeira anestesia quando Angélica se encontrava fora da sala do
hospital.
As peças haviam se encaixado completamente.
Estava tudo explicado. O homem se levantou da cadeira, começando a andar pela
sala, e encarando a criminosa em sua frente:
– E depois?
– No dia do concurso, eu viajei
pros Estados Unidos, Las Vegas, e a mandei em meu lugar.
– Isso explica os comentários
que “você” estava desajeitada na passarela. Tem ideia de quão grave é esse
crime, senhora?
– Tenho sim delegado. – Ela não
quis mentir pra si mesma. – E quero pagar por ele.
A notícia foi como uma bala. Na
capa de todos os jornais ela aparecia, ou era o destaque de todas as emissoras,
não só as brasileiras, mas também as internacionais. E os primeiros meses atrás
das grades à espera de um julgamento foram terríveis para Eliana e
principalmente pra Angélica, que via o filho apenas para amamentá-lo. O dia tão
esperado chegou.
– Eu, formado pela lei, condeno
a réu Eliana Waltsalles de sete anos e dois meses de prisão, por... – O juiz
disse alista de crimes que a mulher cometeu, olhando exatamente para ela,
– Eu, formado pela lei, condeno
a réu Angélica Waltsalles de dez anos e nove meses de prisão, por... – Dessa
vez, a lista de crimes e o olhar sério e rígido foram para Angélica.
Logo que saíram do local, as
câmeras não paravam de fotografar cada gesto que Eliana e Angélica faziam.
Entraram no carro da polícia, tampando os rostos, a fim de que ninguém pudesse
ver a desgraça expressa. Mas sabiam que estavam certas. Iriam pagar pelo que
fizeram. Nada mais justo. Ao sentarem, com as algemas segurando seus pulsos,
elas se olharam, e não ocorreu nada. Apenas um olhar sério de cada uma foi o
que aconteceu. O carro foi funcionado, e a viagem prosseguida.
Dez anos depois...
Ela batia a mão na porta da mansão.
Ninguém foi atender. Bateu mais uma vez. Foi aí que a imagem de uma bela morena
surgiu em sua frente, que por sinal, foi quem abriu a porta. Ou simplesmente: era
a sua irmã. Angélica a fitou dos pés à cabeça, não deixando de notar que Eliana
não havia mudado absolutamente nada em seu corpo. Mas o olhar era feliz e
calmo.
– Você saiu da cadeia há três
anos por bom comportamento e eu fiquei lá, porque não conseguia me controlar de
tanta raiva. Eliana, você matou muita gente... É um grande crime. Mas o que eu
cometi, foi bem mais grave. Eu manipulei uma pessoa inocente. Mesmo eu não me
conformando, eu não quis aceitar a ajuda de advogado algum. Muitos se
ofereceram. Mas não. Não quis. Quis pagar. Mas, já você... Tá na cara que você
se arrependeu de ter feito aquilo tudo, ao contrário de mim, que não me
conformei em ficar lá, mofando. E você me prometeu, Eliana. Agora eu quero
saber: cadê meu filho que você garantiu que iria cuidar?
– Gabriel? – Eliana gritou
quando as duas já se encontravam no centro da sala. Em questão de segundos, um
garoto moreno surgiu à esquerda, vindo de encontro até a mulher que o chamou.
– O que foi, tia? – Ele
perguntou, estranhando a “visita”.
Eliana
se abaixou perto do garoto de dez anos. Colocou uma das mãos em seu ombro, e sorrindo
e apontando para a loira em sua frente:
– Essa é sua mãe.
O pequeno Gabriel sorriu para
Angélica, que não resistiu e correu de encontro até ele. Deu-lhe muitos beijos
no rosto, alegre em poder tocar no garoto. Olhou fixamente para ele, com os
olhos encharcados de lágrimas.
– É a cara do pai. – Disse contente.
– Minha mãe é bonita. – Gabriel
falou, virando-se para trás e sorrindo para a tia. Depois voltou a olhar sua
mãe, que deixava as lágrimas caírem de seus lindos olhos castanhos claros. Ela
se limpou, levantou-se, pois estava agachada, e se aproximou da irmã. Pegou em
suas mãos. E num gesto rápido a envolveu com um bom abraço, o qual deixou que
as duas derramassem muitas lágrimas naquele momento. Dessa vez: sinceras.
Eliana apertou as suas mãos na costa de Angélica, contente, e com os olhos
fechados. Poderiam dizer muita coisa uma para a outra, mas o próprio gesto já
significava como estavam e iriam ficar: mesmo depois de tudo, algo as tornou
confiantes uma na outra, e dispostas a dar a mesma coisa ao pequeno garoto, que
pegava de exemplo aquela cena tão bonita, e que deveria acontecer entre todos
os seres humanos.
“Assim que amanhecer tudo ficará
claro e explicado. Assim que amanhecer eu voltarei a ser eu. E assim que
amanhecer, o brilho do sol iluminará as nossas alegrias, transformando-as
rapidamente em algo concreto e duradouro: o amor”. – Angélica.