quarta-feira, 30 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 30




TRIGÉSIMO CAPÍTULO

     Ugo entrega um envelope com um cheque para a empregada da mansão. Zuleide coloca as mãos no bolso e verifica se o celular que acabara de roubar ainda está com ela.
     Non vai verificar se a quantia é essa mesmo? — pergunta Ugo.
     — Não, jovem.  Só lhe agradeço pela paciência com a minha pessoa. — Zuleide está um pouco assustada.
     — E para quê questa cara? Parece que viu um fantasma...
     No mesmo momento, Alessandra desce as escadas e chega ao salão da mansão, onde Ugo e Irmã Zuleide conversam.
     — Deve ser cara de fome. Cara de quem passou a vida comendo ovo. — Alessandra gargalha. — Agora passa fora daqui, Zuleide, que a gente tem mais o que fazer do que perder tempo com vendedora de porta.
     Zuleide dá um muxoxo, pega a bolsa e sai.
     Alessandra dá uma mordida leve no ombro de Ugo, rodeia e o beija.
     — Marquei nosso voo para amanhã de manhã. Não vejo a hora de voltar a Paris. — ela o solta. — a propósito, italiano... O que você fez com o celular da Vanessa? Como ela era metida a jornalista da Flash, não me admira nada ela ter filmado algo proibido, se é que você me entende.
     — Calma, amore mio. Deixei no bolso da minha calça. Está no quarto... — Ugo olha Alessandra com um olhar sedutor. — Quer ir lá comigo... “pegar”?
     — Seu italiano devasso! — aos beijos, os dois sobem as escadas em direção à suíte.
***
Música :  Christina Aguilera – Your Body.
     Zuleide anda um pouco até uma avenida, onde há um ponto de ônibus. É quase onze horas da noite.
     — O governo deveria colocar seguranças bombadões em todas as ruas para proteger donzelas semi-virgens como eu... Ê, vidinha...
     A religiosa se senta no banco do ponto de ônibus e espera sua condução. O primeiro ônibus se aproxima e ela dá sinal, mas ao ver o rosto do motorista, ela não sobe.
     — E o governo também deveria colocar uns motoristas mais gostosos porque esses aí parecem que saíram do inferno. Ê, Ê... — Ela comenta e senta-se novamente no banco.
     Minutos depois Fidel, vestido de Stefanie Raio Laser, se aproxima e também se senta no banco do ponto de ônibus.
     — Eita! Se jogar água quente aqui tudo vai virar canja.  — Fidel joga uma indireta para Irmã Zuleide.
     — Tá me chamando de galinha, é? Já não basta ter que pegar ônibus com motorista feio a gente tem que aguentar essa mundiça... O sangue de nosso senhor Jesus tem poder!
     — Minha filha, eu sou um trabalhador, dá licença?
     — No meu país se vestir de mulher e rebolar igual a uma cachorra no cio em cima de um palco tem outro nome... — Zuleide tira o celular roubado de dentro do bolso da saia e começa a fuçar nos botões. Fidel olha para o aparelho e vê a foto de Vanessa no papel de parede.
     — Zu... Zuleide, do céu, onde tu achou isso?
     — Minha patroa, D. Alessandra, me deu de presente. — mente. — Ela é muito generosa!
     Fidel toma o telefone das mãos da mulher.
     — Ah, rapariga mentirosa! Isso aqui pode ajudar a solucionar um caso de polícia! — Fidel coloca nos arquivos do celular e encontra um vídeo de Alessandra e Ugo conversando.
     — (voz de Alessandra na gravação) — Fiquei sabendo que a faveladinha cata lixo da Ingrid saiu da prisão. — diz Alessandra. — A gente precisa matar ela. E eu quero uma morte pior do que a que eu encomendei para o Wagner. Você consegue, Uguinho?
     Fidel se espanta. Ele acaba de encontrar a prova de que precisavam para incriminar Alessandra e Ugo.

(ESPAÇO PARA A ABERTURA)

Música :  Lady GaGa – Paparazzi.
     O desembarque do aeroporto está lotado de paparazzi. É a grande atriz italiana Laura Ventura que acaba de desembarcar em terras brasileiras. Ela usa um sobretudo marrom e um par de óculos escuros que servem para aumentar a faceta antipática da atriz.
     Um dos paparazzi que está na chegada da moça em Fortaleza é Calebe,a mando da revista Flash. Ele está desesperado para conseguir fotos exclusivas.
     — Senhorita Laura, queira pousar para uma foto! É para a revista Flash Magazine! — diz Calebe, que está bem próximo, mas devido aos gritos de outros paparazzi e jornalistas, Laura nada escuta.
     Esperto, Calebe se desprende da multidão e corre até o estacionamento, onde há um táxi esperando pela atriz. Alguns paparazzi não conseguem chegar perto da mulher, mas pela esperteza de Calebe, ele se torna o único.
     — Por favor, senhorita Laura! Apenas uma foto para a Flash!
     Ele a persegue, se tornando um fardo para os seguranças de Laura Ventura, que sofrem para apartar a multidão de fãs e jornalistas.
     — Por favor, digam a este rapaz que eu não quero tirar nenhuma foto, ok? Estou cansada e preciso encontrar com o meu irmão o mais rápido possível. — Laura diz para os seguranças.
     — Mas Laura! Por favor, só uma foto!
     — EU JÁ  DISSE QUE NÃO! — Laura empurra Calebe no chão e entra no táxi.
***
     — Como assim o voo foi cancelado?! Que tipo de companhia é essa?! — Alessandra está furiosa ao telefone com um agente e viagens.
     (em off) Desculpe, mas houve uma pane aérea. Há uma previsão de tempestade e os voos para Paris de amanhã poderão ser afetados. Eu lamento, mas não há como embarcar para a França em nenhuma companhia aérea amanhã.
     Alessandra desliga o telefone e olha para Ugo, que está deitado na grande cama da suíte da mansão, fumando um cigarro.
     — A droga do voo foi cancelado.
     — E o pior de tudo é que o prazo para desocuparmos a mansão está acabando.
     — Calma... temos alguns dias ainda. Quero sair daqui o mais rápido possível.
Música :  Madonna – Spanish Eyes.
     Alessandra dá alguns passos e deita na cama, dando em seguida alguns beijos em Ugo, que conresponde. Depois que os dois estão completamente despidos ela pergunta:
     — As camisinhas... onde estão?
     — Acabaram. — Ugo tenta beijar Alessandra, mas ela o repele. — Que foi?
     — “Que foi”? Ugo, tenha dó. Você está com aquela doença podre que fez meu pai definhar numa cadeira de rodas até o dia de sua morte. Não quero ser a próxima.
     Alessandra se cobre com um lençol, vira de costas e tenta dormir. Ugo, por sua vez, se levanta da grande cama, veste um roupão e desce até o salão principal.
     O grande quadro do patriarca Wagner Peregrini continua fixado à parede do salão. Ugo olha com nojo para o objeto e recorda tudo o que viveu quando o homem era vivo.
Flashback (dia da leitura do testamento)
     — Ordem! Precisamos de ordem nisso aqui! — adverte Victorio, fazendo com que todos se calem. Ele olha para Albaniza e diz — prossiga, mamãe.
     — Obrigada, Victorio. — a advogada começa a ler — “Fortaleza, Ceará, 20 de agosto de 2012. Admito que errei no passado. Errei muito. Errei com meus empregados, funcionários da Flash, meus filhos, minha esposa... minha amante. Nunca medi as consequências dos meus atos. Sempre pensei que não fosse precisar dos meus filhos, e que esta doença que eu vinha carregando por todos estes anos jamais me mataria, já que eu cheguei até aqui. A AIDS me tirou muita coisa, mas mesmo sem o amor dos meus filhos, eu tenho um homem  que eu amo. Amo muito. Ugo é o amor da minha vida, mesmo eu sendo este homem de aparência rude, eu seria capaz de dar minha vida por ele.”
     A maioria das pessoas se choca com a notícia. Fidel ri, olhando para Ugo, que logo sai do local e se tranca no quarto.
 Fim do Flashback.
     Ugo cospe no chão e, em seguida, olha para o quadro de Wagner na parede:
     — Maldito!
Uma crise de tosse afeta Ugo. Com o punho cerrado, ele tapa a boca, mas a tosse não cessa. Ao abrir a mão, o italiano vê um pouco de sangue. A doença está se agravando.
***
     Bruno chega em casa e percebe que seu amigo Calebe está com o braço direito quebrado.
     — O que houve, velho?
     — Presentinho da Laura Ventura. Me empurrou e eu caí de mal jeito. Amanhã mesmo essa atriz vai pagar por ter feito isso comigo.
     — Ah é? — Bruno ironiza — como vai fazer pra encrencar uma atriz internacional?
     — Pesquisa nos sites de fofoca aí.
     Bruno vai até o pc e só consegue ver a seguinte manchete sobre Laura Ventura nos sites de fofoca: “LAURA VENTURA AGRIDE PAPARAZZO.”
***
     Na manhã seguinte, no apartamento onde Ingrid está dividindo com Alex, Analú, Fidel e Inês, todos se reúnem para tomar café da manhã.
     — Vitório vem aqui hoje? — Inês pergunta a Ingrid.
     — Sim. — Ingrid responde, sem nenhuma animação. Ela pega um croissant.
     — Desculpe-me a incovêniência, mas parece que você não está animada nem um pouco com o seu casamento com o Vitório, minha irmã. — diz Alex.
     Ingrid fica calada. Analú senta-se à mesa.
     — Papai chegou tarde ontem. — a moça refere-se à Fidel. Ela dá um selinho em Aléx e coloca café na xícara. — Ele disse que quando acordasse queria falar com você, Ingrid. Pelo visto é coisa séria.
     — É melhor eu ir logo no quarto dele. — Ingrid se levanta e vai até o cômodo. Bate duas vezes na porta e entra.
     Fidel dorme com um creme no rosto e rodelas de pepino nos olhos. Acorda ao perceber a luz entrando no quarto pela fresta da porta.
     — A Analú disse que você queria falar comigo. — diz Ingrid.
     — Eu tenho um babado fortíssimo pra te mostrar. — ele mexe na mesinha de cabeceira e retira um celular cor-de-rosa da gaveta.
     — O que é isso?
     — O celular que era da Vanessa. Estava na mansão, consegui com a empregada que eles contrataram, a Zuleide. Aqui, querida, tem uma gravação da Alessandra bitch conversando com a Ugo passiva. Ingrid, querida, nessa filmagem eles CONFESSAM QUE ASSASSINARAM O WAGNER!