Vigésimo
Sétimo Capítulo
A
“Exumação”
Música :
Marilyn Manson – Tourniquet.
Adriano Peregrini foi o escolhido para
reconhecer se o corpo que estava dentro daquele caixão era mesmo o corpo de seu
pai. Em toda a sua vida, estava acostumado em ver corpos em decomposição,
muitas vezes em aulas de anatomia e em laboratórios de legistas. Mas o pavor em
ver o corpo de seu próprio pai no estado que estaria por vir lhe dava
calafrios. Mesmo assim o faria.
Já é o dia seguinte. Estamos no cemitério,
próximos ao túmulo de Wagner. Ele parece intacto, até os coveiros começarem a
remover a terra que cobre o caixão. Adriano está acompanhado de Gisela e
Vanessa, que decidiram presenciar a exumação.
— Não perco por nada a chance de ver a cara
desse desgraçado comida por vermes. — sussurra Gisela no ouvido do neto e da
bisneta.
O caixão é retirado do túmulo, e logo os
coveiros o levam para uma sala especial, onde Adriano, Gisela e Vanessa esperam
para o reconhecimento. Os coveiros reclamam do peso avantajado que o caixão
está.
— Vamos logo com isso, não? — diz Adriano.
Os legistas removem a tampa do caixão.
Vanessa tapa os olhos, diferentemente de Gisela, que tem os seus quase pulando
de suas caixas de tanta curiosidade. Adriano se aproxima.
— Não tem nada aí... a não ser...
— Pedras!
— E onde está o corpo de Wagner?
***
— Maldita seja a vida dos vermes que se
alimentaram de sua carne podre!
Depois de bradar esta frase e cuspir no
cadáver, Ugo chutou o corpo de Wagner para dentro daquele rio poluído. Estava
cansado por ter carregado aquele corpo por tanto tempo, retirá-lo do túmulo,
revesti-lo novamente, carregado até o carro, retira-lo do porta-malas e o
trazido até a beira do rio. Alessandra estava sentada no capô do carro vermelho
fumando um Black.
— Você bem que poderia ter me ajudado,
Cérebro. — diz Ugo, enxugando o suor que pingava do seu rosto.
— Eu tenho
as ideias. Você, Uguinho, põe-nas para funcionar. Simples.
Eles entram no carro e partem de volta para a
mansão.
***
Ingrid recebe a notícia do desaparecimento
do corpo de seu pai.
— Como assim, Victorio? Não pode ser!
— Infelizmente, Ingrid. O exame de DNA
ficará difícil agora. Eu lamento, mas você não terá como provar que é filha do
Wagner.
***
Alessandra e Ugo comem pizza enquanto
esperam o noticiário na TV.
— Io
não aguento mais comer pizza, Alessandra. Precisamos de empregados.
— Hum... Já providenciei uma empregada.
Amanhã mesmo a agência estará nos mandando. Enquanto isso, ficamos na pizza.
Você não gosta de comida italiana, seu italiano safado? — Alessandra brinca com
Ugo, fazendo-o engolir um pedaço de pizza. — olha, a notícia do desaparecimento
do corpo do escroto do Wagner. Aumenta o volume!
O foco agora é no repórter do noticiário:
— A
exumação do corpo de Wagner Peregrini foi autorizada pelo juiz depois que o
advogado de Ingrid Ferreira alegou que sua cliente é de fato filha legítima do
empresário, fruto de um caso com a empregada da mansão onde ele residia na
década de oitenta. A surpresa de todos foi que, ao abrir o caixão, o corpo de
Wagner havia sumido. A polícia está investigando o caso.
***
Música :
Florence + The Machine – Spectrum.
É noite. Fidel faz polidance na boate gay onde agora trabalha.
Entre os frequentadores, há lésbicas, gays e simpatizantes. É a sua estreia, e
ele, vestido de “Stefanie Raio Laser” dá um show no “queijo” (o palco onde ele
se apresenta).
O evento é interrompido com a invasão de
vários evangélicos na boate. Muitos deles, são mulheres. Cabelos grandes, saias
compridas, assim como as mangas de suas blusas.
— ABAIXO
A CASA DE SATANÁS! ABAIXO A CASA DE SATANÁS! — as evangélicas gritam,
invadindo cada vez mais o estabelecimento. Elas estão sendo coordenadas por
alguém que é nada mais nada menos do que ela, fenômeno do Facebook: Irmã
Zuleide.
Fidel (ou Stefanie) desce do palco e encara
Zuleide, ficando frente a frente com ela.
— Olha só quem temos aqui! Gente, não joga
água quente aqui não por que se não vai dar canja! — grita Fidel. — Irmã
Zuleide! Quanto tempo, querida! Não te vejo desde aqueles tempos, quando você
dançava “Vou de Táxi” até o chão. Quando saía de casa e dizia pra mamãe que
iria pra igreja, mas subia na garupa da moto de um macho qualquer e ia sabe-se
lá Deus pra onde.
— Carlos Fidel! Sabia que você era o
coordenador desse antro do satanás aqui. Tinha que ser você, ridículo assim,
jovem! — diz Zuleide.
— Filhinha, seu recalque comigo é como
Rihanna e Chris Brown: bate e volta na mesma hora. Então, pega sua trupe de
barangas clientes da Jequiti e dê o fora daqui. Solta o som aí DJ!
A música volta a tocar, mas as evangélicas
reagem, jogando no chão todas as mesas, garrafas de bebida e tudo mais o que
encontram pela frente. Fidel agarra os cabelos de Irmã Zuleide e começam uma
briga feia. Tapas, chutes e vários golpes são desferidos de um para outro. A
polícia chega.
(ESPAÇO PARA A ABERTURA)
Zuleide prefere não registrar queixa contra
Fidel na delegacia da mulher. Os dois são liberados, mas continuam discutindo
do lado de fora da delegacia.
— Delegacia da mulher... Tem baranga que
não se enxerga mesmo, né Zuzu? Eu sou
mais mulher do que você. — diz Fidel, balançando o cabelo postiço.
— Sai pra lá, aborto da natureza... Vou é
embora porque amanhã mesmo começo o meu novo emprego.
— Novo emprego? Não sabia que no Cabaré da
Leila estavam aceitando mulher laranja: só o bagaço. — Fidel gargalha no meio da ciclovia, os dois
atravessaram juntos a avenida, pois pegarão o mesmo ônibus de volta pra casa.
— Vai pensando. Vou trabalhar numa casa
chique. Mansão Peregrini. Top de linha.
— Hum... Já trabalhei lá. Acho que lá só
tem a “linha”, porque o “Top” se mandou daquela casa faz tempo.
— HAHA! Sinto cheiro de recalque e de
inveja! Tenha dó, Fidel...
— Recalque, Zuleide? Espera só, por que um
dia eu você vai ser a minha empregada e um dia eu vou te dizer assim: “Me
serve, vadia!”. E você vai lamber meus pés. Zuleide, bitch!
***
Gianpaolo não se conformava com o abandono
repentino de sua esposa Alessandra. Eles estavam planejando adotar uma criança,
mas foi tudo por água abaixo. O grande apartamento ficava cada vez maior, pois
estava vazio. As paredes assistiam o sofrimento do pobre jogador de basquete,
que já não tinha mais o que fazer no Brasil. Esperava apenas que a advogada
mandasse logo os documentos do divórcio para que ele assinasse.
Entrou no Skype, e sua irmã, Laura Ventura,
estava online.
— Fiquei
sabendo do que aconteceu, Gianpaolo. Desculpe-me, mas sempre achei aquela
Alessandra uma vadia.
— Sim, sim. Fale o que quiser, minha irmã. Mas eu a amava!
— E
ela ama outro homem. Isso está fazendo mal para a sua carreira, Gianpaolo. Mas
não se preocupe, pois logo estarei chegando ao Brasil. Cuidarei do seu
marketing. Soube que o seu empresário lhe abandonou...
Laura Ventura, uma atriz renomada. Francesa, com parte do sangue
brasileiro, assim como o irmão. Sempre foi rica, mimada, nariz empinado. E,
claro, sem papas na língua. Sua vinda ao Brasil significava que as câmeras dos
paparazzi brasileiros estariam sempre apontadas para ela.
***
Música : Engenheiros do Hawaii – O Papa é Pop
Dia seguinte. Estamos na Flash Magazine e
vemos os funcionários trabalhando com afinco para a edição daquela semana.
Gisela chama Bruno em sua sala e o aguarda para uma conversa.
— Pois não, senhorita Gisela?
— Já escolhi qual será a capa da Flash essa
semana.
— E qual será? — pergunta Bruno.
— Que tal o caso do corpo sumido hein? O
patriarca da revista agradece.
— Não estou lhe entendendo...
— Quero uma matéria sobre o corpo
desaparecido do Wagner, e, de cortesia, tudo sobre a cata lixo da Ingrid
Ferreira. Falei com a Vanessa e ela escreverá o artigo, mas você dará a cereja
do bolo; Quero que a Flash dessa semana traga um dossiê sobre essa impostora, e
preciso que você arranque tudo o que sabe dela.
— Como?
— Anta! Vá até a cadeia. Seduza-a! Sei que
vocês tiveram um affair.Não será
difícil. Faça isso, Bruno, e tão logo ganhará mais status aqui na Flash.
Palavra.
***
Irmã Zuleide chega à mansão Peregrini para
o seu primeiro dia como governanta. Ela pede para que o porteiro tire uma foto
sua em frente aos portões do casarão, e logo ela posta no Facebook, recebendo
milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos.
***
Fidel mexe no computador do velho
apartamento de Alex e, ao ver a foto de Zuleide na mansão, chama Analú e Alex
para verem também.
— Não é que a bruxa estava dizendo a
verdade ontem? —diz Fidel.
— Pelo que eu vi dessa tal Alessandra, a
irmã Zuleide vai sofrer pra caramba nas mãos dela. — diz Analú.
—Não conh eço muito bem minha irmã, mas não
imaginava que ela fosse tão mesquinha assim. Bom, como diz a própria irmã
Zuleide: Oremos! — brinca Alex.
***
Bruno vai até o seu apartamento se preparar
para encontrar com Ingrid de novo. Calebe mexe no computador, editando algumas
fotos. Vanessa sai de dentro do banheiro enrolada em uma toalha.
— Saiba que eu só deixei você ir até o
presídio seduzir aquela pilantra cata lixo por puro interesse profissional. Sei
que você cobiça um cargo muito melhor lá na Flash. — diz Vanessa, abraçando
Bruno.
— Ainda estou me preparando para encontrar
Ingrid. Não sei como vou conseguir chegar pra ela e tentar arrancar tantas
informações. — mente ele.
— Você é esperto, meu amor. Irá conseguir.
Ao falar isso, Vanessa sai em direção ao
quarto.
— Bruno, que maluquice é essa de falar com
a Ingrid? Não se mete mais nessa história, velho! — Calebe exclama, saindo do
computador.
— Eu preciso falar com ela. E esse é um bom
pretexto.