quarta-feira, 23 de abril de 2014

Alta Tensão - Capítulo 27



Vigésimo Sétimo Capítulo
A “Exumação”

Música : Marilyn Manson – Tourniquet.

     Adriano Peregrini foi o escolhido para reconhecer se o corpo que estava dentro daquele caixão era mesmo o corpo de seu pai. Em toda a sua vida, estava acostumado em ver corpos em decomposição, muitas vezes em aulas de anatomia e em laboratórios de legistas. Mas o pavor em ver o corpo de seu próprio pai no estado que estaria por vir lhe dava calafrios. Mesmo assim o faria.
     Já é o dia seguinte. Estamos no cemitério, próximos ao túmulo de Wagner. Ele parece intacto, até os coveiros começarem a remover a terra que cobre o caixão. Adriano está acompanhado de Gisela e Vanessa, que decidiram presenciar a exumação.
     — Não perco por nada a chance de ver a cara desse desgraçado comida por vermes. — sussurra Gisela no ouvido do neto e da bisneta.
     O caixão é retirado do túmulo, e logo os coveiros o levam para uma sala especial, onde Adriano, Gisela e Vanessa esperam para o reconhecimento. Os coveiros reclamam do peso avantajado que o caixão está.
     — Vamos logo com isso, não? — diz Adriano.
     Os legistas removem a tampa do caixão. Vanessa tapa os olhos, diferentemente de Gisela, que tem os seus quase pulando de suas caixas de tanta curiosidade. Adriano se aproxima.
     — Não tem nada aí... a não ser...
     — Pedras!
     — E onde está o corpo de Wagner?
***
     — Maldita seja a vida dos vermes que se alimentaram de sua carne podre!
     Depois de bradar esta frase e cuspir no cadáver, Ugo chutou o corpo de Wagner para dentro daquele rio poluído. Estava cansado por ter carregado aquele corpo por tanto tempo, retirá-lo do túmulo, revesti-lo novamente, carregado até o carro, retira-lo do porta-malas e o trazido até a beira do rio. Alessandra estava sentada no capô do carro vermelho fumando um Black.
     — Você bem que poderia ter me ajudado, Cérebro. — diz Ugo, enxugando o suor que pingava do seu rosto.
     Eu tenho as ideias. Você, Uguinho, põe-nas para funcionar. Simples.
 Eles entram no carro e partem de volta para a mansão.
***
     Ingrid recebe a notícia do desaparecimento do corpo de seu pai.
     — Como assim, Victorio? Não pode ser!
     — Infelizmente, Ingrid. O exame de DNA ficará difícil agora. Eu lamento, mas você não terá como provar que é filha do Wagner.
***
     Alessandra e Ugo comem pizza enquanto esperam o noticiário na TV.
     Io não aguento mais comer pizza, Alessandra. Precisamos de empregados.
     — Hum... Já providenciei uma empregada. Amanhã mesmo a agência estará nos mandando. Enquanto isso, ficamos na pizza. Você não gosta de comida italiana, seu italiano safado? — Alessandra brinca com Ugo, fazendo-o engolir um pedaço de pizza. — olha, a notícia do desaparecimento do corpo do escroto do Wagner. Aumenta o volume!
     O foco agora é no repórter do noticiário:
     A exumação do corpo de Wagner Peregrini foi autorizada pelo juiz depois que o advogado de Ingrid Ferreira alegou que sua cliente é de fato filha legítima do empresário, fruto de um caso com a empregada da mansão onde ele residia na década de oitenta. A surpresa de todos foi que, ao abrir o caixão, o corpo de Wagner havia sumido. A polícia está investigando o caso.
***
Música : Florence + The Machine – Spectrum.
     É noite. Fidel faz polidance na boate gay onde agora trabalha. Entre os frequentadores, há lésbicas, gays e simpatizantes. É a sua estreia, e ele, vestido de “Stefanie Raio Laser” dá um show no “queijo” (o palco onde ele se apresenta).
     O evento é interrompido com a invasão de vários evangélicos na boate. Muitos deles, são mulheres. Cabelos grandes, saias compridas, assim como as mangas de suas blusas.
     ABAIXO A CASA DE SATANÁS! ABAIXO A CASA DE SATANÁS! — as evangélicas gritam, invadindo cada vez mais o estabelecimento. Elas estão sendo coordenadas por alguém que é nada mais nada menos do que ela, fenômeno do Facebook: Irmã Zuleide.
     Fidel (ou Stefanie) desce do palco e encara Zuleide, ficando frente a frente com ela.
     — Olha só quem temos aqui! Gente, não joga água quente aqui não por que se não vai dar canja! — grita Fidel. — Irmã Zuleide! Quanto tempo, querida! Não te vejo desde aqueles tempos, quando você dançava “Vou de Táxi” até o chão. Quando saía de casa e dizia pra mamãe que iria pra igreja, mas subia na garupa da moto de um macho qualquer e ia sabe-se lá Deus pra onde.
     — Carlos Fidel! Sabia que você era o coordenador desse antro do satanás aqui. Tinha que ser você, ridículo assim, jovem! — diz Zuleide.
     — Filhinha, seu recalque comigo é como Rihanna e Chris Brown: bate e volta na mesma hora. Então, pega sua trupe de barangas clientes da Jequiti e dê o fora daqui. Solta o som aí DJ!
     A música volta a tocar, mas as evangélicas reagem, jogando no chão todas as mesas, garrafas de bebida e tudo mais o que encontram pela frente. Fidel agarra os cabelos de Irmã Zuleide e começam uma briga feia. Tapas, chutes e vários golpes são desferidos de um para outro. A polícia chega.

(ESPAÇO PARA A ABERTURA)

     Zuleide prefere não registrar queixa contra Fidel na delegacia da mulher. Os dois são liberados, mas continuam discutindo do lado de fora da delegacia.
     — Delegacia da mulher... Tem baranga que não se enxerga mesmo, né Zuzu? Eu sou mais mulher do que você. — diz Fidel, balançando o cabelo postiço.
     — Sai pra lá, aborto da natureza... Vou é embora porque amanhã mesmo começo o meu novo emprego.
     — Novo emprego? Não sabia que no Cabaré da Leila estavam aceitando mulher laranja: só o bagaço.  — Fidel gargalha no meio da ciclovia, os dois atravessaram juntos a avenida, pois pegarão o mesmo ônibus de volta pra casa.
     — Vai pensando. Vou trabalhar numa casa chique. Mansão Peregrini. Top de linha.
     — Hum... Já trabalhei lá. Acho que lá só tem a “linha”, porque o “Top” se mandou daquela casa faz tempo.
     — HAHA! Sinto cheiro de recalque e de inveja! Tenha dó, Fidel...
     — Recalque, Zuleide? Espera só, por que um dia eu você vai ser a minha empregada e um dia eu vou te dizer assim: “Me serve, vadia!”. E você vai lamber meus pés. Zuleide, bitch!
***
     Gianpaolo não se conformava com o abandono repentino de sua esposa Alessandra. Eles estavam planejando adotar uma criança, mas foi tudo por água abaixo. O grande apartamento ficava cada vez maior, pois estava vazio. As paredes assistiam o sofrimento do pobre jogador de basquete, que já não tinha mais o que fazer no Brasil. Esperava apenas que a advogada mandasse logo os documentos do divórcio para que ele assinasse.
     Entrou no Skype, e sua irmã, Laura Ventura, estava online.
     Fiquei sabendo do que aconteceu, Gianpaolo. Desculpe-me, mas sempre achei aquela Alessandra uma vadia.
     Sim, sim. Fale o que quiser, minha irmã. Mas eu a amava!
     E ela ama outro homem. Isso está fazendo mal para a sua carreira, Gianpaolo. Mas não se preocupe, pois logo estarei chegando ao Brasil. Cuidarei do seu marketing. Soube que o seu empresário lhe abandonou...
     Laura Ventura, uma atriz renomada. Francesa, com parte do sangue brasileiro, assim como o irmão. Sempre foi rica, mimada, nariz empinado. E, claro, sem papas na língua. Sua vinda ao Brasil significava que as câmeras dos paparazzi brasileiros estariam sempre apontadas para ela.
***
Música : Engenheiros  do Hawaii – O Papa é Pop
     Dia seguinte. Estamos na Flash Magazine e vemos os funcionários trabalhando com afinco para a edição daquela semana. Gisela chama Bruno em sua sala e o aguarda para uma conversa.
     — Pois não, senhorita Gisela?
     — Já escolhi qual será a capa da Flash essa semana.
     — E qual será? — pergunta Bruno.
     — Que tal o caso do corpo sumido hein? O patriarca da revista agradece.
     — Não estou lhe entendendo...
     — Quero uma matéria sobre o corpo desaparecido do Wagner, e, de cortesia, tudo sobre a cata lixo da Ingrid Ferreira. Falei com a Vanessa e ela escreverá o artigo, mas você dará a cereja do bolo; Quero que a Flash dessa semana traga um dossiê sobre essa impostora, e preciso que você arranque tudo o que sabe dela.
     — Como?
     — Anta! Vá até a cadeia. Seduza-a! Sei que vocês tiveram um affair.Não será difícil. Faça isso, Bruno, e tão logo ganhará mais status aqui na Flash. Palavra.
***
     Irmã Zuleide chega à mansão Peregrini para o seu primeiro dia como governanta. Ela pede para que o porteiro tire uma foto sua em frente aos portões do casarão, e logo ela posta no Facebook, recebendo milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos.
***
     Fidel mexe no computador do velho apartamento de Alex e, ao ver a foto de Zuleide na mansão, chama Analú e Alex para verem também.
     — Não é que a bruxa estava dizendo a verdade ontem? —diz Fidel.
     — Pelo que eu vi dessa tal Alessandra, a irmã Zuleide vai sofrer pra caramba nas mãos dela. — diz Analú.
     —Não conh eço muito bem minha irmã, mas não imaginava que ela fosse tão mesquinha assim. Bom, como diz a própria irmã Zuleide: Oremos!  — brinca Alex.
***
     Bruno vai até o seu apartamento se preparar para encontrar com Ingrid de novo. Calebe mexe no computador, editando algumas fotos. Vanessa sai de dentro do banheiro enrolada em uma toalha.
     — Saiba que eu só deixei você ir até o presídio seduzir aquela pilantra cata lixo por puro interesse profissional. Sei que você cobiça um cargo muito melhor lá na Flash. — diz Vanessa, abraçando Bruno.
     — Ainda estou me preparando para encontrar Ingrid. Não sei como vou conseguir chegar pra ela e tentar arrancar tantas informações. — mente ele.
     — Você é esperto, meu amor. Irá conseguir.
     Ao falar isso, Vanessa sai em direção ao quarto.
     — Bruno, que maluquice é essa de falar com a Ingrid? Não se mete mais nessa história, velho! — Calebe exclama, saindo do computador.
     — Eu preciso falar com ela. E esse é um bom pretexto.