sexta-feira, 11 de abril de 2014

A ERA DOS MORTOS - 42


CAPÍTULO 42



Lex acordou no dia seguinte. Não havia sinal de Lanister. Sem perder tempo, ela foi para o banheiro. Avistou logo a câmera, captando sua imagem do teto.

Lutando contra a vontade de manter a dignidade, Lex tirou a roupa como se não tivesse avistado o dispositivo. Quem quer estivesse monitorando as câmeras agora, estava vendo-a nua, completamente a mercê. Mesmo fingindo ignorância de sua falta de privacidade, Lex apressou-se para entrar no boxe, fechou as portas e ligou o chuveiro. Entre os vidros de shampoo, sabonete e outros produtos, Lex divisou o telefone satélite do qual Dantas comentara.

Aquilo teve um forte efeito sobre ela: Dantas parecia estar confirmando seu plano de rebeldia. Ela sorriu e entregou-se ao banho como se a água pudesse lavar suas tristezas.

Lex enxugou-se rapidamente ao sair do boxe e enrolou-se com a toalha para ir ao quarto. Sem saber direito o que fazer, Lex vestiu-se com um uniforme parecido com o de Dantas e saiu para o corredor, feliz por encontrar a porta do quarto aberta. Encontrou Lanister trabalhando em seu laboratório, no final do corredor.

- Gostaria que você tivesse outra coisa para vestir. – falou Lanister, olhando para o uniforme que Lex vestia. Entendeu imediatamente o que ele queria dizer. Aquela roupa era um símbolo de opressão da Cidadela e não seria bom para uma rebelião que os escravos a vissem usando aquela roupa, subjugada ao poderio da Cidadela.

- Não tenho escolha – falou Lex, dando de ombros.

Quando Lex se aproximou, o elevador se abriu e de lá saíram Dantas e Abraham esbaforidos e alterados.

- Você está louco! Setecentos soldados para limpar a fortaleza? Não, não... – dizia Abraham, gesticulando em negativa.

- Você quer que essa operação seja bem sucedida ou não, Sr. Smith? – perguntou Dantas. – Achei que confiasse no meu bom senso.

Smith lançou um olhar avaliativo para Dantas, e replicou com aquela voz estranha e sibilante.

- Desde a morte de sua esposa, você parece um pouco distraído.

- Eu não espero condescendência, Smith. Sou prático e objetivo. Mas eu te digo que Jack Trevor era um puta de um líder e se ele caiu, nós cairemos fácil sem a equipe e organização necessária. Vamos, pergunte a Paris, para isso que viemos aqui, não é?

Lex não entendeu o que ela tinha a ver com aquela discussão que pouco entendia e detestava quando Dantas a chamava por Paris.

- Meu nome é Al... – iniciou ela, mas foi interrompido por Abraham.

- Quantos agentes haviam na fortaleza antes de ela cair?

- Bem... agentes, treinados, creio que menos de uma centena. Creio que uns setenta e poucos... mas não sei dizer ao certo.

- Viu só... dez por cento da quantidade de agentes que você está me pedindo para essa missão! – declarou Abraham e Lex compreendeu imediatamente.

Dantas trouxe aquela discussão até ela por dois motivos: o primeiro, para que ela soubesse quando era a missão de “limpeza” na fortaleza e segundo, para assegurar que a maior parte dos soldados e agentes da Cidadela fossem enviados àquela missão.  Por isso, apressou-se em adicionar:

- Mas ultimamente, todos os cidadão da fortaleza estavam trabalhando como agentes: mais de quinhentas pessoas e mesmo assim, não conseguimos conter a invasão dos zumbis. – informou Alexia e não estava mentindo. De fato, todo mundo estava cooperando para manter a segurança da fortaleza.

- Quinhentas? – Abraham perguntou, abismado. Lex percebeu que o velho bode estava fazendo a matemática.

- Quinhentas, Sr. Smith. Mesmo que duzentas pessoas tenham se salvado, isso quer dizer que além dos zumbis que já haviam aos arredores da fortaleza, podemos adicionar mais trezentos mortos vivos fresquinhos, sedentos de sangue e carne. – comentou Dantas, lançando um olhar de aprovação para Lex - Ainda acha que setecentos agentes é pouco para a missão?

- Isso vai deixar pouco mais de duzentos agentes. E com todo o tumulto que está havendo nos pavilhões... acha mesmo que é o certo a se fazer? – perguntou Abraham, olhando para Lex. Certamente ele a culpava pelo ‘tumulto’ nos pavilhões.

- Se Paris não der as caras lá em cima, tenho certeza de que não haverá problema. E é claro, por segurança é melhor que o senhor seja mantido nos andares inferiores até retornarmos.

- Ótima ideia! – concordou Abraham. – Mas Paris ficará comigo! Não vou arriscar tê-la por aí, atiçando meus escravos.

Quando Abraham fez menção em segurá-la pelos braços, Dantas lançou um olhar de apelo para Lanister que imediatamente adicionou:

- Abe, eu preciso de Paris aqui comigo, pelas próximas vinte e quatro horas. Você não disse que queria a cura para ontem? Preciso dela aqui, ou não vou ter os tecidos e material para testar.

- Oh, bolas! – falou Abraham, naquele tom estranho e sibilante de sua voz. – Está certo, então.  Mandarei alguns agentes para ficarem de olhos nesses dois.  – disse Abraham, se afastando com Dantas do laboratório.

Assim que os dois saíram, Lex trocou olhares com Lanister. Certamente, ela gostaria muito de poder se comunicar com ele de alguma forma, mas, lendo sua mente, Lanister apontou para as câmeras com os olhos e Lex contentou-se em ficar calada.

O tempo passou lentamente naquele dia e quanto mais ansiosa Lex ficava, menos informação recebia. Depois de um tempo, Lex passou a observar Lanister enquanto ele lhe explicava uma complicada fórmula. Química não era algo que ela entendia, por isso, achou tudo muito difícil e exaustivo, mas ajudou como podia, transportando recipientes e outras coisas para o velho cientista, além de deixar que ele coletasse de si mesma uma grande quantidade de sangue que a deixou meio zonza.

- Achei que haveria uma equipe de cientistas te ajudando, Sr. Lanister. – falou Lex, tentando puxar algum assunto, enquanto ele tirava a agulha de seu braço.

- Não trabalho muito bem em equipe! – respondeu ele, concentrando-se novamente em seu trabalho. – Além do mais, eu não poderia suportar trabalhar no meio de tanta gente morta.

Lex franziu o cenho sem compreender o que ele queria dizer, mas não teve tempo para perguntar, pois segundos depois, viu mais de dez agentes da Cidadela descerem do elevador uma hora e soube no mesmo instante que Dantas havia de fato saído da Cidadela com setecentos agentes prestes a aportar numa fortaleza lotada de explosivos.

Aquilo deixou Lex ainda mais nervosa e irritada com Lanister que não tirava os olhos de seus microscópios e computadores. Trabalhando. Trabalhando. Trabalhando. “Maldito Lanister!”, como podia estar tão preocupado com aquele trabalho numa hora dessas?

Lex resolveu ir para o quarto. Dantas poderia contatá-la a qualquer minuto agora. Foi para o banheiro imediatamente e observou o telefone satélite, mas parecia estar tão morto quanto Jack Trevor agora.

A espera era causticante e enervante. E não havia nada que ela poderia fazer para antecipar qualquer coisa. Estava pensando em voltar para o laboratório de Lanister e se ocupar de alguma coisa, quando escutou o barulho. Era quase inaudível e teve que apurar os ouvidos para percebê-lo melhor. Mas assim que o ouviu plenamente, sabia o que aquilo significava e correu novamente para o box do banheiro. O telefone tremia discretamente e uma luz laranja aparecia em um pontinho quase imperceptível.

- Alo? – perguntou ela, apertando o botão ‘On’ no aparelho. – Dantas?

- Paris... par... is... – a ligação estava com ruído. Além disso, Lex não gostou do tom de voz que Daniel usava. – O plan... abort... abort... pl... vindo... pr... Abrah... sab..

- Alo? Daniel? Eu não consigo entender... – reclamou ela, tentando não altear muito a voz para não chamar a atenção dos agentes no corredor.

- Dan... plan... abort.... vindo... pr... fuja... Paris... fuja!

O telefone morreu em sua mão e não havia nada que pudesse fazer para ressuscitá-lo.

- Dantas... Daniel responda, por favor! – sussurrou ela, desesperada enquanto olhava o aparelho morto em suas mãos.

Depois de alguns segundos, deixou o telefone cair e não o pegou. Estava sobressaltada. Fuja! Foi o que ouviu. Fugir... fugir, como? Havia uma dezena de agentes lá fora. E ainda haviam as câmeras. Como ela poderia fazer tal façanha?

De qualquer forma, Lex saiu de seu quarto. No final do corredor, em frente ao laboratório de Lanister, os agentes conversavam inadvertidamente, sem sinal de nenhuma tensão no ar. Dois deles até tomava um cafezinho. Lex começou a se aproximar deles, pensando em algum plano de fuga. Não seria tão difícil para ela esgueirar-se pela porta que levava a escadaria, mas poderia ela deixar Lanister? O velho tolo estava tão fora de si, absorto em seu trabalho que jamais entenderia qualquer ordem dada a ele. E Lanister não era novo e nem ágil. Não que fosse assim tão velho. Talvez sessenta anos, no máximo, mas parecia sempre muito cansado e distraído. Já estava pensando em como fazer para tirá-lo dali, quando um dos agentes gritou “Calem-se!” para os demais.

Ele apertou o dedo no ouvido. Com certeza, escutava alguma coisa no interfone discreto que usava.

- Dumbo, Jadir, Paulo, Janis e Cristian: fiquem aqui.... os demais devem descer comigo agora! Estamos em Alerta 5!

Os agentes se retesaram imediatamente. Fora os cinco designados, todos os demais entraram no primeiro elevador.

- Algum problema? – Lex perguntou, tentando parecer o mais inocente possível.

- Fica quietinha no seu canto, garota! – respondeu Janis, de mal humor. Aquilo lhe indicava que alerta 5 era algo realmente grave, pelo nível de tensão que havia ficado no ar.

O segundo elevador, fez um barulho e a porta se abriu, deixando todos tensos. Uma mulher saiu. Era alta, loira, esguia e parecia-se muito com Dantas, seria Danielle?

- Agente Dantas? Você foi encaminhada para c...?

Antes que Janis terminasse de responder, a mulher loira apontou-lhe um revolver e atirou. Lex agiu rapidamente e com o cotovelo, atingiu Dumbo, o maior agente, bem no rosto. Com o susto e com o seu sobrepeso, Dumbo cambaleou e caiu sobre Cristian e Paulo. Assim que Lex voltou sua atenção para a mulher, ela já havia exterminado Jadir.

- Fiquem parados, ou eu juro que irei atirar! – gritou a mulher loira. – Paris... onde nós podemos coloca-los?

- Imagino que você seja... Danielle? – perguntou Lex, sem precisar de uma resposta.

Lex guiou Dumbo, Cristian e Paulo para seu quarto. Pegou o telefone que havia deixado cair e depois fechou a porta por fora.

- Isso não vai aguentá-los por muito tempo. E eles devem mandar novos agentes! – falou Lex, preocupada, apontando para as câmeras.

- Era eu que estava monitorando vocês pelas câmeras e eu desliguei o sistema antes de sair e apagar o outro agente que estava comigo. De qualquer forma, não temos muito tempo!  – exasperou a loira – Daniel não te falou? – disse ela, caminhando de volta ao laboratório, onde Lanister mal havia tirado os olhos de um microscópio, sem notar a rusga entre elas e os agentes da Cidadela.

- Ele me ligou, mas não consegui entender direito... – disse Lex, sentindo-se alarmada. – Lanister... Sr. Lanister...

- O plano todo foi pro brejo! – disse a loira quando Lanister olhou para as duas, notando enfim, Janis e Jadir mortos no chão.  - Abraham descobriu de alguma forma. Ele recebeu a informação de alguém e o exército está voltando para a Cidadela. Daniel ordenou que você e seu pai fossem resgatados imediatamente.

- E os escravos? – perguntou Lex, embora já soubesse a resposta.

- Não há tempo para libertá-los – respondeu a loira – Na verdade, não há tempo nem para nos salvarmos... Andem, precisamos ir agora!

Lanister se mexeu, chamando a atenção de ambas. Numa estante, tirou dois malões com rodinhas e caminhou em direção ao elevador.

- O que está pensando que está fazendo, velho? Mudança? – disse a loira, agressivamente, apontando para os malões – Acha que vou levar isso?

- Isso tudo é a coisa mais importante que existe no mundo. – falou Lanister, num tom profundo. – É a cura! Eu desenvolvi a cura já faz mais de um mês Seu irmão sabe e deve ter dado ordens para você seguir minhas ordens.

A loira ficou boquiaberta, mas Lanister parecia ter a razão, pois ela o ajudou, arrastando atrás de si um dos malões do velho cientista. Já estavam no elevador, quando ela percebeu que Lex não havia entrado.

- Vem, anda! – gritou ela, sem paciência. 

- Não podemos ir assim! – falou Lex, calmamente, embora sua mente estivesse fervilhando com uma ideia. – Para onde nós vamos? Onde podemos nos refugiar?

- Eu não sei, garota, mas precisamos sair daqui, AGORA!!!

- Olha, se sairmos daqui, Abraham Smith irá nos perseguir, até nos achar. Precisamos dar a ele um motivo para não nos atacar.

- Que tal sobrevivermos antes? – perguntou Danielle, a beira do desespero.

- Não... precisamos fazer algo e é agora! – Lex apertou o botão do segundo elevador, deixando Danielle completamente abismada.

- Você não está tentando ir matar Abraham Smith, agora, não é, sua maluca? Pois há mais de duzentos agentes lá embaixo, no 13º!

- Eu não estou pensando em ir para o 13º! – respondeu Lex, simplesmente. – Vou parar antes no 10º!

- No depósito de armas? – perguntou Danielle, franzindo o cenho, visualizando, enfim, o que Lex estava pretendendo. – Você tem razão. Smith deu ordens para todos os agentes descerem para o 13 mantendo o mínimo de segurança nos outros setores até o exército retornar. Ele sabe que ele é o primeiro alvo. Nós podemos pegar algumas armas antes de sairmos.

- Não... não pegar as armas! – respondeu Lex. – Destruí-las! Se destruirmos as armas, eles terão menos ferramentas para usar contra nós e nós podemos ter uma chance.

- Isso não vai adiantar em nada. Estamos em um número muito menor.

- Não me importa! Vou fazer isso de qualquer forma, Danielle. Qualquer coisa que possa equilibrar essa luta injusta já é alguma coisa. E eu não vou sair daqui sem pelo menos causar uma ferida na organização de Smith.

- Espere! – disse Danielle, segurando seu pulso, quando o elevador se abriu. – Como pensa em fazer isso?

- Deve haver granadas ou explosivos. Não se preocupe... eu sei usar a imaginação.

- Não, espere! – disse Danielle, novamente a segurando. – Eu vou. Eu sou dispensável, você não é!

- Seu irmão me mata se te acontece algo, Danielle...

- Meu irmão me mata se acontecer algo a você, maluca. Vai com o Lanister. É importante tirar a cura daqui, agora!!!

Lex obedeceu. Não por ela, nem por Danielle, mas por Lanister. Se era verdade que ele havia descoberto a cura e ela estava nos malões, era importante fazer algo para assegurá-la e achava que ele não iria sem ela.

O elevador se fechou e em poucos minutos chegaram ao terreo. Havia três agentes mortos no saguão de entrada do Órgão Central e havia dois homens aguardando. Quando os viu, Alexia gelou, sentindo-se indefesa sem seu revólver, mas respirou aliviada, quando os dois se aproximaram.

- Eu sou o Hermes. Onde está Danielle? – perguntou um deles. - Os veículos estão prontos, precisamos ir agora!

- Ela foi ao depósito de armamentos e irá explodí-lo.

- Esse plano é arriscado! O exército da Cidadela está se aproximando. Escutamos no rádio que eles devem atingir o portão principal em quinze minutos. Os homens que estão aguardando por nós no portão já estão ansiosos, não vão aguardar muito tempo.

Quando saíram para fora do Órgão Centra, na praça onde Dantas havia pousado o helicóptero, Lex percebeu que haviam somente dois veículos preparados.

- Achei que Dantas tivesse mais homens com ele.

- Os outros já foram ou estão no portão principal aguardando. Precisamos ir agora.

- Vão... levem um veículo com vocês e deixem um para nós! – ordenou Lex.

O homem não pensou duas vezes, entregou na mão de Lex o molho de chaves e em seguida correu para um dos veículos. Eram dois jipes mais reforçados que os da fortaleza, mas não seriam muito difíceis para dirigir.

Assim que Hermes e o outro homem sumiram pelas ruas da cidadela, Lex levou Lanister até o jipe e o instalou no banco de trás com os dois malões, colocando na mão dele o telefone satélite. Então, olhou adiante, para um dos pavilhões.

Os pavilhões era prédios em forma circular. Tinham uma grande dimensão em perímetro, mas não eram muito altos. Entre as barras de ferro que serviam de paredes, Lex percebeu muitos dos escravos em pé, grudados nas barras, observando-a curiosos. Talvez estivessem tão fracos para falar que só observavam apáticos a cena que acontecia no coração da Cidadela, tendo Lex por epicentro. Acho que muitos deles imaginaram que ela faria alguma coisa por eles, mas agora ela teria que abandoná-los para salvar a própria pele. Ficou imaginando o que poderia estar passando em suas mentes e em suas almas. Ela também já fora uma prisioneira, como eles. E tudo o que desejava então era ser livre. Para aqueles que a observavam agora, ela era a esperança de liberdade que escapava entre os dedos. Tomada de uma emoção, Lex sentiu as lágrimas brotarem nos olhos.

- EU VOU VOLTAR!!! – gritou Lex, alto o suficiente para que os escravos a escutassem. Se houvessem guardas por perto, eles também a ouviriam, mas algo lhe dizia que não havia ninguém por lá. Hermes e os homens de Dantas já tinham dado o jeito neles.

- Mentira!!! – gritou um homem de volta. Ele estava no pavilhão mais perto. Vestia uma tanga escura e o corpo estava todo sujo, mas Lex sabia que por trás da sujeira, deveriam haver muitas cicatrizes. Ele estava tão magro que arcava o próprio corpo e os cabelos e a barba estavam compridos e desgrenhados. Tinha o aspecto selvagem, mas seus olhos eram vivazes, sua consciência perfeitamente estabelecida. Ele sabia que ela iria abandoná-los.

- NÃO, NÃO É MENTIRA!! – treplicou Lex. – ISSO VAI ACABAR. EU NÃO POSSO FICAR, NÃO POSSO LIBERTÁ-LOS, MAS ISSO É UMA PROMESSA! EU SEI O QUE É SER UMA PRISIONEIRA. EU SEI O QUE SER PRIVADO DE UMA VIDA DECENTE, LIVRE. EU VOU VOLTAR... VOU VOLTAR...

Lex sentiu as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ela mesmo não conseguia acreditar no que prometia, mas ainda assim, prometia. Esperança era algo bom. Esperança a manteve viva há quase quatro anos na mão de Brandon e talvez mantivesse esses escravos vivos até que alguém pudesse fazer algo, mas quem?

Uma grande explosão interna fez o chão tremer e chamou a atenção de Lex para o enorme prédio do Órgão Central. Era um prédio magnífico e imaginar que havia 50º andares subterrâneos. Isso era o mais fantástico. 

Com certeza a explosão fora um andar bem abaixo, mas fora bem forte. E se Danielle estivesse morta? Quando é que ela deveria tentar partir sozinha, garantindo a segurança de Lanister? Poderia ela esperar mais do que alguns minutos?

Para a sorte de Lex, Danielle saiu correndo segundos depois. Ela parecia muito mal. Estava coberta de fuligem, tinha uma escoriação na testa e arrastava uma das pernas.

Lex correu até ela e a ajudou até chegar ao jipe. Quando deu a partida no veículo, percebeu que alguns dos agentes da Cidadela, estavam saindo do Orgao Central.

- Merda! Merda!!! – gritou Danielle, desesperada. Lex olhou para trás. Mas os homens de Abraham não fizeram menção em segui-las. Guiada por Danielle, Lex seguiu pelas ruas da Cidadela até atingir o portão principal. Ele estava aberto, mas não havia sinais dos homens de Dantas.

- Não é perigoso deixar os portões abertos? – perguntou Lex, preocupada. Não queria fazer a mesma coisa que Brandon havia feito na Fortaleza, colocando os escravos em perigo.

- Não. Os pavilhões são seguros. Além do mais, os zumbis vão ser distração suficiente para nos dar algum tempo. Precisamos atingir a Capital antes que o Exército desponte no deserto. Nessa estrada, somos alvo fácil. – gritou Danielle.

Enquanto voava baixo, deixando uma nuvem de poeira atrás de jipe, Lex escutou um barulho e percebeu que era o telefone satélite de Dantas que por alguma razão estava nas mãos de Lanister.

- Alô! – disse Danielle, depois de se alongar para arrancar o aparelho da mão de Lanister que parecia estar em outro mundo.

- Danielle!!! Deus do céu!!! Estava preocupado! – disse a voz de Dantas, visivelmente alterada. – Onde vocês estão?

- Estamos na estrada para a Capital. – respondeu Danielle. Ela suava muito. A dor parecia estar acabando com ela.

- Ainda? – perguntou ele, com um tom ainda mais preocupado.

- Tivemos alguns contratempos. – explicou Danielle brevemente. – Onde você está, Daniel?

- Não se preocupem comigo. Eu fui atacado, meu helicóptero foi destruído, mas eu estou bem. Consegui me jogar no terraço de um edifício da Capital. Eu quebrei uma perna, Danielle... mas estou bem.

- Oh, meu Deus, Daniel, me diga qual é o prédio que nós vamos busca-lo.

- Não... não é necessário. Eu contatei Frank Casper. Ele esta vindo me buscar. Escute-me bem, Danielle, vocês devem ir para a fortaleza imediatamente.

- A fortaleza? – perguntou Lex, sem entender as ordens de Dantas. – Achei que iríamos para o supermercado. A fortaleza foi tomada por zumbis.

- A situação mudou! – respondeu Daniel, imediatamente. – Sua irmã está lá, Paris e ela precisa de você, agora! Eu... Cas... mat...Br... vá... 

 - Daniel? Daniel? – Danielle perguntou quando o telefone simplesmente ficou mudo novamente. – Acho que acabou a bateria...

De qualquer forma, o estrago estava feito. O que poderia ter acontecido a Lizzie para que ela precisasse de ajuda? Quando Lex saiu do Casarão, Lizzie parecia muito pálida, tossindo novamente, mas imaginou que Dr. Melanie iria curá-la. Estaria ela doente? Estaria ela ferida? O que diabos ela estava fazendo na Fortaleza? Como ela poderia estar na fortaleza?

- Vai mais devagar, Paris... – disse Danielle, ao perceber que Lex intensificou a velocidade. Ela atropelou um zumbi numa das ruas e quase capotou com o jipe, mas continuou acelerando.

- Minha irmã, não! – balbuciou Lex - Eu morrerei se algo acontecer a minha irmã... minha irmã, não!!!!

Lex cruzou Parnaso em um só tiro, pois conhecia suas ruas muito melhor do que a Capital. Quando fez a curva para a Estrada que dava na fortaleza, Lex começou a diminuir um pouco a velocidade. Só então pensou como faria para entrar na fortaleza, com tantos zumbis ao redor.

Para sua completa surpresa, quando se aproximava dos portões externos que estavam abertos, percebeu que não havia nenhum zumbi por ali.
Invadindo a área externa e depois a interna, Lex parou em frente ao saguão de entrada da fortaleza como se alguma coisa estivesse muito errada.

- Onde estão os zumbis? – perguntou ela a si mesma. Quando saiu da fortaleza, viu uma maré daquelas monstruosidades invadindo o lugar e agora, o lugar parecia completamente inabitado.

- Olhe! Hermes e os outros já chegaram! – falou Danielle, apontando para os outros veículos da Cidadela.

Mas Lex não quis saber de nada, simplesmente saltou do jipe, sem nem mesmo abrir a porta e correu porta adentro, gritando a plenos pulmões:

- LIZZIE! LIZZIE! - Seu desespero crescia em sua alma. Já havia perdido todos que amava. Se perdesse Lizzie, seria o fim.

A fortaleza estava vazia, a não ser por uma figura que descia as escadas correndo. Levou um tempo até Lex perceber que se tratava de Janaira.

- Lex, fique calma, Lizzie está bem! Está bem!

Lex não conseguia escutar direito o que Janaira falava. Na sua mente, uma série de possibilidades cruzava sua mente.  Só entendeu quando Janaira a sacudiu e gritou em seu ouvido:

- Lizzie está na enfermaria! Ela está bem fisicamente, Lex, mas está descontrolada. Briam está morto!

- O que você disse? – Lex parou de chofre, tentando entender as palavra de Janaira.

- Casper o matou.

Lex levou mais algum tempo para processar a informação.  Briam morto por Casper? Como aquilo pôde acontecer? Briam era um estranho até chegar a fortaleza, mas havia crescido em seu coração como seu amigo e ainda mais na vida de Lizzie. De fato, sua irmã deveria estar devastada agora com a perda de Briam.

- Por que? O que aconteceu no casarão? – Lex perguntou, tomada pela curiosidade.  Alguma coisa muito grave deveria ter acontecido para Casper agir assim. – Vocês foram atacados por zumbis? Briam se transformou?

Janaira respirou fundo. O que tinha para falar não era algo bom.

- Foi algo pior. Briam nos traiu, Lex – falou Janaira, com os olhos marejados - Casper achou que havia perdido o telefone que Dantas havia lhe dado. Encontrou Briam atrás da estufa, ligando para o desgraçado do Abraham Smith e dando informações sobre a rebelião. Ele deu a informação que Dantas era o líder da rebelião na Cidadela e que a irmã dele o atacaria.  Foi uma sorte você conseguir sair de lá com vida.

- Dantas me avisou. – falou Lex, sentindo-se um pouco mais calma agora - Acho que Abraham não imaginou que Dantas poderia avisar a mim e a Danielle de que o plano havia deteriorado. Mas escapamos por pouco.  Por que Briam faria isso? Como... como tudo aconteceu?

- Casper não entendeu a princípio o que estava acontecendo, mas então Briam o atacou. Os dois brigaram e ele tentou matar Frank com uma pedra. Só então Casper atirou. Ele morreu no instante em que Lizzie se aproximava. A última coisa que ele disse para Lizzie foi “sinto muito”.

- Oh, Deus, pobre Lizzie! – falou Lex, tomando o corredor para a enfermaria com Janaira em seu encalço. – Isso ainda não explica porque Briam nos traiu a essa altura...

- Quebraram ele na Cidadela, Lex. – falou Janaira, com um tom de tristeza. – Abraham Smith torturou o próprio sobrinho para usá-lo como um recurso. E no fim, deu certo, não é? Ele estava estranho desde que voltamos da Cidadela. Eu achei que estava tudo bem, afinal, eu também estava estranha e tive dificuldades para entender, para aceitar o que havia acontecido. Até me achei mais próxima dele.

Lex abaixou a cabeça sentindo-se culpada. Estava acontecendo tanta coisa que não deu muita atenção ao sofrimento de Janaira e Briam. Lex sabia o que era ser torturado até a insanidade. Pobre Briam. Ele prejudicou todo o plano. Por culpa dele, Lex não conseguiu libertar aqueles escravos que estavam sofrendo agora tanto quanto ele, mas então, Briam deve ter tido algum motivo. Smith deve tê-lo levado a acreditar que a única forma de sobreviver, ou de fazer parar o sofrimento.

Lex entrou na enfermaria da fortaleza, acompanhada pela bela morena. Por um minuto, achou que encontraria Lizzie naquela bolha de ar, mas sua irmã estava somente deitada sobre a cama, olhando para o teto como se estivesse totalmente fora de si.

- Lizzie? – disse Lex, segurando a mão da irmã, mas ela pouco compreendeu o que acontecia.

- Ele teve um colapso já no Casarão e Melanie a apagou. Ela está meio ‘alta’ e sonolenta. Fora do ar... sabe...

- Janaira... – falou Lex, sem desgrudar Lizzie. – O que vocês estão fazendo aqui? O que aconteceu com a fortaleza? O que aconteceu com todos aqueles zumbis?

- Lanister não lhe disse?

- Disse o quê?

Janaira novamente franziu o cenho.

- Oh, Lex. Achei que soubesse. Achei que Dantas ou Lanister iriam te contar assim que chegasse na Cidadela. Achei que eles não haviam dito apenas para te convencer que era a única coisa a se fazer. Depois que você partiu com Dantas, nós soubemos de tudo. Ele iria se sacrificar de qualquer forma e não queria que você soubesse que ele estava vivo só para depois saber que ele iria morrer de qualquer forma. Foram ordens dele! Ele não queria que você sofresse mais.

- Janaira... Do que você está falando?

- Oh, droga. Eu não queria ser a pessoa a te falar isso, mas... ele está vivo, Lex. Jack Trevor está vivo!


ESCRITO POR - ELIS VIANA
DIREÇÃO DE ARTE - MÁRCIO GABRIEL
DIREÇÃO - FÉLIX
REALIZAÇÃO - TV VIRTUAL
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